Número de multas supera o de carros
Levantamento feito pelo Detran de janeiro a outubro mostra também que o número de multas cresceu 10 vezes mais que o de veículos.
O barulho da buzina e dos freios indica que alguém errou no trânsito. A ausência da seta para trocar de faixa, o celular atendido ao volante, uma conversão proibida e o excesso de velocidade. Os números comprovam as constantes infrações cometidas em Goiânia. Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran/GO), a quantidade de multas aplicadas de janeiro a outubro na capital é superior à frota de veículos.
As infrações registradas em dez meses também são pelo menos dez vezes maior que o crescimento do número de caminhões, carros ou motos circulando (veja box). Essa é a primeira vez na história que o número de multas supera a frota goianiense. Um dos motivos para a multiplicação dos autos é a instalação de novos equipamentos de monitoração. Segundo a Agência Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (AMT), apenas no Corredor Universitário 112 faixas passaram a ser fiscalizadas em 34 pontos.
No ano passado, 361 faixas de trânsito eram monitoradas automaticamente. Este ano, o número saltou para 489. O órgão municipal de trânsito não soube informar a quantidade de equipamentos, apenas o alcance deles. A engenheira analista em obras e urbanismo da AMT, Ana Damascena Mendes Mesquita, explica que os equipamentos foram instalados com a possibilidade de fiscalização da via no sentido norte e sul. “Normalmente cada sentido tem três faixas.”
Além do Corredor Universitário, ruas do setor Novo Planalto, Crimeia Oeste, Fama e Vila Fernandes passaram a ter o trânsito fiscalizado eletronicamente em equipamentos mistos. Eles conseguem registrar avanço de sinal, parada sobre a faixa e excesso de velocidade. Outro aparelho também foi religado este ano no Setor Jaó.
Ana Mesquita explicou a fiscalização também acontece em conseqüência de solicitações da população principalmente ao que se refere ao controle de velocidade. “Temos ainda solicitação da Secretaria Municipal de Saúde através do programa Vida no Trânsito para fiscalizar velocidade em vários outros pontos. A engenheira citou a Avenida Independência como uma das mais preocupantes.
Ela não atribui o aumento de multas à quantidade de equipamentos. “É preciso analisar o perfil do motorista. O acréscimo de multas não se dá pelo acréscimo de fiscalização. Nossa fiscalização acontece também a partir da quantidade de acidentes no local e da severidade desses acidentes”, ressaltou.
Para ela, o aumento se deve ao desrespeito da sinalização implantada. “Eu acho que deve ter ainda mais fiscalização.” Destacou as infrações cometidas pelos motociclistas. “Dificilmente você chega em casa sem ver um acidente de moto. Tenho um sonho de que antes de adquirir um carro tenha de comprovar ser apto para dirigir e não para ter uma arma na mão.”
12% dos motoristas cometem infração
Segundo o diretor de Operações do Detran, coronel Sebastião Vaz, uma esmagadora maioria de motoristas não comete nenhuma infração. “De um universo de 100% dos motoristas, 12% cometem infrações e, desses, 4% cometeram mais de uma vez”, explicou. Ele ainda contou que muitos condutores têm o valor de infrações a pagar superior ao preço do próprio veículo. “Aos que não cometem nenhum tipo de infração temos o incentivo de redução de 50% do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).”
Coronel Vaz relaciona o número de multas ao comportamento humano. “O motorista, quando tem uma pequena oportunidade, acaba cometendo infração para ganhar tempo de forma irresponsável.” Ele acredita que, se não houver uma consciência por parte do usuário, pode acontecer um aumento ainda maior de autuações. “O Detran realizou este ano mais de 900 palestras com relação à educação no trânsito.” Mas, com base em relatórios estatísticos, afirma que a quantidade é a maior dos últimos seis anos e que nesse mesmo período nunca houve mais multas do que carros.
Além do incremento na fiscalização de trânsito, Vaz também citou a Operação Balada Responsável, iniciada em setembro de 2011, como uma das responsáveis pelo maior número de infrações registradas. “Também abrimos as portas para a atuação do Batalhão de Trânsito.”
Acredita, inclusive, que o fato ganhou proporções devido ao crescimento da frota. “Temos uma média de 20 mil veículos novos no Estado todo mês. Em Goiânia, essa média varia entre 8 e 9 mil veículos.”
A oportunidade de recorrer diversas vezes contra o auto de infração para ele acaba gerando o efeito de impunidade.
AMT arrecadou R$ 12 milhões em multas
Referente às multas do ano passado o presidente da Agência Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (AMT), Senivaldo Silva Ramos, afirmou que foram arrecadados R$ 12 milhões que foram investidos em equipamentos tecnológicos, sinalização viária e campanhas educativas. Com relação às multas já registradas este ano ele afirmou ainda ser precoce fazer um cálculo. No ano passado, o órgão municipal direcionou apenas R$ 230 mil para campanhas educativas. Já este ano a intenção é investir R$ 12 milhões – o valor total das multas de 2011 – para propagandas educativas na televisão e rádio.
Senivaldo acredita ser necessário um novo modelo de transporte para que as multas sofram reduções. “Não dá mais para o veículo ser utilizado como transporte individual. A rua não tem de absorver aquilo que é privado.” Na opinião do presidente da AMT, os condutores cometem infrações, na maioria das vezes, porque a cidade não comporta mais a quantidade de carros circulando.
Fonte: Jornal O Hoje