Corredor Universitário passa a multar
Desde domingo, trecho que liga Praça Cívica à Praça da Bíblia pune motoristas que transitam nas faixas preferenciais de ônibus.
Um trecho de apenas 2,5 quilômetros tem causado polêmica no trânsito de Goiânia. Inaugurado a pouco mais de cinco meses, o Corredor Universitário – com faixa preferencial para o transporte coletivo – registrou 20 mil multas em menos de 60 dias. Diante das dúvidas dos condutores, a Agência Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (AMT) admitiu que a própria equipe técnica cometeu erros. As multas foram canceladas e até o último dia 24 foram registradas apenas em caráter educativo. No entanto, desde a manhã de domingo (25), seis tipos de infrações estão sendo registradas pelos 26 radares espalhados ao longo do trecho.
Os equipamentos conseguem captar seis tipos de multa, em uma via que liga Praça Cívica à Praça da Bíblia. Parar sobre a faixa de pedestre, transitar pelas calçadas, realizar conversão à esquerda, avançar o sinal vermelho, transitar além da velocidade permitida e, por último, a novidade que tem confundido os condutores goianineses: transitar pela faixa preferencial. O chefe de gabinete da AMT, Arildo Rafael Ramos, disse que, no início, houve confusão até mesmo entre as equipes do órgão.
Ele contou que, ao longo do processo de educação, começaram a surgir dúvidas. A AMT percebeu confusão na área técnica com relação à faixa dos ônibus. O nome do corredor chegou a ser conhecido de forma equivocada. “Falou-se em Corredor Exclusivo, enquanto o certo é Corredor Preferencial. A faixa foi feita para o transporte coletivo, porém, com duas exceções. A primeira é para os condutores que têm garagem ou comércio na faixa, e a segunda é para aquele que vai virar à direita.”
Arildo destacou que os veículos particulares estão proibidos de transitar pela faixa preferencial por dois quarteirões consecutivos, pois serão multados. “Além do transporte coletivo, apenas os carros caracterizados como ambulância e polícia terão trânsito livre.”
Ele não considera que os motoristas estão desinformados. “O condutor devido a sua agenda intensa está sempre apressado. Já orientamos com todas as palavras, agora é pra valer.” Acredita que todo processo novo – este é o primeiro Corredor Preferencial da cidade – acaba gerando dúvidas. “Mas agora está muito claro.” Ressaltou ainda que onde existe linhas tracejadas, o carro ou motocicleta pode entrar na faixa, desde que realize conversão à direita no mesmo quarteirão.
Multas não serão canceladas automaticamente
Todos os condutores que foram multados no período de 24 de setembro até 12 de novembro terão as multas canceladas. Porém, para que isso aconteça, devem recorrer junto ao órgão de trânsito municipal. As infrações não podem ser excluídas automaticamente por questões legais, segundo informou o chefe de gabinete da AMT, Arildo Rafael Ramos. “É necessário recorrer, pois nós não podemos cancelar multa apenas por oficio.” O condutor tem o prazo de 60 dias, a partir do dia da emissão, para recorrer.
A doutora em Transporte Erika Cristine Kneib avalia como absurdo as multas aplicadas no corredor serem canceladas. “Sempre que você reconhece uma infração de trânsito, assume-se o risco de um acidente. O risco de matar uma pessoa. Furar um sinal vermelho, transitar além da velocidade permitida, isso em hipótese alguma pode acontecer na cidade. Tecnicamente é um absurdo o cancelamento dessas multas. Goiânia é uma cidade que mata muito no trânsito e perdoar 20 mil multas é, no mínimo, irresponsabilidade do poder público.”
A especialista, que também é coordenadora técnica do Fórum de Mobilidade Urbana de Goiânia, avalia que a construção de corredores preferenciais para o transporte coletivo é imprescindível. “Atribui ganho de velocidade do ônibus. O ônibus precisa ter prioridade e isso está diretamente ao que o plano diretor do município estabelece”, disse.
Erika afirmou que há previsão para serem criados corredores preferenciais em pelo menos 100 quilômetros da capital. A AMT confirmou que o próximo a ser estabelecido será o corredor da Avenida T-7. “As pessoas criticam muito o transporte coletivo, mas enquanto não houver todos os corredores não é possível melhorar o serviço prestado.” Ela explica que o ônibus fica preso no congestionamento junto com os carros. “O aumento da frota de ônibus com essa realidade não é a solução”, acredita.
Ainda lembrou que esse modelo de Corredor Preferencial existe no mundo inteiro. “Goiânia ainda está muito atrasada. O bom seria 100 quilômetros preferenciais. Mas se fossem 250 quilômetros seria ótimo. Pelo menos demos o primeiro passo.” A especialista destacou que a implementação do corredor nos moldes do Corredor Universitário foi positiva para todos. “O trânsito ficou mais organizado, o pedestre tem calçadas com nível e sem obstáculos e os ciclistas também ganharam espaço”, disse fazendo referência à primeira ciclovia de Goiânia.
Fonte: Jornal O Hoje