Cenário é favorável, mas governo precisa de agilidade
maior peso no PIB goiano
Cezar Santos
Goiás ocupa hoje a 9ª posição no ranking da economia brasileira. Pode melhorar? Ajuda na resposta a série de reportagens nas cinco últimas edições do Jornal Opção, que tratam de diversos aspectos da economia goiana. Na edição 1.882 (31 de julho a 6 de agosto), mostramos que o setor de mineração, que tinha sido desarticulado no governo passado, ganhou novo fôlego na atual administração. O setor está sendo reestruturado, com o Gabinete de Gestão da Mineração da Secretaria da Indústria e Comércio (SIC), que começa a implementar uma política para o setor mineral.
E o setor merece mesmo a atenção do governo estadual. Nos primeiros seis meses deste ano, os minérios ficaram na 3ª posição no ranking das exportações goianas, com US$ 2,4 bilhões.
No ano passado, as atividades ligadas ao setor mineral renderam ao Estado mais de R$ 55 milhões de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mesmo sendo as exportações de minérios isentas desse tributo.
Goiás é o 3º maior produtor de minérios do Brasil. Somos produtores principalmente de níquel laterítico, amianto crisotila, cobre, rochas fosfatadas, vermiculita e ouro.
Um das gigantes mundiais do ouro, a canadense Yamana Gold, está instalada em Goiás e recentemente anunciou investimento da ordem de R$ 600 milhões nas unidades de Pilar de Goiás e Alto Horizonte, Crixás e Guarinos, até o ano de 2013. Com isso, serão gerados mil empregos diretos e 3 mil indiretos.
Na edição 1.883 (7 a 13 de agosto), a reportagem “Amarela como ouro” traçou um panorama da cultura da soja em Goiás, mostrando a força dessa leguminosa para nossa economia. No ano passado, foram colhidos 8,2 milhões de toneladas de soja, e 85% foram exportados para a China, o grande consumidor internacional.
As perspectivas para a soja continuam muito boas. Mesmo com a crise financeira internacional, os preços das commodities não estão sofrendo abalo. Com isso, os produtores brasileiros — e goianos, obviamente — se preparam para colher ainda mais na safra de 2012.
A produção norte-americana, principal concorrente, sofreu quebra, o que anima ainda mais os produtores brasileiros. A soja é amarela como ouro e, pelo visto, está valendo quase tanto.
Na edição 1.884 (14 a 20 de agosto), a reportagem “Sem essa de boi Fubá” mostrou a pujança da pecuária de corte em Goiás, que ocupa o 3º lugar no ranking nacional de produção de carne e tem o 4º maior rebanho bovino do Brasil.
A pecuária de corte tem peso importante no Produto Interno Bruto (PIB) goiano, que tem 65% composto pelo agronegócio. Dentro do agronegócio, a pecuária bovina representa 37%.
Goiás vendeu no ano passado 1,2 milhão de cabeças de gado, o que totaliza cerca de 170 milhões de quilos. Além do mercado interno, a carne bovina goiana vai para o exterior, principalmente China, Rússia e outros países Europeus. Nos primeiros seis meses do ano, Goiás exportou cerca de U$ 290 milhões em carne de gado.
Indústria
Na edição 1.885 (21 a 27 de agosto), a reportagem “Sinal amarelo na fábrica” retratou o momento da indústria goiana, setor que tem peso de quase 30% no PIB do Estado e que gerou quase R$ 2 bilhões de ICMS em 2010. Goiás tem 18 mil estabelecimentos industriais, que empregam mais de 306 mil pessoas.
A indústria é o 2º setor de maior peso em valor adicionado do PIB goiano, com R$ 17,2 bilhões, atrás apenas do setor de serviços, com R$ 40,1 bilhões. Em 2010, a indústria gerou R$ 1,868 bilhão de ICMS para o Estado.
O momento da indústria goiana é bom, mas o cenário de crise internacional preocupa líderes do setor. O presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Pedro Alves, diz que é preciso cautela principalmente por parte dos exportadores, porque os países importadores já começam a diminuir seus pedidos.
Mas o cenário da indústria goiana é muito bom para os empreendedores do setor alcooleiro. Na sexta-feira, 2, foi inaugurada a Unidade Otávio Lage de refinamento de etanol e cogeradora de energia Codora Energia Ltda., em Goianésia. A refinaria deve processar este ano 650 mil toneladas de cana-de-acúçar (57 milhões de litros de etanol). A unidade é administrada por goianos, com investimentos de quase R$ 500 milhões. Hoje, 1,5 mil pessoas estão diretamente empregadas no empreendimento, que gera 40 MWh de energia.
Na inauguração, o governador Marconi Perillo elogiou o pioneirismo do governador Otávio Lage na modernização da produção de etanol e energia por meio do bagaço da cana. E lembrou a importância de empreendimentos desse porte no Estado no alcance da meta estabelecida por Goiás de elevar o PIB até a cifra de R$ 100 bilhões. “Há 12 anos, tínhamos um PIB de R$ 17 bilhões. Estamos próximos de chegar onde queremos. Faltam uns R$ 3 bilhões. Garantimos R$ 500 milhões aqui hoje e vamos conseguir os R$ 100 bilhões de PIB, ano que vem, e ninguém mais segura nosso Estado”, declarou Marconi.
Ele ressaltou que o crescimento do Estado tem se refletido nos números da economia goiana e no crescimento dos negócios. “O nosso volume de exportações era de 317 milhões de dólares. Nós vamos superar este ano a casa dos 5 bilhões de dólares. O Estado agregou valor às suas matérias-primas, estamos chegando à terceira montadora de veículos, temos um grande parque tecnológico e industrial nas áreas alimentícia, mineral e farmacêutica, e outras”, destacou o governador.
No mês passado, um investimento importante no setor industrial goiano foi anunciado pela Nova Fronteira Bioenergia (joint venture entre a Petrobras Biocombustíveis e o grupo paulista São Martinho). Serão investidos um total de R$ 1 bilhão nos projetos do grupo no Estado, nas unidades dos municípios de Quirinópolis e Bom Jesus de Goiás.
Com esse investimento, a Nova Fronteira vai expandir sua produção de cana-de-açúcar, tornando a unidade de Quirinópolis a maior usina do mundo no setor. Fundamental para a expansão da empresa é o incentivo fiscal de ICMS concedido pelo governo goiano, de R$ 3 bilhões.
Infraestrutura
E a infraestrutura goiana foi objeto da reportagem “Onde está o gargalo”, na edição 1.886 (28 de agosto a 3 de setembro). A matéria mostrou que o Estado de Goiás tem condições geográficas e climáticas excelentes, mas as deficiências na infraestrutura, principalmente transportes e energia elétrica, acabam por atrapalhar um crescimento mais rápido da nossa economia.
Estado com mais de 340 mil quilômetros quadrados de área, mas a nossa malha viária federal e estadual é de apenas 22 mil quilômetros. Desse total, menos de 14 mil quilômetros são asfaltados, o que é muito pouco e deixa menos competitiva a nossa produção. Além de pouca, grande parte das nossas estradas está em condições ruins de tráfego, problema que o governo estadual começa a dar solução (ver texto na página seguinte).
A falta de linhas férreas agrava a questão logística em Goiás, o que será minorado quando, finalmente (quando mesmo?), for concluída a Ferrovia Norte-Sul, obra federal idealizada ainda na primeira metade dos anos 1980 e que, desde então, vem se arrastando governo após governo.
Outra questão séria é a deficiente distribuição de energia elétrica em Goiás. A Celg passa por graves dificuldades financeiras. A estatal ficou muito tempo sem pagar o imposto devido ao Estado e perdeu poder de investimento. A direção da empresa está negociando saídas para a capitalização da companhia e o povo goiano acompanha com grande expectativa o desfecho dessas ações.
Em vista do que foi exposto, pode-se afirmar que governo não produz riqueza, quem produz riqueza são as pessoas, as classes empresariais, os trabalhadores. Mas bons governos ajudam as classes produtoras, estimulam, dinamizam a produção, atuam como indutores de desenvolvimento. Nesse sentido, governo bom é aquele que dá instrumentos para que a economia possa fluir de forma eficiente, provendo, principalmente, educação, saúde, segurança e fazendo investimentos na infraestrutura.
Goiás tem se desenvolvido nos últimos anos e a perspectiva é que continuará crescendo graças ao agronegócio competitivo e a industrialização em franco crescimento. E isso pode ser potencializado com agilidade na implementação de programas governamentais bem planejados e bem executados.
Situação de rodovias é o desafio
Há poucos dias, durante a 4ª Bienal dos Negócios da Agricultura do Brasil Central, realizada no Centro de Cultura da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) verbalizou uma constatação por demais sabida: o meio de transporte rodoviário é o principal inimigo dos produtores da região Centro-Oeste. Produtora rural no Tocantins e presidente da poderosa Confe-deração Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), Kátia Abreu sabia do que estava falando. Dois dos ouvintes mais atentos da senadora eram o governador Marconi Perillo (PSDB) e o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner.
Alguns dias depois, mais exatamente no sábado, 3, Marconi Perillo e o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, estariam no Km 1 da rodovia GO-174, que liga Rio Verde a Aparecida do Rio Doce. Lá, eles dariam início de fato ao Programa Rodovida, lançado há algumas semanas para reconstrução de mais de 2 mil km de rodovias em 42 trechos em todo o Estado (ver quadro ao lado). É provável que Marconi tenha se lembrado das palavras de sua ex-colega de Senado Kátia Abreu, considerando que está dando um duro golpe no maior inimigo dos produtores goianos, pelo menos nesses 42 trechos de rodovias.
O trecho da GO-174, com 62,3 quilômetros de extensão, é o primeiro a receber uma nova camada asfáltica. Serão investidos na obra R$ 11,3 milhões, provenientes do Fundo de Transportes, criado este ano para financiar pavimentação e manutenção das GOs. O serviço a ser executado pelo Rodovida Reconstrução consiste na retirada do pavimento velho, regularização da base e construção de nova capa asfáltica. Também serão implantadas faixas e placas de sinalização.
A GO-174, principalmente, mas não só entre Rio Verde e Aparecida do Rio Doce, tem importância estratégica para a economia goiana. Trata-se de um dos mais importantes corredores rodoviários do Estado e responsável por boa parte do escoamento de grãos produzidos no Sudoeste goiano, talvez a maior região produtora do País. A rodovia também liga Rio Verde, a 4ª maior cidade de Goiás, ao porto de São Simão. É intenso o tráfego de caminhões nessa via, opção de ligação com o Mato Grosso do Sul.
No total, estão homologados pela Agetop 32 trechos que integram o grupo 1 do Programa Rodovida Reconstrução e que foram iniciados no sábado. Mais dez trechos encontram-se em fase de contratação. A Agetop formatou o programa após constatação da situação precária da malha viária estadual pavimentada, que tem 9,3 mil quilômetros. Com a conclusão da primeira etapa do Rodovida Reconstrução, prevista para este ano, o grupo 2 será iniciado em 2012. Serão mais 55 trechos em 41 rodovias estaduais, num total de 2 mil quilômetros. Somados os dois grupos, a Agetop terá reconstruído em dois anos cerca de 42% da malha viária pavimentada do Estado, com a renovação do pavimento de rodovias importantes para o escoamento da produção agropecuária e a movimentação de cargas responsáveis pelo abastecimento de produtos diversos.
Melhor seria se o Rodovida tivesse começado antes. Estamos em setembro, as chuvas começam dentro de algumas semanas. O que suscita a dúvida: será que a Agetop vai conseguir cumprir o cronograma do grupo 1 de reconstrução das GOs antes das chuvas?
De qualquer forma, melhor começar tarde do que não começar. Depois do governo anterior, em que as rodovias foram abandonadas, a atual administração se mexe em relação à malha viária. Ao assumir, o governador avisou que primeiro teria de arrumar a casa para começar as obras. Enfim, começou.
“Temos problemas, mas podemos avançar” - Economista Everaldo Leite, professor universitário (PUC-GO)
“Sobre a perspectiva de Goiás melhorar sua posição no ranking da economia nacional, em primeiro lugar não temos de nos preocupar com isso. O que se faz nos outros Estados está fora da nossa capacidade de administrar.
Em segundo lugar, tratemos das condições que permitem o nosso Estado avançar nos setores de agropecuária, indústria e serviços. Hoje temos condições, sim, de avançar, mas existem barreiras. A infraestrutura é uma barreira.
Quando se pensa em infraestrutura, se pensa inicialmente na questão logística, problemas de escoamento da produção, de chegar ao mercado consumidor principal, que é São Paulo, ou o mercado consumidor externo.
O problema de logística só vai ser resolvido com investimentos da União e do governo do Estado. O governo federal já vem tratando disso com a Ferrovia Norte-Sul, a Ferrovia Centro-Sul, as estradas que estão sendo recuperadas. Possivelmente o Estado vai recuperar também suas rodovias agora e até o ano que vem deve estar com toda a malha arrumada. Então a questão de logística deve ser parcialmente resolvida logo. Há, lógico, um porcentual grande de estradas que precisam ser asfaltadas.
Outro problema é a distribuição de energia. Não falta energia em Goiás, mas há o problema de distribuição, que carece de investimentos. A Celg não tem condição de realizar o que é necessário. Talvez o governo devesse trabalhar com outras possibilidades, de investimento em distribuição de energia por meio de Furnas e outras empresas do setor. Talvez a Celg até volte a investir em médio prazo.
Se temos limitações, há vontade e articulação do governo em dirimir os problemas tanto de logística quanto de energia.
Então as possibilidades de Goiás avançar no ranking nacional existem, mas é preciso planejamento, bons projetos e sua execução. É necessário pensar o desenvolvimento do Estado com melhoria da qualificação profissional e atração de empresas que aumentem o valor adicionado dos nossos produtos.
De agora para frente, é necessário pensar projetos para o desenvolvimento da região Centro-Norte do Estado, espaço ainda a ser conquistado. A região Norte já conta com certa infraestrutura e no Nordeste ainda é preciso construir essa infraestrutura.
No Entorno de Brasília há problemas sociais gravíssimos. O governo tem de fazer um planejamento voltado para melhorar a economia daquela região.
A região Centro-Sul do Estado é dinâmica e ali já se criou um ciclo virtuoso. O governo tem de continuar com uma política pública de incentivo fiscal, levar financiamentos pelo Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) e outras possibilidades para consolidar o desenvolvimento do Centro-Sul.
A região metropolitana de Goiânia precisa ser pensada não somente em termos de conexão e mobilidade, mas também em termos de desenvolvimento. Se da região metropolitana tirar Goiânia, Aparecida e Senador Canedo, o PIB vai lá pro chão.
Cada microrregião tem suas vocações e seus problemas, o que ocorre também com as mesorregiões. É preciso que o Estado seja analisado no todo e os programas e projetos devem ser mais localizados, potencializando as vocações e atacando os problemas específicos de cada local.”
Fonte: Jornal Opção