Dengue: a epidemia de novo

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Goiânia está em situação de emergência. 3,7% dos imóveis visitados têm criadouros do Aedes aegypti

Goiânia enfrenta uma epidemia de dengue. A confirmação foi feita pelo próprio secretário municipal de saúde, Fernando Machado, na manhã de ontem. Na primeira semana deste ano, foram registrados 1.545 casos da doença e, na segunda semana, 1.945. O pior é que a tendência para as próximas semanas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), é que continuem sendo registrados, em média, 2 mil casos da doença por semana. Levantamento de índice de infestação mostra que de cada 100 imóveis visitados, 3,7 possuem criadouros do Aedes aegypti – número bem maior que o aceitável pelo Ministério da Saúde, que seria 1. Por isso a situação em Goiânia deixa de ser de alerta e passa a ser considerada de emergência.

A diretora de vigilância em saúde da SMS, Fluvia Amorim, lembra que desde 2001 a cidade enfrenta epidemias consecutivas de dengue. Ela lembra que, em 2010, chegaram a ser registrados 4 mil casos por semana, o dobro do que deve acontecer esse ano, mas que isso não significa que a situação da capital não seja muito grave. Para ela, o maior problema está no fato de um número muito grande de residências possuir criadouros, principalmente provenientes de lixo domiciliar. “Mais do que nunca precisamos da colaboração de cada cidadão goianiense”, ressalta.

Preocupada com o cenário, desde dezembro – quando houve um aumento de 46% no número de notificações e a cidade entrou em situação de alerta – a prefeitura tem intensificado trabalhos de prevenção como retirada de lixo e carcaças de carros, além de vistorias em diferentes lugares, ferros velhos, borracharias e postos de saúde. Mesmo assim, de acordo com o secretário municipal de saúde, pelo menos 40 mil goianienses devem contrair a doença esse ano.

Tipo 4
Quatro tipos de vírus da dengue circulam na capital. O tipo 4 é o mais novo – foi identificado pela primeira vez em Goiânia em 2011. Exames de identificação do tipo de vírus circulante feitos pela SMS mostram que 71% das amostras coletadas são do tipo 4 e 29% do tipo 1. O tipo 2, considerado o mais grave, não está no centro das preocupações por conta de sua incidência ser baixa.

Fluvia Amorim explica que quando a pessoa contrai o vírus uma vez, ela fica imune àquele tipo. “Por isso a maior preocupação é com o tipo 4. Pouca gente é imune a ele. Mas, ao mesmo tempo, muitos goianienses já tiveram dengue. Se alguém pega a doença pela segunda vez, aumenta as chances de que a seja do tipo 4.

Prefeitura quer ampliar atendimento

Apesar do cenário preocupante, nenhum óbito causado pela dengue foi registrado em Goiânia em 2013. Para evitar que isso aconteça, a SMS já está botando em prática um plano de ações emergenciais para que a rede municipal de saúde receba as vítimas da dengue. “Precisamos melhorar o atendimento para evitar que a dengue deixe sequelas e óbitos”, afirma o secretário de saúde. Entre as ações está o aumento de profissionais de saúde nos Cais e Ciams para atender à alta demanda.

Segundo o diretor de assistência à saúde de SMS, Sandro Rodrigues, novos médicos e enfermeiros já estão sendo contratados, todos já capacitados para lidar com a doença. A rede de atendimento para coletas de exames e hidratação de pacientes deve ser ampliada e pelo menos 100 novos leitos de hidratação e observação devem ser distribuídos nos Ciams e Cais. Insumos e medicamentos também já foram comprados para conseguir suprir a mudança no fluxo de atendimento por conta da epidemia. A orientação é de que quem tiver qualquer sintoma da doença procure o posto de saúde mais próximo de sua casa.

Os Postos de Saúde da Família (PSF) também passarão a ser utilizados para atender a população infectada pelo vírus da dengue. A medida foi tomada de acordo com o número de casos. Isso ressalta que a situação passa da fase de alerta para a fase emergencial, segundo Flúvia Amorim.

Mais de 10 pessoas são contaminadas numa rua
Em apenas uma rua de Goiânia mais de 10 pessoas contraíram a dengue nas últimas semanas. Os casos aconteceram somente em uma parte da Rua 15-A, no Setor Aeroporto, lugar onde foram encontrados diversos focos do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti. No lugar há cerca de 20 casas, onde vivem adultos e crianças. Ironia ou não, a enfermeira e moradora Gloraci Pereira Dourado, 55, suspeita que também esteja com dengue.

la conta que começou a sentir os sintomas na terça-feira (15). “É muita dor de cabeça, ardência nos olhos, dor no corpo e enjôos”, relata. De licença do trabalho, Gloraci afirma que já teve a dengue tipo 1 e confessa: “estou preocupadíssima porque sei que mata”. Enquanto a enfermeira concedia entrevista a reportagem de O Hoje, a sobrinha dela, Gleici, de 38 anos, ia ao médico. De acordo com a mãe da mulher, Nerci Salustriano Pereira Santos, 56, há uma semana a moça recebeu o diagnóstico da doença e, desde então, passa por exames.

pesar de não saber especificar a quantidade exata de vizinhos que estão ou que já tiveram com a doença desde as últimas semanas, as moradoras da Rua 15-A contam nos dedos e se perdem no cálculo, mas garantem: “Já são mais de 10 casos”. Ao lado da casa da dona Nerci uma família inteira foi infectada pelo vírus e já passa bem. O quadro positivo não é o mesmo na casa da costureira Susy Moraes, 27, que está de repouso desde que soube que está com dengue. Ela acredita que os casos têm se agrado devido a quantidade de lixo na região.

Infestação
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o maior índice de infestação do mosquito da dengue está concentrado no Distrito Leste, onde estão os bairros Recanto das Minas Gerais e Parque Atheneu, com 4,64%. Em segundo está o Distrito Sudoeste, nos setores Caravelas e Sudoeste, com 4,21% dos casos. Logo em seguida surgem os setores Jaó e Genoveva (Distrito Norte; 3,98%); Vila Finsocial e Estrela Dalva (Distrito Noroeste; 3,61%); Setor Universitário e Cidade Jardim (Distrito Campinas/Centro; 3,47%); setores Oeste e Bueno (Distrito Sul; 3,38%) e, por fim, os setores Capuava e Santos Dumont (Distrito Oeste; 2,66%). (Camila Cecílio)

‘População também deve fazer sua parte’
Para dona Nerci, os focos estão por toda a vizinhança e até mesmo numa parte da rua onde os moradores colocam o lixo para a coleta. No entanto, nem tudo que está no monte é levado, fazendo com que diversos tipos de recipientes – os mais comuns quando se trata de acúmulo de água – estejam espalhados por ali. Já Gloraci comenta que a situação “nunca foi tão terrível, a dengue já é uma epidemia”.

pensionista Franklin Nunes, 60, teve dengue há duas semanas e ainda está se recuperando dos sintomas. Para ele a doença chegou de mansinho, mas os efeitos foram intensos. “Não estava acreditando que era dengue, mas eu ia andando e minhas pernas iam doendo tanto, até que a dor atingiu todo o corpo”. O senhor conta que ficou sabendo sobre os vizinhos, mas também chama atenção para uma questão que considera importante. “Os governantes fazem a sua parte, mas a população também precisa fazer a sua”, ressalta.

á uma semana chove todos os dias em Goiânia e, com isso, a quantidade de água parada é ainda maior. Por isso o senhor Franklin acredita que seja necessário redobrar a atenção. “Precisamos estar atentos aos recipientes que podem acumular água parada e mesmo as pessoas que não têm tempo devem tirar alguns minutos do seu dia para cuidar disso. Temos que vigiar sempre”, frisa. (Camila Cecílio)

Fonte: Jornal O Hoje