Asfalto com vida útil vencida
Asfalto com vida útil vencida e o período de chuva preocupam motoristas com a multiplicação de buracos nas rodovias e ruas de Goiânia. Para dar conta, aumentam os gastos com as operações tapa-buraco. Somente este ano, a Agência Municipal de Obras (Amob) consumiu mais de 7 mil toneladas de massa asfáltica para consertar as fissuras, enquanto nas rodovias cerca de 50 toneladas foram utilizadas.
Amob usa por dia pelo menos 288 toneladas de concreto betuminoso, o que corresponde a 16 caminhões. No ano passado, foram utilizados mais de R$ 5 milhões para o serviço, que atendeu 270 mil metros quadrados das vias na capital. Na época das chuvas, o serviço é reforçado com mais de 100 trabalhadores e o dobro de material – na seca são utilizadas 144 toneladas, carregadas em 12 caminhões – para dar conta da demanda.
“É um serviço emergencial, feito para corrigir, e por isso é feito principalmente em dias de chuva”, explica o diretor de operações da Amob, Wagner Antônio. De acordo com informações da agência, em Goiânia, a mesma falha no asfalto chega a ser visitada mais de três vezes. Sobre isso, o diretor explicou que essa recorrência ocorre por causa da pressa em realizar os serviços. “Acaba não dando tempo de compactar corretamente.”
Para prensar o asfalto, a Prefeitura, em casos emergenciais, passa com o pneu do caminhão no local. “Agora a Amob já está utilizando rolos compactadores e placas vibratórias”, conta Wagner sobre as novas aquisições – feitas em novembro de 2010 –, que devem diminuir esse problema, para o serviço realizado na capital. Segundo a doutora em Geotecnia e professora na Escola de Engenharia Civil da UFG, Lílian Ribeiro de Rezende, para o tapa-buraco a execução do serviço é um dos fatores mais importantes para a durabilidade.
Tapa-buraco
De acordo com Lílian, depois da escolha do material, que, entre outros fatores, depende do tráfico – no caso de Goiânia é utilizado o Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) –, ele deve passar por um estudo e uma dosagem correta. “Depois do buraco aberto, se ainda não choveu, deve refazer aquela área para o remendo, abrir uma janela e retirar o solo”, explica como seria o ideal para o serviço. “O que adianta tapar a parte de baixo, se ela está molhada e não presta?”
Segundo a professora, o fato de muitas vezes reaparecerem os buracos no mesmo local também tem como razão o depósito do material antes de limpar. “Deve retirar o material solto, porque prejudica e a massa não fica colada corretamente. Se fizer todo esse processo, os buracos não apareceriam no mesmo lugar.”
Ela aponta ainda entre os fatores que interferem para o surgimento desses problemas a variação de temperatura, o tráfego na via, as chuvas e a vida útil do asfalto, que é de 20 anos. De acordo com o diretor de operações da Amob, a vida útil do asfalto em vias de setores centrais de Goiânia está vencida e alguns chegam a ter mais de 40 anos. “Resseca, fica poroso e por isso vai soltando com mais facilidade.” Entre os setores mais comprometidos estão Cidade Jardim, Centro e Setor Oeste. “Não existe uma cultura da manutenção preventiva. Isso deveria ser feito no lugar das ações corretivas”, opina Lílian. Como é feito nos Estados Unidos, ela acredita que no Brasil também seria mais viável tratar os primeiros problemas nas vias, que aparecem com as trincas, antes de deixar surgir os buracos. “Mas os recursos para esse serviço ainda são baixos.”
Para renovar o asfalto em vários bairros, a Prefeitura irá recapear 100 quilômetros de vias. O serviço está previsto para começar em abril, depois que passar o período chuvoso. “Em alguns locais será retirado e feito outro, em outros faremos uma capa por cima do que já existe”, explica Wagner Antônio.
Prejuízos
“Passo sempre em muitos buracos em Goiânia, a suspensão do carro vai embora”, reclama o comerciante Anilton Pereira Feitosa, de 30 anos. Segundo ele, a manutenção do carro é feita em média a cada quatro meses e os gastos são maiores por causa dos buracos. “O maior prejuízo que tive, nos últimos dias, foi quando caí em um buraco na Praça do Jacaré – Setor Crimeia Oeste – até a balança entortou”, conta.
Na opinião do comerciante, os trabalhos de tapa-buraco, no setor em que trabalha, não têm resolvido todo o problema. “O asfalto fica todo ondulado e isso compromete muito”, conta. Para arrumar os estragos – causados principalmente pela má qualidade das vias, como ele avaliou – já chegou a desembolsar 500 reais para um único conserto.
No centro automotivo que Anilton faz a manutenção do carro, o proprietário, Rodrigo Abraão, é enfático: “Todo dia recebo clientes que reclamam dos buracos”. Ele ainda informou à reportagem que os custos para os motoristas variam de 60 reais a 500 reais, dependendo de que peça sofra o dano. “Apesar disso, apenas 40% da manutenção feita aqui é por causa desse tipo de problema.”
Rodovias
Nas GOs, o excesso de chuva também tem influenciado o aparecimento de buracos. Dos 10 mil quilômetros de rodovias, 50% têm mais de 20 anos de uso, como informou a Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop). De acordo com o órgão, essas vias foram projetadas para veículos de no máximo 40 toneladas e o fluxo era menor. Agora, com desenvolvimento econômico, as cargas quase triplicaram, o que deteriora mais e faz com que aumente a necessidade das operações tapa-buraco, como informou a Agetop.
Nas BRs, a Polícia Rodoviária Federal alerta para que os motoristas tenham mais atenção nos locais prejudicados pelos buracos. Na terça-feira (22), o alerta foi para quem trafegar no trecho da BR 153, entre Morinhos e Itumbiara, nos quilômetros 595, 600, 610, e 660 – informados através do twitter da PRF. (Katherine Alexandria, estagiária da UFG)
Fonte: Jornal o Hoje