Estado tem condições geográficas e climáticas excepcionais, mas deficiências na infraestrutura — principalmente de transporte e energia — tornam mais lento o crescimento da economia
Cezar Santos
As riquezas goianas circulam por 22 mil quilômetros de estradas. São 3,6 mil km de rodovias federais (BRs), dos quais 3,4 mil km pavimentados e 206 km não pavimentados (há mais 600 km planejados). Já a malha sob jurisdição estadual (cujo valor estimado é de R$ 10 bilhões), com 219 estradas, não chega a 18 mil quilômetros de rodovias, sendo 9,3 mil km asfaltados e 8,6 mil km não asfaltados. Há de se considerar, também, centenas de estradas municipais e particulares. De qualquer forma, é uma malha viária modesta, tendo em vista as dimensões do Estado.
Goiás tem mais de 340 mil quilômetros quadrados de área, com terras férteis, muita água, clima ameno com duas estações bem definidas (chuvosa, de outubro a abril, e seca, de maio a setembro). Somos quase 6 milhões de habitantes. O Estado de Goiás se localiza no coração do Brasil, é a 9ª economia do País e cresce acima da média nacional.
O Estado tem condições geográficas excelentes, o que contribui para que empresas se instalem aqui, o que de fato tem acontecido principalmente nos últimos 15 anos. Mas é fato também que investidores não buscam uma região apenas por localização ou condições climáticas. Há uma palavrona que traduz o que se constitui o principal chamariz para as empresas: infraestrutura.
O termo tem significado próprio nos vários campos, mas, como seus dois termos separados indicam (“infra” = embaixo, sob; e “estrutura” = suporte, base), é o que sustenta algo. Como se pode verificar em enciclopédias (como a Wikipédia, na internet), na economia infraestrutura é todo aparato de condições que permite que haja a produção de bens e serviços, como ainda o seu fluxo ente vendedor e comprador, tais como as comunicações, os transportes (vias, veículos, tráfego etc.), a eletricidade e combustíveis (produção, distribuição, manutenção de rede etc.), o saneamento básico (fornecimento de água potável, rede de esgotos etc.), entre outros. Resumindo, infraestrutura é tudo aquilo que facilita a produção e a distribuição de bens e serviços e aí há quem inclua a mão de obra necessária para essa produção.
Boa infraestrutura é solução, é mola-mestra para o crescimento econômico, é o motor do desenvolvimento. E quando se fala em infraestrutura está se referindo, antes de tudo, à logística de transporte (que significa, de forma muito simples, os meios de armazenamento e transporte de matérias-primas e produtos acabados). Como se disse, para um Estado com as dimensões de Goiás, uma malha viária de apenas 22 mil km é acanhada.
O governo estadual tem se mostrado preocupado com a questão. A Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) retomou as obras de pavimentação de dez trechos rodoviários que totalizam 348 quilômetros (quadro à esquerda). Máquinas e equipamentos estão nos trechos executando os serviços de terraplenagem e pavimentação. O financiamento é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para a conclusão dos 198 quilômetros restantes serão gastos R$ 99 milhões. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, diz que as obras serão construídas com investimentos de cerca de 12% a menos do valor contratual, devido ao resultado de negociações com as empreiteiras. “Conseguimos uma redução no valor da obra, assegurando a mesma qualidade e prazo de conclusão.”
O governo de Goiás criou o Fundo de Transportes (FT) que garantirá recursos anuais da ordem de cerca de R$ 300 milhões a serem aplicados na manutenção, conservação e melhoria das rodovias estaduais. O FT é de natureza orçamentária e dotado de autonomia administrativa, financeira e contábil. Ao lançar o Fundo de Transportes, o governador Marconi Perillo lançou também o Programa de Reconstrução de Rodovias Estaduais, que prevê inicialmente a reconstrução de 2.081,4 quilômetros em 42 trechos rodoviários de 28 rodovias pavimentadas estaduais espalhadas pelo Estado (quadro à direita).
As obras são mais estruturadas, consistindo na retirada do pavimento antigo, deteriorado, e na construção de uma nova capa asfáltica, com posterior sinalização horizontal (faixas) e vertical (placas). Com a conclusão da primeira etapa do programa, a Agetop prevê o início da segunda fase, que ocorrerá em 2012. Nesse grupo estão elencados 55 trechos em 41 rodovias estaduais, num total de 2 mil quilômetros.
Somados os dois grupos iniciais, a Agetop reconstruirá em dois anos cerca de 42% da malha viária pavimentada do Estado, com a renovação do pavimento de rodovias importantes para o escoamento da produção agropecuária e para a movimentação de cargas responsáveis pelo abastecimento de produtos diversos.
Outra preocupação com a malha estadual é que muitos trechos estão em condições sofríveis. Explica-se: no governo passado, a manutenção das rodovias foi praticamente esquecida. Com isso, as chuvas, a idade das rodovias e o uso pioraram as condições de trafegabilidade, ao ponto de uma importantíssima rodovia como a GO-164 — a chamada Rodovia do Boi —, no trecho próximo a Mozarlândia, estar praticamente intransitável. Um usuário que esteve na região na semana passada contou ao editor que pistas de terra ao lado da rodovia oferecem melhores condições de trafegabilidade.
De novo, se mostra a preocupação do governo estadual com o problema, consciente de que, com estradas ruins do que jeito que estão, Marconi Perillo pode dar adeus ao sonho de fazer o melhor governo da vida dos goianos, como prometeu em campanha. Há algumas semanas o governador lançou um programa de conservação rodoviária, o Rodovida. A ideia é implementar um novo conceito de manutenção de rodovias, realizando as atividades de conservação rotineira e periódica, de obras emergenciais, reparos e execução de pontes e bueiros, sinalização e adequação de rodovias não pavimentadas.
A manutenção integrada atuará na malha pavimentada e não pavimentada. Será direcionada ainda para outros tipos de serviços rodoviários como a sinalização, na implantação, renovação e reparos de placas e sinalização horizontal — com a pintura de faixas no pavimento — e também na implantação e reparos em defensas metálicas e de concreto.
Nas rodovias pavimentadas o Programa Rodovida atuará com serviços na faixa de domínio, com roçagem manual e mecânica, limpeza e pintura de elementos de drenagem, de pontes e bueiros tubulares e celulares, na reconstrução de taludes de aterro e de corte e na execução de elementos de canalização de água e de combate a erosões.
Na pista de rolamento serão executados serviços de tapa-buracos, remendos profundos, selagem de trincas e recomposição de elementos de drenagem superficial e a manutenção preventiva com selagem asfáltica (aplicação de lama asfáltica e microrrevestimento) e ainda na reconstrução de taludes e de corte.
A conservação nas rodovias não pavimentadas executará os serviços de reconformação de plataforma, abertura e limpeza de valetas laterais e limpeza de bueiros, eliminação de pontos críticos, suavização de taludes e aterros de pequena altura e de execução de valetas. Está prevista também a conservação e reconstrução de pontes de concreto e de madeira.
Aeroportos
Outro modal de grante e importante relevância para o crescimento do Estado é o aeroviário. Cinquenta e dois municípios goianos têm aeroportos ou pistas de pouso. Há 20 pistas não homologadas, ou seja, sem autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar, mas que funcionam de forma clandestina. A maioria só opera sob a luz do dia. Como no caso das rodovias, o governo anterior abandonou os aeroportos. Sabe-se que o governo Marconi Perillo está retomando os trabalhos de balizamento, reforma e construção de pistas de pouso.
Energia é problema, mas já se vê luz no túnel
Goiás vem atraindo empresas nos últimos anos, graças a uma agressiva política de incentivos fiscais a partir da década de 1980, primeiramente com o Programa Fomentar e depois com o Produzir. Com isso, a economia goiana vem dando saltos de crescimento, quase sempre acima da média nacional. Mas é evidente que há problemas na logística de transporte, configurado numa malha acanhada e com conservação deficiente nos últimos anos. Outro problema sério é a oferta de energia.
A Celg está enredada há anos em problemas financeiros e teve sua capacidade de investimentos drasticamente reduzida. Com isso, a expansão da rede elétrica tem sido muito tímida nos últimos, aquém mesmo do que seria necessário para fazer frente ao crescimento econômico previsto nos próximos anos. Certamente, se a oferta de energia fosse estável, mais empresas poderiam vir para Goiás.
Felizmente — e que o leitor perdoe o trocadilho —, já se vê uma luz no túnel da Celg. A partir de 2015 a empresa deve começar a operar no azul. A previsão é do presidente da empresa, José Eliton de Figuerêdo Júnior, otimista com a finalização, ainda neste ano, da primeira etapa do plano de reestruturação da Celg, que trata da parte interna juntamente com o acordo final do ponto de vista econômico-financeiro.
Há dez dias, José Eliton divulgou balanço da empresa referente ao primeiro semestre deste ano, apontando aumento na arrecadação, diminuição da inadimplência, eliminação do risco de apagão em Goiás e a retomada do programa Luz Para Todos. Segundo ele, projeções econômicas mostram a gradativa reestruturação da empresa. “A partir de 2015 ela começa a operar no azul. Em curto espaço de tempo, de cinco a dez anos, a empresa se tornará novamente uma das mais importantes do setor elétrico nacional. Não existe mágica para a salvação da empresa, é um processo continuado.”
O principal desafio do governo em relação à Celg é a conclusão do processo de reestruturação. O plano apresentado no início do ano pela direção da empresa ao governador envolve três módulos: o planejamento do ponto de vista do equilíbrio econômico-financeiro; o plano de investimentos que compreende o período de 2011 a 2020; e o planejamento estratégico da empresa que compreende o período de 2011 a 2015.
Eliton disse que o planejamento será seguido à risca, lembrando que as ações internas de ajuste da Celg estão sendo feitas desde o início do ano. “Retomamos o diálogo com a Eletrobrás, com o governo federal e estamos em conversa com outras empresas do setor elétrico seja de controle público ou privado, no objetivo de alienar até 49% das ações da empresa de modo a capitalizá-la para que ela consiga exercer sua atividade fim. São ações que estão sendo feitas, mas que só podem ser enxergadas no sentido de garantir a reestruturação da empresa no conjunto”, disse o presidente.
José Eliton não doura a pílula em relação aos problemas que a empresa pode representar ao desenvolvimento de Goiás, quando falou que só o aporte financeiro não resolverá as dificuldades da empresa. “Temos de ter uma mudança nos padrões de gestão e governança, ter um objetivo claro, fazer com que a empresa tenha sua atividade voltada para o seu desiderato, que é fornecer energia com eficiência atendendo a demanda existente e a demanda crescente no Estado para, inclusive, propiciar o desenvolvimento de Goiás.” Ele lembrou que a oferta de energia pela Celg é o que pode limitar ou estimular o crescimento do Estado. “As empresas, indústrias ou fábricas não têm condições de se instalar se não tiverem energia disponível para tocar seus equipamentos e suas máquinas.”
Em que pese os problemas, a Celg é uma empresa absolutamente viável e ao longo de sua história tem contribuído decisivamente para o desenvol-
vimento de Goiás. A companhia tem hoje 57.552 km de rede urbana, 139.335 km de rede rural, 191 km de rede subterrânea, e 5.462 de km de linhas de transmissão, totalizando 202.540 km de rede em todo o Estado. São mais de 203 mil transformadores instalados e 332 subestações (138 kV e 34,5/13,8kV).
A empresa tem custo médio de R$ 174 milhões por ano para manutenção de seu sistema. A Celg atende 237 municípios goianos, em 2,3 milhões de unidades consumidoras. A taxa de atendimento urbano chega a 97,94% e atendimento rural de 94,38%, ou seja, quase a totalidade da população goiana. É bom lembrara que o cliente pode comprar energia de outras fornecedoras, o que ocorre principalmente com empresas, que às vezes, inclusive, geram sua própria energia.
Na parte técnica, a principal dificuldade que a Celg enfrenta são problemas de carregamento nas instalações que alimentam a malha (subestações Xavantes, Anhanguera, Morrinhos e Palmeiras).
Mesmo com as dificuldades de ordem financeira, a empresa já aprovou seu Programa de Investimento no Sistema para os próximos anos, prevendo investimentos na média de R$ 220 milhões por ano.
Água
Outro setor estratégico para o desenvolvimento do Estado é o de saneamento básico. A Saneamento de Goiás S/A (Saneago) também tem problemas financeiros, o que limita sua capacidade de investimento, mas é reconhecidamente uma das melhores empresas do País no setor. Ela atua em todo o território goiano, responsável pelo saneamento da capital e em mais 224 dos 246 municípios goianos, além de 92 localidades (distritos). É uma empresa pública do governo do Estado de Goiás. A Saneago tem 21,7 mil km de redes de água e 6,9 mil km de redes de esgoto.
A empresa atende com água a 4,71 milhões de pessoas no Estado, sendo 1,31 milhão em Goiânia. O atendimento em esgoto chega a 2,1 milhões de pessoas no Estado — 1 milhão na capital. A Saneago gasta R$ 48,9 milhões/ano em manutenção de suas redes. Existem em Goiás 182 estações de tratamento de água (ETAs) e 68 estações de tratamento de esgoto (ETEs).
No aspecto técnico, a maior deficiência da Saneago, conforme levantamento iniciado em janeiro deste ano, é a de que há 52 pontos (várias cidades, algumas com dois ou mais pontos) em que há falta d’água no período de estiagem. Em março foi iniciado trabalho de ampliação de redes, perfuração de poços etc., que eliminou o problema em 12 pontos. Até dezembro, a direção da empresa espera ter solucionado a escassez em 15 outros pontos.
Os pontos restantes serão eliminados daí em diante. O planejamento indica que quando vier o próximo período de seca não haverá mais nenhum ponto com falta d’água no Estado.
O plano de obras tem como foco a universalização dos serviços de água tratada no Estado. As principais obras são o Sistema Produtor do João Leite e o Sistema Corumbá, no Entorno do DF e em parceria com a Caesb. Para o futuro — de 2013 a 2015 —, estão previstos investimentos superiores a R$ 3 bilhões para aplicação em todos os municípios, de acordo com os serviços necessários.
As fontes de financiamento são recursos próprios, Tesouro do Estado, Orçamento Federal da União, BNDES, Caixa Econômica Federal/FGTS, PAC-1 e PAC-2. (Cezar Santos)
Diagnóstico e soluções
Quem tem um mínimo de informações básicas sobre o tema não titubeia: logística de transporte abaixo do ideal — aí compreendendo estradas ruins, poucas ferrovias, deficiência no fornecimento de energia. Se não fossem as deficiências da nossa infraestrutura, Goiás poderia estar ainda melhor na fita, por exemplo, talvez em 7º ou 6º lugar no ranking da economia nacional. E não se trata, como se poderia objetar, de simples questão de vaidade. Estar mais perto do 1º lugar tem significados importantes como população com renda maior, mais consumo de bens e serviços, mais escolas, escolaridade mais alta, mais saúde, mais água tratada, etc..
Então, não fosse a tal da infraestrutura deficiente, Goiás seria mais rico, com todas as boas consequências que isso implica.
Em seguida, quatro economistas que se debruçam sobre a questão da infraestrutura goiana. Eles discorrem sobre o tema, abordando tópicos variados, reafirmando o diagnóstico e sugerindo soluções.
“Precisamos integrar os três modais”
Produzir riqueza não é muito difícil, junta capital, tecnologia, mão de obra, enfim... O mais difícil é escoar, vender a mercadoria produzida. Goiás vem produzindo muita riqueza e agregando valor aos seus produtos, às suas commodities agrícolas e minerais.
Para que isso continue de forma eficiente, é importante o Estado dar continuidade à duplicação de estradas, as saídas para Brasília, para São Paulo, para o Mato Grosso, para o Tocantins, e interligá-las às ferrovias. Nos Estados Unidos, veem-se as freeways e ao lado as ferrovias e os aeroportos. É isso que precisamos, ter ferrovias, rodovias duplicadas e aeroportos, para agilizar a logística. São os três modais que precisamos integrar.
Precisamos melhorar a Ferrovia Centro-Atlântica, que tem velocidade muito baixa.
Terminar a Ferrovia Norte-Sul e integrá-la, porque é importante termos uma saída para o Pacífico. Aí teremos também uma saída pelo hemisfério norte, pelo Tocantins e Maranhão. A Norte-Sul acaba sendo a espinha dorsal do Brasil. Não corta só Goiás, ela começa no Maranhão, passa pelo Tocantins, Goiás e desce a Minas, São Paulo, vai até o Rio Grande do Sul. Vai cortar o Brasil de fora a fora, dando saída, inclusive, para Argentina, Uruguai, países do Cone Sul.
Outra saída importante é por via férrea pela Bahia.
Mas não só o governo, a iniciativa privada tem de lutar muito para consolidação da infraestrutura rodoviária e ferroviária.
Tem também a questão do transporte rápido, aeroportuária, que é fundamental. A definição de algumas regiões no Estado e consolidação de alguns aeroportos em cidades estratégicas, em regiões grandes produtoras. E a questão do aeroporto de cargas, em Anápolis. É a grande oportunidade para Goiás esse aeroporto, para transporte rápido de cargas para o mundo inteiro.
Hidrovia
Acho isso utópico. Tem tantos meios de transporte rápido. Hidrovia causa problemas ambientais seriíssimos, acho que não vale a pena o desgaste, quando o mundo hoje luta por desenvolvimento sustentável.
Vem aí a Rio +20 com propostas interessantes e todas as propostas são praticamente opostas à utilização de rios para transportes. Acho que investir em hidrovia é comprar uma briga com boa parte do mundo, principalmente diante da Rio +20, vai polemizar muito e para Goiás não é momento para divergências. Enfim, a jogada é integrar nossos modais.
Transporte coletivo
Metrô é muito caro, praticamente ninguém tem dinheiro para investir nisso. O mundo caminha para VLTs, mais rápido para implantar, mais barato. E tem de investir mesmo em transporte de massa, melhorar o sistema de transporte urbano. A situação em Goiás é precária, investe-se muito pouco nisso. É preciso construir corredores exclusivos para bicicletas. Em algumas cidades da Europa e dos Estados Unidos, o cidadão vai na sua bicicleta, para e a coloca no ônibus, na frente desce e tem lugar apropriado para guardar a bicicleta. Isso é muito legal.
“Expandir a malha pavimentada é fundamental”
Não tenho viajado por Goiás ultimamente, então não sei como estão as rodovias. Mas por informações de quem anda e compara com outros Estados da nossa região, Cento-Oeste, consta que a diferença é impressionante. Enquanto as nossas estradas estão esburacadas, abandonadas, sem sinalização, sem reparo, as do Mato Grosso parecem tapete.
Não conheço também sobre a oferta de energia nos outros Estados, mas pelo que consta não há problemas de fornecimento irregular de energia elétrica em Goiás, mesmo com a perda de geradoras como Cachoeira Dourada e outras, que passaram à iniciativa privada.
No tocante às comunicações, acredito que estamos no mesmo nível dos outros Estados. Ouço até comentários de que telefonia em Goiás supera muitos outros Estados, tanto em regularidade quanto em cobertura de território, tanto no fixo quanto no móvel. Parece que funciona bem.
Isso deve ser verdade, porque não se vê grandes reclamações dos bancos, que são os grandes clientes das telecomunicações.
Então com exceção de transporte, parece que a infraestrutura do Estado é satisfatória, no mesmo nível do restante do País. Mas estradas, realmente, parecem ser deficientes. Não sei se isso estaria contribuindo para que não tenhamos um nível mais elevado de crescimento econômico, não me parece que seja esta a razão.
Se o Estado poderia estar tendo dificuldade de crescimento econômico, não creio que seria decorrente desses fatores de infraestrutura.
Evidente que é preciso continuar a expansão da malha pavimentada, mesmo porque a atividade econômica aumenta. Da mesma forma a manutenção. É preciso obras que sejam duráveis, com projetos e fiscalização rigorosos, para verificar se atendem aos requisitos de engenharia.
Também não vejo um comboio de empresários nas portas do Palácio das Esmeraldas ou em Brasília, denunciando insuficiência da infraestrutura. Claro, se tivesse a Ferrovia Norte-Sul já em funcionamento, e com a malha rodoviária já restaurada, iria contribuir muito para redução de custo de transporte e menor desperdício de mercadoria.
Também sabe-se que os financiamento do FCO são concedidos em Goiás sem estrangulamentos. Isso é uma prova de normalidade, os projetos estão sendo executados.
Sobre hidrovia, é questão delicada, não sou especialista, mas sabemos que o Araguaia só será navegável se for represado em vários pontos. É um rio de calha rasa. Para ser navegável teria de fazer obras de arte de porte que descaracterizariam o rio, que é a nossa principal riqueza natural, de tremenda influência do ponto de vista ambiental e do lazer.
Lembro que o saudoso Bernardo Elis nos dizia na antiga Escola Técnica de Goiânia, quando ministrava aulas de geografia e história, que todo goiano é vesgo, tem um olho no orçamento do Estado e outro olho no Araguaia.
É uma expressão lapidar que de fato retrata a expectativa do goiano que vive no mundo dos negócios. Então navegação precisa de muita serenidade e estudo para se tomar decisões, porque impõem consequência de grande envergadura.
Política
A bancada federal goiana tem de romper com o papel de carregadora de pires ou então de toma-lá-dá-cá. Ela tem de assumir posição de união no tocante aos interesses de Goiás, independentemente de quem esteja no governo. Tem de fazer o que os nordestinos fazem para buscar recursos da União; não como eles fazem pra aplicar os recursos, porque são desviados, todos sabem disso. Eles são hábeis e competentes em unir as bancadas na Câmara e no Senado em prol do Nordeste. Aqui nem a bancada goiana atua em bloco no sentido de pressionar por Goiás, nem se articula com as bancadas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para tirar recursos para a Região Centro-Oeste. Isso seria importante principalmente agora, com a recriação da Sudeco, para que ela não seja apena um cabide de cargos bons, e fique sem instrumentos financeiros e sem quadro técnico competente. Enquanto não construirmos isso, ficaremos só como um Estado que contribui nas eleições e ocupando cargos ao sabor das forças que de fato são hegemônicas no governo federal.
O mais importante para o Estado, para reforçar nossa goianidade, nosso regionalismo saudável, seria essas forças políticas no Congresso Nacional atuarem em nome do Estado, acima de partidos e independentemente de quem seja governador e presidente.
No governo Mauro Borges, em que pese o período conturbado, ele conseguiu por muito tempo falar com os parlamentares goianos e eles atuavam em conjunto para obter recursos em Brasília. Mesmo com a bancada aqui sendo oposição, a UDN fazia oposição firme ao governo Mauro Borges, mas na hora de buscar recursos ela trabalhava com esse sentimento de goianidade.
“Logística deficiente diminui competitividade”
O Brasil ficou praticamente duas décadas de baixo crescimento, nos anos 80 e 90. Praticamente sem crescer e com a agenda da infraestrutura fora do governo federal. O Brasil acumulou nesse período um enorme atraso que afeta o País todo, principalmente neste momento em que se retoma seu processo de crescimento. E afeta especialmente Goiás e demais Estados do Centro-Oeste, porque estão no cento do País e parte importante de sua atividade econômica é o agronegócio, cujo mercado está no exterior ou em outros Estados, e precisa de logística para escoar essa produção. A baixa qualidade dessa logística eleva custos e diminui a competitividade da nossa produção.
Há avanços importantes do ponto de vista estrutural nos últimos anos com investimentos que estão em andamento, como a construção da Ferrovia Norte-Sul e suas ramificações a leste e oeste.
Para Goiás, abre a possibilidade de nova saída pra as exportações de produtos ao Norte, especialmente pelo Porto de Itaqui (Maranhão). Esse investimento é fundamental para Goiás.
Outro avanço da infraestrutura é a hidrovia Paranaíba-Paraná-Tietê, também uma saída estratégica para Goiás. E discute-se o prolongamento da hidrovia, que começa em São Simão e pode vir até Catalão, passando por Itumbiara. Seria outra saída estratégica para Goiás. Ainda está em estudo, mas mereceria uma forte atenção do governo goiano, uma ação junto ao governo federal para viabilizar esse prolongamento, que pegaria toda a parte sudoeste e sul do Estado, com alternativa de transporte muito barato. Além das obras ao longo da hidrovia para melhorar a navegabilidade do rio.
Na questão da malha rodoviária estadual, Goiás está com déficit importante e é preciso investir para melhorar a qualidade dessas estradas. E em alguns casos, significa mudar a capacidade de rolamento dessas pistas antigas, que não comportam mais o peso de tráfego que recebem hoje e constantemente precisam de recapeamento.
Tem a questão do aeroporto, que é dramática para Goiás. Precisa de intervenção forte para viabilizar sua construção.
No que se refere a energia, apesar de Goiás ser grande produtor, exportador de energia, temos carência grande com relação às linhas de transmissão. Nossa rede ainda é deficiente. Há dificuldade de atração de investimentos em muitas áreas do Estado por causa de energia elétrica. Há usinas de álcool com grande capacidade de produção que vão enfrentar problema de falta de energia por causa da rede deficiente.
O País está retomando fortemente o investimento e Goiás está acompanhando, aliás, crescendo acima de média nacional, mas vai ter de enfrentar esses desafios em termos de infraestrutura.
Gás
É mais uma alternativa energética importante para diversos segmentos industriais, estratégica mesmo. Goiás está fazendo um esforço nessa área, há uma negociação com os consumidores para ter uma base que viabilize a demanda.
E também há o gasoduto que passa relativamente próximo, no Mato Grosso do Sul, e de fato, do ponto de vista estratégico de médio prazo o Estado deve fazer gestão no sentido de termos esse gasoduto em Goiás.
Não me parece uma questão de curto prazo. É importante dar o start e a Goiás Gás tem trabalhado.
Outra questão é o alcoolduto, que estava na pauta do debate, esfriou e agora está sendo retomado. Quiserem deixar Goiá fora, por uma questão de desarticulação no governo passado. Goiás voltou à pauta no alcoolduto.
“É preciso aumentar a rede ferroviária”
Infraestrutura é aquilo que é básico para ocorrer desenvolvimento, mas também torná-lo estável. O termo é amplo, tem vários sentidos. É um conjunto de medidas muito amplo que depende de cada caso, na indústria, no comércio, na agricultura, na educação, na atração de investimentos, em muitos outros setores, em todos ao mesmo tempo, etc.
Então, veja que a situação goiana é complexa, e tem de ser olhado setor por setor na questão infraestrutural. Por exemplo, um município pode ter boas condições para se desenvolver, e o município vizinho não tem. Com resolver um caso desses? Aí entram planejamento, prioridades.
De um ponto de vista eminentemente de desenvolvimento econômico de Goiás, tenho ouvido de investidores e de lideranças empresariais que o problema maior se refere ao transporte. O transporte rodoviário é mais oneroso que o ferroviário e Goiás não tem estrutura ferroviária suficiente. Então a melhoria da infraestrutura de transporte é premente em Goiás.
É preciso aumentar a rede ferroviária e torná-la mais eficiente. Um exemplo, Anápolis tem crescido economicamente por causa do Porto Seco, que está interligado por ferrovia com o Porto de Santos.
Devemos verificar quais são as eficiências na direção das empresas ou na situação geral que condiciona o funcionamento das maiores empresas estabelecidas em Goiás. Favorecer o surgimento de pequenas e médias empresas, mas também sem conceder-lhes favores demais, porque aí elas produzem efeitos negativos também.
Outro problema que essas lideranças se referem também é o custo da energia elétrica, que é alto. A Celg tem feito esforço para não aumentar o preço da energia de modo a não afetar o poder de concorrência da produção goiana. Mas a Celg está com prejuízo, está com déficit operacional. Então tem de ser olhado o caso da Celg.
Hidrovia
É uma questão muito complexa. O Rio Tocantins não é navegável em toda sua extensão, precisaria construir represas, eclusas para as embarcações passarem, etc. O Araguaia também não é navegável em vários pontos.
Depois, nas margens desses rios não há grandes centros industriais nem produtores do agronegócio e assim por diante. Então não tem dúvida de que a hidrovia tem certo potencial, mas muito restrito em relação aos transportes rodoviário e ferroviário. Na Europa se priorizou mais o transporte ferroviário que aprimorar o transporte rodoviário, que exige muito investimento do poder público, dá muita despesa para controle de tráfego, tem os acidentes que tiram vidas e incapacitam muitas pessoas. Isso compromete o desenvolvimento.
Um exemplo local, aqui na BR-153, entre o Shopping Flamboyant e Aparecida, há muitos acidentes. Morre gente constantemente. Tudo isso é gasto e de certa forma influencia o desenvolvimento de Goiás. O governo tem dar assistência médica gratuita, a polícia tem despesa com o acidente, na maioria dos casos as vítimas são pessoas produtivas. Se dois caminhões colidem, as empresas proprietárias têm prejuízo, ou o proprietário não consegue arcar com o prejuízo, cargas se perdem — aliás, roubo de carga é outro problema sério do transporte rodoviário.
O governo de Goiás está trabalhando bem essa questão da infraestrutura, embora esteja ainda meio lento. Mas o governo não pode agir só tomando medidas boas no papel. Tem de analisar se certas medidas não implicam diminuir o investimento na educação, por exemplo. Por isso que a Secretaria de Planejamento deve ter um corpo técnico para examinar essas questões, porque uma pessoa só, no acaso do governador, não consegue.
Fonte: Jornal Opção