Os sucatões da Anhanguera
"Tá olhando o quê?" A pergunta, pichada no interior de um dos ônibus do Eixo Anhanguera, funciona como alerta, para que o usuário não se atenha às condições de conservação dos veículos da Metrobus, sob risco de indignação. Ônibus imundos, desconfortáveis e sem condições de segurança transportam 240 mil passageiros por dia em Goiânia, com crescimento de 20% no número de usuários neste ano.
"Lavo as mãos depois de toda viagem. É muito sujo", disse a administradora de empresas Rosângela Pereira Nunes, de 25 anos. Ela embarcou ontem à tarde no Terminal Padre Pelágio. Voltava de uma entrevista de emprego. Vestia camisa de linho branco e pisava suas delicadas sandálias de salto numa crosta preta que cobre o assoalho, formada de chiclete, embalagens velhas e fuligem acumulada.
Bilhetes de sit pass, latas de refrigerante, restos de comida e até papel higiênico usado havia dentro de um veículo ontem. Numa viagem de ida e volta, do Padre Pelágio ao Terminal Praça da Bíblia, a reportagem verificou pneus carecas, sanfonas (que ligam as partes articuladas dos ônibus) rasgadas, estofados esfarrapados e cabeças de parafusos à mostra, à espera da próxima vítima. "Cuidado com as costas", alertava um passageiro.
"Se pegar fogo, morre todo mundo", reclamava a falta de segurança um motorista. "Sente o mormaço da cabine", dizia ele, manipulando um volante amarrado com arame, sentado numa poltrona remendada e respirando a fumaça que sai do suspiro do motor, por uma caixa de roda dianteira, e invade a cabine.
Sofrível
A própria Companhia Metropolitana do Transporte Coletivo (CMTC), que administra o sistema, admite as péssimas condições da linha. "A situação é sofrível, está em decadência", diz Domingos Sávio Afonso, chefe de gabinete do órgão. Ao menos 15 ônibus são recolhidos por dia nas oficinas da Metrobus, para manutenção, o que consome R$ 500 mil por mês, mas não resultam em conforto ao usuário.
A frota foi adquirida em 1998 (ainda no governo Maguito Vilela) e desde então não é renovada. A vida útil de um ônibus é de 10 anos, ou seja, a maior parte da frota - alguns com mais de um milhão de quilômetros rodados - já está sucateada. Já a última reforma nos terminais ocorreu em 2008 e gestores alegam dificuldades financeiras para justificar a falta de investimentos. A empresa fatura R$ 2,5 milhões mensais em passagens.
Fonte: O Popular