Patrocínio federal para projetos goianos
Projetos que dinamizam e discutem arte contemporânea foram selecionados em editais da Funarte.
Cinco projetos goianos da área de artes visuais foram selecionados em dois dos editais da Funarte 2012. O resultado, divulgado no início do mês, envolve artistas, produtores, museus e instituições de Goiânia e do interior, em Catalão e Britânia. As exposições, doações de obras para acervo público, oficinas e palestras foram contempladas para ser executadas no primeiro semestre de 2013, sendo a maior participação goiana nos editais promovidos pela Funarte.
Um dos projetos aprovados envolve vídeo e arte contemporânea. Aprovado pela Rede Nacional Funarte em Artes Visuais, na sua 9ª Edição, o Estação Vídeo-arte tem por base dialogar com as diferentes formas de se fazer arte. O proponente é o artista plástico Divino Sobral, que desde 2010 tem a intenção de viabilizar as discussões e o crescimento de novas linguagens artísticas.
O projeto consiste em exposições com dois artistas de Belém, Armando Queiroz e Alberto Bitar. De acordo com Sobral, a escolha dos artistas deve-se à explosão da video-arte no Pará. “Ao contrário da acomodada Goiânia, que ainda está engatinhando, Belém é uma capital incomodada e que vive numa intensa efervescência cultural.”
Assim como Goiás, os Estados da Região Norte vivem na dita periferia cultural do Brasil. Com a arte contemporânea, a periferia está sendo descoberta pelo centro, e o resultado são exposições, obras de arte, intercâmbio cultural e possibilidades de diálogo entre diferentes partes do País. “Na conexão Goiânia-Belém, tantos os goianos quanto os paraenses têm muito a aprender. Além disso, cria possibilidades de se discutir arte na capital.”
Juntamente com a exposição, há oficinas, debates e leituras de portfólios. Serão 12 dias de palestras com Queiroz, artista visual que desenvolve instalações, intervenções urbanas e possui uma bolsa de pesquisa no Instituto de Artes de Belém, Estudos em Videoarte, o Corpo como Intermediador entre a Vida e a Arte.
O projeto ainda conta com a exposição de Bitar, artista paraense que já participou de diversas coletivas, como Veracidade, em São Paulo, e Passageiro, em Curitiba e Rio de Janeiro. Foi convidado este ano para a 30ª Bienal de Artes de São Paulo, expondo uma retrospectiva de sua produção e duas séries inéditas.
Unindo técnica, aprendizado e inspiração, os belenenses falarão sobre os processos criativos que envolvem a vídeo-arte e sua importância para a história da arte. “Sendo uma forma de expressão artística, o vídeo é o elemento principal. Supõe uma nova linguagem, uma nova inter-relação entre imagem e espectador, em que a primeira sai da tela para interagir com o resto do meio, integrando as imagens junto aos demais elementos que a formam”, comenta Sobral.
Ajudado pelas novas tecnologias, a video-arte une artes plásticas, fotografia, cinema e música. Nesse mosaico artístico-cultural, Sobral reitera a necessidade de se abrir as portas para as novas manifestações culturais. “Goiânia não possui muitos produtores de vídeo-arte. Com a Estação Video-arte, espero que artistas tenham conhecimento dos processos criativos que envolvem a arte, que consegue projetar imagens além do monitor e para diferentes direções.”
Acervos completos
Além do projeto em vídeo-arte, foram selecionadas mais 15 iniciativas para o Prêmio de Artes Plásticas de Marcantonio Vilaça. Os valores dos prêmios variam de R$ 70 mil a R$ 350 mil. No caso de Goiás, o artista plástico Aguinaldo Coelho se classificou com o programa Arte Contemporânea Brasileira no Acervo da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Mas entenda bem: o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça visa incentivar produções artísticas destinadas ao acervo das instituições museológicas, públicas e privadas sem fins lucrativos. O resultado é o fomento a difusão e a criação das artes visuais no Brasil e sua consequente formação de público.
De acordo com o diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, Xico Chaves, os valores dos prêmios, aparentemente elevados, estão até abaixo do que o mercado tem como referência para o investimento privado em arte. A qualidade dos projetos, porém, tem se mantido alta, e as perspectivas para o ano são boas.
“Às vezes, compensa para o artista participar de uma exposição que vai dar divulgação pública do trabalho, pelo valor simbólico, pela possibilidade de a obra ser adquirida por um museu, de ser tombada, pesquisada por estudiosos e de expor o trabalho no futuro. Alguns artistas até doam suas obras, mas acho que elas têm de ser adquiridas, mesmo que a um valor mais baixo”, opina Chaves.
No caso de Goiás, Coelho já prepara a mostra com acervos de diversos artistas que compõem a cena cultural dos anos de 1980, como Lêda Catunda, Ângelo Venosa, Daniel Senise e Cristina Canale. “A exposição reúne as obras recentes de importantes artistas brasileiros. É um marco para o acervo artístico de Goiás ter trabalhos de artistas tão importantes.”
Entre os artistas plásticos de São Paulo selecionados, o destaque fica por conta de Lêda, consagrada pintora, escultura, artista gráfica e visual. Considerada um dos maiores talentos surgidos no âmbito da geração 80, quando começou a explorar os limites entre a pintura e o objeto. Já expôs três vezes na Bienal Internacional de São Paulo.
Apenas Senise foi o escolhido para representar o Rio de Janeiro. O já consagrado pintor ficou conhecido em 1980 pela exposição coletiva Como vai você, Geração 80?, com a também presença de Lêda. O carioca já percorreu o mundo com algumas exposições individuais, como no Museum of Contemporary Art of Chicago em 1991 e no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey em 1994.
Além da mostra com acervos, ainda foram aprovados os projetos Topografia Aérea: uma fábula sobre poleiros e artistas, de Carolina Ferreira da Fonseca, de Catalão, e o projeto Antônio Poteiro: Mestre do barro e das cores, de Maria de Lourdes da Cunha. O único programa que se classificou na categoria A, com o valor de R$ 70 mil, foi o 39 no Mabri, de Laila Santoro.
O trabalho consiste na inserção da arte na cidade de Britânia. Além de agregar exposições de arte, também levará à comunidade oficinas, palestras, aulas educativas e as mais variadas formas de expressões artísticas, como esculturas, pinturas e instalações.
Ainda não foram escolhidos os artistas, mas Laila explica que quer dar um foco na realidade artístico-cultural do Estado. “Foi a primeira vez que participei do edital da Funarte. Há oito meses eu estava pensando no projeto que agregasse cultura, cidadania e valorização cultural. Essa seleção dos projetos goianos pela instituição só reafirma mais uma vez que o próximo ano será agitado para a cultura de Goiás”, reflete.
Fonte: Jornal O Hoje