Faltam estacionamentos e fluidez para o trânsito
A reportagem do Diário da Manhã percorreu alguns pontos da cidade e deparou uma com infinidade de veículos estacionados em locais proibidos. Carros sobre calçadas, em cima de faixas de pedestre, sobre vagas preferenciais de ônibus escolar, de idosos e deficientes foram apenas algumas das transgressões observadas. O funcionário público Victor Hugo Miranda disse que precisa do carro para exercer seu trabalho e constantemente sofre atrasos procurando um local para deixar o veículo. Ele admite já ter estacionado seu carro em local impróprio, por não encontrar vaga próxima de onde precisava ir. “Achar uma vaga em Goiânia tá complicado. Em todo lado que eu ando o número de veículos é muito grande e não tem espaço para todos”, afirmou.
Com uma frota que já superou um milhão de veículos, o presidente da AMT, Miguel
Tiago, afirmou que a falta de estacionamento é aspecto comum dos grandes centros nacionais e internacionais. “Temos mais veículos do que o espaço público comporta. É natural que não tenha vaga para todos”, justificou. A situação, no entanto, é mais crítica em horários de picos e em pontos estratégicos da cidade. Segundo o presidente, Goiânia possui pelo menos seis pontos em que a disputa por uma vaga é acirrada. “Podemos citar como locais difíceis de conseguir estacionar a região de Campinas, as imediações do Fórum e Tribunal de Justiça, da praça Nova Suíca, da praça Walter Santos e da praça Cívica”, enumera.
Apesar dos locais abarrotados de veículos, já conhecidos pelos condutores goianienses, outra preocupação vem assolando os motoristas da Capital. Mais um ponto de grande tráfego de automóveis de Goiânia está sendo reorganizado para proibir os estacionamentos: a Praça Universitária. A região, que concentra um intenso número de estudantes, professores e trabalhadores, é um dos alvos das obras do Eixo Universitário, que deverá implantar, até o próximo ano, um corredor exclusivo para ônibus, dois para os demais veículos e uma ciclovia no canteiro central. Para viabilizar as mudanças, só continua permitido o estacionamento na parte central da praça.
Em entrevista ao DM, na última quarta-feira (9), o presidente da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivos (CMTC), José Carlos Xavier, o Grafite, reiterou que o número de estacionamentos nas ruas nunca será o suficiente para atender a demanda. “A cidade pode ter estacionamento para 100 ou para mil carros que vai continuar faltando. Portanto, vamos priorizar o transporte coletivo”, afirmou.
Miguel Tiago também concorda que investir no trânsito priorizando o transporte coletivo é uma das maneiras mais eficientes de melhorar a fluidez das vias. “À medida que o transporte público se apresentar com mais rapidez e acessibilidade, mais pessoas vão começar a aderir e se deslocar por outros meios que não são apenas o seu próprio carro”, argumentou, justificando que esse fator pode minimizar a demanda por vagas de estacionamento na Capital.
Outro ponto abordado pelo presidente da AMT diz respeito à insistência dos motoristas em querer parar o seu veículo na porta do local onde precisa ir. “Essa é uma tendência natural do ser humano. Procurar uma vaga em frente onde precisar ir”, disse. Segundo Miguel Tiago, se o condutor procurar estacionar seu veículo nas imediações, encontrará espaço. “Se o motorista não se importar de caminhar até 300 metros, ir por ruas menos movimentadas, deverá encontrar um espaço”, observou.
A informação ainda não convence a vendedora Deise Lima. Durante o giro que a reportagem fez procurando veículos estacionados ou parados em local proibido, encontrou-a dentro do seu veículo, encostado ao lado de uma placa que proibia a parada naquela via. Ela estava na rua 14, no Setor Oeste, em uma das entradas do Tribunal de Justiça e disse que não saiu do carro com medo de levar multa. “Fiquei aqui por precaução. A parada vai ser rápida”, garantiu. Deise afirmou que é ciente da sinalização existente no local e sabe que está errada, mas disse que não teve outra opção. “Procurar vagas é terrível. Não encontra. Até mesmo os estacionamentos privados estão ficando lotados”, disse.
Pena para a infração pode variar
A vendedora informou ainda que já levou, pelo menos, três multas por ter cometido a mesma infração. O funcionário público Victor Hugo Miranda também alega que já foi autuado por ter parado seu veículo em frente a um banco, na Avenida Goiás. “Não tinha outro local para estacionar e o que eu precisava fazer era muito rápido.
Resolvi arriscar, mas no fim do mês chegou a supresa”, contou. O motorista que estaciona ou para em lugar proibido comete infração leve e grave. Estacionar em vaga de idoso, por exemplo, é considerado leve. O condutor é multado em R$ 54 e perde três pontos na carteira. Infração grave já é constatada quando o motorista estaciona em local com sinalização de proibido, resultando em multa de R$ 127,59 e cinco pontos.
O presidente da AMT acredita que a autuação exerce caráter pedagógico no motorista e é importante para conscientizá-lo. “Autuamos para as pessoas aprenderem que o desrepeito à sinalização prejudica a qualidade de vida no trânsito e atrapalha as pessoas que necessitam daquelas vagas para o trânsito fluir melhor”, explicou. “As pessoas que são autuadas ficam muito insatisfeitas, têm uma rejeição muito grande e tenho certeza que essa é uma forma de conscientização”, completou.
Miguel Tiago ressaltou ainda que o papel da AMT não é criar vagas para a população. Ele garante que a agência se preocupa em democratizar as vagas já existentes, priorizando a fluidez no trânsito para humanizar o espaço público. “Deixar mais espaço para as pessoas transitarem andando é mais importante do que tirar espaço das calçadas para criar estacionamento”, argumentou. Para Miguel, outra maneira de contribuir seria o investimento em políticas que oportunizem a locomoção coletiva.
Especialista em trânsito, o professor aposentado da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) Délio Moreira afirma ser essencial exercer a fiscalização com rigor, como prega as legislações do Código de Trânsito. “Falta policiamento para multar os mal estacionados, os motoqueiros que vão cortando as grandes filas e assim por diante.” Délio acredita que a fiscalização é uma forma de educar e se ela fosse melhor aplicada, poderia estimular melhoras no comportamento dos motoristas.
Fonte: Diário da Manhã