Goiânia, 1 milhão de veículos

00:01 0 Comments A+ a-


Número recorde, no entanto, não é acompanhado por políticas públicas que impeçam o entrave do fluxo
Goiânia amanheceu hoje com a marca histórica de 1 milhão de veículos em circulação registrados pelo Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO). As vendas de automotores superam em mais de quatro vezes a taxa de natalidade registrada na capital. Nos primeiros cinco meses deste ano, 33.398 veículos deixaram os pátios das concessionárias, segundo balanço do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Goiás (Sincodive-GO). No mesmo intervalo, 7.530 registros de nascimentos de crianças foram despachados pelos cartórios, conforme estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo divulgado em 2010.

Equivale dizer que um veículo foi vendido na capital a cada 6 minutos e 32 segundos de janeiro a maio de 2011 - isso se as lojas funcionassem 24 horas, de segunda a segunda -, enquanto um bebê foi registrado a cada 28 minutos e 39 segundos, caso os cartórios funcionassem sete dias por semana. Com essa taxa de "natalidade de máquinas", Goiânia deve agregar à sua frota 400 mil novos automóveis nos próximos 5 anos.

Impulsionado pelo volume excessivo de carros, o mercado criminoso também se expande em Goiânia. Somente no mês de maio, foram 551 veículos roubados ou furtados pelas ruas de Goiânia, número 21% superior ao mês de abril, mostrou reportagem publicada pelo POPULAR no início de junho. De acordo com o último balanço da Secretaria de Segurança Pública, em 2011, foram registrados mais de 3,3 mil automóveis subtraídos, numa média de 19,41 ocorrências por dia.

Por outro enfoque, tomando como cálculo a população com mais de 18 anos que vive na cidade, a proporção de veículos por habitante alcançou a incrível marca de 1 carro para cada 1,1 habitante. É como se todos os goianienses com idade para dirigir tivessem pelo menos um carro ( veja quadro desta página ). Se por um lado o crescimento da frota impulsiona a economia da cidade, por outro, passa também a estrangular gradativamente a mobilidade urbana e piorar a qualidade do ar.

Com um sistema viário incapaz de dar fluidez a tantos automóveis, motocicletas, caminhões e ônibus, o cenário previsto é de caos em um curto espaço de tempo, caso não haja em Goiânia investimento maciço em uma política de mobilidade que priorize o transporte coletivo. "O impacto para a cidade de tantos carros circulando é muito grande. Não temos uma malha viária que comporte tudo isso", frisa o engenheiro Roberto Veloso, mestre em Transportes e professor do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

Falta sistema viário capaz de abrigar tantos veículos e falta também um plano de mobilidade que dê conta de problema tão grande. Segundo o engenheiro, Goiânia chegou a contar com um plano dessa natureza, elaborado no início da década de 2000, mas que nunca chegou a ser colocado em prática. "Esse plano envolve as políticas de orientação de tráfego, sinalização, educação de trânsito, engenharia, enfim, envolve planejamento", ressalta. "Enquanto esse tipo de projeto não for colocado em prática, vamos continuar vivenciando o conflito entre automóveis e transporte coletivo, com prejuízos para toda a cidade."

Para o especialista, Goiânia precisa aproveitar o bom momento em que as questões envolvendo a mobilidade estão em pauta. "Está-se falando em requalificação do Eixo Anhanguera e em abertura de corredores de transporte, o que contribuirá para o essencial: o investimento em transporte coletivo", cita.

O POPULAR mostrou no último dia 20 que as medidas menos complexas adotadas recentemente pela Prefeitura de Goiânia, como a proibição de conversão à esquerda em vias como a T-9 e a T-7, foram as que apresentaram melhores resultados. Obras maiores, como o viaduto da Praça do Chafariz e a trincheira da Praça do Ratinho, embora necessárias, tiveram resultados tímidos. As duas obras custaram R$ 30 milhões aos cofres públicos. Na Praça do Ratinho, por exemplo, a velocidade do transporte coletivo reduziu 38% nos últimos três anos, segundo dados da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC).

Restrições
Para especialistas ouvidos pelo POPULAR, ainda não é hora de adotar em Goiânia políticas de restrição da circulação de veículos. Entre as medidas adotadas pelo mundo estão os rodízios de placas de veículos, passando pelos pedágios urbanos e o escalonamento de horários - também visando melhoria na fluidez no trânsito. "Essas medidas são sempre paliativas. A solução mais eficiente é mesmo o investimento em transporte coletivo", diz Veloso.

A arquiteta e urbanista Fernanda Mendonça, especialista em Trânsito e Transporte, comunga da mesma opinião do engenheiro. "Goiânia ainda não tem grandes congestionamentos que justifiquem esse tipo de medida. Temos pontos congestionados nos horários de pico, nada que seja insuportável." Segundo Fernanda, a quantidade de congestionamentos e seus reflexos para a cidade são condições que balizam a decisão de adotar medidas de restrição de circulação de veículos numa cidade.

Para a urbanista, é cedo para adotar esse tipo de medida e "começa a ficar tarde", segundo diz, para investir de forma maciça em transporte coletivo, "única saída para os problemas de trânsito e transporte de Goiânia", afirma ela. "Temos um País que reduz a pobreza e permite que cada vez mais pessoas adquiram veículos. A frota sempre crescerá. A saída é investir em transporte de massa de qualidade, é dar prioridade para os veículos do transporte coletivo", reforça.

Fonte: O Popular