Ocupação de lago no João Leite é criticada

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Especialistas rejeitam ideia de ocupação do entorno da Barragem do João Leite, defendida pelo secretário Roberto Elias

"Em lugar nenhum do mundo se compatibiliza o uso de uma represa construída para fins de abastecimento com atividades múltiplas. Em hipótese nenhuma se pode permitir a ocupação humana das áreas do entorno da Barragem do João Leite", afirmou ontem o titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente, delegado Luziano Carvalho, ao comentar a entrevista do secretário municipal de Planejamento, Roberto Elias, ao Face a Face . Em entrevista aos leitores que enviaram perguntas ao secretário por meio da página do POPULAR no Facebook, Roberto Elias defendeu a "ocupação ordenada" da região como instrumento de preservação do manancial.

"Para começar, aquilo - a represa - não é lago. É reservatório. Assim sendo, deve haver proteção máxima, proibindo qualquer outro uso no local", defende o delegado. Segundo Luziano Carvalho, toda ação humana gera impacto e, no caso da Barragem do João Leite, esse impacto pode sair caro demais para toda a cidade. "É preciso pensar na coletividade. O gasto para o tratamento da água é muito alto. É preciso preservar", acentua. "Sabe-se que o tempo de vida de um reservatório, estando a água poluída, é muito menor", completa o delegado.

Para o arquiteto e urbanista Renato Rocha, diretor do Curso de Arquitetura da UniEvangélica, em Anápolis, e coordenador do Instituto Rearquitetura e Urbanismo Sustentável (Rearq), o argumento usado pelo secretário Roberto Elias - de que a ocupação de forma ordenada dessas áreas é uma forma de se conseguir preservar os mananciais - "é muito fraco." Segundo o arquiteto, não se pode buscar um objetivo fazendo coisa errada para chegar a ele. "É como sair armado para não ser assaltado. Está errado", compara.

Na entrevista ao Face a Face , o secretário Roberto Elias citou o exemplo da Lagoa de Guarapiranga, em São Paulo, para defender a ocupação de determinada área no entorno da Barragem do João Leite, ressaltando que a proibição total de ocupação em São Paulo levou à invasão das áreas de proteção no entorno da lagoa. O secretário sugeriu a ocupação da região por "condomínios fechados e lotes grandes". "O problema em Guarapiranga não ocorreu por esta razão", contesta o arquiteto e urbanista Renato Rocha. "É inadmissível pensar em uso do reservatório criado para o abastecimento da cidade para outras finalidades. Tem de ser preservadíssimo", defende.

Planejamento
Para o arquiteto e urbanista, Goiânia carece de planejamento quando o assunto é política de ocupação urbana, mobilidade, acessibilidade. "Precisamos de uma visão longa de futuro, para quando a cidade tiver a população estabilizada. Não uma programação para três, quatro anos", critica. Segundo diz, Goiânia necessitaria de uma estrutura nos moldes de um instituto, com composição técnica e parceria com instituições de ensino superior, que conseguisse fazer um planejamento contínuo das questões da cidade. "Se não tivermos isso, não adianta ter um bom Plano Diretor, regra condicionada a fatores econômicos, culturais e sociais. Necessitamos de ações concretas e, antes de tudo, planejadas", sugere o arquiteto e urbanista.

Fonte: O Popular