Sorria, você está sendo filmado: Uma câmera por 36 mil habitantes
Estudos “embrionários” da Secretaria de Segurança Pública avaliam implantação de outros 33 equipamentos na capital.
Desde 2006, a Polícia Militar (PM) conta com o auxílio estratégico de 37 câmeras de videomonitoramentodispostas em alguns pontos da cidade para contribuir na repressão a crimes. O serviço foi introduzido em Goiânia no ano 2000 e, inicialmente, sua oferta era restritaà região de Campinas. Em seis anos não houve aumento da cobertura na monitoração eletrônica. O Comando do Policiamento da Capital (CPC) reconhece a presença dos equipamentos em cinco avenidas goianienses: Anhanguera, Araguaia, Bernardo Sayão, Goiás e 24 de Outubro.
O comandante do CPC, coronel Márcio Queiroz, diz que projeto de instalação de outras 33 câmeras em Goiânia aguarda apreciação da Secretaria de Segurança Pública (SSPJ). No dia 5, em visita à central que opera o sistema eletrônico de inspeção, o secretário Joaquim Mesquita determinou o levantamento de novos endereços onde o rastreio por imagens possa contribuir na vigilância da PM.
Conforme a tenente Telma Bernardes Lira, assessora de Comunicação do Comando do Policiamento da Capital, o representante de cada uma das 16 unidades de área (quadrantes) que subdividem a cidade foi designado a apontar locais em que há pertinência no uso dos equipamentos de vídeo.“Os comandantes fizeram o levantamento das áreas necessárias.” A Secretaria, por sua vez, afirma que ainda são “embrionários” os estudos de viabilidade, mas que a expectativa é de aplicar as mudanças ainda no primeiro semestre de 2013.
Déficit
No ano passado, com o fim do contrato de uma empresa responsável pelo monitoramento eletrônico da capital e prestes a abrir nova licitação para contratar o serviço, a SSPJ anunciou a previsão de aumentar para 45as câmerasda polícia espalhadas pelas ruas de Goiânia. Apesar da notícia, o total se manteve estacionado em 37 máquinas.
A população goianiense, calculada pelo IBGE em 1.333.767 moradores (pesquisa do Censo 2010), conta com uma câmera para cada grupo de 36.047 pessoas. Em Curitiba (PR), com seus 1.776.761 habitantes, a proporção é de um equipamento para 10.279 pessoas. A prefeitura de lá estima um salto das atuais 173 câmeras de monitoramento para 450, que devem entrar em funcionamento até a Copa de 2014. Com isso, os curitibanos terão uma câmera a cada 3.948 habitantes. Para atingir equivalência semelhante, seria necessárioinstalar 300 equipamentos – os 33 que se planeja “embrionariamente” para o próximo ano é 11% disso.
Efeitos práticos
E média quatro policiais militares se revezam, 24 horas por dia, na central de monitoraçãodo Comando de Policiamento da Capital. A tela dos computadores permite visualizar a imagem captada por dez câmeras, que se giram em torno de si com alcance de 360 graus, registrando com nitidez o que aconteceno raio de até 600 metros de distância. Segundo a tenenteTelma Bernardes Lira, até o dia 20 de dezembro houve 248 notificações. “Se tem algo de suspeito, o policial solicita a viatura, que vai ao lugar e checa”, descreve o processo.
Também no último dia 20, durante a madrugada, a equipe de monitoramento eletrônico observou um jovem andando pela Avenida 24 de Outubro “em estado de suspeição”. Ele sacou da mochila uma lata de tinta e começou a pichar paredes e porta das lojas. Os policiais militares que estavam no plantão acionaram, via rádio, uma viatura ao local. O jovem foi detido já dentro de casa e as imagens colaboraram para a identificação do pichador pela Polícia Civil.
“Ao ver o delito, a central aciona a viatura da área, informa o local da ocorrência e identifica os possíveis autores”, explica o comandante Márcio Queiroz. Ele também atribui à presença dos equipamentos o auxílio em casos de recuperação de carros roubados – pela visualização das placas – e de brigas.
A Secretaria de Segurança Pública não dispõe de dados que traduza em números o resultado efetivo do monitoramento por câmeras de vídeo na inibição de crimes, mas o coronel Queiroz projeta em 90% a redução de roubos e furtos nos últimos quatro anos em pontos vigiados pelas imagens. “De 2008 para cá, os furtos e roubos caíram em 90% no eixo mostrado pelas câmeras.” O valor, porém, não tem sustentação estatística. Em Uberlândia (MG), onde a população é calculada em 604.013 pessoas – menos da metade dos goianienses, de acordo com o Censo 2010 do IBGE –, a Polícia Militar divulgou redução da criminalidade em 60%, desde 2007, quando foram implantadas 72 câmeras de monitoramento, cujas imagens são fiscalizadas diuturnamente por dez profissionais.
Lindolfo Coelho Rodrigues trabalha há 30 anos em uma empresa especializada na venda de tecidos na Avenida 24 de Outubro. Para ele, o videomonitoramento é importante. Ele tem conhecimento de um caso em que o sistema surtiu efeito. “Uma vez, aqui na loja ao lado, as câmeras conseguiram filmar um rapaz que tinha roubado uns produtos.” Mas a loja de tecidos na qual Lindolfo trabalha como gerente implantou circuito interno de câmeras há dez anos, porque “a polícia não dá conta de vigiar tudo”. Com uma ressalva, na avaliação do gerente, que diz respeito à prática adotada por causa das vendas de fim de ano. “A não ser que (a PM) coloque o policial a pé, do jeito que tem acontecido. Desde que isso começou, eu não fiquei sabendo de nenhum roubo no comércio daqui.”
Fonte: Jornal O Hoje