“A população comprou a ideia da sustentabilidade”

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Prefeito reeleito de Goiânia mostra que o programa de governo apresentado na campanha não era só discurso eleitoral e garante que as ações vão ser norteadas por seu conteúdo. E avisa: a capital vai ganhar um hospital municipal de alta tecnologia até o fim de 2013
Fernando Leite/Jornal Opção
Às vésperas de começar o “seu” mandato de prefeito — aquele para o qual foi eleito na cabeça de chapa, logo em primeiro turno —, Paulo Garcia mostra uma serenidade que revela algo importante: ele está bem à vontade no cargo, no domínio da gestão e parece saber exatamente o que pretende fazer para cumprir a longa lista de compromissos feitos durante a vitoriosa campanha eleitoral de 2012.
Foi nesse clima que o petista recebeu a equipe do Jornal Opção no Paço Municipal, para uma entrevista que, não teve nada de balanço de fim de ano e muito do viés de apontar para o futuro da cidade. Entre os temas abordados, muitos projetos para a saúde, a educação e a mobilidade urbana, de modo especial. Em vez de timidez, ousadia: Paulo quer, por exemplo, licitar, construir e inaugurar, ainda em 2013, um grande hospital municipal em Goiânia, equipado com o que há de mais avançado em tecnologia na área da medicina.
O mesmo vale para as questões do trânsito da capital. A previsão de grandes intervenções encontram guarida financeira no PAC da Mobilidade Urbana, que trará como “ator principal” em Goiânia o sistema BRT no Eixo Norte-Sul. O prefeito fala em intervenções em pontos cruciais — os gargalos no tráfego de Goiânia, especialmente na região sul, onde a Avenida Jamel Cecílio/136 vem se tornando referência em falta de mobilidade.
Todas as obras físicas e de gestão — é preciso ressaltar que o organograma da administração passará por uma reforma — giram em torno de um mesmo objeto de desejo: Goiânia como cidade sustentável. Vê-se que a retórica de campanha (mote que chegou a ser defenestrado por marqueteiros tradicionais) vai servir, sim, à prática de governo. Basta observar o brilho nos olhos de Paulo ao falar dos encontros e experiências sobre sustentabilidade de que vem participando nos últimos meses. Como o de Bogotá, cidade referência em mobilidade, de onde o prefeito voltou trazendo um baú de inspiração para novas ideias.
Ao fim de dois anos e oito me­ses à frente da administração municipal, Paulo Garcia aparenta estar mais seguro do que nunca. Algo a ver com 2014? Ele nega veementemente estar pensando em eleição ao governo, mas sabe que é um dos mais cotados para enfrentar o governador Marconi Perillo (PSDB), virtual candidato à reeleição. É fato: seu foco está em Goiânia, por tudo o que diz, em uma hora de entrevista. O mesmo, porém, não pode ser dito em relação a seus companheiros de coligação, que já olham para certos nomes visualizando-os mentalmente no Palácio das Esmeraldas. Inclusive Paulo Garcia.

Elder Dias — O sr. está saindo de uma campanha vitoriosa já no primeiro turno, o único prefeito de capital do PT eleito dessa forma. Ao mesmo tempo, assumiu vários compromissos, principalmente o de transformar Goiânia em uma cidade sustentável de fato. Pensando as circunstâncias e as dificuldades que virão, o que o sr. imagina que falaria para nós, jornalistas, daqui a quatro anos, sobre o cumprimento do que foi programado?
Não é uma questão fácil de responder, é um exercício quase que de premonição. O fundamental que precisamos realçar é que, quando começamos a adotar essa tese na campanha — de discutir todas as áreas de ação do município tendo como pilar o projeto de sustentabilidade — houve quase que uma crítica velada, inclusive dos adversários, esses de forma mais explícita. Afirmavam que estávamos completamente equivocados, que era um tema elitizado, um assunto das academias, a que só pessoas com formação intelectual teriam compreensão. O que se percebeu foi justamente o contrário: a população rapidamente acolheu a discussão, percebendo que falar em sustentabilidade era falar em qualidade de vida, promoção do bem-estar social, superação de demandas e de obstáculos, avançar em diversas áreas. Uma cidade plenamente sustentável é um lugar onde prevalece a justiça social, um ambiente de fraternidade e harmonia. O resultado foi surpreendente para muitos, mas não para nós. Vou lhes contar algo que me marcou muito: fui convidado pelo prefeito de Bogotá, Gus­tavo Pedro, para participar da cúpula “Cidades e Mudanças Climáticas”, um encontro sucedâneo ao da Ci­dade do México, ocorrido em 2009. A Colômbia é o segundo país do mundo mais vulnerável às mudanças climáticas, por questões geográficas: está muito perto dos oceanos Pacífico e o Atlântico, tem a Cordilheira dos Andes, áreas de inundação importantes, uma área da floresta amazônica, entre outros fatores. Lá eles já estão percebendo as dificuldades que poderão ter. Mas eu queria dizer é que esses eventos nos mos­­tram coisas que não sabíamos, fazem aflorar ideias que são factíveis, porém às quais não nos atentamos, por causa da rotina diária. Gustavo Pedro é um ex-guerrilheiro, marxista ortodoxo, oriundo do M-19, hoje um movimento já institucionalizado. Tem uma solidez cultural muito clara, notória. Ele abordou a questão da sustentabilidade e, no meio do discurso, a vereadora Célia Valadão (PMDB), que me acompanhava nesse evento, se virou para mim e disse “prefeito, mas tudo isso que ele está falando o sr. falou durante a campanha!”. Portanto, esse tema é pauta mundial. Então, se você me perguntar como tudo estará em 2014 como vamos estar, imagino que estaremos em um estágio muito mais avançado do que estamos hoje.
Elder Dias — 2016, não? Quatro anos...
Euler de França Belém — Ato falho.
(risos) Não, não é mesmo, não é ato falho. É erro matemático, em­bora eu saiba que vocês vão aproveitar (risos).
Euler de França Belém — Se Freud não explica, Tancredo [Neves] explica.
(risos) Não sou freudiano, então é Tancredo. Mas eu também não sou tancredista, apesar de ter algumas características... (risos) Mas, em 2016, tenho convicção de que vamos estar bem à frente do estágio atual. Hoje mesmo, de manhã — tenho mania de acordar e ficar pensando em coisas que a gente pode fazer —, pensei que temos de pegar nossa equipe e buscar tornar a sociedade nossa parceira em projetos. O poder isoladamente faz muito pouco. Quero desencadear um projeto no qual, pegando dois ou três locais, consigamos o comprometimento da população com o que estou chamando de “Bairro Limpo”. Nesse sentido, todos fariam o compromisso de adotar novas práticas ambientais, fiscalizar a questão do lixo, cuidar de árvores e calçadas... Está sendo assim no mundo todo. Em relação aos compromissos que fiz, estou procurando antecipá-los. Vários deles, quase que desapercebidamente, estou encaminhando. A Câmara aprovou agora a implantação do IPTU Verde, em primeira votação, que é um avanço na questão da sustentabilidade.
Euler de França Belém — Como é esse projeto?
São várias práticas sustentáveis que o contribuinte pode adotar: calçada permeável, calçamento com acessibilidade, maior área de permeabilidade do solo na residência, jardins suspensos nas coberturas, ventilação e iluminação natural, energia solar, energia eólica, reuso da água, captação da água da chuva, entre outras possibilidades. Quem as adota, pode ter redução de até 20% do valor do IPTU, a cada ano, de acordo com uma certa pontuação. Em cinco anos, se economiza um ano de imposto. No fim, por conta da correção, acaba sendo até mais de 100%. Isso é um estímulo, uma indução da participação da sociedade por uma cidade mais sustentável.
Frederico Vitor — A reforma administrativa também entra nesse contexto?
A reorganização administrativa também tem essa finalidade. Ao dar uma nova nomenclatura a algumas secretaria, estamos em uma tentativa de mudança de postura. A Seplam [Secretaria Municipal de Plane­jamento e Urbanismo] se torna Secretaria de Planejamento Sus­tentável e se ocupará de preparar todos os projetos. A intenção é mostrar claramente que a orientação política, seja qual for o secretário da pasta, é uma só. A gente vai trabalhar sempre nesse sentido. Por exemplo, falei que iríamos fazer 81 CMEIs [centros municipais de educação infantil] e vamos entregar nove já no início do próximo ano letivo. Também falamos em fazer mais hospitais da mulher. Já firmei convênio com a Câmara e arrumei recursos, pretendo licitá-lo até março para entregar a unidade ainda em 2013.
Patrícia Moraes Machado — Go­iânia terá três hospitais da mulher. Não é muito?
Não é, não. Vocês já visitaram o Hospital da Mulher e Maternidade Dona Iris agora, na plenitude de funcionamento? É de emocionar. Do ponto de vista obstétrico, não há maternidade privada que tenha uma hotelaria tão luxuosa. As mães ficam maravilhadas. Já tivemos lá quase 200 crianças nascidas e, até dez dias atrás, quase 6 mil atendimentos. Tudo isso sem alardearmos nada. Fomos muito criticados pelo fato de o hotel não estar funcionando na totalidade, mas é assim que funciona. É como um hotel, um hospital daquele porte também tem um funcionamento gradual. Não é possível abrir uma UTI sem que haja um ambulatório funcionando. É uma cadeia: o ambulatório gera consulta, que pode levar a uma cirurgia, que vai gerar uma internação, que pode levar alguém a uma UTI. É assim que funciona. O próximo hospital da mulher será no Conjunto Vera Cruz. Uma senhora que more no Jardins do Cerrado ou no Mundo Novo, quase divisa com Trindade, se deslocar de lá para ter um atendimento na Vila Redenção, região sul de nossa cidade. Isso é uma tentativa de gerar sustentabilidade: nós reduziremos a necessidade de transporte, de maior locomoção. O modelo atual de sustentabilidade é a pessoa viver, trabalhar e ter acesso a tudo o que lhe é necessário cotidianamente perto de onde more. Sair dali, só para situações especiais, como lazer, visita a familiares etc.
Euler de França Belém — Onde será o terceiro hospital?
O terceiro será a transformação da Maternidade Nascer Ci­dadão, no Jardim Curitiba, em hospital da mulher. Vamos aproveitar a área, que é extensa, para fazer o que for necessário para adaptar a unidade e atender a região noroeste. Assim teremos um hospital da mulher na região noroeste, outro na região oeste e um terceiro no sul de Goiânia.
Patrícia Moraes Machado — O sr. disse que teria um projeto revolucionário na área da saúde municipal. Ele vai acontecer?
Vai acontecer, sim. Vamos humanizar o serviço mais ainda. E a saúde já melhorou muito, em relação ao que era. Todos os parâmetros mostram isso, o que não significa que não reconheçamos que existem problemas. Sim, existem, mas a saúde melhorou. Há várias unidades quase prontas, além de eu ter entregado algumas — como a do Ville de France [região sul] durante a campanha, quando não podia inaugurá-la. A unidade do Conjunto Riviera está em construção, assim como a do Jardim Liberdade, quase pronta. O Caps [Centro de Atenção Psicossocial] do Jardim Novo Mundo está em fase de acabamento.
Patrícia Moraes Machado — Mas são ações que a gente já conhece. O que seria realmente ações revolucionárias?
Vamos implantar a entrega domiciliar de medicamento aos usuários crônicos. Também queremos criar o centro de diagnósticos, que foi compromisso de campanha. Mais do que isso, continuo com a firme intenção de entregar à população um grande hospital municipal.
Euler de França Belém — Onde seria esse hospital? Quais seriam suas características?
Em um lugar muito bem localizado em Goiânia. Será um grande hospital, com atendimento multidisciplinar e equipado com o que há de mais moderno em tecnologia.
Patrícia Moraes Machado — E dá para fazer até o fim do mandato?
Sim. Na verdade, quero fazê-lo ainda no próximo ano.
Frederico Vitor — Estamos no fim do ano, período crítico para a saúde pública. Como ficará a situação este ano em Goiânia, podemos esperar melhoras?
Tínhamos déficit de plantonistas. Estava ocorrendo uma evasão de médicos, fato que se repetia normalmente a cada fim de ano, porque saíam para fazer concurso ou assumir residência. O que fizemos: aumentamos substancialmente o salário dos plantonistas. Por causa disso recebi até ligação de prefeito do Entorno, me questionando se isso era uma atitude de algum secretário e que a medida estava causando prejuízos, porque os médicos estavam todos retornando para Goiânia. Disse a ele que não foi coisa de secretário, que tinha sido eu quem havia determinado.
Euler de França Belém — E os médicos estão ganhando bem?
Tem médico ganhando qua­se R$ 20 mil no município de Goiânia. Médicos ganham bem aqui. Aliás, os profissionais da saúde estão com remuneração muito boa. Há duas áreas em que investimos muito: saúde e educação. Dificilmente você verá alguém de algum desses setores reclamar.

“Sou favorável ao VLT no Eixo Anhanguera”
Patrícia Moraes Machado — O sr. pode explicar qual sua posição em relação ao VLT no Eixo Anhanguera?
Sou favorável ao VLT. Nesta semana fiz uma reunião com a imprensa e sentei para conversar com um jornalista e ele me disse que a Prefeitura estava fazendo um relatório paralelo sobre o VLT. Isso não é verdade. Es­tamos trabalhando em sintonia fina com o governo estadual nesse caso, com o objetivo de que a cidade se desenvolva. Relatei ao jornalista o que realmente ocorreu: o governador Marconi Perillo me visitou aqui no Paço após as eleições, com vários secretários. Um dos pedidos que ele me fez foi de agilizar o que fosse de competência do município para que ele pudesse desencadear, o mais rápido possível, o projeto do VLT. De posse da solicitação, pedi às diversas áreas da administração municipal que precisavam se manifestar nesse projeto para formar um grupo e confeccionar um relatório sobre as informações a ser analisadas. Por exemplo, as licenças ambientais são municipais; a CMTC [Com­panhia Metropolitana de Trans­porte Coletivo] precisa dar um parecer sobre o processo de concessão da operação, porque quem indica a presidência e tem a maioria no órgão, em tese, é a Prefeitura; aspectos jurídicos sobre os quais a Procuradoria-Geral do Município precisa se manifestar; entre outros. Nós vamos ter de nos manifestar formalmente sobre tudo isso. Por­tanto, não foi nada paralelo; pelo contrário, foi atendendo a um pedido do próprio governo que fizemos, com base nas informações que nos enviaram. Já repassamos extraoficialmente nosso relatório. Vieram para a reunião desta semana, para a apresentação dos relatórios, e vieram aqui Jayme Rincon [presidente da Agetop], Adriano Oliveira [presidente da Me­trobus], Silvio Souza [secretário de Desen­volvimento da Região Me­tropolitana e acumulando também a Secretaria das Ci­dades] e Marcos Villas Bôas [as­sessor especial]. 
 
Elder Dias — A Prefeitura fez basicamente um trabalho de consultoria, então.
Na reunião técnica que fizemos, esses secretários elogiaram nosso trabalho, que foi exata e basicamente um trabalho de consultoria detalhado, harmônico, sobre as necessidades de ajuste que o processo tem. Por exemplo, a Amob [Agência Municipal de Obras Públicas] e a Amma [Agência Municipal do Meio Ambiente] detectaram dez pontos de alagamento no trajeto do Eixo Anhanguera, que precisam de um projeto definitivo de drenagem pluvial. Isso porque, com o ônibus é possível desviar o trajeto, o que não ocorre com o veículo sobre trilhos. Se alagar, nesse caso, tem de parar a operação. Isso não constava no projeto básico que nos entregaram para analisar. Portanto, não há nada de projeto paralelo. Na próxima semana, vamos entregar oficialmente, ao secretário das Cidades, o relatório que foi apresentado aos técnicos e dar por cumprida nossa função.
 
Patrícia Moraes Machado — Por que o sr. vai fazer o BRT e não o VLT?
Primeiro, porque é mais barato. O projeto do VLT é de R$ 1,3 bilhão e o do BRT Norte-Sul, que tem quase o triplo de extensão, custará R$ 215 milhões. É muito mais barato. 
 
Patrícia Moraes Machado — O BRT não é uma solução paliativa para o problema do transporte, enquanto o VLT parece ser mais voltada para o futuro?
Fizeram uma pergunta mais ou menos como essa para mim. Respondi que a opção atual é o BRT. O mundo adotou o modelo de BRT de Bogotá, que é o Trans­millenium e está sendo am­pliado pela cidade toda, por ser mais barato, operacional e resolver as demandas.
 
Patrícia Moraes Machado — Mas o BRT carrega menos pessoas.
É só colocar mais ônibus. Não há diferença de impacto sobre o trânsito entre o BRT e o VLT, o que conta são os corredores exclusivos. No Transmillenium de Bogotá, existem as chamadas linhas expressas, que fazem origem-destino sem paradas. É apenas uma questão operacional. Enfim, são diversos modais. Sobre o BRT, estamos prontos para licitar, aguardando apenas a licença ambiental por parte do governo estadual, que ainda não nos liberou - e já a pedimos há quase dois anos.
 
Elder Dias — O que fica pronto antes, o VLT ou o BRT?
Só Deus para responder com certeza. Mas acho que será o BRT.
 
Euler de França Belém — Mas o que vai melhorar o trânsito em Goiânia?
O que melhora o trânsito é a utilização do transporte de massa e o abandono do veículo individual. Se há um transporte de massa adequado e as pessoas passam a fazer opção por ele, isso acaba por reduzir o uso do transporte automotor individual. Não existe alternativa, o resto é conversa fiada. É preciso atentar, porém, para um detalhe: mesmo com um transporte de massa de qualidade, a opção pelo carro continua muito forte. Visitei Madri e conheci o sistema de transporte da cidade. Lá eles estão em uma fase mais avançada em relação a nós e têm todos os modais, que funcionam muito bem. Só que cada vez mais o madrilenho usa menos metrô, menos VLT, menos ônibus. Não tem jeito. O que eles passaram a fazer? Estão penalizando o uso do carro, chegaram à conclusão de que não adianta ter um transporte público bom, porque mesmo assim as pessoas não abandonam o carro. Aqui, o discurso que eu ouço - e vocês da imprensa são responsáveis por ele, porque lhe dão ressonância - é de que as pessoas não usam o transporte coletivo porque este não tem qualidade. Isso não é uma verdade absoluta: mesmo onde ele tem muito boa qualidade, como o caso de Madri, a população não está aderindo como deveria. Assim, lá estão impedindo a circulação de carros em algumas áreas, instalando pedágio em outras e monitorando a quantidade de pessoas por veículo - quanto menos ocupantes, mais alta a taxa a ser paga. Há também estacionamentos pagos adotados pelo poder público. Sou a favor do VLT, é um outro modal. Mas isso não me impede de dizer que é um transporte mais caro, isso é notório, há alternativas mais baratas. Tam­bém não me impede de dizer que, das cidades-sede da Copa do Mundo, a maioria fez opção pelo BRT, por ser mais em conta e mais fácil de executar.
 
Euler de França Belém — Carro, na América Latina, ainda é símbolo de status. O sr., como prefeito, tem uma série de projetos para desafogar o trânsito na capital. Quais são eles?
Há um já licitado, que é no cruzamento da Marginal Botafogo com a Rua 88, na interligação com as Avenida A e E, que segue até a Jamel Cecílio. Serão dois viadutos e uma passagem de nível. Não vai eliminar definitivamente o semáforo, mas vai criar pistas para quem quiser passar direto. Deve reduzir, inicialmente, quase 40% do fluxo ali. Está licitado, só falta dar a ordem de serviço. Outros projetos estão prontos e ainda não licitados. No início da 4ª Radial, onde começa a Avenida Rio Verde, atrás do centro logístico dos Correios, haverá uma das estações do BRT. Outro será na Rua 90 com a 136; outro, na Avenida Jamel Cecílio com a Marginal Botafogo. E já pedi estudo — por acharmos que é um ponto de congestionamento grave em Goiânia — para outro, na confluência da Avenida 83 com a 115 e a Avenida B, no Setor Sul.  
 
Patrícia Moraes Machado — E o túnel do Mutirama?
Só preciso resolver a pendência jurídica para concluirmos o túnel. Quero resolver este ano. Falta pouco, o mais caro já foi feito. Do jeito que está eu nem posso pagar.
 
Patrícia Moraes Machado — Qual é o problema jurídico?
Com as denúncias, os convênios foram cortados por determinação do Ministério Público. Houve determinação judicial para que não se pague a empresa (empreiteira) com recursos federais. Havia recursos em caixa que não posso repassar.
 
Euler de França Belém — São muitas obras que o sr. está citando. Mas de onde vai sair o recurso para essas obras? 
Para essas obras que eu citei o dinheiro já existe. 
 
Euler de França Belém — Mas, e o dinheiro para o BRT?
O BRT é financiamento internacional, R$ 215 milhões garantidos. Para a maternidade, assino o convênio agora com a Câmara de Goiânia, que vai me devolver o recurso que ela não utilizou neste ano, e vamos construir, são R$ 16 milhões. Para os CMEIs, a presidente Dilma me deu tudo. Para os viadutos eu tenho recurso para um, o da Rua 88. Já os viadutos do BRT têm seus recursos também já viabilizados pela própria obra.
 
Euler de França Belém — E para o Hospital Municipal?
Para esse eu ainda não tenho recurso. 
 
Patrícia Moraes Machado — E a questão da desafetação de áreas do município [para negociação com empresas privadas], que rendeu controvérsia?  
Aquilo é lei, já desafetei as áreas. A Câmara aprovou o projeto e eu o sancionei. A questão é que o Ministério Público entrou com ação e o juiz determinou a não mudança no registro dos imóveis, então não posso negociá-los. Precisamos superar isso.  
 
Euler de França Belém — Ouvi de um vereador que o Ma­cambira-Anicuns é a Ferrovia Norte-Sul da Prefeitura de Goiânia, uma obra que não termina nunca. Como está isso?
A obra parou. A empresa vencedora deu um preço muito barato. Desde o início achei que eles exageraram para menos. Para se ter ideia, a diferença para a segunda colocada era de quase R$ 50 milhões. Começaram a obra, tem muita coisa executada no trecho 1 e algumas coisa na Avenida Trieste. Há duas avenidas em que o trabalho é só pavimentar. Uma delas liga dois trechos do Setor Faiçalville, próximo à Avenida Rio Verde. A pista está pronta, foi feita a drenagem fluvial. A outra avenida, que faz um novo trajeto entre o Novo Horizonte e o Eldorado, está pronta também. A empresa pediu um aditivo contratual, alegando que os valores não são compatíveis com as necessidades orçamentárias da obra. Isso em menos de uma ano. A lei não nos permite isso. E essa obra tem de ter a não objeção do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], foi uma licitação internacional. Não falta dinheiro, tanto que a empresa recebeu tudo o que executou, o que foi detectado dentro do projeto, embora eles aleguem ter feito mais coisas. Enfim, não tem outra saída a não ser assinar um distrato com a empresa e licitar para outra construtora assumir.
 
Euler de França Belém — Mas quanto tempo levará para resolver isso? Dois anos? Quanto tempo será perdido?
Quarenta e cinco dias. O recurso tem, o projeto existe. O problema é que a empresa propôs um preço que todo mundo imaginava que não seria possível. Colocamos um preço mínimo e eles chegaram e puseram a metade do preço, então ganhou. 
 
Patrícia Moraes Machado — Mas isso não é usual de todas as empreiteiras, que põem um preço baixo e depois pe­dem aditivos?
Não tem nenhum caso se­melhante no município de Goiânia. No geral ganha o me­nor preço, mas sempre próximo do real. 
 
Patrícia Moraes Machado — Mas não tem limite para aditivos?
Sim, tem limites legais. E o necessário segundo a empresa ultrapassa o que a lei permite, por isso não temos alternativa a não ser o distrato. O projeto é fantástico, tem muita coi­sa pronta.
 
Euler de França Belém — O que está pronto?
São dois parques, duas unidades de preservação permanente, um é o Macambira, que falta quase nada para concluir. Há as avenidas que já citei, que só precisam ser asfaltadas. A drenagem do trecho 1 está pronta. Eu até propus para a empresa que terminasse o trecho 1, pagaríamos o asfalto. Minha preocupação é com as chuvas fortes. Eles disseram que não vai ter problema.
 
Elder Dias — O Projeto Ma­cambira-Anicuns pode estar concluído em 2016?
Não sei, o projeto prevê no mínimo cinco anos e começou no dia 1º de março deste ano, mas parou. Em condições ideais, estaria terminado no final de 2016. 
 
Elder Dias — Na última entrevista concedida ao Jornal Opção, o sr. disse que Goiânia será uma antes e outra depois desse projeto, do ponto de vis­ta de sustentabilidade...
Sim, porque não é um parque linear, é uma requalificação urbana, são mais de 130 bairros. Essas complicações contratuais, infelizmente, não há como prever. Se a empresa diz que está tendo prejuízo, não tem outro cainho senão o distrato. Tem multa pesada nisso, tem seguro no contrato, é uma licitação internacional. A seguradora vai pagar o prejuízo que o município está tendo com a paralisação da obra. A licitação é perfeita. Se algo pode ser contestado é o valor, que não é o município que determina. 
 
Euler de França Belém — E a extensão da Marginal Botafogo?
As pessoas às vezes dizem que as obras das marginais estão paradas. Então o primeiro a parar foi Nion Albernaz, já que foi ele quem começou. Na verdade, as marginais e a Avenida Leste-Oeste tem os trechos executados com recursos do OGU [Orçamento Geral da União]. À medida que há recursos do OGU naquele ano, se faz mais um trecho. A Marginal Botafogo parou, mas tem recursos empenhados. Parou porque o TCU [Tribunal de Contas da União] exigiu a ruptura do contrato e uma nova licitação. A licitação era a mesma desde a época de Nion e o TCU não aceitou mais. Não tenho certeza, mas me parece que já foi feita essa nova licitação. 
 
Euler de França Belém — Uma de suas maiores preocupações tem sido com o ser humano. E a Pre­feitura está fazendo um trabalho pelas pessoas com deficiência? Pergunto por que as calçadas continuam mal adaptadas.
Criamos a Secretaria da Pessoa com Deficiência. Não são as nossas calçadas, isso é um problema quase no mundo inteiro. Mas estamos trabalhando nisso. Por exemplo, padronizamos as calçadas ao longo do Corredor Universitário. Estamos, com a implantação do IPTU Verde, induzindo os proprietários de imóveis a fazer isso também. O responsável pela calçada é o dono do imóvel. A maioria dos imóveis é da iniciativa privada. Quando fazemos calçadas, em tese, podemos até cobrar. Com a secretaria, vamos ter ações e políticas para que isso se acelere. Uma das metas é a mobilidade.
 
Euler de França Belém — O sr. já escolheu quem vai assumir a pasta?
Não escolhi nenhum secretário ainda, só a partir do dia 2 de janeiro.
 
Patrícia Moraes Machado — Como o sr. avalia a repasse da “batata quente” do Aeroporto de Goiânia para o sr.?
Não repassaram  nada para mim ainda
 
Patrícia Moraes Machado — O que se diz é que o prefeito, por ser do PT, deveria ter mais empenho com o aeroporto...
O que me cabe é tentar auxiliar. Fiz uma tentativa nisso e fui muito criticado pelo governo, como se eu estivesse querendo atrapalhar. 
 
Elder Dias — Vai começar uma obra na pista, a partir de março?
Não é projeto novo, é o recapeamento da pista existente. A Infraero está recuperando todas as pistas de aeroportos sob sua tutela, no País inteiro. A questão da pista que está sendo levantada, e nisso eu entrei de forma pesada, porque é interesse da cidade. O problema é que a Infraero tem o projeto de fechamento da pista dez horas por dia para restauração. Isso elimina mais de 30% da malha aérea atual, um prejuízo terrível para toda atividade econômica. Fui à Infraero pedir para reverem isso e fechar como ocorreu nos outros aeroportos, de meia-noite às 6 da manhã. Isso aí atingiria quatro ou cinco voos apenas. As empresas também teriam de remanejar seus voos.
 
Euler de França Belém – Há projetos novos para a educação? Como estão os CMEIs? As crianças estão todas na escola? 
No ensino fundamental estão, só não está quem não quer. No ensino infantil, não, por isso precisamos construir mais CMEIs. Mas posso dizer que melhorou muito. Não digo isso porque a Neyde [Apa­re­cida, secretária da Educação] é do meu partido. Ontem minha mulher [a primeira-dama, Te­reza Beiler] falou isso. Ela estava acompanhando a entrega de brinquedos e disse que a cada dia se impressiona mais com a aceitação da Neyde por parte da comunidade escolar e os profissionais da educação. É impressionante o trabalho que ela está fazendo.
 
Elder Dias  Que trabalho é esse?
Primeiro, demos dignidade à carreira, com salários melhores, como ninguém fez. Você sabe de alguém que deu 22% de aumento salarial? Demos oportunidade de formação continuada. Estamos recuperando as instalações físicas, construindo novas unidades. Só eu convoquei 25% dos atuais profissionais da Educação em concurso que realizamos. É muita gente, são mais de 4 mil pessoas que não estavam na rede. Estamos avançando muito, precisamos avançar mais, temos vários projetos para isso.
 
Euler de França Belém — Na reforma administrativa, o que exatamente o sr. vai fazer?
Basicamente vamos atender ao nosso programa de governo. Queremos otimizar os resultados, reduzir custos onde é possível. Modernizar os processos, evitar a duplicidade de ações. Por exemplo, na fiscalização queremos criar uma carreira de fiscal para não ocorrer o que há hoje. Quando o fiscal de edificações vai olhar uma obra, se tiver uma caçamba irregular na calçada, ele volta, avisa seu superior, e este vai entrar em contato com o secretário, que, por sua vez, entra em contato com o presidente da AMT, que vai avisar seu subordinado, que vai mandar um fiscal da AMT para olhar. O processo não anda. Por que o próprio fiscal que detectou a irregularidade não autua todos os processos ou ajuda na solução? Não é penalizar com multas, não é esse o objetivo. Mas por que não ter essa agilidade? Ao agrupar tudo, estamos tentando mostrar que isso é possível. É igual à Super Receita Federal, o movimento é o mesmo. Fiscal que só mexia com imposto de renda hoje mexe com tributo previdenciário e vice-versa. Com as divisões internas necessárias para operacionalizar, mas é isso. Vamos criar a Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, a da Promoção da I­gualdade Racial e tornar Secretaria da Juventude o que era assessoria. Tudo isso atendendo o princípio de sustentabilidade com qualidade de vida, tornando a cidade mais humana. Vamos unificar a Seinfra [Se­cretaria de Infraestrutura] com a Amob [Agência Municipal de Obras Públicas], criando uma grande secretaria de obras e serviços. Isso vai dar agilidade, vai otimizar resultados, agrupando os funcionários num mesmo órgão. Muitas vezes um fica com recursos ociosos, enquanto o outro está precisando, o que acontece muito. Separamos a Admi­nistração, criando a Gestão de Pessoal, porque não dá mais pra uma secretaria cuidar de 50 mil servidores, tendo outras atribuições. Tem de ser uma pasta exclusiva para cuidar do quadro de pessoal. 
 
Patrícia Moraes Machado — Como estão as negociações para a presidência da Câmara de Goiânia?
Num regime democrático republicano como o nosso, os poderes são independentes.
 
Patrícia Moraes Machado — A relação entre Prefeitura e Câmara mudou pelo fato de serem dois anos com Iris e dois anos com o sr.? Vai mudar agora?
A relação sempre foi muito produtiva. O debate é normal. Não me lembro de nenhum projeto que considerássemos importante que não tenha sido aprovado. 
 
Patrícia Moraes Machado — A sintonia entre o sr. e Iris é muito grande, tanto política quanto pessoal. Mesmo peemedebistas querem ter essa sintonia e não conseguem. Em que se destaca mais essa sintonia?
A sintonia entre a gente é finíssima. Acho que essa afinidade é coisa de Deus. A característica principal, acho, é a seriedade com a coisa pública, o respeito às pessoas que nos cercam. É isso.
 
Euler de França Belém — O prefeito de Goiânia tem uma estatura estadual. Qual é a possibilidade de o sr. disputar o governo em 2014? É nenhuma, alguma ou muita?
Defendo a tese de que os partidos do nosso campo têm um projeto que se contrapõe politicamente ao projeto do grupo dominante no Estado. Defendo que esse grupamento permaneça sólido, unificado e apresente um projeto para 2014. O nome é algo de menor importância. Todos os partidos têm nomes qualificados. O PT tem Antônio Gomide e vários ou­tros. Eu fui eleito para ser prefeito de Goiânia. 
 
Euler de França Belém — Iris pode ser o candidato?
Iris é um grande quadro. A premissa para ser candidato é a disponibilidade, vontade. Não sei se Iris tem, nunca perguntei isso a ele. A gente só conversa so­bre assuntos reais, não ficamos falando sobre cogitação.  

Fonte: Jornal Opção