Ônibus é o mais utilizado, mas não tem espaço nas ruas

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O transporte coletivo é o meio de locomoção mais usado pelo brasileiro, chegando a 34% da população. Ainda assim os investimentos públicos não contemplam as necessidades da parcela mais numerosa dos brasileiros. A infraestrutura viária das cidades privilegia os automóveis e motocicletas, deixando espaços reduzidos para ônibus e outros modais de deslocamento como bicicletas e pedestres.

Ainda que o transporte coletivo seja mais usado, ele tem avaliação negativa de 24% das pessoas, que o consideram ruim ou péssimo. Nas Regiões Norte e Centro-Oeste, o índice sobe para 40%. A locomoção a pé, na hora de ir de casa para o trabalho ou para a escola, é a segunda opção dos brasileiros: 24% preferem caminhar para chegarem ao destino. Em terceiro lugar, na preferência da população, está o carro, utilizado por 16% dos brasileiros.

Os dados fazem parte da Pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira: Locomoção Urbana, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Ibope. Nem a necessidade da maior parte das pessoas leva a mudanças no sistema viário. Para se ter ideia, nos 23,5 metros de largura da Avenida 85 (incluindo calçadas), 17,5 metros, ou 74% são reservados aos carros, motos e à faixa de ônibus (uma das poucas preferenciais da cidade).

Na esquina da 85 com a Rua 103, no Setor Sul, por exemplo, um dos gargalos do trânsito de Goiânia, de um lado a calçada tem 4 metros de largura. Mas do outro, onde há um ponto de ônibus, são apenas dois metros de largura. Ali, usuários do transporte coletivo se espremem amontoados nos horários de pico, aguardando para embarcar e dividir, dentro do ônibus, um metro quadrado com até outros seis passageiros. Nos países desenvolvidos, o índice de ocupação é de três passageiros por metro quadrado.

Enquanto isso, o índice de ocupação dos automóveis em Goiânia é de 1,3 passageiro a cada seis metros quadrados (área média ocupada por um carro popular). É o que especialistas chamam de hegemonia do carro. "A pesquisa mostra que estamos na contramão do que a população percebe, de que a prioridade é dos investimentos deveria ir para o transporte coletivo", diz o engenheiro civil Benjamin Jorge, doutor em transportes e professor do Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia de Goiás (IFG).

"Esse estudo diz que se deve dar prioridade é ao transporte coletivo. E, mesmo ruim assim, é o preferido. Se melhorar, então, deverá atrair mais usuários", destaca. Benjamin defende a "utilização coletiva do transporte individual". "O ideal é o transporte solidário. Se todo dia pudéssemos sair com mais três ou quatro pessoas por carro, para trabalhar, a situação melhoraria", diz.

A idéia é o uso inteligente do automóvel, e não sua demonização. "Há países em que apenas carros com mais de dois passageiros podem trafegar por faixas de velocidade. Há lugares também onde há desconto no abastecimento de carros com quatro ocupantes", argumenta.

Perguntado sobre como se locomove na cidade, o engenheiro disse ter tido uma experiência não muito produtiva com o transporte coletivo e por isso passou a usar carro próprio. "Quem tem muitos compromissos com horários picados vai preferir o carro".

O levantamento foi feito entre os dias 20 e 23 de março deste ano, por meio de 2.002 entrevistas em 141 municípios. Os números apontados não foram definidos por Estados; a referência é apenas nacional ou regional.

Dados na capital seriam diferentes

A professora do curso de Arquitetura e Urbanismos da Universidade Federal de Goiás (UFG) Érika Kneib, doutora em Transportes, estranhou a pesquisa CNI/Ibope porque os dados não bateriam com o atual contexto goianiense.

Ela citou a pesquisa Origem-Destino, que aponta que 36% se locomovem por carro e moto em Goiânia, contra 30% de usuários do transporte público, 26% à pé e 6% utilizam bicicleta. A pesquisa é de 2000 mas, segundo a especialista, é a mais recente com dados regionais, utilizada inclusive pelo Fórum de Mobilidade Urbana de Goiânia.

"Mesmo que a gente contradiga esses números, os resultados nos fazem perguntar se estamos investindo no modelo certo", reflete. Ela cita que em 1980 a população de Goiânia era de 880 mil habitantes. Em 2010, esse número saltou para 2,1 milhões, um crescimento de 180% da população que não foi acompanhado pelo aumento do número de passageiros do transporte coletivo: 26% no período. "As pessoas se locomovem mais, mas cada vez menos com o transporte coletivo", aponta.

Menor

Os números são confirmados pelo consórcio da Rede Metropolitana do Transporte Coletivo (RMTC): a demanda do transporte coletivo, que em 1998 era de 20 milhões de pessoas transportadas por mês, hoje é de 17 milhões de passageiros/mês. Érika traz números do Fórum de Mobilidade: em 10 anos, a frota de automóveis cresceu 61%, de motocicletas 120% e a população aumentou em 19%, apenas em Goiânia.

Na Região Metropolitana de Goiânia, os números sofrem acréscimo: o aumento de carros foi de 79%, de motos 170% e a população cresceu 25%. "É um modo insustentável de mobilidade", diz Kneib.

Fonte: O Popular