Onda de assaltos no transporte coletivo
Tarde de sexta-feira (23), centenas de pessoas disputam espaço no Terminal Padre Pelágio, em Goiânia. Todos em busca de um único objetivo: chegar ao destino da melhor maneira possível. Mas nem sempre isso acontece. Na correria do dia a dia, os usuários se esbarram nas plataformas lotadas de vendedores ambulantes e se espremem para conseguir entrar na condução desejada. No vai e vem de homens e mulheres, no excesso de sons emitidos pelos veículos e pela cidade, os ladrões encontram espaço suficiente para praticar pequenos furtos.
Mas nos últimos meses os usuários do transporte coletivo e os motoristas de ônibus viram crescer significativamente a onda de violência nas linhas que cortam Goiânia. Os furtos, que antes aconteciam de forma esporádica, por um ou outro bandido, agora ganharam características de organização criminosa. Amedrontados, os passageiros relatam episódios de assaltos dentro dos veículos. A maioria conhece alguém ou já foi vítima dos bandidos.
O estudante E.S, 16 anos, foi assaltado dentro do ônibus duas vezes em menos de um mês. Além dos documentos, o jovem perdeu passagens de ônibus e dinheiro. “Levaram minha carteira. Agora que já passei por isso duas vezes, sinto que toda atenção é pouca. Ando com as mãos no bolso e o olhar atento”, contou. A reportagem conversou com inúmeros passageiros no terminal e constatou que eles estão apreensivos, alguns até com medo de utilizar o transporte.
Grupos masculinos compostos por adultos e menores de idade, todos eles armados, embarcam nos terminais e copiosamente dão voz de assalto, principalmente no final da noite, quando os ônibus fazem a última viagem do dia. Pelo menos cinco motoristas confirmaram ao O HOJE suas experiências com os bandidos. Receosos, nenhum deles quis se identificar.
“São mais ou menos cinco garotos. Um deles vai pra catraca e dá voz de assalto. Geralmente, estão armados com revólver mais potentes que calibre 38. Há dez dias meu ônibus foi assaltado no Setor Maysa. Antigamente, eles roubavam o tacógrafo; agora, as vítimas são os passageiros”, disse um dos motoristas.
Eles ainda relataram que, finalizado o assalto, eles mandam o motorista parar e abrir as portas. “Eles fogem com dinheiro, relógios, celulares e até tênis.” Normalmente, escolhem as conduções que não estão lotadas. “Por isso, o perigo é tarde da noite, quando tem no máximo 15 pessoas dentro do ônibus”, disse outro condutor. Quando os bandidos julgam que a quantia recolhida dos usuários não é o suficiente eles partem para os motoristas.
Na terça-feira (20), um grupo invadiu um ônibus, da linha 015 Terminal Praça A – Isidória, que circulava pelo Setor Bueno. Segundo relato das testemunhas à polícia, o crime foi executado por três homens, sendo dois deles menores de idade. A PM foi acionada e conseguiu evitar a fuga do trio. Dois eram adolescentes e foram encaminhados para o 20º Distrito Policial.
Maioria das ações envolve menores
Segundo o coronel Márcio Gonçalves de Queiroz, a PM já entrou em contato com a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) para detectar que tipo de problema especificamente eles estão enfrentando. “Esses problemas são localizados. Estamos com o trabalho de detectar para coibir esse tipo de crime”, disse.
Ele ainda afirmou que a maioria dos assaltos é praticada por menores de idade. “É um ciclo que não tem fim. Não há legislação para coibir. Se não houver a certeza de punição, não é possível diminuir”, reclamou. Coronel Queiroz disse que normalmente eles agem armados. “A maioria das vezes com armas de brinquedo ou facas utilizadas para intimidação.”
Queiroz confirmou que houve aumento na incidência desse tipo de crime nos últimos meses. Mas disse que a modalidade não pode ser considerada como arrastão. “A ação de arrastão é orquestrada com certa perenidade. Como já ocorreu em algumas praias do Brasil. Aqui eles roubam os ônibus e somem, não permanecem mais ali.”
Fonte: O Hoje