Amma reprova frota do Eixo Anhanguera e estudo constata que a capital respira fumaça
Os automóveis são os principais responsáveis pelo que há de poluição no ar de Goiânia, pois o parque industrial da cidade fica distante do centro expandido. Mas é justamente no centro expandido onde a poluição se concentra na capital. Essa aparente contradição explica-se pelo intenso fluxo de carros, motos, ônibus e caminhões que circula diariamente pela região central da cidade. Nem mesmo a exigência de todos os automóveis brasileiros saírem de fábrica somente equipados com peças e componentes dotados de tecnologias que respeitam o meio ambiente modificou o quadro.
O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) estabelece dessa maneira desde 1996, mas o crescente aumento da frota anula a redução de poluentes obtida por meio de catalisadores e sistemas de injeção eletrônica de combustíveis, explica o gerente de Avaliação de Estudos Ambientais da Semarh, José Augusto dos Reis Cruz. Nos últimos dez anos a frota de Goiânia cresceu 71%, chegando a mais de 980 mil automóveis.
Motos
No estudo da Semarh, os piores resultados relativos a emissão de poluentes diz respeito justamente a um tipo de automóvel não totalmente contemplado pelo Proconve. As motocicletas não têm catalisador, mas somente abafadores de som. Elas tiveram 100% de reprovação nos testes feitos pela empresa de inspeção veicular contratada pela secretaria. Apenas nos últimos três anos alguns modelos de motos vêm equipados com injeção eletrônica de combustível, que controla a combustão do motor e reduz a poluição. Carros que funcionam a álcool tiveram o segundo maior índice de reprovação, contrariando a informação de que são menos poluentes. A explicação é a falta de regulagem no motor, segundo a pesquisa da Semarh que vai fundamentar o Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV).
Este plano tem prazo para ser aprovado: 30 de junho deste ano. Quando entrar em vigor, em abril de 2012, todos os proprietários de automóveis terão de fazer inspeção veicular ambiental para tirar o licenciamento. O serviço será cobrado. Os motores a etanol tiveram 66% de reprovação. E o porcentual reprovado de carros que consomem gasolina chegou a 54%. Da quantidade de caminhonetes movidas a diesel, 44% não foram aprovadas. Também alimentados pelo mesmo combustível, os caminhões tiveram reprovação de 56% da sua frota. "São índices elevados e preocupantes, embora Goiânia ainda não possa ser considerada uma cidade poluída", sustenta o gerente da Semarh. De acordo com o pesquisador na área de Engenharia Ambiental Antônio Pasqualetto, embora a poluição em Goiânia não seja considerada alarmante, ela preocupa devido às características climáticas da cidade.
A temporada de seca e baixa umidade colabora com a concentração de poluentes. "Sem chuvas, aumenta a quantidade de material particulado perigoso ao organismo quando inalados", explica. Tratam-se de compostos químicos como monóxido e dióxido de carbono, dióxido de enxofre e ácido sulfúrico, que causam doenças respiratórios e asfixia. Além da agressão à saúde, provocam danos materiais como corrosão de materiais e danificação de equipamentos.
Ônibus soltam fumaça preta
Os ônibus do transporte coletivo também são abastecidos por óleo diesel. Aqueles que compõem a frota do Eixo Anhanguera foram aferidos por técnicos da Agência Municipal do Meio ambiente (Amma). O que se observou foi fumaça preta saindo do cano do escapamento desses automóveis. "Sofre quem frequenta os terminais de ônibus, pois são espaços onde não há circulação de ar. A fumaça bate no teto e volta para o passageiro aspirar", criticou o gerente de Monitoramento Ambiental da Amma, Ramiro Cristiano Martins Menezes.
A auxiliar de limpeza Mariluce Gouveia Silva passa diariamente pelo que o servidor da Amma descreve. Na última sexta-feira ela espirrava com um lenço de papel na mão, enquanto esperava por um ônibus que a levaria para casa, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia. "A sujeira na pele também incomoda. Chego em casa imunda", disse.e com os ônibus do Eixo Anhanguera foi realizado pela Amma no Terminal da Praça A, por meio da escala de Ringelmann. Este teste consiste na comparação visual feita com um disco no qual estão contidas colorações em tons de preto.
Em Goiânia, o nível de poluentes emitidos pelos motores não pode ultrapassar a terceira tonalidade da escala, devido à altitude da cidade: acima de 500 metros. Este método de medição foi criado no fim do século 19 mas ainda é utilizado em todo o País. Na semana passada, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que mede a poluição do ar em São Paulo, reconheceu que o padrão está desatualizado. Em Goiânia havia quatro estações de medição da Semarh, mas estão desativados. Outros oito equipamentos foram adquiridos, mas não estão instalados.
Local com grande fluxo concentra poluente
Estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) mapeou os pontos da capital com maior concentração de metais pesados na atmosfera. Foram verificadas as presenças de partículas de chumbo, crômio, zinco, manganês e cobre suspensas no ar de Goiânia. A quantidade de substâncias aumenta de acordo com a intensidade do fluxo de automóveis. As Avenidas Anhanguera e Perimetral Norte e também a Praça Cívica foram os locais com pior qualidade para se respirar. Quem mais sofre são os moradores de regiões próximas a indústrias e com tráfego elevado de carros e ônibus, cuja fumaça é impregnada de elementos químicos. Na Praça Cívica concentram-se as maiores quantidades de poluentes. Ponto central do Plano Diretor de Goiânia, o logradouro fica na convergência de oito avenidas, eixos dos transportes coletivo e individual. Possui também alta densidade populacional, com torres de prédios residenciais e comerciais. Na praça foram verificados os mais altos índices de chumbo, crômio, zinco, manganês e cobre no ar . O contato com esses metais é prejudicial à saúde. Esses elementos provocam sérios danos ao corpo humano em caso de inalação em grandes quantidades.
Realizada pelo Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames) UFG, a pesquisa monitorou 29 pontos da capital. O estudo revelou que as pessoas que frequentam os terminais de ônibus de Goiânia estão mais vulneráveis. Na Praça da Bíblia, no Terminal Isidória, no encontro das avenidas Anhanguera e Perimetral Norte e na Rodoviária de Campinas, a presença de partículas de chumbo é elevada. Causador de problemas neurológicos, renais, no coração, no crescimento e na reprodução humana, o chumbo está presente em produtos industriais como tintas, plásticos e inseticidas. Também é liberado na atmosfera através da queima de gasolina. Desde 1986 todos os veículos brasileiros saem de fábrica somente equipados com peças, componentes e dotados de tecnologias que respeitam o meio ambiente, conforme estabeleceu o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). entanto, o problema é a idade da frota.
Ônibus coletivos como os do Eixo Anhanguera e outros que fazem transporte intermunicipal têm idade avançada. A maioria já ultrapassou os dez anos de uso. Seus motores são alimentados pela queima de combustível fóssil, como o óleo diesel, altamente poluente. De acordo com o autor do estudo, o doutor em Ciências Ambientais Carlos Henrique Hoff Brait, os índices observados em Goiânia ainda não podem ser considerados alarmantes. Pesquisas nos mesmos moldes foram realizadas em outros lugares do mundo, como na China, e constataram concentrações de metais pesados bem maiores que em Goiânia. "O que preocupa é a falta de monitoramento, pois é um quadro que tende a se agravar", diz. Se por um lado os automóveis vêm equipados com peças ambientalmente corretas, por outro a frota cresce exponencialmente. E uma ação pode anular a outra.
Fonte: O Popular