Especialistas aprovam propostas de mobilidade urbana dos candidatos
As propostas dos candidatos à prefeitura de Goiânia para a área de mobilidade urbana são adequadas e respondem, de maneira geral, as questões mais criticadas pela população. Esta é a análise de especialistas ouvidos pela Tribuna, que verificaram as proposições de cada postulante e concluíram que elas atendem, ao menos em teoria, as principais demandas da capital. O pensamento é de que os princípios de humanização do trânsito e a redução do tempo de viagem são abordados na maioria dos planos de governo dos candidatos.
A professora da Universidade Federal de Goiás, Erika Cristine Kneib, é arquiteta urbanista e doutora em Transportes. Segundo ela, “um bom candidato é o que tem propostas que buscam garantir opções de deslocamento, com qualidade, para as pessoas que não querem perder tempo, dinheiro e saúde nos congestionamentos de veículos motorizados individuais”. A professora destaca que o gestor deve priorizar o planejamento pensado para as pessoas e também melhorar o transporte coletivo e as condições para pedestres e ciclistas.
O coordenador regional da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Antenor Pinheiro, avalia que as sugestões devem ser elogiadas, já que são, em grande parte, corretas em aspectos políticos e técnicos. “É possível observar que os candidatos buscam construir programas com o que há de melhor na gestão”, afirma.
Erika Cristine vê que praticamente todas as propostas dos candidatos Reinaldo Pantaleão (PSOL), Isaura Lemos (PC do B), Elias Júnior (PMN), Simeyzon Silveira (PSC) e Paulo Garcia (PT) são adequadas ou podem se tornar, caso sejam complementadas com outras políticas públicas. “Medidas necessárias para a melhoria da mobilidade e da qualidade de vida nas cidades normalmente são impopulares e pouco aceitas pelo cidadão comum. Gestores, porém, que ousaram quebrar paradigmas, ousaram enfrentar alguns “mitos” e conseguiram resultados positivos”, explica Cristine.
As propostas enviadas por José Netho (PPL) e Rubens Donizetti (PSTU) não foram analisadas porque não abordam especificamente temas de trânsito e mobilidade. Sobre as sugestões de Jovair Arantes (PTB), a professora pondera que “o candidato apresenta boas intenções, alinhadas ao Plano Diretor de Goiânia, mas não é possível analisar com profundidade, por se tratarem de propostas genéricas, baseadas apenas em programas”.
Comparação
Antenor é também superintendente de Desenvolvimento Urbano e Trânsito da Secretaria Estadual de Cidades e analisou as propostas atuais de forma comparativa em relação ao que foi apresentado pelos candidatos na última eleição municipal, em 2008. Pinheiro afirma que fica claro o resultado de um esforço enfatizado nos últimos quatro anos de se discutir as questões relacionadas ao trânsito e à mobilidade urbana em Goiânia.
“As redes socias e a própria mídia abordaram de forma constante temas como transporte público, verticalização da cidade e uso do solo, o que traz a discussão sobre humanização do trânsito. Prova da mudança de pensamento é o fato de que praticamente todos os planos apresentados para as eleições deste ano trazem o plano de se enfatizar a construção de ciclovias e corredores exclusivos para ônibus. Este tipo de propostas mostra um certo amadurecimento no modo de se pensar o deslocamento na cidade”, destaca Antenor.
O superintendente explica que isto significa um avanço, já que outras questões importantes para a gestão da cidade passaram a ser levadas em conta pelos possíveis administradores. Ficam explícitas ideias preocupadas com a sustentabilidade do sistema de trânsito e transportes, além da valorização de alternativas para aumentar a segurança para motoristas e passageiros.
Pontos negativos
Os especialistas ouvidos pela Tribuna não apenas elogiaram as propostas dos candidatos à prefeitura de Goiânia, no que se refere à Trânsito e Mobilidade. Alguns aspectos foram retocados e outros até criticados. A professora Erika Cristine fez críticas pontuais às propostas, mas destacou a falta de unidade no que é exposto por Elias Júnior. “Parece não haver uma articulação efetiva entre as propostas. Mobilidade urbana só se resolve com planejamento e integração das diversas políticas e não apenas com ações pontuais”, opinou a professora.
Isaura Lemos defende, em seu plano de governo, a volta da figura do cobrador em todos os ônibus do transporte coletivo de Goiânia. “Qualquer custo adicional no sistema deverá recair sobre o usuário. É justo onerar ainda mais a tarifa? Além do mais, a não existência de pagamento no interior dos veículos agiliza o embarque e minimiza o risco de assaltos”, afirma a arquiteta Erika ao discordar da proposta.
A professora também faz ressalvas em relação à sugestão de Reinaldo Pantaleão para que seja incentivada a construção de edifícios garagem na Capital. “Isto só será positivo para a cidade, se for acompanhado da restrição dos estacionamento nas áreas públicas, liberando, dessa forma, espaço para o transporte coletivo, para o pedestre e ciclista”, explica.
A ideia de inclusão da disciplina Educação para o Trânsito nas escolas municipais é frequente entre os candidatos, mas questionada pelos dois especialistas. Antenor Pinheiro destaca que este tipo de proposta é muito genérica e envolve questões mais complexas que simplesmente implementação de obras, como exposto em outras demandas. “Falta saber como efetivamente esta disciplina seria estruturada e os detalhes em relação aos conceitos que seriam repassados aos alunos”, opina.
Prefeitáveis firmam compromisso com Fórum
Os candidatos à prefeitura de Goiânia firmaram compromisso com as sete Diretrizes da Mobilidade. A assinatura do documento ocorreu durante a 15ª Reunião do Fórum de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana de Goiânia, na sede da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO). As diretrizes foram levantadas pelo Fórum ao longo de reuniões e seminários nos seus dois anos de existência. Assinaram o compromisso os candidatos Elias Junior (PMN), Reinaldo Pantaleão (PSOL), Paulo Garcia (PT), Jovair Arantes (PTB), que foi representado pelo vice Francisco Junior, e Simeyzon Silveira (PSC) que foi representado pelo assessor Paulo de Castro. Isaura Lemos (PC do B) e José Netho (PPL) também assinaram o documento, mas com restrições. Os dois discordam da continuidade do projeto de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que está em curso em uma parceria entre o Governo de Goiás e a Prefeitura de Goiânia.
Os dois candidatos acreditam que o atual sistema de ônibus articulados que circulam pela Av. Anhanguera é suficiente para atender à demanda local e que o mesmo processo deve ser aplicado a outros corredores exclusivos na cidade. O candidato Rubens Donizetti (PSTU) não compareceu e nem mandou representante.
O documento foi firmado sob as seguintes diretrizes: Melhorar o transporte coletivo; priorizar o pedestre; garantir infraestrutura para os ciclistas; regular os estacionamentos; melhorar o trânsito e reduzir os acidentes; implantar e potencializar a implantação dos projetos estruturantes para o transporte coletivo, e planejar a mobilidade urbana.
A iniciativa da Ademi-GO segue a mesma linha da proposta da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) no documento “O Desafio de Pensar o Futuro das Cidades”, com proposições que buscam estimular a reflexão e um amplo debate sobre o futuro das cidades brasileiras no momento em que os municípios estão envolvidos no processo eleitoral.
A professora Erika Cristine Kneib, ouvida pela Tribuna para analisar as propostas sobre mobilidade urbana dos candidatos, é a coordenadora técnica do Fórum de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana de Goiânia.
PROPOSTAS – TRÂNSTO E MOBILIDADE
Paulo Garcia (PT)
1 – Desenvolver e democratizar a mobilidade urbana com implantação de corredores preferenciais e exclusivos para ônibus (BRS e BRT), ciclovias, ciclofaixas, vias compartilhadas, bicicletários e sistema de locação de bicicletas (bike sharing);
2 – Atualização da pesquisa de Origem/Destino como ponto de partida à elaboração do Plano Diretor de Transporte;
3 – Privilegiar o transporte coletivo na área metropolitana de Goiânia a partir dos resultados obtidos nesta pesquisa;
4 – Fortalecimento institucional e operacional da AMT (Agência Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade) com implantação de sistema controle de estacionamento, atualização tecnológica dos semáforos, sistema para controle semafórico centralizado, sinalização vertical, sinalização orientadora de transito, sinalização horizontal e vigilância por câmeras;
5 – Requalificação das calçadas com implantação de modelo de calçada acessível para pessoas portadoras de deficiências motoras, visuais e auditivas.
Jovair Arantes (PTB)
1 – Garantir um modelo de mobilidade urbana sustentável, democrática e inclusiva;
2 – Efetivar a política de mobilidade, acessibilidade e transporte, garantindo o direito universal de ir e vir do cidadão goianiense, através do desenvolvimento dos seguintes Programas;
3 – Programas de Planejamento e Adequação da Rede Viária;
4 – Programa de Sistematização do Transporte Coletivo;
5 – Programa de Gerenciamento do Trânsito;
6 – Programa de Promoção da Acessibilidade Universal.
Isaura Lemos (PDT)
1 - Implantação da Gestão Municipal do Transporte Coletivo. Será feita uma revisão dos contratos que envolvem o transporte coletivo. Aqueles que não estiverem sendo devidamente cumpridos serão suspensos e a prefeitura assumirá a responsabilidade pelo serviço;
2 - Disponibilização de mais ônibus nas linhas: ampliação da frota em movimento;
3 - Implementação de corredores exclusivos para ônibus em avenidas estratégicas tais como as do Eixo Norte-Sul, T-63, T-7, etc;
4 - Estruturação de um sistema alimentador através de ciclovias e outros veículos;
5 - Volta do cobrador para a venda de sitpass quando necessário e auxilio do motorista nos problemas internos durante o transporte;
6 - Expansão da Central de Controle de Trânsito, dobrando o número de câmeras e painéis, instalando novos equipamentos nos principais corredores de trânsito e transporte de Goiânia e criando um sistema de maior inteligência entre sinaleiros, vias alternativas e retornos.
Elias Junior (PMN)
1 – Aplicar um verdadeiro choque de gestão na Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos, proporcionando imediato incremento na qualidade dos serviços;
2 – Manutenção, limpeza e segurança dos Terminais de Integração;
3 – Embarques prioritários para idosos, portadores de necessidades especiais, mulheres grávidas e crianças;
4 – Humanização dos Terminais e Estações, inclusive através da promoção de eventos artísticos, com destaque para as várias espécies de manifestação da cultura popular;
5 – Tornar obrigatória a inclusão da matéria “Prevenção Contra as Drogas” no currículo básico das escolas municipais de GoiâniaFiscalização de cumprimento das planilhas de horários dos ônibus e implementação do sistema de controle de qualidade dos serviços;
6 - Criar condições necessárias para que sejam adotadas medidas visando um valor de tarifa mais acessível;
Simeyzon Silveira (PSC)
1 – Envolve ações transversais em parceria com outras secretarias como educação no trânsito;
2 – Transporte de massa com ampliação da rede de ciclovias;
3 – Qualificar os bairros para que a população se desloque menos;
4 - Implantação de bicicletários em espaços públicos;
5 – Ampliar e modernizar a informatização de controle do trânsito;
6 - Educar o motorista e o pedestre e aplicar as leis de trânsito.
Reinaldo Pantaleão (Psol)
1 – Incluir a disciplina Educação para o Trânsito nas escolas municipais e desenvolver campanhas regulares de educação de trânsito para adultos;
2 – Vamos abrir a discussão sobre quem deve pagar o passe livre para o idoso, deficientes e algumas categorias profissionais e meia passagem para estudantes. O benefício hoje é pago pela comunidade mais pobre: os usuários do transporte coletivo. Isso porque o custo é diluído no preço da tarifa. Não é justo;
3 – Implantação dos Corredores Exclusivos e Preferenciais previstos no Plano Diretor de Goiânia ;
4 – Priorização do Transporte Público sobre o transporte particular e do transporte coletivo ao individual ;
5 – Incentivo ao Edifícios Garagens ;
6 – Implantação de rede de metrô de superfície .
José Netho (PPL)
O candidato não apresentou propostas específicas sobre trânsito ou mobilidade urbana no plano de governo enviado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO). A Tribuna entrou em contato com a assessoria, que não enviou a matéria pedida.
Rubens Donizetti (PSTU)
O candidato preferiu enviar para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) um plano de governo restrito. Nenhuma das propostas apresentadas tem relação direta com o tema de trânsito ou mobilidade urbana. A Tribuna entrou em contato com a assessoria, que não enviou a matéria pedida.
Fonte: Tribuna do Planalto