Cadeirantes têm difícil acesso
Na última segunda-feira (1), o cadeirante José Nunes, 52, acordou às 4 horas da manhã. Quando o relógio marcava 4h40, ele saiu de casa em direção ao ponto de ônibus na Vila Santa Helena. Aguardava o transporte que geralmente passa às 5h15. Mas só embarcou às 6h36 com destino ao Terminal Praça A, onde pegou outro ônibus para ir ao Hospital Santa Casa de Misericórdia. Às 7 horas, o ônibus passou e o elevador acessível estava estragado. O motorista tentou ajudar, mas não teve jeito e José teve de esperar o próximo. Chegou ao seu destino às 7h30 – quase três horas de percurso. O cadeirante precisava pegar a fila para fazer exame e esperava chegar por volta das 6 horas no hospital. Quando chegou, a fila estava enorme.
Não é um caso isolado. Os cadeirantes que precisam do transporte coletivo na capital passam por esse tipo de transtorno diariamente. José Nunes, aposentado, precisa da cadeira de rodas há 24 anos, quando, por causa de um tiro, ficou paraplégico. Ele, que já se considera experiente no manejo com a cadeira e no trânsito, conta que é comum que os elevadores dos ônibus ou os cintos de segurança especiais estejam estragados. A alternativa é esperar o próximo ônibus que pode demorar ou vir com problemas nas adaptações. Como se não bastasse, nos horários de pico, os ônibus ficam cheios e os cadeirantes não conseguem embarcar porque não existe espaço para uma cadeira de rodas dentro dos veículos.
Uma reclamação frequente dos cadeirantes é que nem todas as calçadas têm rebaixamento para cadeiras de rodas e nos pontos de ônibus também falta rebaixamento. A vereadora Cidinha Siqueira, deficiente física, conta que existia, até 2008, uma equipe responsável por fiscalizar e providenciar esses recursos de acessibilidade. No entanto, esse trabalho parou. A reportagem tentou contato com a Agência Municipal de Obras (Amob) para saber se existe algum prazo para a construção das adaptações nas calçadas, mas não obteve resposta. Segundo José Nunes, quando os rebaixamentos existem é comum ver carros estacionados em frente a eles. A Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (AMT) informou que quando os fiscais encontram carros nessa situação, os veículos são autuados por infração grave, com perda de 5 pontos na carteira de habilitação e multa de 127 reais.
O embarque nos ônibus do Eixo Anhanguera também é um problema para os deficientes físicos. Entre os veículos e a plataforma existe um vão onde a roda da cadeira pode enganchar. José diz que as rodinhas caem lá e que a sorte é que outros usuários o ajudam. A jornalista Maria José Sá, que, por causa de um acidente precisa de cadeira de rodas, conta que o fato de os cadeirantes só embarcarem por um lado da plataforma é um transtorno. “Esses dias cheguei ao ponto do Eixo, mas não pude entrar porque a cadeira de rodas só entra pelo lado oposto. Desci a rampa, atravessei a Avenida Anhanguera e fui tocando a cadeira pela avenida, de frente com automóveis, porque as calçadas não têm rebaixamento.”
Outro transtorno, segundo José Nunes, é a falta de preparo dos motoristas que “não são capacitados para atender os deficientes e muitas vezes não param para eles”. Cidinha Siqueira conta que luta por um curso de capacitação para que os motoristas saibam lidar e ajudar as pessoas com deficiência e que ela já se prontificou a ministrar as aulas, se necessário. A Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) informou que os motoristas passam por curso de capacitação antes de começar a trabalhar e o embarque e desembarque de deficientes físicos já é assunto abordado no curso. A empresa ressalta que os ônibus só permitem o transporte de um cadeirante por vez porque só há um local em cada veículo destinado a eles. Por norma de segurança, se já houver um cadeirante no ônibus, o motorista é orientado a pedir que o usuário aguarde o próximo veículo.
Acessíveis
Na capital e região metropolitana, são disponibilizados seis ônibus especiais, chamados de acessíveis, destinados às pessoas com mobilidade reduzida. São cinco rotas e um ônibus reserva que atendem 203 passageiros cadastrados. Eles funcionam de segunda a sexta e, em casos especiais, podem também rodar nos finais de semana. O serviço, disponibilizado pela CMTC, é gratuito e destinado às pessoas de baixa renda.
Os veículos buscam e levam a pessoa de casa ao tratamento, em dia e hora previamente marcados. A assessoria da CMTC informa que sempre que as reclamações a respeito dos problemas com os ônibus adaptados chegam à ouvidoria, ela repassa a linha e o número do veículo para a empresa responsável para que sejam feitas as reformas. José conta que liga no número, mas nada melhora o serviço.
Fonte: Jornal o Hoje