Sete concursos cancelados e Núcleo de Seleção é afastado

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Ação em cadeia depois de possível fraude em gabaritos levanta suspeita sobre outros dois concursos.

A possibilidade de fraude em concursos realizados pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) é maior do que as suspeitas que resultaram no cancelamento das quatro provas aplicadas este mês, referentes aos certames das polícias Civil e Militar. Ontem, a Secretaria Estadual de Gestão e Planejamento (Segplan) decidiu pelo cancelamento de todos os concursos realizados pela atual gestão (sete no total); inclusive, da prova escrita para agente de polícia, que seria aplicada no próximo domingo, dia 3.

A Controladoria Geral do Estado (CGE) também instaurou procedimento para averiguar os demais concursos realizados desde o início do governo, em 2011, e verificou a ocorrência do mesmo problema no gabarito, com a repetição das sequências. O fato é visto como elemento que fragiliza a transparência dos processos seletivos. Assim, José Carlos Siqueira orientou os respectivos secretários para que cancelassem as provas.

Em nota divulgada na noite de ontem, a reitoria da UEG anunciou medidas severas. A instituição solicitou abertura de inquérito à Polícia Civil e também à Polícia Federal. Além de uma sindicância, foi afastada temporariamente a diretora do Núcleo de Seleção, Eliana Machado Pereira Nogueira, até o final das investigações. Também foram trocados os integrantes da coordenação acadêmica do Núcleo, responsável pela confecção das provas teóricas. As medidas visam “investigar a fundo os processos, averiguando a realidade dos fatos, bem como aferir a responsabilidade das pessoas”, consta na nota, assinada pela reitoria.

Além dos quatro concursos recentes das polícias Civil e Militar, foi averiguado o mesmo vício no caderno de respostas do processo que selecionou pesquisadores para o Instituto Mauro Borges (IMB) e na prova para contratação de professores e apoios administrativos temporários para os Centros de Educação Profissional (CEPs) da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Sectec). Os dois também foram incluídos na decisão da Segplan de cancelamento.

Siqueira defendeu que, como não houve admissão de nenhum aprovado nos certames anteriores, o ideal seria mesmo a anulação. “Mesmo que não se possa comprovar que alguém tenha se beneficiado com a situação, não se pode admitir um funcionário diante de tamanha fragilidade no concurso. Lamentável”, define o controlador.

Hoje, a direção da Universidade agendou entrevista coletiva. O que se aguarda é a estipulação de um novo cronograma para realização dos certames cancelados.

“Ordem” foi descumprida, diz diretora

Pela manhã de ontem, ainda sem a decisão de afastamento da diretoria do Núcleo de Seleção, que assumiu em outubro de 2012, Eliana Machado Pereira Nogueira havia conversado com a reportagem e sinalizado que o mesmo problema no gabarito tinha ocorrido em outros concursos do ano passado. A ordem era para que a pessoa responsável pelos gabaritos dos certames fizesse o embaralhamento das respostas antes de encaminhar para a impressão e, na justificativa dela, isso não ocorreu.

O tal funcionário, cuja identidade não foi revelada, teve o afastamento decretado e assim vai permanecer até o fim das apurações. Eliana não soube especificar o nome do programa de computador que é utilizado para a elaboração das provas. “O problema foi mesmo na disposição dos gabaritos. Ao invés de ter sido gerado aleatoriamente, foi feito de outra forma”, reforça.

Um fato curioso, no entanto, permeia o caso, no que se refere à sustentação da justificativa de falha técnica. A sequência de letras no gabarito se deu apenas nos concursos que ofertavam cargos públicos. No vestibular da Universidade, que ocorreu entre um certame e outro e que também é de responsabilidade do Núcleo de Seleção, não foi verificada a falha. A reportagem analisou o gabarito do último processo seletivo e não identificou a repetição das letras.

Gastos
A reportagem tentou obter, junto à Segplan e UEG, a quantia despendida pelo Estado para custear a realização dos quatro concursos das polícias Civil e Militar, mas o valor absoluto não foi divulgado. No entanto, o jornal teve acesso a valores pagos na locação dos espaços utilizados. Ao todo, para os certames de delegado substituto, escrivão, oficial da PM e soldado da PM, saíram dos cofres da UEG o total de R$ 141.600, somente para o aluguel dos locais de prova. Ontem, Eliana Machado chegou a afirmar que o gasto para refazer a prova e aplicá-la novamente será muito alto.

A decisão de cancelamento dos sete concuros atinge um universo de mais de 77,5 mil inscritos. Muitos são originários de outros Estados e podem acionar a Justiça em busca de ressarcimento, caso se sintam lesados.

MP pede informações e nomes de servidores envolvidos

Depois de receber as primeiras denúncias, o Ministério Público de Goiás (MP/GO) instaurou, ontem, inquérito para investigar as irregularidades e a possibilidade de fraude nos concursos. A promotora Sandra Mara Garbelini, da 11ª Promotoria de Justiça de Anápolis, foi a responsável pelo procedimento

Dentre outras providências, ela requisitou ao Núcleo de Seleção da UEG esclarecimentos sobre a metodologia na geração do gabarito e os nomes dos servidores responsáveis. Ela pediu ainda informações relativas ao controle de segurança exercida pela direção quanto aos atos praticados pelos servidores do núcleo na formulação dos gabaritos.

Sandra Mara requisitou também os nomes dos componentes das bancas examinadoras e dos servidores que atuam no Núcleo de Seleção. Ela concedeu um prazo de 10 dias para o envio das informações.

Fonte: Jornal O Hoje