Trem enrolado

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Na propaganda oficial, a obra no trecho previsto inicialmente para Goiás está “praticamente” pronta, mas data de inauguração no Estado já foi adiada sete vezes
Fotos: Fernando Leite/Jorna Opção
Emboque Sul da Ferrovia Norte-Sul, em Anápolis: trilhos param antes de chegar à entrada do túnel 2,
o que evidencia que a obra está parada; poucos trabalhadores fazem apenas manutenção desse trecho

Cezar Santos

A Ferrovia Norte-Sul já está em plena operação em Goiás, com os trens de ferro em suas linhas transportando nossas riquezas a custo mais barato, gerando mais riquezas e empregos e contribuindo decisivamente para o desenvolvimento econômico do Estado. As informações na frase anterior deveriam ser realidade pelo que disse, no dia 21 de fevereiro passado, o então presidente da Valec Enge­nharia, Construções e Ferrovias (empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes responsável pela obra), José Francisco das Neves, também conhecido como Juquinha.

O prognóstico otimista de Juquinha foi feito a uma plateia de interlocutores importantes, no Palácio das Esme-raldas, entre eles o governador Marconi Perillo (PSDB). Na verdade, foi mais uma incerta de Juquinha, como ocorreu outras vezes em relação à obra da Norte-Sul.

Segundo o ex-presidente da Valec — Juquinha perdeu o cargo em julho, em meio a denúncias de grossas irregularidades no órgão; ver texto na página seguinte —, os 900 quilômetros de Ferrovia Norte-Sul dentro de Goiás, que fazem a ligação de Anápolis a Itaqui, no Maranhão, deveriam ser inaugurados em junho e o trecho goiano entraria em operação no segundo semestre deste ano, ou seja, já estaria funcionando há pelo menos três meses.

Mas até agora, nada. A Ferrovia Norte-Sul em Goiás não tem condições de operação, ao contrário do que disse Juquinha, que jogou com a expectativa do povo goiano, principalmente as classes produtoras, que tanto dependem da via férrea para ganhar mais competitividade no transporte de sua produção.

Era a quarta promessa de entrega do trecho goiano da Ferrovia Norte-Sul. A promessa inicial, contida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, era de inauguração do intervalo entre Palmas (TO) e Anápolis (GO) em julho de 2010. Passou para dezembro, quando o ex-presidente Lula veio a Goiás e garantiu entrega no fim de abril de 2011.

Antes de completar dois meses da nova data estabelecida, a Valec mais uma vez anunciou o atraso nas obras e a entrada em operação no segundo semestre do ano. Juquinha não esclareceu as razões do novo adiamento, mas garantiu, no encontro no Palácio das Esmeraldas — na verdade, uma homenagem que ele recebeu do governo goiano —, que o trabalho estava avançado. “No trecho de Palmas até Anápolis chegamos a ter o pico de 17 mil homens trabalhando 24 horas por dia. Hoje já se reduziu bastante porque a ferrovia está chegando no final.”

Sétimo adiamento

A verdade é que as obras da Ferrovia Norte-Sul estão em enrosco, como se diz em linguagem popular. O ritmo dos trabalhos deu uma sensível desacelerada nos últimos anos, razão porque as datas de inauguração são repetidamente adiadas. A última previsão agora é 20 de julho de 2012. Trata-se da sétima promessa oficial desde o ano passado. A nova data foi apresentada no segundo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do governo federal, divulgado no dia 22 do mês passado.

Lembre-se que no balanço anterior, de julho, a data de conclusão estabelecida era 29 de fevereiro de 2012. O novo relatório, referente aos meses de julho a setembro, indica conclusão de 85% do trecho Palmas (TO)-Uruaçu (GO) e de 97% da ferrovia entre Uruaçu e Anápolis. Os atrasos são admitidos a cada novo balanço, mas mesmo assim a Valec considera o andamento das obras adequado.

A previsão inicial do PAC, lançado em 2007, era inaugurar o trecho Sul (Palmas-Anápolis) em julho de 2010. A inauguração foi adiada para dezembro de 2010, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio a Goiás para anunciar o adiamento para abril de 2011. Naquele dia, Lula desfilou com o então governador Alcides Rodrigues tecendo loas à obra. Após isso, mais promessas: junho, agosto e fevereiro de 2012. O próprio governador Marconi Perillo, em audiência com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, no mês passado, tinha sido informado sobre o novo atraso do trecho goiano, com previsão de entrega para abril.

Trem pequi

No encontro, Juquinha voltou com uma conversa para a qual os goianos têm de ficar muito atentos, o tal trem pequi entre Goiânia e Brasília. Esse projeto tem sete anos, apresentado numa conversa entre Marconi Perillo e Joaquim Roriz, na época governador do DF. Na ocasião, Juquinha disse que a proposta estava em estudo. No último encontro com Marconi, Juquinha voltou a repetir que estavam sendo feitos estudos para a construção do ramal e que o projeto ficaria pronto em três meses. E deu até o custo estimado: cerca de R$ 1 bilhão.

Juquinha dissera acreditar em inauguração da obra entre a capital federal e Goiânia até 2014. Quando perguntado sobre as fontes de recursos para a obra, ele saiu com “quem faz os recursos é a força do trabalho”. Otimismo demais, porque dinheiro não nasce em árvore.

Voltando à ferrovia, e mais uma vez resgatando o linguajar popular, dessa vez o goiano, seria o caso de dizer: Ô, trem enrolado esse da Ferrovia Norte-Sul.

Cronograma vem sendo cumprido, diz Valec

A assessoria de comunicação da Valec em Brasília repassou ao Jornal Opção algumas informações pertinentes à obra da Norte-Sul em Goiás. A íntegra dessas informações:

Quantos quilômetros de ferrovia são previstos para Goiás?
Somados os 498 km da FNS no trecho do projeto original que chega até Anápolis, vindo do Tocantins, e os 494 km da Extensão Sul entre Ouro Verde e São Simão, já na divisa com Minas Gerais, a Norte-Sul no estado de Goiás Terá uma extensão total de 992 quilômetros.

Quais os trechos no projeto inicial?
O trecho do projeto inicial da FNS é o que vai de Açailândia (MA) até Anápolis (GO), num total de 1.574 quilômetros. Da divisa dos estados de Goiás e Tocantins, em Porangatu, até Anápolis, como já citado acima, são 498 km.

Qual (ou quais) trecho foi acrescido ao projeto original?
O trecho acrescido ao projeto original é o da Extensão Sul e mais o prolongamento Norte (Açailândia-Belém) e o prolongamento Sul Estrela do Oeste (SP) – Panorama – Porto de Rio grande (RS).

Quantos km foram acrescentados ao projeto original?
O traçado inicial da Ferrovia Norte-Sul previa a construção de 1574 quilômetros de trilhos, cortando os estados do Maranhão, Tocantins e Goiás. Com a Lei nº 11.297, de 09 de maio de 2006, que incorporou o trecho Açailândia-Belém ao traçado inicialmente projetado, e com a Lei № 11.772, de 17 de setembro de 2008, que estendeu o traçado até a cidade paulista de Panorama, a Ferrovia Norte-Sul, de Belém (PA) a Panorama (SP), terá, quando concluída, 2.760 quilômetros de extensão. Mais recentemente, a Valec foi autorizada e realizar os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental para o prolongamento do projeto em mais 1.620 km, ligando Panorama até o Porto de Rio Grande (RS). Qual seja, a Norte-Sul irá cortar então, literalmente o Brasil de Norte a Sul, interligando-se, em todas as regiões, à malha ferroviária já existente, assim como aos demais modais de transporte. Isso, sem contar com os ramais de Itumbiara e Brasília-Anápolis – Brasília, e o ramal que interligará a Norte-Sul à Transnordestina entre Porto Franco (MA) a Elizeu Martins (PI).

Quantos km já foram construídos?
Do projeto original, 720 km da Ferrovia Norte-Sul já estão construídos no trecho Açailândia (MA) – Palmas (TO). De Palmas até Anápolis são mais 855 km que estão em fase final de construção.

Quanto de recurso era previsto originalmente?
Cerca de R$ 4,5 bilhões.

Quanto de recurso foi acrescentado com os trechos a mais além do projeto original?
Para o trecho da Extensão Sul serão gastos mais R$ 2,7 bilhões.

Quanto de recurso já foi investido de fato?
Cerca de R$ 4,5 bilhões entre e o projeto original e Extensão Sul.

Quais trechos estão em obras em Goiás?
Pode-se dizer que os quase 1.000 km que a Norte-Sul terá no Estado de Goiás, estão em obras. No trecho norte, que vai da divisa com o Tocantins até Anápolis, as obras já estão em sua fase de finalização, com vários trechos totalmente concluídos. A previsão é que todo esse trecho esteja concluído até meados de 2012.

Quais trechos estão parados?
Tanto no trecho norte como no trecho da Extensão Sul as obras estão seguindo o seu ritmo normal, cada um com as características próprias da fase em que estão os trabalhos.

Por que estão parados?
Como relatado acima, tudo está em andamento.

Inicialmente prevista para ser concluída em 2010, ficou depois para 2011 e nos últimos dias, houve nova previsão de conclusão, para 2012. O ritmo das obras está dentro do cronograma?
Sim. Fora feito mais recentemente uma redefinição do cronograma das obras, o que vem sendo agora rigorosamente cumprido.

Após a conclusão, a operação da Ferrovia será privada?
Isso ainda está em estudo por parte da ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] e do Ministério dos Transportes.

Obra serviu para projeto político pessoal

José Francisco das Neves, o Juquinha, sempre se valeu de seu importante cargo como presidente da Valec, à frente de uma obra tão importante como a Ferrovia Norte-Sul, para se cacifar politicamente com vistas a se candidatar a algum cargo eleitoral. Foi assim no To­cantins, onde ele quis sair candidato ao Senado em 2009, projeto que não vingou.

“Eu sonhei disputar o Senado pelo Tocantins, mas fui recomendado a continuar na Valec, não porque sou imprescindível, mas porque iam parar as obras da Norte-Sul. Não é fácil comandar uma obra como essa. E sem nenhuma denúncia. É um negócio muito complexo de traduzir em realidade. Fiquei imprescindível e dancei. E tinha chance de ser eleito. Tinha apoio de Siqueira Campos [candidato ao governo] e Gaguim [governador e candidato a reeleição]. Minha mãe nasceu em Taguatinga. Queriam me dar esse cargo como prêmio por essa obra tão importante para o Tocantins. Eu viabilizei investimentos para o Tocantins, se eu não estivesse lá essas coisas teriam paralisado. Para mim não foi uma decisão boa”, disse o então presidente da Valec, em março, dois meses antes de ser defenestrado da empresa sob denúncias de irregularidades.

Depois disso, ele voltou a atenção para Goiás, sua terra de origem, onde tem vários negócios e se criou politicamente — foi deputado federal. Antes, meio reticente, em março, Juquinha abriu o jogo. Em entrevistas disse que será candidato em 2014 em Goiás. O cargo, ele ainda não sabe qual.

A vaidade é uma marca de Juquinha. Ele disse que o pessoal (governo ou a cúpula de seu partido, que comandava a área dos transportes no governo federal até a queda do então ministro Alfredo Nascimento) queria colocá-lo para tomar conta das obras olímpicas e da Copa do Mundo, para fazer as obras saírem do papel. “Porque em Brasília as pessoas têm conhecimento que eu consegui tirar a ferrovia do papel e que isso não é para qualquer freguês, né? É muito difícil cumprir uma tarefa dessas, colocar esse monte de quilômetro de ferrovia para ser construída. Aí ficam me indicando: ‘ah, tem que colocar o Juquinha, senão essas obras não saem do papel’. Mas eu resolvi ficar na Valec para realizar pelo menos um dos sonhos dos goianos: ver aquilo que ligava nada a coisa nenhuma ficar finalmente pronto.”

Estranhamente, quando deu essas declarações, em que a vaidade e a autossuficiência dão o tom, as denúncias de irregularidades na gestão de Juquinha já eram constantes. Tanto que no mês seguinte, a imprensa nacional divulgava que laudo do Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, constatou superfaturamento de R$ 71,7 milhões num trecho de 105 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, em território goiano. Os peritos também questionavam a lisura da licitação e suspeitavam de “conluio” das empresas.

A pedido do procurador da República Helio Telho Filho, as notícias davam conta de que a PF ia instaurar inquérito para investigar toda a extensão da ferrovia. Com 1,3 mil quilômetros construídos, a Norte-Sul já consumira mais de R$ 4 bilhões. Se confirmada a projeção dos peritos para todo o trajeto, os desvios chegariam a R$ 1,1 bilhão, complicando de vez a situação do presidente da Valec. Em razão das fraudes, o procurador Helio Telho impetrou ação na Justiça Federal contra Juquinha, referente ao trecho de 105 quilômetros. “A PF constatou superfaturamento e a licitação foi viciada. Agora, vai fazer perícias em outros trechos”, disse o procurador.

Na época, auxiliares de Juquinha disseram que ele temia que as investigações da PF, do MPF e do Tribunal de Contas da União tivessem repercussão em sua campanha política, em 2014. Correm nos bastidores que a pretensão dele é ser senador ou governador de Goiás. Lembre-se que há alguns parágrafos foi anotado que ele disse: “Vou ser candidato em Goiás em 2014. Não sei ainda a quê”.

De campanha política e de metamorfose Juquinha entende. Ele foi eleito deputado federal pelo PMDB goiano em 1995, mas ao longo do mandato filiou-se ao PSDB e ao PL. Hoje, está no PR.

A média de Lula com a ferrovia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o mérito de ter dado continuidade às obras da Norte-Sul, imprimindo um ritmo maior do que o que vinha ocorrendo nas gestões de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Lula se beneficiou de outra conjuntura econômica e teve mais dinheiro para isso. Mas o tom politiqueiro sempre foi evidente em relação à ferrovia.

Não por outra razão, seguidamente Lula visitava o Estado para inaugurar trechos e prometer conclusão definitiva da obra. Uma dessas visitas se deu em novembro do ano passado. Ao lado do então governador Alcides Rodrigues, Lula da Silva disse que a obra seria mesmo inaugurada ainda naquele ano. E até marcava data: 20 de dezembro.

Durante a visita, os dois colocaram um lance de trilho fazendo a ligação na divisa entre os dois Estados, entre os municípios de Talismã (TO) e Poran-gatu (GO). Antes da colocação simbólica do trilho integrando os dois Estados, a comitiva visitou uma fábrica de dormentes — peças de concreto que sustentam os trilhos — e percorreram de locomotiva cerca de 17 quilômetros da ferrovia.

No tom palanqueiro que lhe é peculiar, Lula agradeceu os trabalhadores. “Este é um marco histórico. Para mim, é quase a realização de um sonho a gente ver uma obra da magnitude desta ferrovia prestes a ser concluída, entre Açailândia (MA), até Aná-polis, em Goiás. No dia 20 de dezembro, preparem uma grande festa para a inauguração.” Pois é, 20 de dezembro de 2010...

Opiniões sobre a Ferrovia Norte-Sul

Que a Ferrovia Norte-Sul é uma obra de fundamental importância para Goiás e o Centro-Oeste, e por extensão para o Brasil, não se discute. Só alguns setores sulistas, especialmente de São Paulo, talvez ainda insistam na velha tese de que a ferrovia liga o nada a lugar nenhum, como foi dito por ocasião do anúncio oficial da obra, na década de 1980. Fazer essa obra foi um dos poucos acertos do então presidente José Sarney.Em que pese os sucessivos adiamentos, a obra deve ser concluída em algum momento. E nesse momento, certamente que Goiás terá muito a ganhar. Mas também há dúvidas, como se pode ver na opinião de quem conhece o tema por dever do ofício.

André Luiz Rocha, presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg)

“A ferrovia é uma grande conquista brasileira, não só goiana. É muito bom o Brasil passar a ter cada vez mais modais ferroviários, hidroviários e dutos. Temos de partir para utilizar ramais mais eficientes, mais rápidos, que gastem menos carbono. Temos de louvar esses projetos.

Me preocupa um pouco a questão da Norte-Sul e dou um exemplo. Numa estrada em que o Estado dá concessão, o cidadão utiliza seu carro ou caminhão, para na cabine e paga o que tem de pagar de pedágio, pronto. Na ferrovia não é assim ainda. No caso da Norte-Sul, uma parte dela já foi feita a concessão. Esse concessionário é que vai determinar as regras, não se tem ainda clareza se aquilo vai ser intensamente utilizada. Nas ferrovias já concedidas, por exemplo, a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica) e a ALL (América Latina Logística), o setor (canavieiro) tem tido dificuldade muito grande, principalmente com a FCA, para escoar mercadorias.

E não só no nosso setor. Os carros da Caoa (Hyundai) são desembarcados no porto de Vitória (ES), vêm de caminhão até Anápolis e voltam de caminhão a Vitória. Tem a FCA que liga Anápolis a Vitória de trem e não se vê a utilização dela nesse caso. Isso vale para os carros, para o açúcar e para o etanol. Esse é o problema que colocamos.

Isso ocorre por quê? Seria porque a concessionária utiliza a ferrovia o tempo todo, ou é falta de interesse? E quando comparamos os preços para utilizar a ferrovia, vemos que são muito próximos dos preços rodoviários. Aí quando somamos com o custo que se tem da usina até Anápolis, chegamos à conclusão de que é melhor não usar a ferrovia.

Quando se coloca que a concessionária da Norte-Sul é a Vale do Rio Doce, a mesma da FCA, eu começo a ficar preocupado com o que vai ocorrer. Será que ela vai utilizar só para transportar minérios e fertilizantes, só o que é dela? Ou vai poder transportar tudo?

E o problema também não é só a ferrovia. A ferrovia está bastante adiantada, dizem que estará pronta até meados do ano que vem, a nova data prevista. Mas como estão os pátios, as estações de transbordo (embarque e desembarque)? Não tenho visto essas obras. Será que vão dar conta de construí-las em seis ou sete meses? Ou será que vamos ter a ferrovia pronta sem as estações?”

Pedro Alves, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg)

"A Ferrovia Norte Sul, quando estiver funcionando, será o divisor de águas para Goiás, para o Centro-Oeste e para o Brasil. Porque, hoje, o Brasil, é um celeiro de produção para o mundo. E, atualmente, as cargas são exportadas via carretas para o Porto de Santos. Isso encarece muito a mercadoria, o que prejudica a nossa competitividade.

Então, em resumo, a ferrovia barateará o custo do frete; resultará em agilidade na entrega e mais que isso, implementará a produção agrícola no Estado. E por outro lado, a ferrovia também possibilitará a vinda de mercadorias também a custo mais competitivo, já que o Brasil importa muitos produtos, como insumos.

Por isso, acho de extrema importância a Ferrovia Norte-Sul."

Délio Moreira de Araújo, especialista em trânsito, doutor em economia de transporte e professor aposentado da Pontifícia Universidade Católica de Goiás-PUC-GO

“A Ferrovia Norte Sul sempre foi considerada uma obra importante para Goiás, isso desde que Goiás e Tocantins eram um só [Estado]. Tem mais de 50 anos e nunca sai. O Brasil é um dos principais países da América do Sul e não tem ferrovia que o ligue de uma ponta a outra. Em Goiânia, quando a estrada de chão foi abandonada, a imprensa criticou duramente. E está certo. O negócio não é investir em rodovias. Rodovias são caras, além de serem onerosas ao próprio governo. O transporte rodoviário é caro demais e o Brasil ainda não se atentou para isso.

Nos EUA e na Inglaterra, as rodovias são particulares. O problema é que, no Brasil, a nossa cultura, a nossa tradição é de rodovias. Mas é uma cultura errada.

Mas temos um problema tremendo no que diz respeito à Norte-Sul. De Anápolis, ela vai passar pelo Rio Paraná, passa por outros Estados e depois segue para o Porto de Santos em São Paulo. Vai fazer uma volta enorme. Os trens da Norte-Sul não irão de Goiás direto ao Porto de Santos, vão fazer um V, e é criticado por ter duas bitolas largas. No Japão, os trens têm bitolas médias, quando não pequenas.

Pequenos agricultores e produtores goianos poderão ser beneficiados?

Eles poderão fazer uso, no entanto, como no Brasil a preferência é para o transporte rodoviário, eles não usarão muito o trem. Por exemplo, para mandar açúcar, soja ou qualquer outro produto produzido em Goiás para fora vai ficar muito mais caro, por causa da volta que o trem vai dar. Por conta disso, muitos não poderão utilizar este transporte.

Veja, de São Paulo a Minas Gerais não tem estrada de ferro direto; o trem tem que fazer um L, com pernas muito compridas.

No Brasil, não demos a devida importância ao transporte ferroviário. Abandonamos muitas linhas e agora fica difícil. Veja o caso dos países da Europa: completamente diferente. Lá o transporte ferroviário está em primeiro lugar.”

Júlio Paschoal, presidente do Conselho Regional de Economia de Goiás (Corecon-GO)

“Do ponto de vista econômico, a Ferrovia Norte-Sul é fantástica. Porque vai criar condições para que produtos goianos tenham custo de logística menor. Vai baratear o transporte de cargas e produtos. E tudo isso em tempo muito menor. Em termos de quilometragem, o tempo de viagem será bastante inferior. Sem contar na integração que haverá entre as regiões Norte e Nordeste de Goiás. Essas regiões vão se integrar de forma a contribuir com o desenvolvimento.

É uma obra muito importante. Sua conclusão mostra o trabalho do governo de Goiás, em favor das micro e macrorregiões. As pequenas, micro e grandes empresas vão todas se beneficiarem nesse contexto logístico.

A SIC [Secretaria de Indústria e Comércio] já deu informações acerca das condições de desenvolvimento que a Ferrovia Norte-Sul criará."

Fonte: Jornal Opção