Goiás vai retomar o dinheiro que lhe é roubado, pois do petróleo o Estado só fica com a poluição e as doenças
O petróleo ainda está a 7 mil metros da superfície e o pré-sal já é uma das expressões mais conhecidas do País, como se viu no Congresso Nacional na noite de quarta para quinta-feira. Os parlamentares não discutiram assunto novo. Há 40 anos se sabe que existe no fundo do mar uma imensa reserva em 800 quilômetros de riquezas. Na época da descoberta, ninguém no mundo tinha tecnologia suficiente para extrair o hidrocarboneto e trazê-lo para virar fumaça nos canos de descarga dos carros. Agora, até a Petrobrás dispõe de equipamentos suficientes, mesmo tendo virado sucata com os equívocos da companheirada..
Essa evolução em pesquisa custou bilhões de reais aos cofres públicos, dinheiro tirado do povo brasileiro. Então, nada mais justo do que retribuir os ganhos a todo o povo brasileiro. Se o investimento tivesse dado em nada, se não houvesse o que tirar do fundo do oceano, o Brasil inteiro teria perdido a verba. Como existe a possibilidade de lucro, parece óbvio que o destinatário dos dividendos sejam todos os CEPs e CPFs.
Foi o que decidiu o Congresso Nacional na memorável sessão em que derrubou os vetos da presidente Dilma Rousseff à distribuição dos royalties do petróleo. Sim, o governo federal havia agradado seus aliados, principalmente de Rio de Janeiro e Espírito Santo, e interrompido os sonhos dos brasileiros. Em favor de Dilma Rousseff, ressalte-se que ela não sujigou sua base para concordar com os vetos. Por isso, o Brasil venceu de goleada os representantes dos guetos. De 63 senadores que tiveram a dignidade de permanecer no plenário, 54 votaram com o País. De 405 deputados, 354 se manifestaram pela divisão dos royalties. Poucas vezes o Congresso derrotou de forma tão veemente a região que mais suga o País, o Sudeste.
Royalty é uma espécie de indenização paga, no caso, pela possibilidade de dano ao território. O último palmo de terra do litoral brasileiro está a 200 quilômetros do poço mais próximo. Só com muito esforço para incluir a extração do pré-sal na área de algum Estado. Como existe a previsão de 80 bilhões de barris, que quando houver extração estará na faixa dos 100 dólares cada, os políticos pularam em cima. Ainda bem que os coerentes saíram de baixo.
De imediato, se repara uma condição que beira o crime. O governo federal havia retirado de Goiás, por exemplo, mais de 300 milhões de reais por ano. Agora, vai se restabelecer o que os Estados têm realmente direito. Se a questão é ambiental, Goiás já deveria estar recebendo bilhões em royalties dos estados ditos produtores de petróleo. Os veículos poluem o ar diuturnamente, Goiás fica apenas com as doenças e o Rio de Janeiro, com as verbas. Nosso dinheiro vira chumbo nos pulmões. Agora, pelo menos, vamos receber algum ressarcimento. Chega tarde, mas antes tarde que mais tarde ainda.
Fonte: Jornal O Hoje