Goiânia e a sustentabilidade além do discurso
Falar em qualidade de vida é fácil. Difícil — mas possível, como avalia o BID — é mudar o rumo errado que a capital planejada tomou, de modo a conduzi-la a uma realidade positiva
Elder Dias
Ver político falar em priorizar a educação sempre foi algo clássico no horário gratuito eleitoral. Da mesma forma que sempre foi praxe, também, flagrar a maioria dos eleitos no não cumprimento do compromisso de colocar a pauta em primeiro lugar, conforme havia sido a própria promessa de campanha. Nos últimos tempos, outro tema tem subido rapidamente no ranking de preferência do palavrório dos candidatos: o meio ambiente, com suas variantes “preservação”, “qualidade de vida”, “crescimento (ou desenvolvimento) sustentável” e “sustentabilidade”. Assim como a educação, isso tem servido muito mais para embelezar o discurso dos postulantes e de seus partidos do que à sua aplicação na prática.
Falar em sustentabilidade todos falam, até por ser ecologicamente correto dizer e politicamente errado desprezá-la como plataforma. A verdade é que, questionados sobre o que entende por sustentabilidade, a maioria dos candidatos de qualquer universo — Goiânia inclusive — gaguejariam para expressar algo além do óbvio. Quando chegassem a alcançar o óbvio. Isso porque o conceito é muito mais complexo do que se estabelece nas próprias expressões que o caracterizam.
Afinal, o que é “defender o meio ambiente”? Lutar contra a presença de indústrias poluidoras em uma região? Pode ser, mas não só isso. O que é “preservação”? Fazer uma manifestação contra o corte de uma dúzia de árvores de uma praça? Talvez preservar, em sentido mais profundo, seja exatamente o contrário. “Qualidade de vida” vai muito além do que dar às pessoas a chance de morar ao lado de um parque ambiental. E “sustentabilidade”, se resolve com coleta seletiva? Com certeza precisará desse processo, mas ser sustentável é algo muito mais abrangente.
Uma das coligações à Prefeitura, exatamente a que busca a reeleição do prefeito Paulo Garcia (PT), adotou o nome de “Goiânia Cidade Sustentável”. A princípio, um bom marketing em vista do quadro que se apresenta pelo exposto nos parágrafos acima. Mas a ideia de cidade sustentável para a capital vai além do discurso: na atual gestão, Goiânia foi colocada entre as cinco cidades selecionadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em sua área de atuação — a América Latina — para efetivar na prática o conceito de sustentabilidade. E, como política pública, tornar-se uma cidade sustentável passou a ser muito mais do que um marketing de campanha eleitoral: deverá ser um compromisso da próxima administração municipal, independentemente de quem chegar ao poder ou for reconduzido, caso o eleito seja Paulo Garcia. O prefeito, aliás, foi o único dos oito candidatos ao Paço a assinar a carta-compromisso do Programa Cidades Sustentáveis, apoiado pelo renomado Instituto Ethos e disponível facilmente na internet.
Na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, um grupo, sob coordenação do professor Pedro Célio Alves Borges, prepara-se para discutir as questões de Goiânia e de sua região metropolitana do ponto de vista da sustentabilidade. E o que o professor e cientista político vê, no discurso dos programas eleitorais, é bastante superficialidade no trato da questão. “As informações são repassadas de forma rápida na TV e sem qualquer aprofundamento, na maioria dos casos”, julga o professor.
Falar em sustentabilidade todos falam, até por ser ecologicamente correto dizer e politicamente errado desprezá-la como plataforma. A verdade é que, questionados sobre o que entende por sustentabilidade, a maioria dos candidatos de qualquer universo — Goiânia inclusive — gaguejariam para expressar algo além do óbvio. Quando chegassem a alcançar o óbvio. Isso porque o conceito é muito mais complexo do que se estabelece nas próprias expressões que o caracterizam.
Afinal, o que é “defender o meio ambiente”? Lutar contra a presença de indústrias poluidoras em uma região? Pode ser, mas não só isso. O que é “preservação”? Fazer uma manifestação contra o corte de uma dúzia de árvores de uma praça? Talvez preservar, em sentido mais profundo, seja exatamente o contrário. “Qualidade de vida” vai muito além do que dar às pessoas a chance de morar ao lado de um parque ambiental. E “sustentabilidade”, se resolve com coleta seletiva? Com certeza precisará desse processo, mas ser sustentável é algo muito mais abrangente.
Uma das coligações à Prefeitura, exatamente a que busca a reeleição do prefeito Paulo Garcia (PT), adotou o nome de “Goiânia Cidade Sustentável”. A princípio, um bom marketing em vista do quadro que se apresenta pelo exposto nos parágrafos acima. Mas a ideia de cidade sustentável para a capital vai além do discurso: na atual gestão, Goiânia foi colocada entre as cinco cidades selecionadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em sua área de atuação — a América Latina — para efetivar na prática o conceito de sustentabilidade. E, como política pública, tornar-se uma cidade sustentável passou a ser muito mais do que um marketing de campanha eleitoral: deverá ser um compromisso da próxima administração municipal, independentemente de quem chegar ao poder ou for reconduzido, caso o eleito seja Paulo Garcia. O prefeito, aliás, foi o único dos oito candidatos ao Paço a assinar a carta-compromisso do Programa Cidades Sustentáveis, apoiado pelo renomado Instituto Ethos e disponível facilmente na internet.
Na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, um grupo, sob coordenação do professor Pedro Célio Alves Borges, prepara-se para discutir as questões de Goiânia e de sua região metropolitana do ponto de vista da sustentabilidade. E o que o professor e cientista político vê, no discurso dos programas eleitorais, é bastante superficialidade no trato da questão. “As informações são repassadas de forma rápida na TV e sem qualquer aprofundamento, na maioria dos casos”, julga o professor.
Conceito
Segundo a definição do termo por enciclopédias, sustentabilidade é a habilidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém. É característica de um processo ou de um sistema que permite sua permanência, em certo nível, por determinado prazo. A transferência e a transformação desse conceito dentro do campo da discussão ambiental o levou a se tornar um princípio para o uso dos recursos naturais, de modo que a satisfação das demandas dos dias de hoje não levem a comprometer o que necessitarão as futuras gerações.
Em outras palavras, sustentável é aquilo que faz com que o ser humano possa prolongar sua relação com o planeta por um prazo muito mais extenso do que o ora previsto pelos últimos (e alarmantes) números, índices e estatísticas relativos ao clima mundial. A partir daí se elabora um modo de vida sustentável, com suas respectivas atitudes sustentáveis, desde o mais simples dos procedimentos: assim, embolar uma folha de papel, depois de ler um recado anotado em um pequeno pedaço de seu espaço, e jogá-la no lixo deixou de ser uma ação comum para se tornar algo pouco recomendável: afinal, o papel é uma matéria que pode ser reciclada, mas, antes disso, também reutilizada (em seu verso, por exemplo). São, portanto, pelo menos duas atitudes de sustentabilidade — que prolongariam a vida útil do mesmo material — perdidas ao fazer o que tradicionalmente fizeram várias gerações.
Sustentabilidade, dessa forma, exige obviamente mudança de comportamento, o que não ocorre de uma hora para outra. Se é difícil pensar e executar isso em uma família, desafio muito maior é tornar toda uma cidade adepta do conceito na prática. Ainda mais uma metrópole em formação, como Goiânia, haja vista ter uma população que muda mês a mês, principalmente pelo fluxo migratório. Dessa forma, em teoria, seria preciso sempre repassar os mesmos preceitos para “educar” o cidadão que chega. Uma situação que deixa o poder público com um desafio um tanto trabalhoso em suas mãos.
Nesse sentido, o programa eleitoral da coligação que tem o prefeito Paulo Garcia tem o mérito de não fugir desse confronto necessário. Com um roteiro temático, até o momento a discussão da propaganda política busca desenvolver o conceito de “cidade sustentável” no horário gratuito de TV e rádio. A iniciativa da equipe vem sofrendo críticas de todos os lados, especialmente de marqueteiros tarimbados, segundo os quais o PT e seus aliados “não estão dizendo o que o povo quer ouvir”. De fato, falar em sustentabilidade é assunto não tão palatável quanto dizer que vai asfaltar todos os bairros da capital ou construir 10 mil casas no primeiro ano de governo. Mas é irônica a argumentação dos especialistas, por ser externada quando se busca o aprofundamento em um assunto cuja importância de discussão é tida como unânime. É o que ocorre geralmente também quando a pauta é educação: planos de aula, parâmetros curriculares, debate sobre o regime de ciclos não são exatamente coisas de que o marketing queira se ocupar.
Diante desse quadro, o discurso político-eleitoral em Goiânia precisa evoluir para bem além do superficial na discussão da sustentabilidade aplicada à metrópole. Mesmo porque, se há certo compromisso firmado com o BID, há também outro, muito maior e mais importante, com a própria população goianiense.
Segundo a definição do termo por enciclopédias, sustentabilidade é a habilidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém. É característica de um processo ou de um sistema que permite sua permanência, em certo nível, por determinado prazo. A transferência e a transformação desse conceito dentro do campo da discussão ambiental o levou a se tornar um princípio para o uso dos recursos naturais, de modo que a satisfação das demandas dos dias de hoje não levem a comprometer o que necessitarão as futuras gerações.
Em outras palavras, sustentável é aquilo que faz com que o ser humano possa prolongar sua relação com o planeta por um prazo muito mais extenso do que o ora previsto pelos últimos (e alarmantes) números, índices e estatísticas relativos ao clima mundial. A partir daí se elabora um modo de vida sustentável, com suas respectivas atitudes sustentáveis, desde o mais simples dos procedimentos: assim, embolar uma folha de papel, depois de ler um recado anotado em um pequeno pedaço de seu espaço, e jogá-la no lixo deixou de ser uma ação comum para se tornar algo pouco recomendável: afinal, o papel é uma matéria que pode ser reciclada, mas, antes disso, também reutilizada (em seu verso, por exemplo). São, portanto, pelo menos duas atitudes de sustentabilidade — que prolongariam a vida útil do mesmo material — perdidas ao fazer o que tradicionalmente fizeram várias gerações.
Sustentabilidade, dessa forma, exige obviamente mudança de comportamento, o que não ocorre de uma hora para outra. Se é difícil pensar e executar isso em uma família, desafio muito maior é tornar toda uma cidade adepta do conceito na prática. Ainda mais uma metrópole em formação, como Goiânia, haja vista ter uma população que muda mês a mês, principalmente pelo fluxo migratório. Dessa forma, em teoria, seria preciso sempre repassar os mesmos preceitos para “educar” o cidadão que chega. Uma situação que deixa o poder público com um desafio um tanto trabalhoso em suas mãos.
Nesse sentido, o programa eleitoral da coligação que tem o prefeito Paulo Garcia tem o mérito de não fugir desse confronto necessário. Com um roteiro temático, até o momento a discussão da propaganda política busca desenvolver o conceito de “cidade sustentável” no horário gratuito de TV e rádio. A iniciativa da equipe vem sofrendo críticas de todos os lados, especialmente de marqueteiros tarimbados, segundo os quais o PT e seus aliados “não estão dizendo o que o povo quer ouvir”. De fato, falar em sustentabilidade é assunto não tão palatável quanto dizer que vai asfaltar todos os bairros da capital ou construir 10 mil casas no primeiro ano de governo. Mas é irônica a argumentação dos especialistas, por ser externada quando se busca o aprofundamento em um assunto cuja importância de discussão é tida como unânime. É o que ocorre geralmente também quando a pauta é educação: planos de aula, parâmetros curriculares, debate sobre o regime de ciclos não são exatamente coisas de que o marketing queira se ocupar.
Diante desse quadro, o discurso político-eleitoral em Goiânia precisa evoluir para bem além do superficial na discussão da sustentabilidade aplicada à metrópole. Mesmo porque, se há certo compromisso firmado com o BID, há também outro, muito maior e mais importante, com a própria população goianiense.
Rumo para reverter situação já está traçado
Ao lado de Trujillo (Peru), Montevidéu (Uruguai), Santa Ana (El Salvador) e Puerto España (Trinidad e Tobago), Goiânia vai receber as ações da Plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis, o programa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que ajudará cidades consideradas ainda medianas a identificar os principais obstáculos a um desenvolvimento sustentável e, com base no diagnóstico, vai elaborar políticas públicas de longo prazo. “O BID visou essas cidades porque nelas o desenvolvimento pode ainda tomar outro rumo. São metrópoles onde certas questões não se tornaram irreversíveis até o presente momento”, explica o chefe de Gabinete da Prefeitura, Nelcivone Melo — que, como Paulo Garcia, também é médico.
Medidas da administração no sentido em que apontam os objetivos do BID já estão em execução e não param à espera da definição da eleição. Abrangem, segundo Nelcivone, cinco áreas macro: educação, saúde, segurança, economia e mobilidade urbana (veja quadro na página seguinte). De alguma forma, a ideia de sustentabilidade permeia essas áreas e outras mais, de forma que praticamente todas as ações do município se deem de forma a levar em conta um desenvolvimento de forma alternativa ao modelo convencional.
A forma de ligar educação à sustentabilidade é um tanto óbvia: a aplicação do conceito por meio da rede municipal a seus milhares de alunos. A nova forma de lidar com o planeta precisa ser repassada cada vez mais cedo, de maneira que as crianças cresçam com a nova mentalidade e, mais do que isso, ajudem a mudar pelo menos em parte o comportamento dos pais e familiares. Para isso se dar de forma eficaz, é preciso que o município alcance o nível mínimo de estrutura. Em Goiânia, o maior problema do setor da educação é a insuficiência de centros municipais de educação infantil (CMEIs). “O grande desafio é zerar o déficit de vagas na educação infantil”, reconhece Nelcivone Melo. Outro embate é pelo aumento da qualidade no ensino fundamental, de modo que isso se reflita positivamente em números como os do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para tanto, será necessária a adoção do regime de tempo integral por toda a rede pública e a remodelagem de várias escolas, cuja estrutura não suporta tal demanda. Do lado humano, há a necessidade de investir na capacitação dos professores, com educação continuada e o repasse de conhecimento para uso da tecnologia em sala de aula.
Na avaliação feita pela Prefeitura, a saúde é, de longe, o maior gargalo da administração. O fato de, a cada três atendimentos em Goiânia, dois serem a pacientes de outra cidade (ou até outro Estado) complica qualquer conta que se faça com a verba — e isso porque o município aplica 23% de seu orçamento, bem mais do que os 15% exigidos pela Constituição. Além de uma renegociação de recursos com o governo federal e uma repactuação com o Estado, sabe-se que o setor é onde o investimento da Prefeitura deverá ser feito com maior aporte financeiro em obras. A atual administração vê como essencial criar novas unidades de assistência, com atenção à proximidade do afluxo das pessoas de cada região da cidade.
Mas, na questão da saúde, sustentabilidade tem muito a ver com o que ocorre antes de se procurar qualquer Cais ou hospital: é a prevenção, que na rede pública ocorre principalmente por meio das equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) — e a Prefeitura reconhece que é preciso investir mais recursos humanos nessa subárea específica. Juntam-se a isso, para complementar a cidade sustentável no que diz respeito à saúde, medidas igualmente necessárias, como campanhas de vacinação, controle dos dejetos e fiscalização de agentes poluentes.
Medidas da administração no sentido em que apontam os objetivos do BID já estão em execução e não param à espera da definição da eleição. Abrangem, segundo Nelcivone, cinco áreas macro: educação, saúde, segurança, economia e mobilidade urbana (veja quadro na página seguinte). De alguma forma, a ideia de sustentabilidade permeia essas áreas e outras mais, de forma que praticamente todas as ações do município se deem de forma a levar em conta um desenvolvimento de forma alternativa ao modelo convencional.
A forma de ligar educação à sustentabilidade é um tanto óbvia: a aplicação do conceito por meio da rede municipal a seus milhares de alunos. A nova forma de lidar com o planeta precisa ser repassada cada vez mais cedo, de maneira que as crianças cresçam com a nova mentalidade e, mais do que isso, ajudem a mudar pelo menos em parte o comportamento dos pais e familiares. Para isso se dar de forma eficaz, é preciso que o município alcance o nível mínimo de estrutura. Em Goiânia, o maior problema do setor da educação é a insuficiência de centros municipais de educação infantil (CMEIs). “O grande desafio é zerar o déficit de vagas na educação infantil”, reconhece Nelcivone Melo. Outro embate é pelo aumento da qualidade no ensino fundamental, de modo que isso se reflita positivamente em números como os do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para tanto, será necessária a adoção do regime de tempo integral por toda a rede pública e a remodelagem de várias escolas, cuja estrutura não suporta tal demanda. Do lado humano, há a necessidade de investir na capacitação dos professores, com educação continuada e o repasse de conhecimento para uso da tecnologia em sala de aula.
Na avaliação feita pela Prefeitura, a saúde é, de longe, o maior gargalo da administração. O fato de, a cada três atendimentos em Goiânia, dois serem a pacientes de outra cidade (ou até outro Estado) complica qualquer conta que se faça com a verba — e isso porque o município aplica 23% de seu orçamento, bem mais do que os 15% exigidos pela Constituição. Além de uma renegociação de recursos com o governo federal e uma repactuação com o Estado, sabe-se que o setor é onde o investimento da Prefeitura deverá ser feito com maior aporte financeiro em obras. A atual administração vê como essencial criar novas unidades de assistência, com atenção à proximidade do afluxo das pessoas de cada região da cidade.
Mas, na questão da saúde, sustentabilidade tem muito a ver com o que ocorre antes de se procurar qualquer Cais ou hospital: é a prevenção, que na rede pública ocorre principalmente por meio das equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) — e a Prefeitura reconhece que é preciso investir mais recursos humanos nessa subárea específica. Juntam-se a isso, para complementar a cidade sustentável no que diz respeito à saúde, medidas igualmente necessárias, como campanhas de vacinação, controle dos dejetos e fiscalização de agentes poluentes.
Segurança
Um item que vem sendo bastante evocado e que, pelo menos em tese, não deveria ter nada a ver com a administração municipal é a segurança. Com base em uma lógica um tanto contestável, o principal candidato opositor ao Paço, Jovair Arantes (PTB), tem tentado repassar à falta de ação da Prefeitura a responsabilidade pelo agravamento da violência nos últimos anos na capital.
De toda forma, medidas importantes por parte do poder público municipal já têm sido planejadas para os próximos meses e anos. A mais importante delas é a instalação de uma central de monitoramento por câmeras, que serviria a pelo menos três áreas diferentes: além da própria segurança pública, também à proteção ambiental e à mobilidade urbana. A intenção é implantar uma Central Integrada de Operações, como a que existe no Rio de Janeiro, com 500 pontos visualizados. “Estamos fazendo os estudos de viabilidade técnica. Será uma melhoria extraordinária, já que poderemos ver pontos em toda a cidade a partir de um único telão gigantesco”, descreve Nelcivone Melo. Outra medida a ser adotada é uma presença mais ostensiva da Guarda Municipal, o que deverá inibir a ação de delinquentes.
Outra maneira de a tecnologia ajudar a sustentabilidade da capital será na economia, por meio da atração de indústrias limpas, como produtoras de softwares que recentemente se transferiram para cá. Elas vieram instigadas pela Lei Goiânia Digital, que dá incentivos a quem produz tecnologia da informação (TI). Criar um ambiente empresarial favorável — por exemplo, facilitando a abertura de empresas e a criação de cadeias produtivas — é uma das facetas de aplicação da chamada economia sustentável, cuja medida mais eficiente no município é também básica: arrecadar bem os impostos e devolvê-los em forma de serviços. Goiânia já tem setores bem desenvolvidos, como seu polo de confecção, e cresce na economia criativa (música, artes plásticas, design, vídeos, televisão). Precisa também retomar outra fonte de recursos: o turismo de negócios.
Um item que vem sendo bastante evocado e que, pelo menos em tese, não deveria ter nada a ver com a administração municipal é a segurança. Com base em uma lógica um tanto contestável, o principal candidato opositor ao Paço, Jovair Arantes (PTB), tem tentado repassar à falta de ação da Prefeitura a responsabilidade pelo agravamento da violência nos últimos anos na capital.
De toda forma, medidas importantes por parte do poder público municipal já têm sido planejadas para os próximos meses e anos. A mais importante delas é a instalação de uma central de monitoramento por câmeras, que serviria a pelo menos três áreas diferentes: além da própria segurança pública, também à proteção ambiental e à mobilidade urbana. A intenção é implantar uma Central Integrada de Operações, como a que existe no Rio de Janeiro, com 500 pontos visualizados. “Estamos fazendo os estudos de viabilidade técnica. Será uma melhoria extraordinária, já que poderemos ver pontos em toda a cidade a partir de um único telão gigantesco”, descreve Nelcivone Melo. Outra medida a ser adotada é uma presença mais ostensiva da Guarda Municipal, o que deverá inibir a ação de delinquentes.
Outra maneira de a tecnologia ajudar a sustentabilidade da capital será na economia, por meio da atração de indústrias limpas, como produtoras de softwares que recentemente se transferiram para cá. Elas vieram instigadas pela Lei Goiânia Digital, que dá incentivos a quem produz tecnologia da informação (TI). Criar um ambiente empresarial favorável — por exemplo, facilitando a abertura de empresas e a criação de cadeias produtivas — é uma das facetas de aplicação da chamada economia sustentável, cuja medida mais eficiente no município é também básica: arrecadar bem os impostos e devolvê-los em forma de serviços. Goiânia já tem setores bem desenvolvidos, como seu polo de confecção, e cresce na economia criativa (música, artes plásticas, design, vídeos, televisão). Precisa também retomar outra fonte de recursos: o turismo de negócios.
Mobilidade urbana, eixo da cidade sustentável
De todas as formas de se observar a sustentabilidade em uma cidade, a mais visível em qualquer parte dela é a mobilidade. Até mesmo a arquitetura urbana se molda de acordo com a prioridade que se desenvolve em cada aglomerado. Personagem da entrevista nas páginas amarelas da revista “Veja” da semana passada, o urbanista dinamarquês Jan Gehl relata um fato interessante: como a monumentalidade das construções modernas costuma estar atrelada ao hábito de transitar de carro pelas cidades. Na velocidade do automóvel, só é possível observar as grandes obras. Daí, por exemplo, a opção por erguer, em vez de cinco centros de cultura pequenos, mas funcionais, um único e colossal Centro Cultural Oscar Niemeyer, afastado do coração urbano, mas bastante visível a quem passa pela Rodovia BR-153 ou pela GO-020. Aliás, a maior obra de Niemeyer, a capital Brasília, é atacada sem perdão por Gehl: “Brasília impressiona vista de cima, do avião. Do ponto de vista do olho humano, foi projetada na escala errada. É monumental demais, desagradável para caminhar”, condena.
No rumo contrário — e correto — está a priorização de quem anda a pé. É o que projeta a Prefeitura, ainda em estágio inicial. O chefe de Gabinete, Nelcivone Melo, diz que nenhuma quadra da capital passaria no “teste do carrinho de bebê”, ou seja, seria livre de barreiras para uma volta completa pela calçada a seu redor. De fato, uma cidade que prioriza o recapeamento das ruas a investir no nivelamento de seus passeios públicos mostra bem (e erradamente) onde deposita suas prioridades.
Além do problema urbanístico, o pedestre também é desfavorecido pela má educação no trânsito: a primeira, dele próprio, ao atravessar avenidas à revelia da indicação da sinalização; a mais grave, no entanto, vem de condutores que deveriam protegê-lo — até porque, invariavelmente, todos são pedestres em algum momento do dia —, mas o ignoram, em uma negligência às vezes fatal. A insuficiência de quadro de pessoa da Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana (AMT) agrava a vulnerabilidade e acentua o desrespeito às regras elementares da convivência no trânsito.
Após o pedestre, o destaque na cadeia sustentável da mobilidade urbana é o ciclista, que, no projeto sustentável da Prefeitura, recebe tratamento diferenciado. Entre os investimentos estão previstos mais de cem quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, instalação de paraciclos (grades para estacionamento) e bicicletários, além de estações de aluguel — “bike sharing”, em que bicicletas poderão ser tomadas em um ponto e deixadas em outro para o deslocamento.
Em conjunto com o sistema cicloviário deve agir o sistema de transporte público. Apesar de todos os problemas que o acometem — como a superlotação —, o Eixo Anhanguera é visto como bem desenhado e eficiente; seu calcanhar de Aquiles, porém, são os cruzamentos, que fazem com que o deslocamento fique bem mais lento do que poderia se desenvolver. No restante do sistema, o problema é mais grave: a velocidade média da viagem cai mesmo com o aumento do número de ônibus nas ruas. Isso porque o trânsito tumultuado trava qualquer possível agilidade dos veículos coletivos. A avaliação da Prefeitura é de que o advento do BRT e do VLT será de grande importância para fazer o transporte público literalmente acelerar. Metrô? Goiânia ainda não tem densidade para receber um modal desse porte.
E o que fazer por um trânsito mais racional de carros de passeio? Não há, por enquanto, nenhuma previsão de medida restritiva — que, por sua vez, também seria impopular —, como pedágios, rodízios e barreiras físicas. O projeto, por enquanto, é elaborar o chamado estacionamento controlado, uma espécie de parquímetro, para áreas além do Centro, como Campinas e bairros com maior afluxo de veículos. Caminhões e demais veículos de carga passarão a ter restrição cada vez maior. Problemas como o vivenciado pela população de Campinas, com o trânsito pesado por causa das atacadistas na região da Rua José Hermano, só serão resolvidos com a instalação de um polo do setor fora do centro nevrálgico da cidade. “Para isso, é preciso tomar medidas como completar o anel viário de Goiânia”, diz Nelcivone.
Eixo Universitário
Algumas das mudanças nessa rota sustentável já se mostram no dia a dia da população: entre outras ações, a atenção cada vez maior à coleta seletiva, a maior acessibilidade dos espaços públicos, a busca pelo respeito ao espaço do pedestre — o que vem aumentando, senão na prática, pelo menos em teoria —, a primazia ao transporte coletivo em intervenções como o Eixo Universitário. Este talvez o grande exemplo que Goiânia tenha, em termos de obra sustentável. Nos dois quilômetros e meio que separam a Praça Cívica do Terminal Praça da Bíblia, foram implantados corredores exclusivos para os ônibus das linhas que cortam a via, calçadas planas e padronizadas — refeitas com custos do próprio poder público —, ciclofaixa ao centro da via, reurbanização do espaço do canteiro central, entre outras medidas.
Uma medida impopular e aparentemente na contramão da sustentabilidade se revelou necessária no Eixo Universitário: o corte das antigas e frondosas mungubas que ocupavam o espaço entre as duas pistas da Rua 10. A sombra das árvores foi compensada pelo plantio de espécimes do Cerrado e, mais do que isso, pela maior acessibilidade e mobilidade ao longo da via. A diferença já se faz presente, seja pelo aumento da velocidade média do transporte coletivo como pela redução do estresse de quem tomava parte no caos da região, principalmente em horários de pico.
No rumo contrário — e correto — está a priorização de quem anda a pé. É o que projeta a Prefeitura, ainda em estágio inicial. O chefe de Gabinete, Nelcivone Melo, diz que nenhuma quadra da capital passaria no “teste do carrinho de bebê”, ou seja, seria livre de barreiras para uma volta completa pela calçada a seu redor. De fato, uma cidade que prioriza o recapeamento das ruas a investir no nivelamento de seus passeios públicos mostra bem (e erradamente) onde deposita suas prioridades.
Além do problema urbanístico, o pedestre também é desfavorecido pela má educação no trânsito: a primeira, dele próprio, ao atravessar avenidas à revelia da indicação da sinalização; a mais grave, no entanto, vem de condutores que deveriam protegê-lo — até porque, invariavelmente, todos são pedestres em algum momento do dia —, mas o ignoram, em uma negligência às vezes fatal. A insuficiência de quadro de pessoa da Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana (AMT) agrava a vulnerabilidade e acentua o desrespeito às regras elementares da convivência no trânsito.
Após o pedestre, o destaque na cadeia sustentável da mobilidade urbana é o ciclista, que, no projeto sustentável da Prefeitura, recebe tratamento diferenciado. Entre os investimentos estão previstos mais de cem quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, instalação de paraciclos (grades para estacionamento) e bicicletários, além de estações de aluguel — “bike sharing”, em que bicicletas poderão ser tomadas em um ponto e deixadas em outro para o deslocamento.
Em conjunto com o sistema cicloviário deve agir o sistema de transporte público. Apesar de todos os problemas que o acometem — como a superlotação —, o Eixo Anhanguera é visto como bem desenhado e eficiente; seu calcanhar de Aquiles, porém, são os cruzamentos, que fazem com que o deslocamento fique bem mais lento do que poderia se desenvolver. No restante do sistema, o problema é mais grave: a velocidade média da viagem cai mesmo com o aumento do número de ônibus nas ruas. Isso porque o trânsito tumultuado trava qualquer possível agilidade dos veículos coletivos. A avaliação da Prefeitura é de que o advento do BRT e do VLT será de grande importância para fazer o transporte público literalmente acelerar. Metrô? Goiânia ainda não tem densidade para receber um modal desse porte.
E o que fazer por um trânsito mais racional de carros de passeio? Não há, por enquanto, nenhuma previsão de medida restritiva — que, por sua vez, também seria impopular —, como pedágios, rodízios e barreiras físicas. O projeto, por enquanto, é elaborar o chamado estacionamento controlado, uma espécie de parquímetro, para áreas além do Centro, como Campinas e bairros com maior afluxo de veículos. Caminhões e demais veículos de carga passarão a ter restrição cada vez maior. Problemas como o vivenciado pela população de Campinas, com o trânsito pesado por causa das atacadistas na região da Rua José Hermano, só serão resolvidos com a instalação de um polo do setor fora do centro nevrálgico da cidade. “Para isso, é preciso tomar medidas como completar o anel viário de Goiânia”, diz Nelcivone.
Eixo Universitário
Algumas das mudanças nessa rota sustentável já se mostram no dia a dia da população: entre outras ações, a atenção cada vez maior à coleta seletiva, a maior acessibilidade dos espaços públicos, a busca pelo respeito ao espaço do pedestre — o que vem aumentando, senão na prática, pelo menos em teoria —, a primazia ao transporte coletivo em intervenções como o Eixo Universitário. Este talvez o grande exemplo que Goiânia tenha, em termos de obra sustentável. Nos dois quilômetros e meio que separam a Praça Cívica do Terminal Praça da Bíblia, foram implantados corredores exclusivos para os ônibus das linhas que cortam a via, calçadas planas e padronizadas — refeitas com custos do próprio poder público —, ciclofaixa ao centro da via, reurbanização do espaço do canteiro central, entre outras medidas.
Uma medida impopular e aparentemente na contramão da sustentabilidade se revelou necessária no Eixo Universitário: o corte das antigas e frondosas mungubas que ocupavam o espaço entre as duas pistas da Rua 10. A sombra das árvores foi compensada pelo plantio de espécimes do Cerrado e, mais do que isso, pela maior acessibilidade e mobilidade ao longo da via. A diferença já se faz presente, seja pelo aumento da velocidade média do transporte coletivo como pela redução do estresse de quem tomava parte no caos da região, principalmente em horários de pico.
Fonte: Jornal Opção