Torcidas organizadas estão proibidas no Estado
Juiz acatou liminarmente pedido do MP e vetou qualquer ação ou material que se vincule às torcidas.
O próximo jogo que marcará a abertura da 7ª rodada do Campeonato Goiano, com o clássico entre Vila Nova e Atlético, no sábado (23), não terá a presença das torcidas organizadas. Diante de inúmeros episódios de violência, a Justiça Goiânia acatou o pedido do Ministério Público Estadual e suspendeu ontem as atividades das organizadas, por tempo indeterminado. A decisão foi do juiz Eduardo Tavares dos Reis, da 14ª Vara Cível e Ambiental de Goiânia.
Enquanto durar o trâmite da ação, que solicita a paralisação dessas organizações por cinco anos, os membros das torcidas – Força Jovem Goiás, Esquadrão Vilanovense e Dragões Atleticanos – ficarão impedidos de usar vestimentas, faixas, cartazes, bandeiras ou instrumentos musicais que possam identificá-los em estádios de futebol ou reuniões. Foram proibidas também a combinação de cores, adereços ou artifícios que remetam à torcida, sob pena de impedimento da entrada no estádio e perda do material. A decisão estabelece multa diária de R$ 1 mil por descumprimento.
Além disso, é proibida qualquer ação de torcidas organizadas vinculada a clubes de outros Estados nos dias de jogos de competição nacional.
A ação civil pública foi proposta pelo promotor de Justiça Goiamilton Antônio Machado, da 70ª Promotoria de Justiça de Goiânia. Ele se baseou em ocorrências de violência e mortes ocasionadas pelo comportamento das torcidas organizadas e contou com relatórios da Polícia Militar (PM). Entidades responsáveis foram oficiadas para que façam valer a ordem judicial.
Com relatório de crimes e mortes, juiz descreve clima de “guerra civil”
Para o juiz Eduardo Tavares dos Reis, os relatórios da PM dão conta de um “clima de guerra civil” instalado na capital. O documento noticia o remanejamento do policiamento ordinário dos demais bairros para 11 terminais de ônibus, 2 praças, 4 parques e diversos corredores três horas antes e três horas depois do horário dos jogos. Ele acredita que existe uma desproporção, com privilégio desproporcional dos supostos torcedores em detrimento de toda a comunidade.
Como já divulgado pelo O HOJE, casos de violência marcaram a história das torcidas organizadas goianas. Em 2011, o próprio presidente da Força Jovem Goiás, Evandro Rodrigues Cavalcante, foi preso acusado de participar de um assassinato de um torcedor do Vila Nova. No ano passado, a Justiça também foi favorável ao decidir pela suspensão das organizadas por 120 dias.
O magistrado citou a proibição anterior para argumentar sua decisão. Entre 20 de abril e 20 de agosto, as estatísticas negativas relacionadas ao assunto sofreram queda significativa. No entanto, assim que a proibição foi encerrada, quatro torcedores – um do Goiás e três do Vila Nova – foram mortos em 25 de agosto. No dia 2 de fevereiro, dois deles foram baleados e um terceiro espancado.
O Comando da Polícia Militar já se mobiliza para atender a nova decisão judicial e haverá uma reunião com o Ministério Público. Alguns pontos serão esclarecidos, como o procedimento de apreensões e encaminhamento dos materiais.
Também notificada, a Federação Goiana de Futebol (FGA) preferiu não comentar o assunto. Já a Agência Goiana de Esporte e Lazer (Agel) avalia a liminar como favorável. Para o diretor do Estádio Serra Dourada, Itamir Campos Arantes, todo excesso deve ser contido. “A torcida faz parte do espetáculo, mas temos que achar um contraponto para que o cidadão de bem seja protegido. Essa violência é inadmissível”, opina.
A Guarda Municipal (GM) também é a favor da proibição. O subcomandante geral, inspetor Antônio de Pádua, informou que, logo após a notificação, se reunirá com a Polícia Militar para traçar uma estratégia em parceria.
Recurso conjunto contra decisão
A diretoria das torcidas Força Jovem Goiás, Esquadrão Vilanovense e Dragões Atleticanos estuda entrar com recurso conjunto contra as proibições. O presidente da Dragões Atleticanos, Mauro Sergio Batista, disse que hoje haverá uma reunião com o departamento jurídico de cada torcida para que a possibilidade seja colocada em prática. Mauro considerou a decisão arbitrária. “Essa violência não é culpa das torcidas organizadas. São pessoas que se infiltram e causam esses transtornos. Quantas mortes foram registradas em Goiânia e quantas têm a ver com as torcidas?”, indagou.
A Dragões Atleticanos tem aproximadamente 450 membros oficiais. “A nossa torcida não tem índice de criminalidade”, defendeu. A Esquadrão Vilanovense ainda não havia sido notificado oficialmente sobre a proibição na tarde de ontem. Se resumiu em informar apenas que entrará com recurso judicial. A torcida tem 600 membros oficiais, mas estima-se em mais de 5 mil torcedores não cadastrados.
Como a decisão abrange a todas as torcidas organizadas, o presidente da Sangue Colorado – também do Vila Nova – Thiago Lima, está preocupado com a decisão. A direção estima que a torcida tenha mais de 3 mil membros. “É ruim porque a gente não pode usar os equipamentos, mas é bom porque pode diminuir a violência”, disse.
A reportagem conversou por telefone com o presidente da Força Jovem Goiás, Wanderson Xavier, que preferiu não opinar com relação a decisão. “A nossa previsão é de reunir com a diretoria e com o departamento jurídico para tomar uma decisão.” Na página oficial da torcida na rede social Facebook, um comunicado foi publicado garantindo que os sócios e simpatizantes vão lutar para trazer a torcida de volta. Disse ainda que vão estar em todos os jogos, “nossa voz jamais se calará”, pregava um comunicado sem assinatura.
Mesmo com a proibição por decisão liminar, as determinações do magistrado não chegaram a exemplificar restrições quanto as atividades das organizadas pela internet e redes sociais. Pelo Facebook e Twitter mensagens de revolta se tornaram comuns diante da decisão. O site da torcida Força Jovem também segue ativo, mas não exemplifica os integrantes da diretoria.
Fonte: Jornal O Hoje