Empresas poluem Meia Ponte

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Vandré Abreu

A época de seca em Goiás é também de mau cheiro para os goianienses que moram ou passam próximos ao Rio Meia Ponte na região norte da cidade. Como a vazão do rio diminui no período sem chuva e a quantidade de resíduos de esgoto continua a mesma, o cheiro se torna característico. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) realizou levantamento e fiscalização durante todo dia de ontem. A estimativa é que o relatório aponte que 80% do esgoto são de algumas empresas da região e 20% de domicílios.

O levantamento foi finalizado na noite de ontem, mas os resultados ainda não são conclusivos. Ele foi feito por uma equipe multidisciplinar, formada por dois fiscais e um técnico de laboratório. A Estação de Tratamento de Esgosto (ETE), fundada em 2004, também foi fiscalizada, mas, segundo os técnicos, não foram encontrados índices de liberação de gases ou resíduos que caracterizassem a poluição. No entanto, diversos pontos de esgotos clandestinos foram vistos.

Em estudo no início do ano, a Agên­cia Mu­ni­ci­pal de Meio Am­bi­en­te (Am­ma) so­mou pe­lo me­nos 25 pon­tos de es­go­to clan­des­ti­no na ca­pi­tal; já a Sa­ne­a­go ad­mi­tiu lan­çar 20 pon­tos de es­go­to sem tra­ta­men­to no rio. Isto levou o Meia Ponte a figurar entre os se­te rios mais po­luí­dos do Pa­ís, em pes­qui­sa fei­ta pe­la ONG SOS Ma­ta At­lân­ti­ca.

O levantam mos­trou que as águas do Meia Pon­te, no tre­cho que pas­sa pe­la ca­pi­tal, são tão po­luí­das quan­to às do Rio Ti­e­tê, de São Pau­lo.
Idealizador da Organização Não-Governamental MeiaPonte.org (www.meiaponte.org), o empresário Ernesto Augustus culpa a falta de punição como causa de esgotos serem jogados diretamente no rio. “A maioria dos esgotos clandestinos não era para existir, porque a Saneago sabe que eles existem. Sei que é difícil o combate”, diz Ernesto. O fato é aceito pela Semarh e o secretário Leonardo Vilela afirma que a fiscalização é dificultada, pois, ao fechar um esgoto, logo outro é aberto.

“Para quem mora na região sabe que ali em frente à ponte da Perimetral Norte não tem mau cheiro, mas depois que deságua o Rio Anicuns já começa a piorar. Então é fácil saber onde estão os pontos, tem ali atrás da Sefaz (Secretaria da Fazenda), no Setor Jaó”, revela Ernesto. Segundo ele, a intenção de realizar um projeto em favor do Meia Ponte foi para divulgar à sociedade o que ocorre com o rio e, assim, poder facilitar na preservação. “Muita gente nem sabe o que é o Meia Ponte, nossa intenção é um trabalho de educação ambiental.” No entanto, ele afirma que só possui o apoio de dois amigos, Renato Rodrigues e Paulo Castilho, e todo o recurso é retirado do bolso deles.

Inquérito
Reportagem de O HOJE, no mês de janeiro divulgou in­qué­ri­to po­li­ci­al fei­to em 2008 pe­la De­le­ga­cia Es­ta­du­al de Re­pres­são a Cri­mes Con­tra o Meio Am­bi­en­te (De­ma), em que a Sa­ne­a­go de­cla­rava ter co­nhe­ci­men­to, por meio de au­to-de­nún­cia, de 20 pon­tos de lan­ça­men­to de es­go­to sem tra­ta­men­to no Meia Pon­te. Mas se­gun­do o de­le­ga­do ti­tu­lar Lu­zi­a­no de Car­va­lho, na ocasião, a si­tu­a­ção con­ti­nuava a mes­ma. Existe um Ter­mo de Ajus­ta­men­to de Con­du­ta (TAC) firmado entre a Saneago, Mi­nis­té­rio Pú­bli­co e Am­ma, em 2008, pa­ra retirar os esgotos clandestinos até 2013. E, até então, o número de pontos é o mesmo.
A Semarh estima que o relatório fique pronto no início da próxima semana e a solução comece a ser traçada.

Fonte: Jornal O Hoje