Primeiro prefeito nascido em Goiânia a chegar ao Paço eleito pelo voto popular, o petista demonstra prazer em estar à frente da capital e segurança para liderar — inclusive em um segundo mandato — 1,3 milhão de habitantes
Paulo Garcia completará em março dois anos à frente de Goiânia. Ganha cada vez mais traquejo na condução da gestão municipal e vê crescer o conhecimento de seu nome pela população. É o resultado do período em que, como vice-prefeito, foi um “bom aluno” de Iris Rezende, como ele mesmo se intitula. Conseguiu atravessar o período mais difícil, que era manter o ritmo forte que seu antecessor impõe e chega ao ano das eleições municipais com um quadro totalmente estabilizado da administração. É candidato natural à reeleição, embora evite tocar no tema e prefira planejar suas metas dentro do atual mandato.
Mais do que apenas um político em ação, o prefeito se mostra realizado na função. Na entrevista aoJornal Opção, repetiu em vários momentos a frase “Deus me deu mais do que eu mereço” com a mesma facilidade que teria para deixar a cadeira do Paço — Paulo se diz e se mostra desapegado do poder. Como integrante da escola Iris Rezende de administração, tem na ponta da língua dezenas de obras em andamento, bem como o setor e a avenida em que elas estão sendo executadas ou planejadas. Entre as que estão em andamento, destaca o debatido Parque Mutirama — cuja polêmica parece, ao contrário do que queriam os adversários, ter aumentado senão a popularidade pelo menos o conhecimento do nome Paulo Garcia entre a população — e o Corredor Universitário, que ele ressalta como o que há de mais moderno em termos de mobilidade urbana no mundo e que servirá de modelo para aplicação em outras vias importantes da cidade.
Como candidato virtual a um segundo mandato, Paulo Garcia demonstra ter itens fundamentais para o sucesso na disputa: habilidade no discurso e jogo de cintura, alicerçados por uma atitude segura diante das dificuldades que a oposição busca lhe impor. Foi assim no caso do Mutirama e do projeto de desafetação de áreas públicas, que ele esclareceu com detalhes nesta entrevista. Com a base aliada ao governo estadual batendo cabeça e uma aliança consolidada com o PMDB, o petista tem grande chance de se tornar o primeiro goianiense a ser eleito como cabeça de chapa ao cargo máximo do município — ele já é pioneiro entre os que chegaram a ser prefeito por meio do voto popular, já que antes dele somente Hélio Mauro Umbelino Lobo, nomeado pelo então governador Irapuan Costa Junior, administrou da cidade (de maio de 1978 a abril de 1979) tendo nascido na capital.
Herbert de Moraes Ribeiro — Qual o quadro geral que o sr. traça sobre 2011 e as perspectivas para este ano?
Dias atrás, alguém me fez essa pergunta, embora de modo diferente, questionando quais teriam sido os pontos negativos do ano passado e o cenário para 2012. Respondi, com franqueza, que não conseguia trazer à memória nada de ruim de 2011. Os críticos falam que é proselitismo, mas é algo que eu carrego comigo mesmo: Deus tem sido tão bom comigo e me dado mais do que eu mereço, não posso reclamar de nada. O ano passado foi tão positivo do ponto de vista pessoal, dentro das possibilidades, do que é factível dentro de uma administração pública, que o balanço só poderia ser com positividades. Fizemos muita coisa, dentro de nossos limites, que existem. Administrar é como cuidar da casa da gente: se há três filhos, um diz que precisa comprar um livro, outro fala que o uniforme rasgou e o terceiro quer o videogame fantástico que lançaram. O orçamento é limitado, fixo, e se faz, em casa, a opção pelo que é essencial e, quando há uma sobra, se faz atendimento àquilo que não é tão intrínseco às necessidades da família. Na Prefeitura é da mesma forma: há diversas áreas para assistir, o que é rotineiro e o que é emergencial. E há um projeto que se deve seguir, de acordo com um planejamento da administração eleita. As pessoas quando elegem alguém sabem o que essa pessoa defende. De forma geral, avalio que o ano passado foi muito positivo: fizemos várias obras, avançamos em projetos, iniciamos programas e demos continuidade a tudo de positivo que meu antecessor, Iris Rezende, tinha começado. Então, 2011, meu primeiro ano completo à frente da Prefeitura, foi muito interessante, tanto do ponto de vista da administração quanto no aspecto pessoal.
Cezar Santos — E como tem sido administrar Goiânia?
Para quem tem vida pública, não há prazer maior do que administrar a cidade em que nasceu. Não tenho fim de semana, não tenho feriado, não tenho horário. Mas a alegria que isso dá é tamanha que não percebo os sacrifícios que esses compromissos públicos me obrigam a ter. É realmente uma grande satisfação
Herbert de Moraes Ribeiro — Quais foram as principais ações concretizadas em 2011?
Entre as obras de maior aporte, demos início ao Hospital e Maternidade Dona Iris, que estava no chão, não tinha um tijolo quando eu peguei a administração. Nos próximos meses, vamos entregar esse que é o primeiro hospital da mulher do Centro-Oeste para quem utiliza o Sistema Único de Saúde. Está praticamente pronto, do ponto de vista estrutural. Temos recursos federais para comprar agora toda a aparelhagem necessária. É uma obra fundamental, porque beneficia a maior parte da população, que é do sexo feminino, com particularidades próprias em relação ao gênero. Outra obra que avança a cada dia é o Parque Mutirama, que gerou tanta controvérsia. Digo, de coração aberto, que a maior parte dessa polêmica é originada por fundo político, não há fundamentação alguma nos questionamentos levantados. É uma obra fantástica, para ficar marcada na história de Goiânia. O Mutirama já faz parte do inconsciente coletivo da população da capital, especialmente para quem é da minha faixa etária e viveu a infância lá. O parque temático, todo restaurado, vai se avolumar e terá atrações modernas e contemporâneas. Além dos aspectos lúdico e social, a obra é também a recuperação de uma área ambiental degradada. Attilio Corrêa Lima projetou o Parque Botafogo na década de 1930, mas o local foi antropizado, destruído pelo homem, com a Avenida Araguaia e a Marginal Botafogo. A nova engenharia vai possibilitar o reflorestamento da área de flora da Araguaia, que deixa de existir e vira túnel, e uma plataforma sobre a marginal, que é um recurso arquitetônico para unir a faixa da Vila Nova à área atual do Mutirama. É uma obra sem igual em Goiânia, com um vão livre de superfície de 100 por 100 metros (10 mil metros quadrados). Será também um palco, suporte para shows e diversas manifestações artísticas. Foi a saída que achamos, já que não daria para fazer nem túnel nem viaduto para a Marginal — uma via importante e de fluxo intenso, rápido e de escoamento — sem que o custo fosse caríssimo. Outra grande iniciativa, que não podemos esquecer, foi a licitação do projeto Macambira-Anicuns.
Elder Dias — E uma das marcas de Iris, a pavimentação, o sr. continua?
O problema crucial de Goiânia é a mobilidade urbana, em toda sua cadeia, desde o elo mais frágil, que é o pedestre, ao transporte coletivo. Então, abrimos novas vias, duplicamos avenidas, criamos viadutos e passagens, demos atenção a trechos esquecidos e ampliamos vias arteriais. Por exemplo, a Avenida Leste-Oeste vai hoje, sem interrupção, da Câmara de Goiânia, na Praça do Trabalhador, até a Avenida Castelo Branco. Estamos executando agora um trecho novo e grande no ramo oeste dela, a partir do Bairro Goiá e em direção a Trindade. Faltará um trecho pequeno entre a Castelo Branco e o Bairro Goiá. Estou também sendo o primeiro prefeito a trabalhar no ramo leste da avenida, desde a Avenida Manchester, no Jardim Novo Mundo, até a Vila Coronel Cosme, pelo antigo leito da ferrovia. Avaliamos, inclusive, uma ampliação de sua extensão, em direção ao leste, a partir da Manchester até o terminal dos contêineres das distribuidoras de combustível. Outra obra de pavimentação interessante foi a duplicação da continuação da Avenida Pedro Paulo de Souza, no trecho do Setor São Judas até o anel viário do Câmpus 2 da Universidade Federal de Goiás. Entre outras obras, duplicamos também a Avenida C-267 e promovemos alterações no trevo das GO-060 e 070 (saídas para Trindade e Inhumas).
Márcia Abreu — E em relação à habitação, como foi 2011 para a Prefeitura?
Acredito que uma casa entregue já deve ser comemorada, pelo valor que isso representa para quem vai morar ali, mas beneficiamos milhares de famílias com unidades habitacionais. Só em um dos condomínios, o Jardins do Cerrado 7, entregamos mais de 1,8 mil casas. Atuamos também na regularização fundiária, de fundamental importância em Goiânia. Há aproximadamente de 70 mil a 80 mil imóveis na cidade que não são regularizados, dos quais as pessoas não têm titularidade, não são donas do lugar em que moram. Em tese, isso afeta a vida de 200 mil pessoas. Regularizamos diversos bairros cuja população vivia essa insegurança.
Herbert de Moraes Ribeiro — E do ponto de vista político, o que o sr. ganhou e o que o sr. perdeu no ano passado?
Não perdi nada. Pelo contrário, a aliança que nos dá sustentação, montada por Iris, se ampliou do ponto de vista partidário, está mais ampla. Todos os partidos que estavam no início permaneceram e temos o apoio de outros. Com a Câmara, temos uma relação muito salutar e transparente, com independência, da forma natural ao regime republicano e democrático. Temos o auxílio importante de nossa bancada. Não tivemos qualquer matéria que não lograsse êxito. É uma base de sustentação sólida. Existe, obviamente, uma oposição, que está em seu papel de fiscalização, às vezes com certo exagero. Como parlamentar o tempo todo estive na oposição, mas sempre de modo sério, responsável, sem criar factoides e relatar inverdades. Nunca fiz oposição a qualquer preço.
Herbert de Moraes Ribeiro — Criaram muitos factoides contra seu governo?
Muitos, muitos. Há muitas denúncias sem qualquer fundamento. Uma delas é a do Mutirama. Tentaram já mover três ações na Justiça. Nenhuma teve ganho de causa, mesmo de forma liminar, ainda sem o mérito julgado. As sentenças prolatadas, ainda que nessa fase, são verdadeiras peças de defesa para nós. Não há o menor problema do ponto de vista financeiro. Pelo porte do novo Parque Mutirama, não conseguiríamos fazer nada a mais com os mesmos recursos. Sobre a tão falada montanha-russa — que está pronta e, inclusive, já andei nela; aliás, estão todos convidados aqui a uma emoção forte, se tiverem introjetado no inconsciente aquela invenção de que ela é de mais risco, a emoção fica mais forte ainda (risos) —, na “Folha de S. Paulo” saiu uma foto de uma de modelo idêntico à nossa, só que nova. Esse brinquedo, novo, custou R$ 59 milhões. Só ele. Aqui, todo o nosso parque temático vai custar R$ 29 milhões. E a idade da montanha-russa pouco importa, já que as peças são novas, pois as desgastadas têm de ser trocadas. O sistema de controle e de frenagem é o que há de mais moderno, mesmo sendo usado. Existe um engenheiro de um instituto técnico, para fazer fiscalização semanal. Enfim, são seguidas as regras da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas]. Outra polêmica foi essa questão das áreas. Que conversa fiada! (enfático) Primeiro, disseram que eu vou vender as áreas. O que precisam compreender é que não há, no projeto que foi enviado, nenhuma manifestação escrita do termo “venda”. É um projeto de desafetação. Desafetar nada mais é do que permitir outra destinação a uma certa área pública. Por exemplo, se há uma área destinada à construção de uma escola, mas a região precisa é de um hospital, tenho de desafetar a referida área. O que fizemos foi encaminhar um projeto de lei, cujo primeiro artigo já diz que todas as áreas desafetadas só poderam ser utilizadas, seja em troca, permuta ou destinação, para quatro objetivos: equipamentos na área da saúde; equipamentos na área da educação; preservação, programas e projetos ambientais; e edificação de programas habitacionais. Quaisquer recursos oriundos, se houver, só podem ser usados dentro desses quatro itens. Não posso, por exemplo, pegar um imóvel desses, vender e construir um espigão qualquer. Outra coisa, por meio dessa lei, criamos o Parque Municipal do Cerrado, que não existia legalmente. Ele foi feito em outra gestão, por meio de decreto, na área do Parque Lozandes. Este é um bairro que existe desde a década de 1950; Paço Municipal é a estrutura administrativa; e o Parque Municipal é a unidade de preservação ambiental que margeia o Paço dentro do Parque Lozandes. Este só existia por decreto, não como lei. Então, na prática não existia, porque decreto pode ser revogado a qualquer momento; com uma lei, isso é bem mais complicado. Ou seja, eu criei o parque, com outro detalhe: ele tinha originalmente 10 alqueires e eu passei para 15 alqueires, ampliamos em 50% a área. Em outras palavras, aquela falácia toda que divulgaram de que além de vender eu estava depredando a área é nada mais do que conversa de quem não leu a lei.
“Fizeram muita abstração sobre o projeto de desafetação. Coisa de quem não leu a lei”
Elder Dias — E aquela informação de que os imóveis desafetados estariam concentrados na área do Paço?
As áreas estão espalhadas em toda a cidade. Além do Parque Lozandes, há áreas no Balneário Meia Ponte, no Recanto do Bosque, no Setor Bueno. Enfim, na cidade toda. Mas a atenção se voltou para o Parque Lozandes, e eu sei por quê. Outro detalhe é que esse projeto de lei precisava de algumas correções, uma delas sobre uma área cedida — já que hoje o município não pode mais doar, mas, sim, ceder áreas para uso por entidades e instituições diversas — à Acieg [Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás] uma área de 2 mil metros no Parque Lozandes e foi registrado o lote errado, equívoco da lei anterior que agora estamos corrigindo. Outra área no Parque Lozandes será para o Tribunal de Contas do Município, que não tem sede própria e está na Rua 68 (Centro) ocupando imóvel de um antigo liquidante da Metago [Metais de Goiás S.A.]. Outra área é para o Ministério Público do Trabalho, no local onde funciona uma escola desativada no Setor Bueno [antiga Escola Municipal Leão di Ramos Caiado], tendo para nós, como contrapartida, a sede da Defesa Social, um anfiteatro e uma biblioteca pública. Tudo isso, é bom ressaltar, sempre com permuta, não é nada dado de graça. Por fim, qualquer negócio precisa ser precificado por órgão oficial, depois ser aprovado e também atender a todos os detalhes técnicos, como estudo ambiental, de tráfego, de vizinhança etc. É algo muito complexo, mas quem criticou omitiu tudo isso. Resumindo, para fazer qualquer coisa nesse sentido é preciso desafetar as áreas antes.
Herbert de Moraes Ribeiro — E a Prefeitura tem algum projeto para a área que tem no Parque Lozandes?
Queremos construir um grande CMEI [centro municipal de educação infantil] ali. Hoje, temos 46 mil servidores ativos e boa parte deles pelo menos transita pelo Paço diariamente. São milhares e milhares de servidores e, claro, milhares e milhares de mulheres. Como a tendência é de toda a administração da Prefeitura se concentrar lá, cada vez mais, precisamos de um equipamento desses. E não há nenhum na região. Precisava desafetar uma área no Lozandes para construí-lo. Outra meta é a construção da sede definitiva da Secretaria da Educação. A Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) tem interesse na área em que a secretaria está hoje, no Setor Universitário, e que não nos serve mais. Por outro lado, temos de desapropriar um trecho extenso do Câmpus 2 da PUC para duplicar a Avenida Engler, na região do Parque Atheneu, Conjunto Fabiana e do Jardim Mariliza. Devemos, então, fazer uma grande permuta, da qual nos vai restar um saldo positivo e, assim, a PUC poderá construir a sede definitiva da Secretaria da Educação. O ideal é que a Prefeitura pare de pagar aluguel. Hoje, pagamos aluguel na cidade toda. Outra negociação é com a iniciativa privada e diz respeito a uma área em forma de triângulo, no Parque Vaca Brava, em torno de 5,1 mil metros quadrados. Há uma demanda do Ministério Público há décadas, para retomar aquela área. O empreendedor ganhou em todas as instâncias do processo, que hoje está no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Chamei esse pessoal, que é dono de uma grande empresa goiana e disse que tenho interesse em reincorporar a área ao Vaca Brava. Já temos um projeto pronto para deixar o parque mais bonito do que ele já é. Depois de muita conversa, eles toparam. Só que eu tenho de pagar. Pode ser, então, que eu utilize alguma dessas 33 áreas espalhadas em Goiânia para a negociação. Por fim, vou comprar um grande equipamento de saúde para que ninguém que utilize o SUS diga que a iniciativa privada tem algum tratamento com diferencial em relação à saúde pública. Para isso eu preciso de recursos. Se for preciso permutar uma área dessas para concluir a equação financeira e comprar esse equipamento de saúde, eu vou fazer isso.
Patrícia Moraes Machado — Em relação a todas essas dificuldades pelas quais o sr. passou, o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) participa de alguma maneira?
Em fase ainda de tramitação interna no TCM, há uma avaliação sobre o parque temático do Mutirama, que tem dinheiro do erário do município, ao contrário do túnel e da plataforma do município.
Patrícia Moraes Machado — É que Ernesto Roller [ex-procurador-geral do município] disse que, apesar das dificuldades dentro do TCM, o sr. conseguiu avançar muito na administração.
Não considero que tenha havido perseguição. Fui tratado com muita parcimônia, independência e cortesia pelos membros do TCM. Agora estamos em uma fase recursal e esperando um resultado positivo. A primeira avaliação feita pelo TCM creio ter sido equivocada. Prefiro não me manifestar fora dos autos, mas, por exemplo, um dos equívocos foi me imputar uma multa, me parece, de R$ 45 mil. Não sou ordenador de despesas dessa obra, então não pode ser imputada a mim qualquer multa pecuniária. Outra coisa é o próprio valor, que extrapola em muito o que preconiza a lei, é um certo exagero. Mas creio que a relação entre a Prefeitura e o TCM é tranquila.
Elder Dias — A região do Paço já é saturada em termos de trânsito. Existe preocupação da Prefeitura em relação a isso e a uma possível expansão imobiliária?
É bom observar que não é só aquela região. Estou convencido de que a questão da mobilidade urbana só vai ser solucionada quando todos perceberem que isso é um problema de cada um e de todos ao mesmo tempo.
Herbert de Moraes Ribeiro — O sr. acredita em educação no trânsito?
Sim, mesmo porque o Brasil está vivendo inquestionavelmente um momento ímpar, independente de cor partidária, de quem esteja no governo. Temos experimentado, na última década, um desenvolvimento excepcional. Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, particularmente para a região Centro-Oeste e, mais particularmente ainda, para Goiânia. Não há semana em que eu não receba grupo estrangeiro com intenção de investir em Goiânia. Há 20 anos, o que era o Brasil? Hoje somos um País em franco desenvolvimento. Falta muito pouco para atingirmos um estágio de nação desenvolvida. O que é preciso é incluir mais gente, ter mais um tempo de estabilidade econômica, porque estabilidade democrática já temos. Nenhum país entre os Brics [termo usado para designar o quarteto Brasil, Rússia, Índia e China] tem uma situação tão favorável quanto a nossa. A Rússia, por exemplo, é um barril de pólvora. Não quero gerar nenhum conflito diplomático (risos), mas, do ponto de vista políticos, somos um país estável, com democracia consolidada. Também em relação ao aspecto econômico, ninguém, a não ser a China, tem a pujança que nós temos. Mas a China tem gravíssimos problemas sociais. Nosso grande problema é a educação. Se investirmos nesse setor — e todo o planejamento da União é nesse sentido, independente de quem estiver na Presidência — terminaremos a próxima década reconhecidos como nação plenamente desenvolvida. Sobre a educação para o trânsito em si, para ver como é complexo administrar, vi esse dias um canal de comunicação nos criticando e nos rotulando como fábrica de multas, dizendo que éramos extremamente fiscalizadores e punitivos na área do trânsito; hoje, esse mesmo veículo nos critica pela falta de fiscalização e de punição a quem está parando em local proibido.
Cezar Santos — E o que há de avanço na política do trânsito em Goiânia?
Não tem exemplo melhor do que na Rua 10, com o Corredor Universitário, que vai da Praça Cívica ao Terminal Praça da Bíblia. É o que há de mais moderno em mobilidade urbana no mundo, planejado por um escritório altamente especializado e atende a todos os modais. Já temos um trecho praticamente pronto, a partir da Praça Cívica. Para o elo mais fraco, o pedestre, estamos refazendo todas as calçadas, inclusive com piso tátil para deficiente visual e permeabilidade para atender aos critérios ambientais. A parte do meio (ilha) da avenida servirá a uma ciclovia permanente, que já está feita no primeiro trecho, e terá uma área de convivência com quiosques padronizados, em condições sanitárias ideais e também serão áreas de manifestação cultural, com obra artística exposta no fundo deles. A iluminação da avenida será com lâmpadas de LED, que ilumina mais, consome menos e é ambientalmente correta.
Herbert de Moraes Ribeiro — O que vai melhorar para o transporte coletivo nessa avenida?
Haverá três pistas de rolamento, a da direita exclusivamente para o transporte coletivo e as duas outras para transporte individual. Por isso, o estacionamento na avenida está proibido. Podem questionar se isso é modernidade. Eu digo que é, sim, porque a maior parte de todos esses avanços surgiu a partir de nossa escolha, pelo BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], para implantação do projeto Cidade Emergente Sustentável, que me permitiu participar de grupos de estudos com cidades europeias e latino-americanas. Vamos fazer um projeto moderno para os pontos de ônibus, inclusive em termos de sinalização. Os semáforos também terão iluminação por LED, sincronizados e com sensores que perceberão a aproximação dos ônibus e lhe darão maior fluidez, o grande problema do transporte coletivo. Para garantir a via exclusiva para os ônibus, haverá fiscalização eletrônica, com multa para quem adentrar no espaço dos coletivos.
Márcia Abreu — Há um projeto para expandir o que está sendo feito na Rua 10 para outras vias da cidade?
Já temos um planejamento viário da cidade, que nos mostra os pontos mais necessários de atendimento em prol do transporte coletivo. Entre eles, estão corredores como as Avenidas T-9, T-63 e T-7. Outras, como a Avenida 136, ainda têm pouco transporte coletivo, mas no futuro deverá ser também um desses pontos. Com esse Corredor Universitário estamos mostrando qual é o modelo que adotaremos em todos os outros, com todos esses equipamentos e tecnologias — iluminação por LED, fiscalização eletrônica, calçadas com acessibilidade etc. Não dá para implantar tudo ao mesmo tempo, mas vamos fazer isso.
Elder Dias — Mas qual será a próxima avenida a ser beneficiada com esse modelo do Corredor Universitário?
Já escolhemos o próximo local, mas tenho mantido uma conduta de não divulgar ou propagandear o que vai acontecer. Busco só falar do que realmente está completamente fechado. O que posso dizer é que será em uma área de grande estrangulamento e que começará assim que terminar a obra do corredor atual.
Patrícia Moraes Machado — E sobre o projeto do BRT?
O BRT [sigla de “bus rapid traffic”, “tráfego rápido de ônibus” em inglês] está em fase final para licitação, que deve ser levada à praça em março. É uma licitação grandiosa, como foi a do projeto Macambira-Anicuns, de R$ 210 milhões.´O BRT tem 22 quilômetros de extensão, em um trajeto longo, que sai do Terminal Cruzeiro do Sul, em Aparecida, e chega ao Recanto do Bosque, na região Noroeste de Goiânia. A projeção da obra é de 12 meses de execução e devemos começá-la ainda neste semestre.
Márcia Abreu — Um gargalo da Prefeitura, mas não só dela, tem sido a saúde pública. Na semana passada, um médico do Hospital de Urgências (Hugo) registrou ocorrência por conta da falta de profissionais. O mesmo vem ocorrendo no Hospital de Doenças Tropicais e no Hospital Geral de Goiânia. O sr. também é médico. Como o sr. avalia essa integração entre Estado e município? É possível contornar essa crise?
É uma pergunta oportuna. Não que eu seja hipócrita ou queira tapar o sol com a peneira e não reconhecer que no Sistema Único de Saúde sob a égide da administração municipal temos de avançar, mas o grande problema é o número incompatível com a nossa situação, do ponto de vista populacional, de pessoas que recebemos de outros municípios. De cada três atendimentos diários em Goiânia, dois são de pessoas de fora. Outra questão é que normalmente quando as pessoas se sentem em uma condição não ideal de atendimento, a grande maioria de unidades citadas não é do município. Tanto é que nenhum desses que você citou é da esfera municipal, o que não significa, repito, que não tenhamos problemas também. Mas o problema que envolve as pessoas que vêm de fora ocorre porque o dinheiro que vem da União é calculado de acordo com o Censo do IBGE. Então, se temos 1,3 milhão de pessoas e atendemos a 3 milhões isso vai causar problemas, porque os recursos vêm para uma população x e atendem a uma população 3x. É uma sobrecarga estrutural, um número muito avolumado. Aí vêm dizer que isso é disputa partidária e outras coisas do tipo, mas não é nada disso. Isso não depende de quem esteja lá [governo estadual] ou aqui [administração municipal]. Goiânia é cêntrica e vai continuar sendo, e sempre vai atender ao que é altamente especializado. Mas não posso admitir que municípios de grande e médio porte do Estado não tenham capacidade para fazer um atendimento, por exemplo, de uma fratura. O bom senso indica que esse tipo de socorro teria de ser feito nesses centros, mas, na grande maioria, é feito aqui na capital. É um problema federativo, que os vários municípios envolvidos precisam resolver em conjunto. Para avançar no setor da saúde, vamos inaugurar o hospital da mulher [Dona Iris] e pretendemos adquirir essa grande unidade hospitalar.
Elder Dias — O sr. não quer detalhar, mas esse hospital é para atendimento geral, como o HGG?
É um hospital para atendimento não somente emergencial, embora também deva ter isso, como o Hugo, então posso dizer que seja como um hospital geral. Mas estou dentro daquele compromisso meu de não falar do que ainda não fiz. Em pouco tempo teremos mais informações para passar. O que queremos é padronizar e melhorar o layout de nossas unidades de saúde, que elas possam dar a sensação de dignidade, de acolhimento às pessoas que buscarem atendimento. Locais limpos, com sala de espera decente, consultórios aparelhados e arrumados. Descentralizando as compras de insumo para a Secretaria da Saúde, para que não se percam seis meses para adquirir dipirona. Vamos também inaugurar quatro UPAs [unidades de pronto atendimento] espalhadas estrategicamente pela cidade e já em construção, para estar à disposição de uma população de 300 mil pessoas, cada uma. Haverá uma no Jardim Itaipu, outra na região Noroeste, outra na região Leste e outra na região Sul e deverão estar prontas até o fim do ano. Vamos também entregar 10 unidades menores, chamadas UBSs [unidades básicas de saúde]. Por fim, precisamos pactuar com o Estado uma relação salutar e transparente, porque saúde não é política de governo, mas de Estado. Isso não depende do Paulo Garcia ser prefeito, ou o João ou o José, nem do governador A, B ou C. Meu sonho é preparar Goiânia para um desenvolvimento que está batendo à porta. Para isso, não podemos cometer os mesmos erros que foram cometidos em outras capitais brasileiras. Estamos em um estágio no qual temos como promover nosso desenvolvimento de forma equilibrada, sustentável, ambiental correta e socialmente justa. Podemos ser exemplo para o País. É para isso que estamos trabalhando.
“A sociedade precisa entender que o crack é um problema de todos nós”
Elder Dias — O que o sr. vê em outras cidades e que Goiânia não pode repetir?
A expansão urbana desordenada, a falta de planos diretores, a degradação ambiental fora de controle, a ênfase demasiada nos veículos individuais em detrimento do coletivo, entre outras.
Patrícia Moraes Machado — Além dos programas estruturais para a saúde, há também no setor um problema que precisa ser encaminhado e que é social também, que é o drama do crack. O que o sr. pensa para isso especificamente?
Primeiramente, a sociedade precisa entender que é um problema de todos. O poder público, por si só, não vai resolver nada. A sociedade civil, organizada ou não, tem de participar ativamente para a questão, que não é mais um “problema do pobre”, como se rotulava antigamente de forma preconceituosa. Hoje, esse drama está na casa de todos nós. Existem regras e programas federais que criam sistemas unificados até mesmo no município em que se vive e que são horizontais, avaliando a questão nos mais variados aspectos, como saúde, educação, habitação, trabalho etc. Tenho visto uma conscientização maior sobre isso nas visitas que eu faço. Nesta semana, por exemplo, recebi uma organização não governamental que trabalha no Setor Pedro Ludovico, com dependentes de crack. Portanto, não é algo que se resolverá somente com o sistema oficial e nem só com tratamento. Há aspectos econômicos, sociais e familiares que influenciam no processo.
Patrícia Moraes Machado — A Secretaria de Defesa Social, criada em sua gestão, está ajudando nesse trabalho?
Sim, de modo efetivo. Criamos um programa chamado Goiânia Mais Segura, que atuou em dois bairros vizinhos, o Setor Finsocial e o Morada do Sol. Firmamos uma parceria com as diversas polícias e tivemos uma redução significativa de índices de criminalidade e de delinquência, com repressão à cadeia de distribuição de drogas. A Guarda Municipal está no “guarda-chuva” da Secretaria de Defesa Social. Temos também uma diretoria de prevenção e combate às drogas.
Cezar Santos — Como ex-dirigente da maior cooperativa médica do Brasil, como o sr. vê o desfecho para a Emenda 29? Parece que a maioria dos prefeitos está profundamente decepcionada.
Vi algumas manifestações, por meio da imprensa, de alguns agentes públicos, que se mostraram insatisfeitos com o texto final. O que temos de entender é que esse texto passou pelo Congresso Nacional e é, portanto, resultado da heterogeneidade que se tem na representação parlamentar, e não é necessariamente a vontade do governo. Não tenho como emitir um juízo de valor definitivo porque confesso que não vi esse texto final, seria precipitação de minha parte qualquer aprofundamento. Vi uma manifestação de meu secretário [Elias Rassi Neto], que disse que para Goiânia não haverá modificações substanciais em relação aos porcentuais a serem aplicados pela União.
Elder Dias — Na entrevista concedida ao Jornal Opção, o governador Marconi Perillo fez um elogio aberto a três prefeitos da oposição, por acaso das três maiores cidades do Estado, em relação à negociação do acordo da Celg. Entre os citados, então, estava obviamente o prefeito de Goiânia. Que papel o sr. efetivamente teve no episódio?
Mínimo. Na verdade, a parte na qual eu acho que possa ter contribuído deve ser no que diz respeito a manifestações públicas sobre o fato de que o equacionamento financeiro da Celg seria fundamental para o desenvolvimento de Goiás e, consequentemente , de Goiânia. Tive notícias de vários investidores que escolheriam nosso Estado, mas que deixaram de fazê-lo por causa da preocupação com a geração e distribuição de energia. Nesse sentido, a Celg era uma questão de política de Estado e não de governo. Se eu colaborei, foi dessa forma. Em relação ao governo estadual, é bom ressaltar que estamos tendo uma parceria salutar, como na resolução do ambiente ao redor do Estádio Serra Dourada.
Patrícia Moraes Machado — Uma de suas metas estabelecidas era zerar a demanda do ensino infantil até 2012. Faltavam então 5 mil crianças para ser assistidas com CMEIs. O sr. vai conseguir?
Se executarmos os 81 novos CMEIs que pretendemos vamos gerar 13,7 mil vagas. Entendemos que isso seja mais do que o necessário para dar resposta à demanda atual da cidade de Goiânia. Aqui não temos demanda no ensino fundamental, mas precisamos de vagas para o ensino infantil, crianças de 6 meses a 5 anos. Consegui, com a presidenta Dilma, recursos para construção de 54 CMEIs. Temos 7 em execução e mais 20 que vamos executar, com recursos próprios. Não vamos gerar cidadania plena enquanto não tivermos educação de qualidade para todos e os CMEIs representam isso: cinco refeições diárias, período integral, formação lúdico-pedagógica, tudo isso em um período importantíssimo do desenvolvimento do ser humano que é a primeira infância. Estamos trabalhando dia e noite para fazer o máximo possível no espaço de tempo mais curto possível.
Patrícia Moraes Machado — O sr. já disse que o desenvolvimento de sua imagem política seria ligado à qualidade de vida. O sr. acha que conseguiu concretizar essa marca como prefeito?
Creio que eu passe a imagem do que eu sou mesmo. Sabe qual é meu sonho? Falo isso e as pessoas dizem que é piegas, mas Deus me deu muito mais do que eu mereço e só há uma forma de retribuir: se eu conseguir distribuir coletivamente um pouco de tudo que eu recebi. Tenho uma vida dentro de parâmetros medianos, não sou milionário, mas vivo bem, consegui criar minha família e ter acesso à educação, ter saúde e formação. Uma das formas de retribuição é conseguindo que todos tenham oportunidades iguais, como eu tive. Para isso, preciso dar qualidade de vida às pessoas. É para isso que a gente trabalha, para criar esse ambiente em Goiânia. Não sei o que vou conseguir neste curto espaço de tempo. Quem sabe, se porventura eu tiver um outro tempo, eu possa ter maior chance de fazer tudo o que desejo.
Patrícia Moraes Machado — Na entrevista anterior ao Jornal Opção, o sr. disse que faz o que é necessário, depois o que é possível e, quando menos se espera, está fazendo o impossível. Em que fase o sr. está, já está chegando ao impossível?
Não, não. (risos) Esse jeito de falar é meio filosófico, mas é verdade, como eu disse lá atrás, dando o exemplo dos recursos da casa da gente. Mas sou um sujeito sensato, ainda estou na fase do necessário.
“Tem gente na vida pública apegada demais ao poder”
Herbert de Moraes Ribeiro — O sr. entra agora em um ano eleitoral e passa a ter limitações legais de sua atividade administrativa. Mas acima de tudo, começa a aumentar a tensão com relação a seus opositores. Existe um rumor, no meio político, de que estariam preparando uma série de processos contra o sr., visando torná-lo inelegível. O sr. tem consciência dessa movimentação?
Com todo respeito às fontes de suas informações sobre isso, me nego a acreditar que exista gente que faça política nesse sentido. É esse tipo que precisamos extirpar da vida pública, quem vive de vingança, quem procura difamar, quem mente, quem propagandeia falácias. Enquanto não acabarmos com isso não seremos um País desenvolvido. De qualquer forma, minha preocupação com a retidão na administração é tão grande que uma parte significativa da primeira reunião que fizemos este ano com secretários e assessores foi uma palestra do procurador-geral do município [Reinaldo Barreto], que é um advogado militante, que nos falou sobre legislação eleitoral e distribuiu cópias da lei vigente sobre o assunto, da normativa do TSE para esta eleição específica e de um compêndio circunstanciado, resumido, para observação cotidiana do que ele considera importante para evitar qualquer problema. Estamos muito atentos a esta questão. E sobre essa questão de denúncias e ações, vou resumir: estamos preparados para tudo e para todos.
Herbert de Moraes Ribeiro — O sr. está preparado inclusive para enfrentar o governo do Estado, que tem candidato à Prefeitura de Goiânia?
Não tenho abordado o processo eleitoral, até mesmo porque pela legislação não estamos ainda no calendário eleitoral nesse aspecto, embora já estejamos no sentido administrativo, com regras a serem observadas. Não tivemos convenção, portanto não sou oficialmente candidato. O que posso dizer é que adversário a gente não escolhe. Temos de estar preparados para mostrar nosso projeto, as pessoas precisam saber quem nós somos e o que defendemos e acreditamos. Da mesma forma, temos de enfrentar os obstáculos, as intempéries, as maledicências, as disputas salutares, enfim, o debate democrático. Quem não estiver preparado e ciente de que isso vai acontecer não pode estar na vida pública.
Herbert de Moraes Ribeiro — Quantos partidos o sr. tem hoje na base de apoio? E isso representa quanto em tempo eleitoral?
Coincidentemente, são 13. (risos) Sobre o tempo, o que posso afirmar é que será um tempo que vai incomodar muito. (mais risos) Falando de forma séria, será um tempo suficiente para mostrarmos nossos projetos e propostas.
Herbert de Moraes Ribeiro — E ainda há a perspectiva de ampliação dessa coligação?
A gente trabalha sempre para isso, embora, em política, a oposição seja salutar. Como em tudo na vida, a unanimidade é quase burra, mas a gente quer sempre “ciscar para dentro”, quanto mais apoio, mais tranquilidade. Quem tem uma base assim fica mais seguro, tem manifestações de todas as vertentes, uma diversidade interessante de pensamentos. Estamos trabalhando para ampliar o leque de alianças que sustenta a administração. Se isso gerar uma parceria político-eleitoral, melhor ainda.
Patrícia Moraes Machado — Iris Rezende nos revelou que não teria deixado a Prefeitura de Goiânia nas mãos do sr. se não o conhecesse como político e gestor. Disse que nem se candidataria ao governo se não acreditasse em seu vice. Como o sr. absorve essa afirmação do ex-prefeito?
Vocês sabem de minha admiração e fidelidade por Iris. É quase uma devoção. Eu o considero um dos homens públicos de melhor estirpe e melhor qualidade que o Estado já produziu, um administrador inigualável. Receber, então, um elogio de uma pessoa desse porte... eu vou te responder devolvendo a pergunta: o que você sentiria?
Elder Dias — Ele continua sendo seu orientador político, prefeito?
Penso que ele tem capacidade para ser orientador político de qualquer pessoa deste País. Tive uma oportunidade rara e fui um “aluno” comportado: chegava junto com Iris e ia embora com ele. Estava a seu lado o tempo todo. Ele brincou comigo esses dias, dizendo que eu aprendi rápido demais, e eu respondi “mas o que o sr. acha que eu ficava fazendo ao lado do sr. além de observar e aprender?”. Tive uma chance que poucas pessoas tiveram na vida, que foi a de ficar dois anos consecutivos convivendo dia e noite, ouvindo e aprendendo com um ser político como Iris Rezende. Por isso que digo a vocês que Deus me dá muito mais do que eu mereço. Graças a Deus, eu tenho capacidade de assimilar, porque tem gente que vê e não consegue aprender.
Patrícia Moraes Machado — O sr. acha que, a partir da parceria do PT com Iris, a oposição ao governo do Estado finalmente entendeu que precisa caminhar unida?
O exemplo para todos nós da formatação desse tipo de aliança político-partidária entre diferentes começou com Lula. A partir de seu sucesso, todos os agentes políticos perceberam que isso é necessário. De uma forma humilde, a gente contribuiu de certo modo para a criação desse ambiente, quando lutamos internamente, no PT, pela aprovação da aliança com o PMDB. Mas é lógico que não fomos os inventores da roda, tinha gente que já havia percebido isso antes, inclusive aqui em Goiás, entre nós, mas só conseguimos concretizar a união em 2008.
Herbert de Moraes Ribeiro — Se for candidato, o sr. acha que terá um concorrente que possa preocupá-lo nas eleições?
Eleição é terrível. Só quem foi candidato sabe o sofrimento que é, quem nunca se candidatou não sabe o que é carregar esse fardo. Mas, se a pergunta for no ponto de vista da disputa, a resposta é não. Por que não me preocupo? Porque não sou apegado ao poder, não nasci no poder, não faço parte de uma monarquia, não acho que sou um rei absoluto, não sou o único dono da verdade. Portanto, o resultado para mim é o resultado da vontade da comunidade, do povo, que vai ser atingida de qualquer forma. Tem muita gente na vida pública que é apegada demais ao poder, egocêntrica, detentora da verdade, que acha que ensinou Deus a criar o mundo.
Herbert de Moraes Ribeiro — Dá para colocar a carapuça em alguém, especificamente?
Não, a carapuça sirva para quem achar que ela lhe caiba. Não vim ao mundo para corrigir o ser humano, cada um tem suas virtudes e seus defeitos.
Fonte: Jornal o Hoje