Goiânia separada por muros

10:30 1 Comments A+ a-


Carla Monteiro

“Sempre sonhei em morar em uma casa, mas o medo insiste em falar mais alto, pois não temos segurança pública.” Com este pano de fundo psicológico e cerca de R$ 500 mil, Ruth Ribeiro Miranda, 54 anos de idade, dos quais 46 vividos em Goiânia, pode ser encontrada, atualmente, em um condomínio horizontal fechado, na região sudoeste da capital, onde é proprietária de uma casa, como outros 73 condôminos. Com dois filhos e um terceiro neto chegando, ela morou por 42 anos em prédios, com um olho cumprido sobre uma casa.

No último condomínio vertical, localizado nas proximidades da T-63, permaneceu 17 anos sendo 12 como síndica, dividindo o espaço com 23 vizinhos. Decidida a manter seu meio-sonho, ela desembolsa, mensalmente, a título de cota condominial, cerca de R$ 250, desconsiderando os rateios (divisões proporcionais dos custos de benefícios comuns). Um valor modesto, ponderando-se a média cobrada nos badalados Aldeia do Vale (R$ 600), Residencial Granville (R$ 450), complexo Alphaville Flamboyant – 3 etapas (R$ 800) – e Portal do Sol (R$ 350).

“A quantidade de unidades habitacionais faz com que haja queda na taxa condominial. Na mudança, o item mais pesado foi o preço da casa, para a qual vendi o apartamento e fiz uma complementação.” À ótica financeira, Miranda garante que prefere casa, sob o argumento de que a despesa de uma casa é única, enquanto de um condomínio é um aluguel em permanente ajuste. “Pago pela segurança minha e dos meus.”

Medievalização
A realidade de Miranda é uma pálida imagem da realidade de outras quase 20 mil famílias, que dividem espaços entre os 89 condomínios horizontais fechados estruturados em Goiânia. Espaços, aliás, que representam menos de 3% da área total da capital, que é de 941 quilômetros quadrados. Um limite que deve ser ampliado nos próximos cinco anos, com o surgimento de três outros empreendimentos imobiliários. Os dados são do Sindicato da Habitação de Goiás (Secovi/GO), que diante do cenário criou diretoria específica para o setor: Diretoria de Condomínios Horizontais Fechados (DCHF), comandada pelo empresário Ivan Hermano.

“As pessoas têm medo da violência e os condomínios horizontais oferecem segurança e comodidade. Além de tudo, quando se implanta um empreendimento com essas características, a vizinha é beneficiada com a urbanização, a humanização da área e a geração de renda da população vizinha”, advoga Hermano.
Goiânia é, atualmente, a terceira capital do País em número de CHFs, proporcionalmente ao número de habitantes. O primeiro data de 1978, o Prive Atlântico, no limite de Goiânia com Aparecida de Goiânia, na região sudoeste, que ganhou do poder público o status de condomínio fechado, ao se construir muro em torno do que inicialmente era condomínio aberto para classe média alta.

Um dos maiores estudiosos sobre o assunto, o professor da PUC-GO Aristides Moysés garante que a questão da segurança é uma meia-verdade. “O mercado é que vende a ilusão de segurança, saúde, ecologicamente sustentável e reprodução da configuração urbanística do interior. O certo é que a grande maioria migra para estes lugares para estar entre os seus iguais.” A socióloga e professora da PUC-GO Eline Jonas concorda com o colega, reforçando que os CHFs são formas de exclusão do outro e encontro dos iguais.

Para Moysés, que comanda o núcleo goiano do Observatório das Metrópoles, os CHFs são a materialização, pelo mercado imobiliário, das dificuldade dos altos estratos sociais em viver e conviver no espaço urbano. Em seu livro Goiânia, Metrópole não Planejada, ele chama os condomínios horizontais de cidadelas medievais. “Esses espaços começam como uma autossegregação e se cristalizam, depois, como uma questão de demanda e oferta.

Fonte: Jornal O Hoje

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Anônimo
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15 de agosto de 2011 às 11:15 delete

Seria este post um medo futuro das prefeituras de perderem poder?

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