Goiânia: qual a árvore ideal?

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Embora detenha o título de cidade com maior arborização, a capital ainda não encontrou a variedade adequada.

Goiânia detém o título de cidade, acima de 1 milhão de habitantes, mais arborizada do Brasil, conforme dados do último Censo, mas ainda não conseguiu encontrar uma espécie de árvore apropriada, capaz de solucionar o conflito entre a necessidade de replantio e a estrutura urbana. A situação ameaça o título, se levar em consideração a realidade pontuada por especialistas, que se caracteriza pela adoção recente de planejamento na hora de fazer a poda e a troca de espécies. O resultado é perceptível, principalmente em épocas de calor acentuado, como o atual, quando não é difícil ao goianiense notar a ausência de árvores frondosas em muitos pontos da capital.

Os problemas gerados pela cidade que cresce desordenadamente e cujo setor imobiliário avançou de maneira assustadora nos últimos anos atingem a integridade da arborização nativa de Goiânia. Já não é qualquer árvore que pode ser plantada ou mantida intacta. Precisa-se levar em consideração, dentre outras coisas, a localidade, a proximidade e tamanho da via, a distância em relação à rede elétrica, casas e prédios, que podem ter a estrutura comprometida pelas raízes profundas. Fora isso, existe, ainda, a necessidade do cidadão, que sofre com as altas temperaturas e carece do alívio gerado pelas sombras e do consequente aumento da umidade.

O conflito não é simples. No entanto, para pesquisadores e professores da área de biologia e botânica, ele vem sendo resolvido de maneira precipitada. Autor do primeiro trabalho sobre o assunto, em Goiás, o professor emérito da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Ângelo Rizzo, lembra que as árvores plantadas em Goiânia, nos primeiros anos da capital, foram, em sua maioria, trazidas de outras regiões do Brasil e com características que, hoje, não condizem com a estrutura da cidade. “Elas eram trazidas de carros de boi, de outras localidades. Muitos flamboyants e ligustros. Depois, plantou-se mongubas, árvore do norte do Brasil, boa, mas que cai muito nos períodos chuvosos”, contextualiza.

Algumas destas continuam plantadas, mas muitas já foram retiradas ou trocadas, sendo parte das substituições feita por árvores com sombra reduzida ou que demoram crescer, baixa estatura e com queda farta de folhas em períodos de seca. Rizzo reconhece a dificuldade de encontrar uma espécie que se adapte às diversas demandas. “Uma hora é queda de folha, outra é queda de frutos, galhos...” Para ele, a saída é o poder público consultar especialistas ou analisar bem as características do local de plantio, antes de escolher a espécie. O professor pontua algumas árvores que podem ser alternativas para Goiânia, como: oitizeiro, magnólia, a falsa Murta e a quaresmeira.

Perdas
Nos últimos anos, o professor de Biologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO), Jales Teixeira Chaves Filho, tem notado, em Goiânia, a troca de árvores com ampla área foliar por espécies do bioma Cerrado, como Ipês. Ele frisa que a maioria das árvores do Cerrado perde as folhas em determinadas épocas do ano, principalmente na seca, e não cumpre a função de umedecer a atmosfera, prevalecendo a sensação de baixa umidade. “São bonitas, ocupam pouco espaço, mas você altera o microclima da cidade, quando se retira muitas árvores, colocando outras no lugar com características diferentes”, diz.

Antônio Esteves, gerente de Arborização Urbana da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), concorda com este posicionamento e diz que vem trabalhando com a estratégia do meio termo. Para ele, não dá para falar em arborização de Goiânia, hoje, usando 100% de espécies nativas do cerrado. “Infelizmente, elas não têm a característica de propiciar sombra e elevação da umidade o ano todo, que são as principais demandas da população. Recebemos muitos pedidos e reclamações”, diz. A saída tem sido mesclar, utilizando espécies exóticas, geralmente da Mata Atlântica, para minimizar o sofrimento e a sensação térmica elevada.

Planejamento
Isso não quer dizer que todas as espécies do Cerrado não combinem com o ambiente urbano. Segundo Jales Teixeira, existem alternativas, como a Mutamba, árvore verde e que conserva as folhas na maior parte do ano. De qualquer forma, ele salienta que a substituição precisa ser muito planejada. O professor lembra episódio recente, vivido no Parque Mutirama, que teve boa parte das espécies retiradas para facilitar as obras no local. “Não sabemos quanto aquela retirada significou, mas, com certeza, gerou um impacto”, diz.

O pesquisador José Ângelo Rizzo calcula que a diferença de sensação térmica, quando uma pessoa está sob a sombra de uma árvore e exposta ao sol, seja diferente em até 4°C. “A cidade tem que se aprimorar, porque a ausência de arborização pode agir até na psiquê do homem”, pontua Rizzo. Antes da inauguração das obras na Avenida Universitária, este ano, ele foi procurado pela Amma, para orientar quais espécies deviam ser plantadas no local, para evitar o impacto brusco. Ele sugeriu, de acordo com as características da via, de tráfego intenso e muitos imóveis comerciais, que fossem plantados Ligustros e Ipês.

Fonte: Jornal O Hoje