Em Anápolis, um retrato do boom industrial da região
Anápolis é o exemplo do que está ocorrendo no Centro-Oeste, em que o agronegócio se consolidou e o processo de industrialização começa a crescer em ritmo muito acelerado. No ano passado, o crescimento industrial de Goiás foi de 17,1%, atrás apenas do Espírito Santo, com 22,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ante 7,5% do Brasil, índice considerado excepcional. As taxas de Anápolis não foram medidas com precisão, mas as autoridades do município calculam que passou dos 25%. E que, nesse ritmo, até 2020 Goiás continuará crescendo a taxas chinesas.
A crise econômica que abalou o mundo todo entre 2008 e 2009 - o Brasil também, embora com menos intensidade - parece não ter sido sentida nesse município localizado bem no centro do Brasil, a 50 quilômetros ao norte de Goiânia e a 150 quilômetros ao sul de Brasília. Enquanto a crise apertava e todo mundo colocava o pé no freio, a Caoa Hyundai, cuja montadora fica em Anápolis, pisava no acelerador. Iniciou uma campanha de publicidade ultra-agressiva de seus veículos, que dura até hoje.
Enquanto exportadores reclamavam, a Caoa Hyundai aproveitava o dólar barato para fazer seus negócios - o que faz até hoje. Ela quer se tornar a quarta maior empresa de veículos no País até o fim do ano, ultrapassando a Ford. Hoje ocupa a sexta posição, atrás da Honda.
Com isso, o porto seco do Centro-Oeste, por onde chegam os veículos não nacionalizados da Hyundai - os montados no Brasil são o utilitário Tucson, o minicaminhão HR e o caminhão HD78 -, teve um crescimento que pode ser rotulado como estrondoso. Passou da movimentação de mercadorias de US$ 34,8 milhões em 2000 - quando foi inaugurado - para US$ 2,98 bilhões em 2010. Um crescimento de 8.463,21%.
Giro rápido. Mas não foi só a Hyundai que utilizou o porto do Centro-Oeste. Toda a linha de pequenas retroescavadeiras da Toyota chegam por lá, bem como os princípios ativos do Laboratório Roche. O diretor-superintendente do porto, Edson Tavares, também tem uma política agressiva de atuação. 'Enquanto outros portos gostam de deixar a mercadoria dormir, eu trabalho para fazê-la girar o mais rápido possível. Assim que a Receita, o Ministério da Agricultura e a Anvisa desembaraçam um produto, quero que ele siga para o destino o mais rápido possível. Fármacos não dormem por aqui', disse o chefe do porto seco, hoje o maior do interior do País.
Ele lembrou que em 1999, quando a Receita Federal fez a licitação do porto seco, tentar tocá-lo parecia coisa de aventureiro. Tanto é que a empresa dele, constituída por sócios goianos, foi a única a participar do leilão. 'A gente chegou a pensar que ia quebrar a cara', disse Edson Tavares.
A carga desembaraçada pelo porto seco, a exemplo dos veículos da Hyundai e da Subaru e dos produtos da Roche, chega nos portos e aeroportos e é embarcada com guias especiais até chegar ao destino, em Anápolis.
Lá, ela é legalizada nos postos da Receita e dos outros órgãos envolvidos no trabalho de desembaraçar as mercadorias importadas. 'A vantagem de usar o porto seco é que o custo cai pela metade', afirma Tavares.
Mais à frente, quando a Ferrovia Norte-Sul estiver com o ramal de Anápolis funcionando, ele pretende parar de levar suas mercadorias para os portos de Santos e Vitória. Vai utilizar os de Itaqui, em São Luís, Pecém, em Fortaleza, e Suape, em Recife. 'Por que vou levar uma mercadoria para o Sul, para um porto que cobra caro nesse negócio chamado de custo Brasil, e depois ter de fazer o caminho de volta para o Norte, para chegar à Europa e à Ásia?', provoca ele.
O governo de Goiás está construindo também um aeroporto ao lado do distrito agroindustrial, com uma pista principal de 4,5 mil metros, suficiente para receber gigantes cargueiros e até os A-380, o maior avião de passageiros do mundo.
Expansão
17,1%
foi o crescimento do Estado de Goiás em 2010, o 2º maior do País
US$ 34,8 milhões
era o movimento do porto seco de Anápolis em 2000
US$ 2,98 bilhões
foi o movimento no ano passado
Fonte: Estadão MSN