Promessas de candidatos bem distantes da realidade
Presente na plataforma de governo dos candidatos a prefeito de Goiânia, a implantação dos corredores de transporte – exclusivos e preferenciais – transformou-se em promessa fácil no discurso dos prefeitáveis. Previstos no Plano Diretor de Goiânia (Lei Complementar nº 171/2007) como solução necessária para a execução do conceito central da lei que dita os rumos do desenvolvimento urbano da capital, os corredores, cinco anos depois, não saíram do papel – com exceção do Corredor Universitário, implantado recentemente.
Trata-se de uma política de priorização do transporte coletivo cara e mesmo impopular, o que a torna um desafio e tanto para o próximo gestor. Considerando apenas a implantação de corredores preferenciais em 102 quilômetros de via, o custo médio da execução dos projetos ultrapassaria R$ 175 milhões (veja detalhes no quadro acima).
Na semana passada, o POPULAR percorreu, com o engenheiro civil Alexandre Moura, do Grupo de Trabalho sobre Mobilidade e Acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia em Goiás (Crea-GO), algumas das principais vias da cidade onde, segundo prevê o Plano Diretor, devem ser implantados os eixos preferenciais e exclusivos de transporte.
E o diagnóstico feito pelo especialista, pós-graduado em Gerência de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas e em Engenharia Urbana pela Universidade de São Carlos, não é nada animador. “Excetuando-se o corredor Norte-Sul, onde será implantado o BRT (Bus Rapit Transit – transporte coletivo de média capacidade sobre rodas), a implantação dos demais corredores exclusivos é muito difícil, tendo em vista que a caixa das vias é inferior a 30 metros e necessitaria ser ampliada para 36 metros. Essa ampliação demandaria um número muito grande de desapropriações a um custo elevado”, frisa o engenheiro.
Na análise do engenheiro Alexandre Moura, atualmente é possível a implantação de corredores preferenciais, a exemplo do que foi implantado na Avenida Universitária, porém a medida exige a elaboração de projetos ainda inexistentes, para que não ocorra degradação da paisagem urbana. Segundo o engenheiro, esses projetos deverão ser elaborados com base em levantamentos precisos em campo, para que o fluxo de carros não seja prejudicado. “Devemos priorizar o transporte coletivo, mas não podemos de uma forma abrupta reduzir o número de faixas de rolamento. Com a implantação dos corredores, não haverá uma migração imediata dos motoristas de carros particulares para o transporte coletivo”, alerta. “Além disso, o ganho com o transporte coletivo poderá ser anulado, pois o comércio da região seria severamente prejudicado, como visto na reforma do Eixo Anhanguera”, observa.
VLT
Alexandre Moura faz uma crítica à meta do Governo de Goiás de implantação do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) ao longo do Eixo Anhanguera sem, antes, implantar os demais corredores preferenciais nas demais vias da cidade. “Aplicar R$ 1 bilhão e 300 mil reais em um modo de transporte que irá operar com quase a mesma capacidade dos ônibus do Eixo Anhanguera seria trocar seis por meia dúzia”, critica. “Curitiba possui uma população de aproximadamente 3 milhões de pessoas e está transportando bem os usuários somente com ônibus. Será que é realmente necessário gastar tanto dinheiro somente com o Eixo Leste-Oeste?”, questiona.
Segundo o engenheiro, a melhora da velocidade comercial do transporte coletivo pode ser feita através da implantação da Central de Controle de Tráfego (CCO). “Implanta-se sensores nos ônibus que, em conjunto com a CCO, atuam no semáforo, deixando-o verde para que os ônibus não parem toda hora. Através dos corredores, da CCO e dos sensores nos ônibus, a velocidade comercial do transporte coletivo terá ganho significativo e duradouro”, ressalta.
Estacionamento
Um dos grandes desafios dos gestores na implantação dos corredores de transporte é conseguir aliar o interesse dos comerciantes e da cidade. O barulho é sempre grande onde há restrição de estacionamento, a exemplo do que ocorreu nas Avenidas 85, T-7, T-9 e Universitária, embora o ganho na velocidade dos ônibus seja praticamente imediata. “Sabemos que Goiânia precisa resolver o problema do transporte. Mas antes disso, espera-se que seja regularizada as áreas azuis como alternativa para estacionamento”, afirma Helenir Queiroz, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg).
A dirigente cita alternativas como a implantação de vagas por meio de parquímetros e também a criação de um incentivo fiscal, por parte do governo municipal, para a abertura de imóveis destinados a estacionamentos.
Fonte: O Popular