Sem planejamento, trânsito sofre com pontos estrangulados
Em pelo menos 14 pontos de Goiânia, durante os horários de pico, o motorista goianiense não consegue espaço livre para fazer o carro se mover, mesmo quando o semáforo se abre. Estes veículos parados formam uma fila de até 100 metros. Na melhor das hipóteses, o trânsito nos 14 pontos é apenas lento, ou seja, os veículos rodam, mas abaixo da velocidade mínima permitida. Dentre estes trechos, cinco não estavam em levantamento da Agência Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (AMT) em março deste ano, com dados relativos ao ano de 2011 (ver mapa).
A rápida proliferação dos pontos de estrangulamento do trânsito na capital é facilmente perceptível pela população e consequência de uma série de fatores, entre eles a falta de planejamento. A facilidade que se tem de construir qualquer empreendimento em locais de alta densidade populacional é um dos fatores indicados por especialistas em trânsito para o aumento dos congestionamentos em Goiânia. Junto a isso há o aumento considerável na frota da cidade, que chega a mais de 1,1 milhão, e que ainda recebe cerca de 100 mil carros que estariam na frota flutuante - aqueles que movimentam pela capital mesmo sendo de cidades vizinhas ou do interior.
“A população cresce, aumenta a frota e não há qualquer critério para se construir um polo gerador de tráfego”, resume Antenor Pinheiro, coordenador da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) Regional Centro-Oeste. Segundo ele, em Goiânia há uma inversão quando ocorre a construção de um empreendimento - primeiro é feita a liberação da obra e a construção e só depois se analisa o tráfego na região e quais as vias serão as usadas .
A professora da Escola de Engenharia Civil da UFG e doutora em planejamento de transportes, Márcia Helena Macedo, explica que um polo gerador de tráfego é o principal responsável pelas limitações da via. Ela cita como exemplo a Avenida T-63 e argumenta que mesmo tendo três faixas de tráfego, apenas a central e a da esquerda são movimentadas. “A faixa da direita, na verdade, só serve para entrada e saída de veículos para cada um dos prédios ou comércios”, diz Márcia. “Cada hora que alguém vai entrar há uma limitação e prejudica a trafegabilidade.”
Para solucionar estes problemas, a professora acredita que a AMT deveria explorar mais pontos de engenharia de tráfego, como a alteração do tipo de semáforos, dos sentidos das vias, locais de estacionamentos e outros. Já o professor Benjamin Jorge defende maior investimento no transporte coletivo, com a criação de corredores preferenciais, e a formalização de Plano Diretor para o trânsito, com objetivos a longo, médio e curto prazo.
Congestionamento
Para a AMT, não se pode falar em congestionamento em Goiânia. Diretor de trânsito do órgão, Miguel Carlos Leite Ferreira explica que só se pode caracterizar como congestionamento quando não se consegue locomover em uma via mesmo que o semáforo esteja aberto. Os engenheiros da AMT também utilizam outro critério para estabelecer a classificação. Congestionamento seria quando o sinaleiro fechado promove uma fila de carros por mais de 100 metros. Para a AMT, isto só chega a ocorrer em pequenos períodos de pico.
Miguel Carlos conta que nunca ficou parado por mais de uma hora no trânsito de Goiânia. O diretor da AMT alega ainda que, mesmo nos 14 trechos apontados como mais preocupantes, o que ocorre de fato é a lentidão no trânsito, mesmo nos horários de pico.
Engenheiro e professor da Pontíficia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Benjamin Jorge Rodrigues dos Santos admite a ocorrência de congestionamentos em vários pontos da cidade, mas que isso só ocorre mesmo nos horários de pico. Segundo ele, há níveis de análise de trânsito que variam de A a F, em que o último seria o congestionamento. Para Benjamin, em alguns pontos, o tráfego chega sim a este nível.
Trecho da T-63 não tem solução, diz AMT
Um dos novos pontos de congestionamento é considerado insolúvel até mesmo para a Agência Municipal de Trânsito (AMT). O trecho da Avenida T-63 no cruzamento com a T-4 e até a Praça do Setor Nova Suíça vai continuar fazendo os motoristas exercer a paciência. Segundo Miguel Carlos, diretor de Trânsito da AMT, no local há um polo gerador de tráfego muito intenso com a quantidade de moradias e comércios e mesmo as ruas paralelas, que seriam caminhos alternativos, sofrem com a lentidão, não se tornando atrativas.
A Avenida Anhanguera possui, só ela, 3 dos 14 trechos mais críticos do trânsito em Goiânia. Nos dados registrados em 2011, os trechos eram dois - em Campinas, no Terminal Praça A, próximo ao Camelódromo, e no Setor Leste Universitário, perto da Praça Botafogo. Neste ano, a AMT não considera mais o ponto do Leste Universitário como passível de congestionamento. A explicação é que os motoristas têm preferido utilizar a Marginal Botafogo ou mesmo o Eixo Universitário.
Quanto ao ponto de Campinas, o diretor de Trânsito da AMT, Miguel Carlos Leite Ferreira, acredita que o local é um “crime contra o trânsito de Goiânia”. Segundo ele, a Praça A é pequena para um terminal de ônibus. “Aquele terminal vai ser suprimido com o projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no Eixo Anhanguera”, diz Miguel.
Em contrapartida, Miguel Carlos acrescenta dois pontos em que ocorrem congestionamentos na Avenida Anhanguera. O primeiro deles é logo quando a avenida começa, em seu cruzamento com a Avenida Perimetral Norte, próximo ao Terminal Padre Pelágio. O outro ponto citado na Anhanguera, Miguel Carlos afirma que a responsabilidade é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). Segundo ele, há um erro no tamanho das pistas da Avenida Anhanguera com o viaduto na BR-153, no Jardim Novo Mundo. “Ali o problema é a largura das vias, o método de entrada na rodovia, que não permite um fluxo maior e acaba prejudicando o trânsito.”
A mesma justificativa serve para outro ponto considerado de congestionamento a partir deste ano, já que também envolve o cruzamento com a BR-153. O encontro da Alameda Contorno com a BR-153, no Conjunto Anhanguera, no entanto, poderia não ter congestionamento com medidas de engenharia de trânsito, de acordo com o próprio Miguel. Há um projeto na AMT para redistribuir o tráfego no local. A medida proibiria a entrada na rodovia no cruzamento com a alameda, sendo permitido o acesso à BR-153 mais adiante.
Fonte: O Popular