Obra inacabada marca presidência de Samuel
Carla MonteiroTrinta e cinco pilares, que deveriam estar sustentando o bloco administrativo da nova sede da Assembleia Legislativa de Goiás, estão cobertos pelo matagal e escondidos por um muro de placas extremamente danificado. São R$ 2,6 milhões do dinheiro público gastos em fundações que estão relegadas ao abandono há cinco anos. A persistir as atuais circunstâncias, em aproximadamente dois anos esses alicerces poderão estar irremediavelmente comprometidos.
“Gastar o dinheiro do contribuinte é fácil. Difícil é ter de dar satisfações à sociedade”, reclama o contador Raimundo Ribeiro Alves, 58 anos e morador da Água Branca, bairro localizado na mesma região leste do Park Lozandes, onde está situado o terreno de 40 mil metros quadrados em que foram edificadas as bases da futura nova sede do Legislativo goiano. Quando ficar pronto, o novo prédio da Assembleia será vizinho de muro do Ministério Público Federal, cujo imponente prédio está pronto e habitado.
O setor de edificação da Assembleia, comandado pela autora do projeto arquitetônico, Maria Aparecida Oliveira, esclarece que o processo de construção, quando reiniciado, deverá durar cerca de cinco anos. Esse prazo seria devido à questão financeira, pois o Parlamento depende de repasses do Executivo. A explicação é referendada pelo titular da Diretoria Administrativa, Gilnei Ribeiro. Ele também adianta que nem a presidência da Casa e nenhum integrante da Mesa Diretora manifestou interesse em retomar as obras.
Corrosão
“Está faltando limpeza, manutenção e proteção. Isto aqui está um desleixo. A obra está jogada.” Esta é a primeira impressão do chefe do laboratório de concreto da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás, André Geyer, 47 anos, que há 14 anos é professor de patologia do concreto da Universidade Federal de Goiás (UFG) e que a pedido de O HOJE visitou a área.
Impressionado com a falta de esmero com os recursos públicos, Geyer garante que, por enquanto, a obra não está perdida, mas apenas descuidada. Para ele, haverá um trabalho extra por ausência de cuidados. Parte da estrutura está sendo comprometida, como, por exemplo, o aço de espera. Além disso, todos os blocos das bases das pilastras apresentam fissuras, cuja origem, de acordo com o professor, é do processo construtivo e não pelo fato de a obra ter sido paralisada. Ele aponta a necessidade de investigação, diagnósticos e medidas de recuperação.
O professor da UFG adverte que as fissuras nos blocos de fundação podem comprometer a vida útil da edificação, pois através delas entrará água, o que provoca a corrosão do aço no interior dos blocos. “Isso é grave.” O aço exposto está praticamente deteriorado. “Vai haver aí um custo adicional para retomada da obra. Não é um custo tão grande. As rachaduras nos blocos, sim, podem levar a um comprometimento das estruturas. E essa parte é de execução e não de manutenção.”
O engenheiro civil ensina que uma obra, quando paralisada, requer serviço de manutenção para não haver “fadiga” do material. Do contrário, algumas estruturas podem se danificar, afetadas pelo meio ambiente. A estrutura de concreto em si não é problemática, mas o aço sim, pois precisa ser protegido. A falta de manutenção por parte da empresa ganhadora da licitação, a CCB Construtora, está provocando, por exemplo, a deterioração do metal.
Comprometimento
No topo de alguns pilares na obra podem-se observar as infiltrações de água, por causa da falta de proteção adequada. Essas infiltrações, de acordo com o engenheiro, caso persistam, poderão levar ao comprometimento irreversível das estruturas num prazo de dois anos, exigindo que tudo seja refeito.
Antes que a obra seja retomada, o professor Geyer explicou que há necessidade que seja realizada uma avaliação técnica, utilizando-se pessoal especializado, técnicas avançadas e equipamentos modernos, como o ultrassom. Só depois de tudo conferido e recuperado é que se deve realizar a retomada da obra.
Fonte: Jornal o Hoje