Goianos tiveram recorde de horas no escuro em 2012
Foram, em média, 35 horas sem energia por consumidor em Goiás. É o pior desempenho desde 2000.
Cada consumidor goiano ficou sem energia por 35 horas em média no ano passado. A quantidade, recorde disparado em dez anos, está registrada nos dados consolidados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e reforça o que o consumidor no Estado já sentiu no dia a dia em 2012: o desempenho da Celg piorou, mesmo depois do acordo com a Eletrobras para equilibrar as contas da companhia.
Enquanto a transferência das ações para a estatal federal ainda não é concretizada (leia mais ao lado), os investimentos não chegam e a Celg se distancia cada vez mais dos limites impostos pela Aneel com relação à quantidade e duração das quedas de energia. Além disso, crescem as despesas com empréstimos e punições pela má qualidade do serviço.
A empresa teve de desembolsar nada menos que R$ 52,7 milhões em 2012 para as chamadas compensações de continuidade – ressarcimento ao consumidor através de descontos na conta de luz por conta dos apagões. Foram mais de 10 mil pagamentos.
Em 2011, o valor total pago pela Celg em compensações foi de menos da metade do ano seguinte – R$ 23,7 milhões –, em 6,3 mil restituições. Já em 2010, o valor foi de R$ 17 milhões para 4,8 mil compensações.
Os dados da Aneel mostram que a duração das quedas de energia (chamada tecnicamente de DEC) variou de 21 a 26 horas entre 2001 e 2011 (veja quadro). Em 2000, a Celg registrou o menor índice – 15,71 horas.
Em 2007, quando foi revelada a gravidade da crise da empresa goiana e começaram as negociações com o governo federal, os goianos ficaram 25 horas sem energia em média. A situação melhorou em 2010, quando o registro foi de 21 horas, mas ainda acima do limite fixado pela Aneel.
A duração média das quedas registrada no ano passado representa o dobro da recomendação da Aneel, de 17,94 horas. É também quase duas vezes maior do que a média nacional, de 18 horas e meia.
Houve aumento ainda na quantidade de quedas de energia (classificada de FEC), considerando os últimos dez anos. O registro foi de 24,21 vezes em média por cada consumidor. Em 2011, a Aneel apontou 18,51 e, em 2010, 16,03.
A recomendação da agência reguladora era que o FEC alcançasse em 2012 o pico de 17,68. A Celg tem 2,42 milhões de consumidores.
PAGAMENTOS
Apenas as Centrais Elétricas do Pará (Celpa) pagaram mais em compensação de continuidade no ano passado do que a Celg. A empresa paraense desembolsou R$ 67 milhões em restituições aos consumidores.
Todas as demais distribuidoras do País registraram valores inferiores ao pago pela empresa goiana. A Light, em São Paulo, pagou R$ 46,5 milhões, enquanto R$ a Cemig, de Minas Gerais, teve de desembolsar R$ 34,8 milhões.
A CEB, do Distrito Federal, pagou R$ 9,3 milhões. A capital federal também atingiu o recorde histórico de apagões, mas os índices ficaram bem inferior ao de Goiás. Por lá, os brasilienses ficaram em média 20 horas sem energia.
Em todo o País, as compensações das distribuidoras somaram R$ 424 milhões.
A Aneel ainda não divulgou o ranking de desempenho das distribuidoras de energia referente a 2012. Na tabela de 2011, a Celg ficou em 28º lugar entre as 33 grandes empresas do País. A CEB ficou uma posição acima.
A Celg só não foi considerada pior em desempenho do que a Energisa Sergipe, a Companhia Energética de Alagoas, a Light, a Companhia do Piauí e a Celpa. A Companhia do Ceará liderava o ranking.
Os números da Aneel explicam o crescimento da insatisfação do consumidor goiano, que atingiu o maior porcentual desde 2005. O POPULAR mostrou em dezembro que, em consulta feita pela Aneel, numa escala até 100, a companhia goiana alcançou 57,16%, enquanto a média nacional chegou a 61,51%.
Também nos itens qualidade (57,18%) e grau de confiança (53,13%) foram registrados os menores índices dos últimos anos, abaixo da média nacional e da Região Centro-Oeste. No item fidelidade, que avalia preço, fornecimento e atendimento, o índice chegou a 33,02%
REGIÕES
O quadro detalhado de duração de quedas de energia mostra que, em algumas localidades do Estado, o período no escuro teve média de mais de 100 horas. São os casos dos conjuntos de Pamblona /Luziânia (144), Novo Planalto (133), Matrinchã (113), Niquelândia e Arenópolis (110), Padre Bernardo (106), Serra do Ouro (105,2) e Britânia (103).
Em Águas Lindas de Goiás, a média foi de 66 horas. Na capital, a média em três conjuntos é bem menor, de 17,93 horas, garantindo o alcance da meta estabelecida pela Aneel.
DIREÇÃO
A reportagem não conseguiu ouvir a direção da Celg a respeito dos números negativos da prestação de serviço. O presidente da companhia, Leonardo Lins de Albuquerque, não atendeu as ligações no celular. A informação é de que estava no Rio de Janeiro.
Já a assessoria da distribuidora afirmou na tarde de ontem que só poderia dar respostas sobre o mau desempenho da empresa na segunda-feira, porque a maioria dos ocupantes de cargos de chefia não estavam na empresa.
O governo estadual e a direção da Celg já admitiram que os investimentos feitos nos últimos dois anos ficaram bem aquém das necessidades de ampliação do sistema e manutenção da empresa.
Transferência da Celg ainda não se concretizou
Embora a Celg já esteja sob comando de integrantes da Eletrobras há mais de um ano, a transferência legal das ações para a estatal federal ainda não foi concretizada. Isso significa que o Estado de Goiás mantém o controle acionário, o que provoca resistência da Eletrobras em realizar investimentos na distribuidora.
Com o atraso nos processos e o jogo de empurra, a empresa não garantiu investimentos acertados para o ano passado.
A Secretaria da Fazenda (Sefaz) informou no ano passado que a concretização do acordo com o governo federal deve ocorrer em abril, mas nos bastidores da distribuidora já corre a informação de que dificilmente a transferência ocorra ainda este ano.
Para finalizar o acordo, restam dois estudos de avaliação da empresa, um contratado pelo governo e outro pela Eletrobras. O cronograma oficial estabelecia que a definição de preços ocorreria no ano passado. Até agora, não houve a conclusão do processo.
Enquanto isso, a Celg já fez um empréstimo de R$ 200 milhões para capital de giro, no ano passado, e solicitou há pouco novo financiamento do mesmo valor. O pedido foi rejeitado pela holding CelgPar, mas a direção voltou a reivindicar empréstimo em menor valor, de R$ 100 milhões.
A informação nos bastidores do governo é que o impacto negativo das medidas relacionadas ao plano de renovação das concessões no País prejudicou a Eletrobras e dificulta a liberação de recursos para investimentos. Já o pessoal ligado à estatal federal acusa o governo de ser o responsável pelo atraso no cronograma, com a demora em realizar a licitação para contratar a empresa que faria a avaliação.
O acordo com o governo federal foi fechado em 2011 e prevê a transferência de 51% das ações à estatal federal, com empréstimo de R$ 3,527 bilhões ao Estado para o pagamento de dívidas da empresa. Os recursos, em três parcelas, já foram repassados ao governo estadual.
Em fevereiro do ano passado, o governador Marconi Perillo (PSDB) nomeou quatro diretores indicados pela Eletrobras, passando a gestão à estatal.
Fonte: Jornal O Popular