Após mortes, zoo de Goiânia é fechado

10:34 2 Comments A+ a-


O Parque Zoológico de Goiânia está interditado pelo Ibama em pleno mês de férias por prazo de 45 dias. A medida tem caráter preventivo, motivada pela morte de sete animais de grande porte somente neste ano. A última perda foi de um jacaré-açu, no sábado (18). A decisão foi tomada em comum acordo na tarde de ontem (20) durante reunião entre o órgão e a diretoria do horto. O assunto também foi discutido pelos ministérios Público Federal e Estadual. As instituições resolveram aguardar laudo pericial do Ibama para propor Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Após a morte dos animais, o Ibama recebeu queixas e pedidos de investigação acerca de maus-tratos, condições físicas precárias dos recintos e alimentação inadequada. Mas nada a respeito foi detectado ontem. Quando houve a morte de uma girafa, em junho, levantou-se a suspeita de envenenamento, hipótese descartada depois da realização de exame toxicológico. O diretor do zoológico, Rafael Cupertino, afirmou que não existe qualquer relação entre as mortes. "Os laudos de necropsia apontam causas totalmente distintas. Foram casos particulares".

As visitas ficarão suspensas durante o prazo de interdição. Neste período, todos os animais serão submetidos a exames clínicos, profiláticos e vermifugação. Este pente-fino tem objetivo de averiguar as reais condições de saúde de cada um dos cerca de 600 bichos alojados no local. Os procedimentos serão realizados pelo corpo técnico do horto, composto por quatro médicos veterinários, cinco zootecnistas e um biólogo.

Serão recolhidas amostras de sangue e fezes de todos os bichos. Para espécies carnívoras, haverá ainda exame de dentição. Caso seja detectada necessidade de avaliação mais aprofundada, os espécimes passarão por exames de raio X e ultrassom. A participação de profissionais do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás (UFG) nos diagnósticos e tratamentos não está descartada. Os trabalhos serão acompanhados pelos técnicos do Ibama, órgão que tem atribuição de controlar e fiscalizar o plantel que vive no zoológico. "Muitos dos animais que chegam aqui foram capturados quando estavam sendo traficados, passaram por maus-tratos. Com o fechamento poderemos prevenir e intervir em futuros problemas", disse a coordenadora de Fauna do Ibama, Cristiane Borges Miguel.

O diretor do zoológico, Rafael Cupertino, espera conseguir finalizar o trabalho dentro de 30 dias. Ele considera a medida dura, sobretudo pelo período de férias escolares. Mas pondera que nesta época do ano o estresse dos animais aumenta, assim como o volume de lixo recolhido do local, devido a presença de cerca de 4 mil pessoas nos domingos. Esses fatores contribuem para dificultar o manejo dos espécimes pelos médicos veterinários. Cupertino afirma que o fechamento tornou-se inevitável após as mortes acontecidas recentemente. "Era o melhor a ser feito. Não conseguiríamos examinar todos os animais recebendo visitas, nem poderíamos esperar mais bichos morrerem. Por isso, tivemos que interromper as visitações.”

Com as portas fechadas, a equipe técnica do zoológico poderá dedicar-se exclusivamente ao trabalho com os espécimes. Para o responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, Leo Caetano, a relevância da decisão está no fato de antecipar problemas que possam acontecer aos bichos "Muitas vezes eles manifestam doença quando já estão em situação agravada. Este procedimento evitará novas mortes", disse.

A maioria dos espécimes passa por exames pelo menos uma vez por ano para verificar o estado de saúde, garante Rafael Cupertino. "Realizar um checkup anual é razoável. Nem todas as pessoas são acompanhadas com essa frequência", disse. Os bichos são tratados por profilaxia e obedecem calendário de vermifugação

Ministério Público

A situação do Parque Zoológico de Goiânia foi motivo de vistoria realizada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), juntamente com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério Público Federal (MPF) em 23 de abril deste ano. Na ocasião, já era manifestada a preocupação das instituições com as mortes de animais, denúncias de maus-tratos e condições de estrutura física oferecida aos bichos.

Ontem, os ministérios Público Federal e Estadual se reuniram novamente para discutir o assunto. O MPF investiga denúncias de tráfico de animais. Já o MP-GO analisa a inadequação dos recintos onde os animais estão alojados. A promotora Marta Morya Loyola, responsável pela área da Defesa do Meio Ambiente do MP-GO, afirmou que aguarda laudo pericial do Ibama para elaborar TAC.

A finalização do laudo deve ocorrer durante o prazo de fechamento. Cupertino afirma que aguarda o documento para saber quais serão as exigências contidas e irá cumpri-las. Enquanto o TAC não fica pronto, o período de portas fchadas será aproveitado para revitalização do espaço. Quando os visitantes voltarem, encontrarão recintos de animais pintados, viveiros readaptados e telas de proteção trocadas. "Faremos poda das árvores para que os animais recebam sol na medida que necessitam. Também criaremos pontos de fuga, para que os bichos possam ficar recolhidos quando se sentirem estressados.”

Perdas de 2009 e causas

Leão: morte por tumor hepático
Onça-pintada: parada cardiorrespiratória causada por insuficiência cardíaca e renal
Hipopótamo (macho): infecção generalizada após lesão na pata
Tamanduá-bandeira: edema pulmonar
Hipopótamo (fêmea): tumor mamário
Jacaré-açu: ferimentos internos causados por anzol que estava na barriga do bicho desde que foi capturado
Girafa: choque hipovolêmico, causado pela perda de volume sanguíneo

Diário da manhã

2 comentários

Write comentários