Décadas de enrolação para duplicar a BR 153 – e vergonhosamente os políticos sem-vergonha aceitam
A perseguição ao Estado de Goiás vai além das obras paradas e das promessas não cumpridas, mas é sobretudo nas duas hipóteses que o suplício se revela. Um cartão-postal da enrolação é a BR 153, que atravessa da divisa com o Tocantins à fronteira com Minas Gerais.
A duplicação da BR 153 é uma conversa tão antiga que vem da época do regime militar. O ciclo não fecha no trecho entre Aparecida e Itumbiara. A herança da ditadura permeou a transição para a democracia, permaneceu com Collor, resistiu aos dois mandatos de Fernando Henrique, aos oito anos de Lula e aos dois de Dilma Rousseff. Até agora não concluíram a rodovia, que tem erros absurdos. O menor dos disparates é o imenso viaduto em Professor Jamil, desproporcional ao movimento presente e ao previsto. Os costumeiros acidentes apenas lembram às autoridades que falta pouco para terminar e muitas vidas a salvar.
Se o trecho da BR 153 da Capital para Itumbiara está quase pronto, o mesmo não se pode dizer da pretensão de vê-la duplicada até Porangatu. A bancada do governo no Congresso Nacional garante que vai se cumprir o PAC e a duplicação ficará pronta no governo Dilma. Pode até ser, mas não no atual mandato. Faltam 17 meses para o período eleitoral, tempo insuficiente para licitar, esperança mínima de inaugurar.
Tudo para Goiás é mais difícil. Para alargar a pista de Goiânia a Anápolis, com menos de 50 quilômetros, precisaram de mais de 30 anos. A duplicação até Brasília, com 130 quilômetros e ligando duas capitais, foi terminada já no governo Lula, três décadas depois do início. Até a fronteira com o Tocantins são 400 quilômetros. Portanto, preveem-se muitos presidentes depois de Dilma para tocar a obra.
As mercadorias industrializadas no Eixo Sul-Sudeste do País são transportadas pela BR 153 rumo à região Norte brasileira. Os produtos da Zona Franca de Manaus alcançam o restante desta Nação também via BR 153. Então, Goiás tem interesse na duplicação, mas não é o único Estado a ganhar com ela. O diferencial é que as outras unidades da federação têm prejuízo financeiro, mas não vítimas fatais. Centenas de goianos morrem na BR 153, principalmente entre São Francisco e o trevo de Mara Rosa. A carnificina ao longo da rodovia só se resolverá com a duplicação.
Pelo método tradicional, a obra não vai sair tão cedo. Os parlamentares federais se anulam na bajulação aos ministros e escondem em Brasília a indignação do povo. A fila de carretas competindo com carros de passeio na BR 153 assusta a todos, menos aos políticos. O governador, o vice-governador, os senadores e os deputados federais não visitam o Norte goiano viajando de carro. Vão sempre em helicópteros e avião, acima de engarrafamentos e buracos. Os prefeitos de Anápolis e Goiânia, que se gabam de ter prestígio no governo federal, também nada fazem para convencer a presidente Dilma a investir nas BRs.
Daqui a 15 meses essas pestes todas estarão atrás de voto. A melhor resposta é só confiar em algum deles depois de inaugurada a duplicação de Porangatu até Itumbiara.
Fonte: Porta 730