Prefeito diz que está completamente entregue à administração de Goiânia e afirma que vai acelerar “ainda mais” o ritmo de obras herdado de Iris Rezende, com foco no indivíduo
Ele se mostra bem mais à vontade. Parece cada vez mais “prefeito”, bem mais convicto de suas ações e seguro de suas metas para a cidade do que ao herdar a cadeira do Paço de Iris Rezende, de quem não esconde a admiração e a quem respeita como amigo e confidente. Paulo Garcia é hoje bem mais conhecido da população goianiense e vem segurando o fardo pesado de ser herdeiro do estilo Iris de governar, sempre marcado por bastante dinamismo e muitas obras. Ele enumerou dezenas delas — espalhadas por toda a cidade e em todas as áreas da administração — durante a boa entrevista que ao Jornal Opção. Fez questão de ressaltar que quer ser marcado como um gestor que prioriza o lado humano do cidadão. Justifica o cuidado pela formação de médico. “Tenho muita preocupação com a qualidade de vida das pessoas. Quero que as pessoas tenham autoestima, que se sintam bem em morar em Goiânia.” O prefeito não se absteve de falar sobre nenhum tema, mas disse que não é hora de perder tempo discutindo sua reeleição. “Quero é trabalhar, e trabalhar muito pela cidade.” Ele aproveitou para esclarecer assuntos polêmicos, como a questão da incorporação de gratificações por auxiliares Raphael Cupertino (Zôo) e Fernando Contart (Amob).
Cezar Santos — Como é dar continuidade à administração de um realizador como Iris Rezende? É fácil ou a comparação é problemática?
Peguei a administração de uma pessoa que tem uma capacidade de realização inigualável. Minha preocupação era manter o ritmo, considerando que tenho pouco tempo, só até dezembro de 2012. E fazendo uma autocrítica, sem falsa modéstia, acho que mantivemos esse ritmo, até acelerando. Estamos num ritmo aceleradíssimo de obras e vou acelerar mais ainda até o final do mandato. A equipe está bem montada, ajustada e vai executar muitas obras, programas e projetos. Mas só isso não me basta. Quero que cada centavo do recurso do município seja gasto promovendo qualidade de vida. Esse cuidado é até pela minha formação: sou médico, tenho formação humanística e me preocupa muito a qualidade de vida das pessoas. É isso que persigo, que as pessoas tenham autoestima, que se sintam bem em morar na cidade de Goiânia, que tenham alegria de viver. Quero criar um ambiente de relação fraterna.
Euler de França Belém — E os projetos para a habitação, como estão?
Eu convidei a presidente Dilma Rousseff para vir a Goiânia inaugurar o Cerrado 7, que a Caixa Econômica Federal tem trazido pessoas do Brasil inteiro para conhecer. Eu sou suspeito para falar, até porque estou diante do secretário de Habitação [Paulo Borges, que acompanhava a entrevista], mas eu não estou exagerando, é um projeto que não estamos chamando nem de conjunto habitacional, mas de condomínio habitacional, onde tem até estação de tratamento de esgoto própria. Meu secretário de Habitação está fazendo um trabalho que não é surpresa, caso contrário não o teria convidado.
Euler de França Belém — O sr. não está arrependido disso?
(Risos) Arrependido? Ele está cumprindo a meta que me disse que faria até 2012 agora em 2011.
Patrícia Moraes Machado — Essa é a antecipação de uma chapa [com Paulo Borges]?
Se for candidato, vou trabalhar pela nossa base de sustentação, que tem vários partidos. Obviamente, os partidos que coordenam essa aliança hoje são PT e PMDB e tenho certeza que será assim também em 2012. Os dois devem apresentar os nomes para a chapa majoritária. Eu jamais seria descortês de participar de uma decisão interna de um partido a que não pertenço. Meu secretário de Habitação é do PMDB. Caberá ao PMDB decidir, durante a discussão do processo eleitoral. Agora não é hora de discutir, porque tenho de trabalhar tanto que não posso preocupar com processo eleitoral.
Patrícia Moraes Machado — Mas esse trabalho de habitação, que é uma vitrine muito interessante para o sr., fortalece ele dentro do PMDB?
Tenho certeza que todos os partidos dão valor aos seus melhores quadros, sem exceção.
Euler de França Belém — Mas o sr. vai ser candidato a reeleição, está decidido?
Não tenho o direito de discutir isso. Estou vivendo um momento muito alegre da minha vida. Estou me sentindo em uma posição, sem nenhuma arrogância, com muita humildade, estou me sentido em um momento muito confortável porque nós estamos conseguindo fazer o que eu me propus, que é uma administração que dê resultado e que se preocupe com as pessoas. Tenho uma decisão que é muito pessoal e espero que as pessoas respeitem: tenho tão pouco tempo para administrar Goiânia, mais um ano e meio, e tenho de administrar de forma correta. O processo eleitoral é em 2012. Em 2012, esse assunto será discutido. Não é agora. Eu não posso me dar ao luxo de ficar discutindo isso agora.
Euler de França Belém — Seus adversários dizem que o sr. é um candidato “derrotável”. Na verdade, todo candidato é “derrotável”. Mas falam o seguinte: pelo fato de o sr. ser “derrotável” todo mundo quer ser candidato em Goiânia. Como o sr. avalia isso?
Com muita humildade. Acho que as manifestações individuais, além de serem democráticas, são legítimas. Eu disse aqui no início: os anseios individuais têm de ser muito respeitados. Eu penso que todo mundo que é eleitor em Goiânia tem direito de ser prefeito.
Euler de França Belém — Um dos seus problemas é que você é pouco conhecido. Segundo pesquisas, o grau de conhecimento ainda é pequeno.
Eu não sei quais pesquisas, com toda a sinceridade e franqueza.
Euler de França Belém — O sr. é conhecido por 50% da população?
Sou. Pelo número que acho que seria adequado nesse momento.
Euler de França Belém — Qual pesquisa?
Tenho informação, eu ando na cidade toda. Eu sou muito esforçado, pragmático. Quando decido uma coisa eu vou até o fim e consigo. Eu gosto de obstáculo. Obstáculo não me deixa nem um pouco esmorecido.
Elder Dias — Como o sr. vê a movimentação do PMDB em relação a seu nome como candidato? O sr. acredita que ainda existe dúvida de que o senhor é o candidato natural, por parte de alguns peemedebistas?
Não posso responder pelo PMDB.
Elder Dias — Mas o sr. sente que está sendo mais bem acolhido pelo partido?
Ah, tenho uma relação fraterna com o PMDB. O partido que mais tem participação na minha administração é o PMDB, com nomes importantes. Um deles está aqui, um vereador [Paulo Borges]. Tenho uma relação fraterna, vocês não tenham dúvida. PT e PMDB estarão juntos nos próximos anos.
Euler de França Belém — O sr. chega à prefeitura às 6 horas?
Deixa eu contar uma gafe que cometi esses dias. Eu tenho insônia, sempre dormi pouco. Penso que é genético isso. Mas, esses dias, peguei o telefone e liguei para um auxiliar. Vi que ele atendeu com uma voz sonolenta, quando olhei no relógio era 15 para as duas da manhã. Falei, “você me desculpa”, eu não estou mentindo para vocês. Eu não vi que era aquela hora. Mas já cheguei [à Prefeitura] às 5 horas. Mas não é isso. O horário é 8 horas, às vezes 7 horas. Mas eu queria falar sobre a aliança. A gente tem conversado com todos os partidos que deram sustentação para o presidente Lula e dão à presidente Dilma e me auxiliam na administração. Prova essa foi a reunião que promovi com o presidente Lula. Estavam lá os presidentes regionais do PMDB, PC do B, PDT e PSB. Não convidei mais porque não tinha espaço físico, meu apartamento é pequeno para acomodar muita gente. Mas procuro respeitar todos os partidos que nos auxiliam. Eu acredito muito que o resultado de uma administração é coletivo. Não acredito em resultado individual.
Euler de França Belém — Por que Demóstenes [Torres, senador do DEM] lidera as pesquisas em Goiânia?
Deixa eu te dizer o seguinte: no processo eleitoral de 2012, nosso grupamento para apresentar um candidato viável tem que mostrar a população que trabalhou muito, que fez o maior esforço possível e realizou tudo aquilo que era necessário. Eu penso que é mais ou menos assim: faz primeiro o que é necessário; depois, o que é possível e, quando menos se espera, está fazendo aquilo que achavam que era impossível. Cabe ao candidato do governador, que me parece que é o senador Demóstenes Torres, também colher os resultados da administração do Estado. Então eu penso que neste momento não é hora de discutirmos índices, dados, temos de trabalhar.
Euler de França Belém — Por que o senhor acha que ele é o candidato do governador?
Pelo que eu leio na mídia é isso que eu percebo. Pelo menos o que eu vejo é isso, que o Demóstenes é o candidato do governador. Ou não?
Patrícia Moraes Machado — No Congresso da UNE, um dia depois de jantar com o presidente Lula, o sr. falou que, se morresse naquele dia, morreria feliz....
Mas como eu não morreria feliz? A pessoa que eu mais idolatro do ponto de vista de política nacional, com quem eu tinha amizade por nos encontrarmos em eventos políticos, vem jantar na minha casa! Um homem que é uma personalidade mundial veio jantar na minha casa... Claro que eu tinha de dizer que ficaria feliz se morresse no dia seguinte!
Patrícia Moraes Machado — Isso é uma glória política. Mas a glória como administrador, tendo a oportunidade de transformar uma cidade como Goiânia para melhor, é uma oportunidade para poucos. Como o sr. pegou essa cidade e como o sr. pretende entregá-la ao fim deste mandato?
Peguei a cidade em uma situação extremamente favorável, que me foi entregue sem dívidas e com projetos, senão em andamento, pelo menos já pensados. Procurei manter o ritmo e até avolumá-lo. As pessoas percebem isso. Desejo que, além de obras, eu transforme Goiânia em um espaço fraterno, extremamente justo, onde as pessoas têm autoestima elevada, prazer de viver, onde as pessoas entendam que quem está trabalhado por Goiânia está preocupado com a vida delas.
Patrícia Moraes Machado — O sr. garante que, com a formação que tem, vai entregar para o cidadão uma cidade melhor?
Não tenho a menor dúvida disso, pode escrever.
Euler de França Belém — E a cidade? Nós não conhecemos Goiânia. Na verdade, conhecemos regiões. O sr. conhecia Goiânia antes?
Eu conheço bem Goiânia. Conhecia menos, agora conheço mais. Tem gente que fala que eu tenho um GPS na cabeça. (risos)
Euler de França Belém — Goiânia lhe surpreendeu?
Não me surpreendeu porque eu conhecia. E conhecia porque fiz muita campanha eleitoral em Goiânia. Desde 2000 eu ando Goiânia inteira. Eu nasci aqui. Tenho 50 anos de vida, cinco décadas nessa cidade. Um pequeno período da minha vida que eu passei fora. E eu ainda fui vice-prefeito de Iris Rezende, aprendi muito com ele. Então, Goiânia não me surpreende.
Euler de França Belém — Qual será a participação de Iris Rezende em sua campanha?
Tenho certeza de que ele será um companheiro de todas as horas.
Patrícia Moraes Machado — Ele vai ser candidato a vereador?
Eu não tenho conversado com ele sobre o processo eleitoral. Se o ex-prefeito Iris for candidato a vereador, ele sozinho elege 10 pessoas.
Elder Dias — E o PMDB quer que ele seja candidato?
Quem não gostaria? (risos) Mas deixa eu dizer uma coisa, eu não vou me preocupar com campanha por agora. Acho que quem está se preocupando com isso agora é porque não tem nada de ofício ou está deixando de fazer o que teria de ofício. Porque quem tem função pública deveria estar preocupado com seu dever, não com o processo eleitoral.
Euler de França Belém — O que Adriete Elias, de Catalão, está fazendo no seu governo?
Eu a convidei pelo conhecimento que adquiriu como deputada, para trabalhar em simbiose com o governo do Estado, que criou a Secretaria Metropolitana e eu percebi que eu tinha uma secretaria extraordinária vaga. Eu penso que fui o último deputado a modificar com base em lei a formatação da região metropolitana. Então, eu busquei uma deputada que tivesse essa experiência, que servisse esse modelo que também foi proposto pelo governo do Estado, que levou um deputado estadual.
Patrícia Moraes Machado — Como está a sua parceria com o empresário Júnior do Friboi?
Júnior é um grande amigo, assumiu a vice-presidência do PSB. O PSB faz parte da base de sustentação do meu partido.
Euler de França Belém — O sr. demitiu João de Paiva Ribeiro [ex-secretário de Compras e Licitações]. Foi por corrupção?
Nós conversamos com ele, que colocou o cargo à disposição quando houve uma denúncia e ele me disse que se sentiria mais confortável quando a avaliação e todo o processo de investigação fossem concluídos. Eu acatei. Acho que ele estava correto.
Euler de França Belém — E a questão dos salários de Raphael Cupertino e Fernando Contart?
Que bom que você me perguntou, porque não tenho tido oportunidade de explicar isso. O chamado artigo 31 que foi denunciado foi motivo de acréscimo por parte dos vereadores em 2000, de um projeto de lei encaminhado por Nion Albernaz à Câmara, que abordava temas do plano de cargos e salários da Educação, foi emendado pela Câmara há 11 anos. E o prefeito acatou a emenda e sancionou. Portanto, essa lei existe e foi sancionada e homologada pelo prefeito Nion Albernaz. De lá para cá, 1.767 servidores do município utilizaram essa lei para incorporar gratificações. Vamos excluir, desses 1.767, quatrocentos e poucos servidores da Educação. Os cerca de 1.300 não são servidores da Educação. Então, ao longo de 11 anos, mais de 1.300 servidores utilizaram essa solicitação para a incorporação com base na legislação vigente. E a interpretação vem sendo aceita por todos os prefeitos que me antecederam. Não há nenhum ato assinado por mim relacionado a essa lei. Sou o único prefeito nesses 11 anos que nunca assinou ato baseado nessa lei. A última dúvida que houve há anos foi um questionamento sobre essa lei. Uma procuradora assistente se manifestou. A dúvida dela era de que o artigo 31 não cabia em um caso específico, que nem são relativos a esses especificados. Nesse caso, existe um órgão na administração pública municipal que cuida disso, que é o Conselho Superior do Servidor, que disse que aquele servidor ou servidora tinha, sim, direito, com base na legislação, de incorporar esse vencimento ao seu salário. Essa é a verdade dos fatos. Eu, pessoalmente, não tenho um ato sequer assinado. Mas houve uma denúncia, encaminhada por dois vereadores ao Ministério Público, que notificou o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que solicitou a interrupção do pagamento dessa gratificação, até o julgamento em definitivo, para esses servidores e mais três, no total de cinco. Eu solicitei de imediato ao TCM que me informasse como deveria me comportar em relação aos outros, porque eu não quero cometer nenhum ato de improbidade administrativa. Aliás, eu não cometo. Se tem um cuidado que tenho é com a legitimidade e idoneidade de meus atos. Ele me determinou a suspensão de pagamento de 5, mas e dos outros 1,3 mil que não são da Educação? Preciso de segurança jurídica para me posicionar, porque não fui eu que criei a lei, mas ela existe. Até ser modificada, as pessoas ganham na Justiça e quem arca com o ônus é o município. Essa é a verdade. A lei foi criada no governo Nion e vem sendo adotada ao longo dos anos.
“Vamos entregar mais parques este ano”
Cezar Santos — Parques foram prioridade nas administrações Iris Rezende, às quais o sr. tem dado continuidade. Goiânia vai ganhar mais parques este ano?
Sim. Temos 27 parques, ou unidades de preservação, como prefiro chamar. A última, o Baliza, na Região Noroeste, foi inaugurada agora por mim. Temos em execução o do Itaipu, cuja obra foi paralisada temporariamente porque a empresa desistiu. No Parque Campininha das Flores, retomamos as obras definitivamente agora, no aniversário de Campinas. Estamos ampliando o Mutirama, que vai se tornar o maior parque público do País, com a construção do túnel sobre a Avenida Araguaia, reunificando as duas áreas do Córrego Botafogo, como previsto no projeto original de Attilio Correia Lima, da década de 1930. Temos o Parque da Vovó, cujas obras iniciais eu lancei no Parque das Amendoeiras, perto do Cais. Então, resumindo, temos em execução o Parque do Itaipu, a recomposição do Mutirama, o Parque da Vovó e o Campininha das Flores.
Elder Dias — E sobre o projeto Macambira-Anicuns?
O Macambira-Anicuns, iniciado na administração Darci Accorsi, vou conseguir tirá-lo definitivamente do papel. Se não tivermos problemas nos prazos, dentro de dois meses vamos iniciar o processo de licitação das obras. O projeto inicial foi um pouco ampliado, serão 26,5 km de extensão de parque horizontal. Além disso, haverá duas unidades de conservação separadas. Então, somando-se, são sete parques.
Além disso, temos outras unidades que têm problemas técnicos, como o Parque do Jardim Nova Esperança. Ali será preciso uma obra de arte de engenharia para a formação de um lago muito extenso. É preciso uma obra de contensão e de drenagem adequada, os técnicos estão estudando isso.
Essa característica que eu chamo de desenvolvimento sustentável, nem é preservacionista, já está no inconsciente coletivo. Nossa comunidade não aceita mais que Goiânia produza atividades que não sejam limpas. Aliás, essa foi uma das razões que levaram o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] e a União Europeia a escolherem Goiânia para implantação do projeto-piloto de Cidades Emergentes Sustentáveis. Fizeram uma seleção entre 500 cidades da América Latina, consideradas de médio porte, de 200 mil a 2 milhões de habitantes, utilizando critérios, para o afunilamento, como IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], capacidade do sistema educacional, característica preservacionista e preocupação ambiental e a possibilidade de desenvolvimento de todas as cadeias econômicas ao longo das próximas décadas. Aí, o que me chamou a atenção, segundo eles, é que Goiânia terá, nos próximos 30 anos, crescimento ascendente de todas as suas cadeias produtivas. E um dado que eu não tinha, revelado por eles, Goiânia é responsável por 0,8% de todo o consumo brasileiro. Não sei se isso é para se comemorar, mas não se deve apenas aos goianienses. Goiânia é cêntrica, atrativa para vários municípios brasileiros. Tudo isso mostra que somos mesmo a melhor cidade em qualidade de vida.
Cezar Santos — O sr. lançou um programa de segurança. A Prefeitura vai ajudar na segurança pública?
Hoje [dia 18], lançamos o Programa Goiânia Mais Segura, na Região Noroeste. O projeto inicial vai englobar os Setores Finsocial e Morada do Sol, bairros vizinhos. Esse projeto vinha sendo gestado desde que mandei a reforma administrativa para a prefeitura, criando a Secretaria de Defesa Social. Constitucionalmente é dever da União e do Estado a segurança do cidadão, mas tenho a visão de que o município tem de participar. Para criar essa secretaria, estudamos vários modelos e o que serviu embrionariamente para gestarmos nosso projeto foi o de Diadema (SP), cidade da região metropolitana de São Paulo que tinha índices alarmantes de delitos e de criminalidade. Tive a sorte de conhecer Regina Miki, secretária nacional de Justiça, minha amiga, responsável pelo projeto, e depois José de Filippi Júnior, que foi prefeito por três mandatos e hoje é deputado federal. Foi ele que implantou essa secretaria em Diadema. Colocamos no guarda-chuva da nossa Secretaria de Defesa Social alguns departamentos, como uma agência da Guarda Municipal, um departamento de interação social, um departamento de prevenção e atenção e combate à dependência química, em especial ao crack. Nosso entendimento é de que o município precisa participar. Não adianta só cobrar e deixar por conta do Estado e da União a solução para superar esses obstáculos. No dia da posse do novo comandante do Policiamento da capital, coronel [Sérgio] Katayama, me encontrei com o comandante-geral da PM, coronel [Raimundo] Nonato [de Araújo Sobrinho], com o secretário de Segurança Pública, João Furtado, e disse a eles que tinha uma proposta de trabalho em conjunto num projeto interessante. E depois recebi a visita de toda a cúpula da segurança estadual e então fiz a proposta de limitar uma área geograficamente para atuar nos limites dos deveres de cada uma das instâncias — já que todas são valiosas para se implantar um projeto de segurança. Da nossa parte, colocaríamos a Guarda Municipal e 150 agentes, viaturas e motos, que eu comprei para a Guarda, dentro do padrão estabelecido pela Secretaria Nacional de Segurança, do Ministério da Justiça. Essa Guarda vai agir como polícia comunitária. Precisamos nesse trabalho de uma atuação simbiótica de todas as nossas secretarias, como educação, saúde, esporte e lazer, cultura, trabalho. Obviamente o trabalho ostensivo vai ser feito pela Polícia Militar, no combate direto aos delitos. E a parte de inteligência cabe à Polícia Civil e à Polícia Federal, a qual também convidamos. Então isso mostra que queremos fazer e estamos fazendo. Goiânia está um canteiro de obras, mas não quero ser só um gerente de obras. Tive oportunidade de ter uma escola com um administrador que faz obras como ninguém. Anteriormente tive oportunidade de aprender a administrar, mas, além disso, quero me preocupar com as pessoas.
Euler de França Belém — E como está a qualidade dos serviços oferecidos aos cidadãos?
Temos grande preocupação com os serviços públicos e estamos tentando avançar. Dou exemplos do que estamos fazendo já no âmbito da reforma administrativa, que muita gente dizia que era só para acomodação política e, pelo contrário, nós reduzimos postos. Na reforma, transformamos a Comdata [Companhia de Processamento de Dados] em Agência de Ciência, Tecnologia e Inovação, para que tivéssemos um arcabouço tecnológico que dê sustentação para prestação de serviço de qualidade, ágil, rápido e on-line. Hoje em dia, com a tecnologia, não podemos nos limitar a uma prestação de serviço que demande papel, burocracia, obrigando as pessoas a se locomoverem a várias unidades. Um exemplo prático disso: hoje o goianiense entra na internet e tira em segundos o registro de número oficial e do uso do solo para empreendimentos empresariais. Antes, tinha de percorrer vários lugares. Além disso, estamos em fase final de estudos para criar unidades de atendimento mais contemporâneas, que usem de tecnologia embarcada para produzir serviços de qualidade para a população. Por meio do Fundo do Servidor, o IPSM, adquiriu-se uma unidade no Centro para instalar uma agência de atendimento de alto padrão. Esse projeto significa “e-doc” [documento eletrônico], mas tudo isso faz parte de um projeto maior que é o “e-gov”. Queremos transformar a relação do governo com a sociedade. Se estou preocupado com as pessoas, tenho de oferecer um serviço de qualidade a elas.
Euler de França Belém — A área de saúde é sempre problemática. Houve avanço nesse setor em Goiânia?
Goiânia é a capital de melhor qualidade de vida do País, organismos internacionais nos dizem isso. Mas não escondo o sol com a peneira, sei que temos muitos problemas. Precisamos avançar na saúde, na educação. Aliás, fiz compromisso de construir tantas unidades quantas forem necessárias para zerar a demanda no ensino infantil. E lembro que no ensino fundamental não há mais procura, da 1ª à 9ª série todas as crianças têm vagas na rede municipal. No ensino infantil, de 6 meses a 5 anos, ainda temos uma demanda de cerca de 5 mil crianças. Mas temos prazo até 2016, pelo Ministério da Educação, porque o ensino infantil não era responsabilidade do município, só passou a ser com a modificação do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação]. Mas pretendo até 2012 zerar essa demanda atual. Precisamos, sim, avançar principalmente nas áreas de atenção humana, na saúde, na educação, na mobilidade urbana, que me preocupa muito.
Euler de França Belém — Ainda sobre saúde, a questão das drogas é muito séria. O que sua gestão está fazendo nessa área?
Nós nos inserimos no projeto do Ministério da Saúde. O ministro Alexandre Padilha (PT) esteve aqui há poucos dias, para assinarmos ordem de serviço para uma obra no Jardim Novo Mundo. Temos alguns CAPs [Centros de Atenção Psicossocial], mas queremos ampliar a rede. Esse projeto tem uma visão global da dependência química. Nós já temos equipes com o chamado consultório de rua, em que os profissionais de acolhimento abordam diretamente pessoas em situação de risco social ou de dependência química, por exemplo, um alcoólatra dormindo em praça pública. Essa equipe tem médicos, psicólogos, enfermeiros etc. Passam pelos ambulatórios, por uma rede hospitalar para atendimento em que a internação seja necessária, já que dependência química é uma doença. Temos já um pronto-socorro psiquiátrico que dá atendimento na porta de entrada para o Sistema Único de Saúde. Esse é o modelo proposto pelo Ministério da Saúde que adotamos em Goiânia.
Patrícia Moraes Machado — O paciente entra pelo pronto-socorro e depois qual é o caminho?
É destinado à rede conveniada do SUS onde haja leito hospitalar para esse tipo de tratamento.
Patrícia Moraes Machado — A Prefeitura tem um projeto para o pós-atendimento inicial?
O pós-atendimento é feito nos CAPs, não só para o dependente, mas também para todo o seu núcleo familiar, que é completamente afetado por uma patologia como essa.
Patrícia Moraes Machado — Hoje, para agendar uma consulta na neurocirurgia na rede municipal em Goiânia, a demora é em torno de seis meses. Uma pessoa que tem a necessidade iminente nessa área pode esperar tanto tempo?
Situações emergenciais são atendidas no pronto-socorro, há essa porta de entrada, o SUS se dissemina. Em Goiânia temos alguns serviços de urgência e emergência nos Cais 24 horas. E há os hospitais do Estado que prestam atendimento emergencial nas situações de traumas, acidentes ou de agudização emergencial nas diversas patologias. A maior parte das patologias neurocirúrgicas, acidentes vasculares cerebrais, hemorrágicos e isquêmicos, é encaminhada aos hospitais de urgências. As consultas são em situações eletivas. Estamos procurando melhorar. Nossa Central de Marcação de Consulta foi premiada pelo Ministério da Saúde como modelo de atendimento e, apesar disso, detectamos necessidade de modificação para humanizar essa relação do paciente com o SUS na prestação de serviço. Racionalizamos as marcações de consultas em termos de horário, escalonando as marcações.
Cezar Santos — Está prevista a construção de unidades?
Vamos construir quatro centros de especialidades espalhados nos quatro polos geográficos da cidade. Vamos construir mais dez Unidades Básicas de Saúde. E vamos construir três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), sendo que uma já foi iniciada no Jardim Itaipu — são unidades de atendimento emergencial. E vamos entregar até o fim do ano um hospital da mulher: a Maternidade Dona Iris deixará de dar só assistência obstétrica à mulher gestante para dar assistência global à saúde da mulher. Vai ser o primeiro hospital da mulher em Goiânia e consegui agora com o ministro Padilha recursos federais para equipá-lo. As obras lá estão em dois turnos, 24 horas por dia, e vamos inaugurá-lo rapidamente. É uma obra com recursos próprios da Prefeitura. Vai ficar fantástico. É uma quadra toda e, ao lado, vamos instalar o Projeto Cegonha, em convênio com o Ministério da Saúde. Nessa casa, para os casos em que a mulher precise ir com mais frequência ao obstetra, ela poderá ficar alojada. Precisou ir ao hospital, é só atravessar a rua. Outra situação, se o bebê tem problema — nasceu prematuro, por exemplo — e precisa de atendimento de terapia intensiva, ele fica na UTI do hospital — serão duas UTIs lá — e a mãe fica alojada na casa, perto da sua criança. Já pensou a comodidade para uma mãe que mora no Bairro Floresta [região Noroeste de Goiânia], por exemplo, bem distante da Vila Redenção, onde fica o hospital da mulher?
Patrícia Moraes Machado — Qual solução para a falta de UTIs em Goiânia, um problema recorrente?
Contratamos agora mais leitos de terapia intensiva, melhorando a remuneração. Praticamente triplicamos a remuneração que era paga por esses leitos. Nesse aspecto há um problema, do qual não reclamo, mas faço observação. Conversei com o secretário estadual de Saúde, porque precisamos de auxílio do Estado. De cada três atendimentos feitos em Goiânia diariamente, dois vêm de 550 outros municípios. Goiás tem 246 cidades. Mas vem se tratar em Goiânia gente do Acre, do sul do Pará, do Tocantins, do Maranhão, do Distrito Federal, do oeste da Bahia, vem gente de todas as regiões. Goiânia é um polo de atratividade, de excelência. Têm casas de outras prefeituras, até de outros Estados em Goiânia. Não reclamo, mas isso sobrecarrega nossas unidades. Quando vamos ao Ministério da Saúde propor programas, só podemos fazer com base em nossa população, não posso pedir recursos considerando que atendemos três vezes mais. Do ponto de vista das cadeias produtivas, não é ruim essas pessoas virem para Goiânia. Elas gastam com alimentação, fazem compras, usam serviços variados, movimentam as cadeias produtivas. Em alguns casos, até recebemos a posteriori os recursos do tratamento pelo SUS quando há pactuação dos municípios. Então, do ponto de vista econômico, pode-se dizer que não é ruim essas pessoas virem, mas do ponto de vista de ocupação das nossas unidades é muito ruim. Elas são planejadas para “x” e atendemos “3 x”. E não há como planejá-las para mais porque os critérios adotados pela União são por base na população medida pelo IBGE. Em recente reunião de prefeitos de capitais, em Belo Horizonte, vimos que todas as capitais vivem o problema, não é só Goiânia. Queremos discutir isso com o Ministério da Saúde. Falei com o ministro Padilha, mas isso passa por mudanças na legislação, por votação no Congresso, não é tão simples porque são recursos federais.
Patrícia Moraes Machado — Diante de toda essa demanda que o sr. cita, não seria interessante construir um hospital do município, com UTIs e toda a estrutura?
Criaríamos outro problema. Há um fortalecimento do Estado fiscalizador e enfraquecimento do Estado executor - isso é minha opinião, que pode ser contestada. Fazer obra ficou muito complicado no Brasil hoje. Por exemplo, tenho recurso de caixa para promover melhoria na remuneração dos servidores, mas não posso fazer, porque meu gasto com folha atingiu o limite prudencial que a legislação determina. Para o Hospital da Mulher, vou ter de contratar mais 800 profissionais, tenho de ter um cuidado muito grande sob risco de estourar o limite. O problema então não é construir uma escola, um CMEI, um hospital de urgência. Isso é relativamente fácil. O problema depois são os recursos humanos para manutenção dessa estrutura que for construída. A legislação me limita, não posso contratar, não posso aumentar salários. Se construir um hospital, como vou fazer?
Patrícia Moraes Machado — Então o sr. não pode aumentar o piso salarial do médico?
Eu sancionei o projeto gestado pelos médicos, pelo SindSaúde com representação de todas as entidades. O plano foi aprovado agora e é um dos mais modernos do País. E deve ter um repique salarial em agosto e outro no final do ano. Mas se você estiver se referindo ao piso nacional salarial que as entidades estão propondo, aí tem de passar no Congresso Nacional.
Patrícia Moraes Machado — A queixa dos médicos é sobre o piso nacional. Mas o que pergunto é o seguinte: o médico ganha “x” na Prefeitura. Se quiser aumentar para “mais x”, o sr. pode?
Somos favoráveis ao piso nacional, mas na Prefeitura não posso aumentar o salário dos médicos porque estou no limite constitucional. Eu posso gastar até 54%, mas é errado. Tem de ter uma margem porque às vezes surgem alterações que não estavam previstas. Você em uma situação emergencial precisa fazer contratos, têm também os repiques, os planos de cargos e salários, reposição salarial... Dei uma reposição salarial esse ano que ninguém deu em Goiás. O Estado está propondo, salvo engano, 1 vírgula alguma coisa; o nosso foi 6,75%, que é uma reposição inflacionária, fora os ajustes dos planos de cargos e salários.
Euler de França Belém — O sr. já falou sobre o assunto, mas o [médico] Dráuzio Varela escreveu um artigo interessante na “Folha de S. Paulo” sugerindo a internação de usuários de drogas pesadas.
Para deixar bem claro: sou contra [internar]. Eu adotei a tese. Isso está ultrapassado no País. A tese hospitalocêntrica do tratamento da doença mental está ultrapassada. Não, eu não disse que não pode internar. Não foi isso que eu disse.
Euler de França Belém — O sr. falou para mim que é contra o Credeq.
O Credeq está sendo citado agora.
Euler de França Belém — O sr. me falou na semana passada.
Eu não tenho dúvidas em afirmar que um hospital isolado para tratamento de uma doença mental é uma posição já superada no País e no mundo. Não há por que em um hospital geral não ter uma enfermaria — ou leitos privados, apartamentos — dedicada a essa área, uma doença como as outras.
Euler de França Belém — O HDT [Hospital de Doenças Tropicais] está ultrapassado?
Não, o HDT é um local de tratamento de doenças infectocontagiosas, que em algumas situações precisam de tratamento sob isolamento para evitar a cadeia de transmissão.
Patrícia Moraes Machado — A proposta da prefeitura é buscar os doentes e levá-los para um tratamento?
As pessoas chegam em uma situação aguda no pronto-socorro. Numa situação que não seja de agonização elas entram num sistema ambulatorial e se precisarem de internação são encaminhadas para os leitos hospitalares que são comprados ou nós temos na nossa rede própria.
Patrícia Moraes Machado — Hoje, a gente teria como buscar essas pessoas nas ruas e levá-las para onde? Não há leitos.
Nós não temos leitos suficientes em Goiânia em algumas situações em razão do que já expliquei. A nossa rede de assistência de saúde se fosse só para os nossos usuários estaria dimensionada de forma adequada.
Patrícia Moraes Machado — E o tratamento compulsório de três meses? Não tem como fazer tratamento compulsório?
Tem. É o seguinte: hoje em dia os CAPs são criados modernamente, inclusive com áreas acessórias, para pessoas que possam ficar por um período mais longo, mas numa convivência não hospitalar. É quase uma casa de acolhida e recuperação. Os CAPs modelos são pensados. Neles a pessoa tem um tratamento ambulatorial multidisciplinar.
Patrícia Moraes Machado — Quantos CAPs modelos Goiânia precisaria?
Não sei mensurar, mas nós temos previstos para Goiânia mais quatro.
Cezar Santos — Sobre a questão de entrosamento das Secretarias Municipal e Estadual [de Saúde], em um passado recente seu ex-secretário Paulo Rassi ficava de bate-boca com a secretária estadual, principalmente na história da dengue. Agora tem um entrosamento maior entre prefeitura e Estado?
Acho que vocês têm percebido isso, não têm? Volto a repetir: nosso objetivo é humanizar nossos programas e projetos. Quando inauguro uma praça não fico pensando em quantos sacos de cimento gastei, não é isso que me atrai. Eu olho o que tem de ser feito. E nós estamos fazendo muito. Temos atuado em tudo que o Estado nos propôs, uma relação institucional que traga resultados positivos para a sociedade goiana, de forma imediata, aberta e tranquila. Um exemplo são as obras urbanísticas do Estádio Serra Dourada para receber aquele jogo [Brasil x Holanda, em junho]. Acho que ficou claro que nós atuamos independentemente de matiz ideológica, de sermos partidos de oposição, de governos que não foram eleitos dentro do mesmo processo eleitoral. Agimos de forma republicana e tranquila. E tem sido assim, acho que nesse ponto mereço reconhecimento. A relação que percebo entre Elias Rassi [secretário municipal de Saúde] e Antônio Faleiros [secretário estadual de Saúde] tem sido a mais madura, republicana e tranquila possível.
Euler de França Belém — O problema da dengue não está resolvido. Mas como está?
Está bem equacionado. Houve uma redução significativa. A dengue tem de ser atacada não só pelo poder público, municipal ou estadual, mas com a participação ativa da sociedade organizada e a conscientização das pessoas. Porque esse é um problema endêmico que, se não tratado, pode vir a ser epidêmico algum dia. Goiânia nunca teve surto epidêmico. Nós estávamos em uma situação de endemia, que é uma situação que nós temos de conviver com ela até que se encontre uma solução definitiva. Goiânia está participando de um estudo multicêntrico internacional como um dos polos da evolução da criação da vacina definitiva da dengue. Tem um polo na América Latina, uma parte no México, outra no Brasil, um módulo na Austrália e outro na África.
“Mobilidade me preocupa muito. Temos de proteger o pedestre”
Euler de França Belém — O sr. está demonstrando preocupação com a questão da mobilidade urbana. Como o sr. vê essa situação?
Fiz duas obras grandes na Perimetral Norte. Na BR-060 vão ser unidas duas faixas da região Oeste, bairros que eram incomunicáveis e que tinham problema de segurança, de fluidez e de mobilidade. Só em Goiânia tem quatro obras de engenharia [na BR-060]. Tem um viaduto no final da Vila Canaã, na Vila Mauá, saída para Guapó. Na saída do Setor Goiânia Viva tem outro; ao todo, são quatro viadutos com passagens de nível. A BR-060 é hoje a maior obra de área do País.
Patrícia Moraes Machado — E a respeito de quem não usa carro?
O elo mais fraco e o mais importante é o pedestre dentro do conceito de vida no qual acredito, que é preservá-la e dar qualidade de vida para as pessoas. O que nós estamos fazendo? Estamos aparelhando a Agência Municipal de Trânsito para que ela tenha condições de orientar, educar, fiscalizar. Há uma associação entre Secretaria de Educação e AMT para desenvolver projetos. Nós desencadeamos uma campanha que merece reforço, que é a campanha da faixa de pedestre. Não há por que Brasília, a 200 quilômetros, respeitar a faixa de pedestre e Goiânia, não.
Elder Dias — Por que isso acontece, prefeito?
Porque está faltando uma movimentação que conscientize a população da importância disso. Porque na faixa de pedestre pode estar você, eu, meu filho, meu neto, minha companheira, seu amigo, enfim, qualquer um pode ser atropelado se ela não for respeitada. Falta uma conscientização e ela não deve vir só do poder público.
Euler de França Belém — Há também faixas apagadas pela cidade.
Ontem fiz uma vistoria no Jardim América e no Setor Bueno. Estamos, além dos mutirões a cada 15 dias, fazendo frente de serviço semanalmente. As frentes de serviço fazem, dentre outras coisas, a revitalização das praças. Se você passar hoje nos cruzamentos onde há faixas no Setor Bueno e Jardim América vai ver que estão todas novas. Só que nós temos limitação de equipes para fazer tudo de uma vez. Nós temos dois meses de campanha, mas precisamos reforçar. Conseguimos recursos agora para um projeto no núcleo original de Goiânia, na área que chama de “véu da santa”. Conseguimos recursos do Ministério de Turismo e do PAC das Cidades Históricas, que foi lançado em Ouro Preto. A gente conseguiu colocar Goiânia e angariar recursos para padronizar os calçamentos, porque as calçadas, além de acessíveis, precisam ser padrão para não provocar acidentes. Não só para quem é deficiente, mas algumas pessoas têm limitação de mobilidade. Então nós estamos cuidando do pedestre e precisamos de sinalização horizontal e vertical adequada. Estamos fazendo uma licitação do chamado mobiliário urbano, nunca feita em Goiânia, para sinalizar a sociedade de forma adequada. Na minha administração fizemos algumas sinalizações turísticas, com placas diferenciadas, de cor marrom, em pontos que são considerados pelo Ministério de Turismo como pontos de atração turística.
Elder Dias — E quanto às ciclovias?
Todos os nossos parques têm ciclovias. O Macambira–Anicuns terá 53 quilômetros de ciclovia. O novo Parque Mutirama tem ciclovia. Eu conversei com as entidades representantes locais, não só os que utilizam a bicicleta para esporte, mas também aqueles que a têm como meio de transporte e definimos, a pedido deles — não era meu desejo inicial — que a primeira ciclovia implantada começaria no início da BR-060, na Avenida Vera Cruz, no Jardim Guanabara, passando pela Avenida São Francisco, cortando o Setor Santa Genoveva de um lado e o Jaó do outro, indo até a Avenida Independência e chegando ao terminal da Praça da Bíblia. Essa foi a proposta deles. Quando fomos executar, do ponto de vista técnico, vimos que serão necessárias várias modificações que não dependem só de nós, mas da Saneago, de empresas de linhas telefônicas. Esse processo técnico é complexo. Temos de fazer de modo que a pessoa tenha segurança. Porque se eu jogar a bicicleta de qualquer forma no meio desse trânsito, que em alguns momentos é transloucado, vou submeter o ciclista a riscos. Além disso, estamos estudando outras alternativas.
Cezar Santos — E o que o sr. diz da utilização do veículo automotor individual?
Eu estive em Cartagena para uma reunião e lá havia representantes de várias cidades europeias, inclusive Madri. Guardadas as devidas proporções, Madri vive o mesmo problema que nós [vivemos], sendo que Madri tem transporte coletivo de excelência, coisa que nós ainda não alcançamos. Mas vive problemas semelhantes aos nossos, avenidas e ruas completamente obstruídas e com dificuldades de fluxo. Escolhemos ser cidades-irmãs e agora em agosto eles vêm conhecer nossa realidade e dar opiniões. Mas, sobre o trânsito de veículos automotores, o que nós precisamos? Primeiro, fazer operações pontuais que dão maior fluidez, o que estamos fazendo, como a duplicação de via na região Norte [Avenida Pedro Paulo de Souza, no Setor São Judas Tadeu], abrindo rotatória na Perimetral Norte; na confluência da Goiás Norte com a Avenida Nerópolis, no início do Balneário Meia Ponte, abrimos rotatória e colocamos semáforo, iluminando a Nerópolis até chegar no Campus Samambaia; duplicamos a Avenida C-267 no Parque Amazônia; estamos duplicando a Avenida T-8, criando um novo corredor. Enfim, temos várias alterações pontuais, além disso precisamos de obras estruturais em alguns pontos de estrangulamento. Por exemplo, precisamos concluir a Marginal Botafogo entre as Avenidas 136 e 2ª Radial, na Vila Redenção. Ainda na Marginal Botafogo, temos alguns pontos de estrangulamento para os quais estamos licitando as obras, vamos fazer dois viadutos porque nós temos um estudo de tráfego que mostra que 25 mil carros que passam lá por dia passam direto, sem usar os retornos. Também tiramos alguns retornos, sincronizamos sinais, colocamos faixa indutora na Praça Cívica, para mudar o semáforo de acordo com o volume de carros.
Euler de França Belém — E a questão do parquímetro?
Está em licitação, na fase de formatação do edital para ser apresentado à praça, como eles falam.
Patrícia Moraes Machado — Além dos viadutos, quais ações há para melhorar o transporte?
Nós temos um transporte coletivo que é motivo de visitação de todos os Estados do país. Temos o maior índice de frota acessível do País, a frota mais nova do país em circulação. Por conta disso, você quer que eu diga que o nosso transporte está uma perfeição? Não está.
Elder Dias — E por que é tão criticado?
Precisa melhorar. As pessoas reclamam com razão. Nós temos alguns gargalos. Nós só temos hoje dois terminais novos e um em execução. Temos o Terminal Cruzeiro do Sul, de que não temos uma reclamação. No Terminal Bandeiras, o projeto arquitetônico deveria ter dado maior largura à cobertura a algumas das plataformas para proteger o usuário do sol e da chuva. Vamos fazer essas correções. Não é muita coisa, mas provoca insatisfação nas pessoas. O grande problema do transporte não é a frota. Tirando a frota do Eixo Anhanguera — que eu renovei o contrato com o Estado —, a nossa é a mais nova do País, do ponto de vista médio. Os terminais do Eixo realmente estão numa situação lastimável. Não é transferindo responsabilidade, mas o Estado se comprometeu a renovar a frota, a participar do projeto global de transporte urbano e a restaurar e construir os novos terminais e novos ramais, na região Noroeste. O maior problema do nosso transporte coletivo é o tempo de percurso, está muito abaixo das necessidades. Para isso precisamos da implantação de corredores ou exclusivos ou preferenciais. Nós agora conseguimos recursos para implantação definitiva disso nas Avenidas T-7, T9 e Mutirão. Agora, conseguimos mais recursos para a licitação. E nós vamos licitar, com recurso internacional, o corredor Norte-Sul com o BRT (“bus rapid traffic”), o “ônibus rápido”. São ônibus modernos, sincronizados, usados no mundo todo. O projeto arquitetônico está pronto e humanizado. As pessoas vão ter prazer em usar e serão respeitadas. Então, eu vou fazer, até o fim do mandato, um trecho grande do BRT.
Euler de França Belém — E o VLT [veículo leve sobre trilhos], no Eixo Anhanguera, vai ter um trabalho confluente? Como vai ser?
O projeto de mobilidade é multimodal e tem de ser único.
Elder Dias — O que eu vejo é que essas coisas são feitas à parte. Por exemplo, o VLT, o BRT e a questão das ciclovias. Qual é o plano de mobilidade que existe em Goiânia?
Com toda a humildade, você está equivocado. Vou dar um exemplo prático. Nós renovamos a concessão e apresentamos ao governador as premissas que a CMTC entendia serem necessárias para renovação da concessão. Ele apresentou a vontade dele de execução do VLT, que é mais caro, é diferente do Eixo Norte-Sul, que é BRT. O governador acredita que o VLT é o ideal para um Eixo de maior demanda, como o Anhanguera. Hoje são mais de 200 mil usuários diariamente. Respeito os técnicos do Estado e a decisão do governador e me somei a ela e o auxiliei. Vou dar um exemplo de que as coisas são pensadas conjuntamente. No PAC da Mobilidade eram destinados a Goiânia R$ 450 milhões, e era preciso nossa homologação. Nós fechamos com o Ministério das Cidades que R$ 225 milhões de recursos viriam para o município de Goiânia; R$ 225 milhões nós repassamos para o governador do Estado, para que ele realize o projeto executivo e dê início ao VLT. Não há diálogo?
Euler de França Belém — Goiânia tem um Plano Diretor. Como foram feitas então aquelas obras do Setor Goiânia 2 [paralisadas por suspeita de terem sido aprovadas em área de preservação permanente]?
O Plano permite.
Euler de França Belém — Se houver alagamento e morrerem pessoas?
Aquilo está em reavaliação e me parece que a própria empresa teria decidido a exclusão de duas ou três torres para atender aqueles que têm uma posição mais extremada quanto à visão de preservação dos mananciais ou das áreas de inundação. Mas nada é aprovado fora do Plano Diretor. Se você me falar que o Plano Diretor — que aliás está em revisão — precisa tomar nova formatação eu posso concordar, mas que os empreendimentos são aprovados dentro do plano vigente, isso é. Vou dar um exemplo: quando nós éramos crianças, havia essa preocupação ambiental, preservacionista que existe hoje? Não. Então algumas áreas que foram desmatadas por homens da época se encontravam sob a égide da legislação daquele momento. Obviamente que a sociedade evolui e produz legislação de acordo com seu tempo. Agora, que tudo é feito dentro da legislação vigente, é. Se a legislação está precisando de revisão é outro aspecto.
Elder Dias — Desde a criação de Goiânia previa-se a prudência com a ocupação da região norte de Goiânia, por conta dos mananciais, altamente recomendável. Isso ficou registrado em vários documentos.
Attilio Corrêa Lima previu o Parque Botafogo em 1934, salvo engano. Ele foi antropizado [modificado pelo homem]. Em 2011, o prefeito Paulo Garcia, portanto 77 anos depois, resolveu recuperar a área que foi antropizada pelo homem. Existem previsões de Attilio que nem ele imaginava. E aí não é erro dele. Nem de Pedro Ludovico ou de outros urbanistas daquela época. Por exemplo, ninguém previa que a Avenida Araguaia ou a Tocantins que tem a mesma largura desde aquela época fosse ter o número de veículo que temos hoje. Eu vou criticar o Attilio Corrêa Lima? Isso são adaptações de acordo com as épocas.
Elder Dias — O secretário de Planejamento, Roberto Elias, é favorável à construção de condomínio fechado às margens do lago do reservatório do Ribeirão João Leite?
Não, existem impedimentos legais. Tem área de preservação. Ele não descumprirá a legislação. Existe uma lei impeditiva, não existe como construir.
Elder Dias — Mas por que o senhor acha que ele deu essa sugestão?
Primeiro que eu não vi. Não sei se a interpretação do que foi editado foi exatamente o que ele quis dizer ou se não soube interpretar. Existem leis. Ninguém faz nada fora da lei.
Euler de França Belém — O senhor desistiu da revitalização do centro de Goiânia?
Desisti? Eu fiz uma recuperação da Avenida Goiás adotando o modelo original do Attilio Corrêa Lima. Estamos adquirindo alguns imóveis na região central para oferecer prestação de serviço, porque não acredito em um termo chamado de “revitalização do Centro”, eu prefiro chamar de “reocupação do Centro”. Para ele se revitalizar, precisa ter ocupação noturna e diurna. Precisa ter cadeias produtivas e projetos habitacionais. Nós estamos trabalhando isso.
Patrícia Moraes Machado — Como está a cultura?
Lancei a 2ª edição, ampliada, da Revirada, uma adaptação da que existe em São Paulo. Encaminhei à Câmara e foi aprovado o plano de cargos e salários da Orquestra Sinfônica Municipal, que deu dignidade e segurança laboral para os músicos que agora têm salário digno e podem se dedicar. Nossa Orquestra Sinfônica foi convidada para apresentação na Europa neste segundo semestre. Estamos em execução da obra de Casa de Vidro.
Euler de França Belém — O que é, exatamente?
Vai ser um espaço multifuncional para diversas manifestações culturais. A Casa de Vidro é um equipamento multifuncional para as diversas manifestações culturais de Goiânia. Teremos teatro, cinema, música, artes plásticas, área para museu. Vai ficar lindo. São duas cúpulas completamente de vidro. A base de sustentação é em concreto, subterrânea. Mas tenho certeza também que será um ponto de atração turística em Goiânia.
Patrícia Moraes Machado — Para quando?
Para o mais rápido possível.
Euler de França Belém — Um vereador do PSDB fala que o senhor é negligente com a área social. Como o senhor responde essa crítica?
Com trabalho.
Euler de França Belém — Mas o que o senhor fez nessa área?
Acabei de te dar um exemplo. Não cabe à Prefeitura cuidar da segurança e eu criei o projeto Goiânia Mais Segura. Tudo o que eu faço é preocupado com as pessoas. Talvez as pessoas não estejam andando por Goiânia e percebendo o que está acontecendo.
Euler de França Belém — O senhor não está só feliz. A gente sente que o senhor está bem fisicamente...
Por dois motivos. Aliás, vou dar essa receita para as pessoas que querem perder peso corporal. Primeiro, se tornem prefeitos de Goiânia e trabalhem dia e noite, sábado e feriado e não tenham férias. Depois, tenham maior cuidado com a atividade física e façam uma restrição nutricional e dietética. Não tem como não perder peso.
Fonte: Jornal Opção