Sete meses após anúncio, Projeto de Novo Autódromo em Goiás está Parado
Em 18 de maio deste ano, o governador de Goiás, Marconi Perillo, assinou a autorização de elaboração de um projeto para um novo autódromo no município de Senador Canedo, que substituiria o atual circuito de Goiânia, prestes a ser demolido para que seu terreno seja vendido ao mercado imobiliário.
O responsável pelo projeto é o arquiteto alemão Hermann Tilke, mentor das pistas que entraram no calendário da F1 nos últimos 12 anos.
A promessa era que o novo autódromo manteria as características da pista anterior, porém com a extensão do traçado aumentada de 3,8 para 4,6 quilômetros, a largura esticada de 12 para 22 metros, além de uma série de obras de infra-estrutura de "padrão internacional".
A construção foi orçada entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões. Boa parte desse dinheiro, assegurou o governador à época, viria com a arrecadação da venda dos lotes do terreno do atual circuito, que, segundo estimativas do governo, poderia render até R$ 150 milhões.
Marconi Perillo garantiu ainda que a demolição da pista de Goiânia, localizada em área estratégica da capital, só aconteceria depois que a obra da pista substituta já estivesse pronta.
Passados sete meses, o Tazio Autosport apurou a atual situação do projeto e descobriu que, até aqui, ele está no mesmo patamar que se encontrava quando o anúncio foi feito.
O projeto solicitado a Tilke não foi apresentado até agora e, ademais, a transposição do autódromo tem gerado uma série de discussões, amarras e conflitos de interesses políticos que estão formando um imbróglio cada vez mais distante de um fim.
Segundo o administrador do autódromo de Goiânia e membro da Agência Goiana de Esporte e Lazer (Agel), Américo Larozzi, que responde em nome do governo estadual pelo assunto, o prazo para a apresentação do projeto era até o fim de novembro.
Larozzi reclamou que a empresa de Tilke até o momento não se manifestou sobre o atraso e nem apontou nova data para a entrega. O Tazio Autosport entrou em contato por diversas vezes com a assessoria do escritório do arquiteto para tentar algum esclarecimento, mas não houve resposta ou retorno. No site da empresa de Tilke, não existe nenhuma menção ao circuito brasileiro entre os projetos capitaneados pelo alemão. Assessor do arquiteto alemão para projetos no Brasil, o piloto Lucas di Grassi também foi procurado, mas informou, via assessoria de imprensa, "não ter nenhuma informação a respeito".
Além disso, a proposta começou a enfrentar forte oposição dentro do estado, a começar pela família que cedeu parte do terreno utilizado para a construção do autódromo atual, no início dos anos 70.
Quando o lote foi adquirido pelo governo estadual, metade foi comprada e outra metade foi doada pelos antigos proprietários. Porém, o contrato de doação previa que a área tivesse como única finalidade a promoção de atividades esportivas. Portanto, a família doadora ameaçou reclamar na justiça a devolução das terras ou uma compensação financeira caso houvesse a venda do terreno para outros fins.
Américo Larozzi assegurou que, pela Lei de Usucapião brasileira, o estado de Goiás já possui controle total das terras, visto que elas estão em sua posse a mais de 30 anos. "Esse problema nós não devemos ter", garantiu.
No meio político, a oposição ao governo, tanto em Goiânia quanto na esfera estadual, também começou a agir para tentar impedir a destruição do autódromo.
Dois meses antes da apresentação do projeto de mudança para Canedo, o vereador de Goiânia, Luiz Teófilo, chegou a propor a municipalização do circuito (que pertece ao estado) para evitar a sua destruição. No entanto, o requerimento não foi adiante, pois a base aliada impediu sua tramitação. "Se a pista fosse passada para a administração do Município, eu sei que haveria estrutura para deixá-la em condições mínimas de receber pelo menos as categorias nacionais", argumentou o vereador.
Apesar de admitir que não tinha conhecimento de que um projeto de transposição do autódromo para outra cidade seria apresentado dois meses depois de seu pedido de municipalização, Teófilo pontuou que a proposta do governador veio "a confirmar o interesse de utilizar o terreno para fins imobiliários". "O que está em jogo ali é a construção de condomínios fechados naquela área. Querem tirar uma das únicas praças que podem gerar movimentação turística de Goiânia para fazer mais condomínios", criticou.
O vereador também disse não acreditar na viabilidade da mudança do circuito para Senador Canedo. "É um projeto apresentado sem estudo nenhum", disparou. "Temos que mobilizar todos que são contra essa medida e fazer uma pressão conjunta em cima do governador para impedir esse absurdo. Precisamos ver se conseguimos organizar alguma mobilização maior no início de 2012", defendeu Luiz Teófilo.
Poucos dias depois do anúncio de Marconi Perillo, na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Luis Cesar Bueno pediu o tombamento do circuito como "Patrimônio Histórico de Goiás", manobra que tornaria nulo o projeto de mudança do autódromo. Os aliados ao governador mais uma vez conseguiram evitar que a requisição fosse levada adiante. Com isso, o projeto foi reprovado em primeira votação e, depois, retirado de pauta.
Por fim, entrou em ação também o Ministério Público de Goiás, por meio da promotora Marlene Nunes Freitas Bueno. Logo após o anúncio do projeto, a promotora solicitou ao governo estadual explicações detalhadas sobre os planos de migração da pista.
Por meio de sua assessoria, a promotora explicou que recebeu uma resposta de Marconi Perillo, que indicava que "trata-se apenas da contratação de um projeto para estudar a viabilidade da construção de um novo autódromo em Senador Canedo, substituindo o atual em Goiânia".
Marlene Bueno informou que ainda não avaliou o conteúdo completo da resposta emitida pelo governo estadual e que fará uma averiguação mais profunda no caso para decidir se o MP fará alguma intervenção no processo.
Enquanto não se sabe quando vai haver, de fato, um projeto constituído e nem quando será dada autorização para as obras de construção do autódromo de Senador Canedo, o circuito já existente continua em situação precária de funcionamento.
O administrador Américo Larozzi reconheceu que a pista se encontra em péssimo estado de conservação. Atualmente, Goiânia recebe o grau 5 de certificação da FIA, o pior da escala. A pista está autorizada a sediar somente competições de nível regional. A única categoria nacional a competir naquela praça é a F-Truck, por meio de um contrato que prevê intervenções contingenciais para adequar a pista à corrida de caminhões anualmente.
Larozzi disse que o circuito deve receber uma reforma a partir de fevereiro do ano que vem, orçada em R$ 6 milhões. O principal item de intervenção será, segundo ele, o asfalto. "Nós recebemos um parecer da CBA de que deveríamos trocar todo o asfalto, portanto vamos ter que tirar a massa atual e aplicar uma nova massa, de pelo menos cinco centímetros de espessura", relatou.
Questionado se a verba para a reforma já estava reservada e qual era a proveniência do dinheiro, Américo respondeu: "O dinheiro vem de parcerias que o governo estadual está tentando formar". No entanto, o administrador admitiu que ainda não tem o total dos recursos disponível e não quis informar quais seriam as entidades parceiras.
Mesma que a reforma aconteça, contudo, o administrador acredita que construir uma nova pista ainda é a melhor solução para o impasse. "Vamos gastar R$ 6 milhões para deixar a pista meia boca e daqui a alguns anos ter que reformar tudo de novo. É melhor investir mais agora e construir um circuito muito mais moderno, que perdure", justificou.
Fonte: Tazio Uol