HDT será reformado, mas pode ser fechado
Governo anunciou liberação de R$ 7 milhões para reformar e ampliar a unidade.
Uma comemoração de 36 anos de inauguração e o anúncio da reforma e ampliação de um hospital que é referência nacional, mas teve a última reforma há 23 anos. O Hospital de Doenças Tropicais (HDT) vai receber cerca de R$ 7 milhões, anunciados ontem pelo governador em exercício, José Eliton, que vão garantir aumento de leitos de internação, Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), central de medicamentos, local para armazenamento adequado de lixo hospitalar, lavanderia e reforma da Central de Material Esterilizado (CME). As soluções ainda demoram, mas o problema pode se agravar ainda mais porque o Ministério Público do Trabalho e Emprego (MPTE) pedirá interdição do local que armazena o lixo, inadequadamente, na próxima segunda-feira (14) e desta forma, o hospital precisaria ser completamente fechado.
Desde janeiro do ano passado, o MPTE começou a receber denúncias de funcionários do hospital que reclamavam das condições de trabalho. Entre os problemas: o uso de luvas descartáveis frágeis para limpeza de material altamente contagioso com sangue e excreção de portadores de aids. Além disso, reclamaram que a lavanderia possuía várias máquinas estragadas e as roupas usadas pelos funcionários estavam retornando para o uso ainda com sujeiras. “Os funcionários chegaram a trabalhar sem equipamentos de proteção individual. Ainda assim, correndo riscos de saúde, a enfermeira-chefe não parou o serviço”, explica a ouvidora do ministério, Jacqueline Ramos Silva.
Jacqueline explica que começou a fiscalização por partes e que primeiro interditou o CME, depois a lavanderia e agora, irá pedir interdição do local usado como depósito do lixo. “O infectologista Boaventura Braz, que era diretor do Hospital, tentou por muito tempo salvar o hospital, mas tudo que eles pediam ao Estado não era concedido. Eles sempre esbarravam na burocracia. As interdições precisaram ser feitas e o problema do lixo já devia ter sido resolvido há meses. Eu acreditei que o depósito seria readequado e sei que a interdição é traumática, mas preciso aplicar a lei e não há outra opção. Na segunda-feira (14) vou pedir interdição e, como o hospital não poderá produzir lixo, deverá ser completamente interditado”, garantiu
Para a diretora-técnica do hospital, Letícia Aires, a interdição é inviável. Segundo ela, as demandas são imensas e os problemas precisam ser priorizados. Letícia, que está no comando há apenas 15 dias, trabalha no hospital há 14 anos e explica que não há como interditar o hospital. “Para onde mandaremos os pacientes? Não há hospitais com o perfil do HDT e se a ouvidora vier na segunda nós precisaremos de um diálogo. Temos muitos problemas aqui e estamos tratando tudo de maneira séria. Apesar disso, eu sei que se falta um respirador para uma criança eu vou escolher comprar o aparelho ao invés de arrumar o depósito de lixo. A gente sabe que existe o problema do lixo, mas não há nada fora do controle. Hoje (ontem) nosso Comitê de Controle a Infecção Hospitalar vistoriou o local e não apontou nenhuma calamidade”, completou.
Chorando, Letícia afirma que sofre com os problemas do HDT, mas que também sabe da qualidade do serviço prestado no local. “As áreas que são importantes estão funcionando e é importante dizer que os pacientes não estão sendo prejudicados com as interdições. Esse hospital é minha família e aqui eu sinto que faço a diferença na vida de alguém. Eu sou pediatra e trabalho aqui há 14 anos. Não estou neste cargo por dinheiro ou status. Só quero que o filho do pobre possa ter o mesmo atendimento do rico”, finaliza.
De acordo com a ouvidora, para que o local seja adequado, precisa de piso e paredes laváveis; containers novos, fechados e com sinalização de perigo, entre outros.
Problemas estruturais antigos deixaram unidade em crise
Desde o início do ano passado, o Hospital de Doenças Tropicais foi palco de diversas denúncias. Em Janeiro, o presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremego), Salomão Rodrigues, disse que a saúde vivia a pior crise da história e que os médicos estavam escolhendo quem vivia e quem morria. Faltavam medicamentos, equipamentos, material e até mesmo água e sabão para lavar as mãos. Isso sem falar da questão salarial. E foi em março que a empresa contratada para limpeza do HDT e do Hospital Geral de Goiânia (HGG) paralisou os serviços. Na época, a empresa afirmou que havia faturas em atraso desde novembro de 2011, totalizando quase R$ 6 milhões.
Em abril, representantes do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Sáude de Goiás (Sindisaúde) e trabalhadores da Secretaria da Saúde do Estado de Goiás (SES) decidiram paralisar o trabalho nos Hospitais Materno-Infantil (HMI) e de Doenças Tropicais (HDT). Entre a lista de exigências, instalação de uma mesa de discussão sobre o plano de carreira e salário, o abastecimento dos hospitais com equipamentos, remédios e insumos, a convocação dos concursados e a equiparidade de salários. Conforme prevê a lei, apenas 30% continuaram trabalhando.
Em 13 de junho, a Central de Material Esterilizado (CME) foi interditada. A medida foi tomada depois de uma operação conjunta do Conselho Regional de Enfermagem (COREN) e Ministério Público do Trabalho (MPT). Entre as irregularidades encontradas, a falta de equipamentos de proteção individual para os funcionários. Na ocasião, a Superintendência do Trabalho e Emprego afirmou que a estrutura física do local é inadequada era insegura, colocando em risco a vida dos profissionais em atividade. Funcionários foram flagrados lavando e secando materiais provenientes do Centro Cirúrgico e Unidades de Internação sem a utilização de luvas. Extintores de incêndio estavam vencidos, instalações elétricas inseguras e instalações hidráulicas danificadas foram outras irregularidades identificadas. Pouco tempo depois, o mesmo aconteceu com a lavanderia do local.
Situação constrangedora
“No HDT, enfrentamos problemas de todos os tipos: falta de leitos, exames, medicamentos e isso não muda da noite para o dia. Os problemas estruturais são os mesmos há mais de 12 anos. O que percebemos é que o hospital recebeu os portadores de HIV, mas não recebeu investimentos necessários e, assim, temos grandes desafios pela frente. Nossa situação é constrangedora, desumana”, afirma André Luiz de Melo, voluntário do HDT há 21 anos e coordenador do Movimento Igualdaids.
Pela manhã, o governador em exercício, José Eliton, visitou as dependências do HDT, acompanhado por André Guanaes, diretor da organização social (OS) que administra a unidade hospitalar, e pelos secretários Antônio Faleiros, da Saúde, e Danilo de Freitas, de Infraestrutura. Numa das alas, ele quis saber por que havia pacientes sobre macas no corredor, recebendo a informação que é uma situação provisória até que a reforma de uma das alas seja concluída, já que os trabalhos têm de ser feitos sem que o hospital deixe de funcionar.
Ampliação
A Agência Goiana de Transportes e Obras (AGETOP) informou que as obras para reforma do HDT deverão ser licitadas até a segunda quinzena do mês de março. Os projetos de engenharia já estão concluídos e em fase final de elaboração dos orçamentos. Com a ampliação, o HDT passará de uma área construída de 9.138 metros quadrados para 14.965 metros, recebendo acréscimo de 6.433 metros. A reforma e ampliação custarão ao Estado cerca de R$ 7 milhões, dinheiro já garantido no orçamento deste ano, segundo informou José Eliton.
Fonte: Jornal O Hoje