"Ou as empresas se adequam ou vou abrir nova licitação", diz Jovair Arantes, candidato a prefeitura, sobre o transporte coletivo

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Os índices nas pesquisas de intenção de voto não estão lá tão bons, mas Jovair Arantes está afiado e apostando tudo em duas frentes: a campanha eleitoral nos meios de comunicação e nas propostas que tem para a cidade. Depois de três eleições em que abriu mão da candidatura ao Paço em prol de outro nome da base de Marconi Perillo, ele ganhou a vez, embora em um cenário bastante adverso, com o caso Cachoeira influenciando bastante na tomada de decisões.

Atrás nas pesquisas, o deputado federal luta para recuperar terreno e adota discurso agudo como opositor à administração municipal. Nesta entrevista ao Jornal Opção, não são poucas as críticas, diretas e indiretas, endereçadas ao atual prefeito e candidato à reeleição, Paulo Garcia. “Goiânia está infartada”, “Goiânia parou”, “o prefeito está ausente”, “o prefeito não termina as coisas” — frases que ele pontua durante a sabatina e que demonstram que ele quer algo oposto ao que está aí.

De fato, Jovair propõe muita coisa e, para isso, precisaria de muito dinheiro. O que não nada complicado, segundo ele. “Além da arrecadação própria, tenho muitos caminhos em Brasília e podemos buscar recursos até no exterior”, argumenta. O petebista nega ter qualquer maior proximidade com Carlinhos Cachoeira e acredita que a crise trouxe para Goiás um estigma semelhante ao da época do césio 137. “Estamos sofrendo um bullying nacional”, arremata.

Cezar Santos — O sr. aposta tudo na propaganda eleitoral gratuita para alavancar sua campanha?

Nós vamos apresentar três projetos que realmente vão mexer com as pessoas. Vamos mostrar a necessidade de se ter um prefeito diferente, que faz, que bate na mesa, que tem presença na cidade. A própria cidade vai vislumbrar que o prefeito Jovair é quem pode fazer o que a cidade precisa. Goiânia está infartada, está morrendo, a cidade querida, que amamos está ficando inviável, insustentável. Eu não quero essa cidade para a minha neta, para os meus filhos. Um exemplo é o transporte coletivo, setor no qual são as próprias empresas que o exploram que tomam conta. É a única cidade do mundo em que a própria moeda nacional não vale para pagar uma passagem. Se você não tiver um sitpass, você não viaja. Isso é inclusive inconstitucional, vou acabar com isso, não pode ser assim. É má gestão total.

Euler de França Belém — O que o sr. apresenta para mudar o trânsito?

Minha proposta não separa trânsito de transporte. Nós nunca tivemos prefeitos desastrosos, nem esse que está aí é desastroso. Sempre tivemos bons prefeitos, mas a maioria nunca botou o dedo na ferida. Os únicos prefeitos que “abriram” Goiânia foram Iris Rezende, quando fez as avenidas Anhanguera e Castelo Branco; Joaquim Roriz, com a Avenida Goiás Norte; e Nion Albernaz, que idealizou as marginais e prolongou a T-63. Goiânia não tem intervenções do poder público nesse sentido. Vou citar a Avenida Leste-Oeste, no mandato de Darci Ac­corsi [gestão de 1993 a 1996], em que eu fui vice-prefeito. Quando me tornei deputado federal, uma das demandas era colocar dinheiro nessa obra. Todo ano botamos dinheiro para a Leste-Oeste, que era para ser uma via rápida, o que toda cidade do mundo tem, ligando Senador Canedo ao Conjunto Vera Cruz. Só que, ao contrário, introduziram um sinaleiro em cada esquina. Vou mudar isso, fazer trincheiras, para passar por baixo ou por cima. A Leste-Oeste tem de deixar de ser uma rua comum. Outra questão é a falta de pontes ligando os bairros, em uma cidade que tem 80 cursos d'água. Do Centro para a Vila Nova, só há duas passagens; do Centro para Campinas, apenas três; do Centro para a Fama ou de Campinas para a região do Dergo, só uma. É uma loucura a falta de senso e de visão de futuro. Mas por que não há? Porque todo fundo de vale está ocupado indevidamente! (enfático) Em relação ao transporte, vamos fazer efetivamente os corredores exclusivos de ônibus e exigir o cumprimento dos horários. A frota é boa, mas, para os empresários conseguirem maior lucro, colocam os coletivos para andar sempre cheios. Outra coisa errada é juntar todo mundo de uma determinada região e jogar em um terminal, ou um “curral”, sem o mínimo respeito com a mulher, com a criança, com o idoso. É preciso encontrar alternativas! (enfático) Goiânia funciona em meio expediente: se o jornal contratar dois repórteres para trabalhar das 2 da tarde às 2 da manhã, ou eles terão de dormir no sofá ou ir a pé ou de outra forma para casa, porque, a partir da meia-noite, Goiânia não tem transporte coletivo. Toda linha tem de ter pelo menos um ônibus rodando. Vou jogar pesado em relação a isso e exigir das empresas de transporte. Ou elas se adequam ou vou abrir nova licitação.

Euler de França Belém — E o VLT [veículo leve sobre trilhos] da Avenida Anhanguera, sai ou não?

Sai, sim, o governador Marconi Perillo está empenhado nisso e vai ser lançado em breve. É um equipamento que vai adicionar muito ao transporte coletivo, será muito importante para a cidade.

Euler de França Belém — Só que o transporte coletivo não é somente de Goiânia, é da região metropolitana. A reclamação é da falta de entrosamento dos prefeitos em relação a esse tema.

Assim que passar as eleições, vou chamar os prefeitos vizinhos para um grande acordo sobre a questão. Já existem câmaras deliberativas e vamos, então, nos reunir. Mas, se eles não quiserem, Goiânia não vai ficar a reboque dos demais municípios. A capital tem de puxar essas mudanças, não podemos parar para esperar os demais municípios. Não estou fazendo um desafio a ninguém, pelo contrário, é um chamamento. Mas a locomotiva tem de ser Goiânia.

Euler de França Belém — E o anel viário, como o sr. avalia uma obra dessas, que nunca foi concluída?

Já não dá mais para fazer o anel viário em Goiânia. Hoje é preciso fazer um cinturão por fora da região metropolitana. Em Brasília existe um projeto feito pelo Dnit [Departamento Na­cional de Infraestrutura de Trans­portes], do qual participam os deputados Sandro Mabel (PMDB), Pedro Chaves (PMDB), Leandro Vilela (PMDB) e eu. A previsão é que es­sa nova via passe por fora de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e chegue ao posto da Po­lícia Rodoviária Federal na saída para Anápolis.

Euler de França Belém — Um exemplo de problema é a Avenida 136 e sua sequência, a Jamel Cecílio. Depois das 18 horas, é um local que fica intransitável.

Mas é claro, não há pontes para fazer outras ligações, não há alternativas para ligar os bairros. É preciso mostrar serviço. O prefeito atual pegou um Plano Diretor já elaborado, na gestão de Iris Rezende, que foi um grande prefeito e fez tudo o que propôs, à exceção da questão do transporte coletivo. Iris asfaltou mais de 300 bairros e deixou 27 para Paulo Garcia terminar e este não concluiu ainda. Vou dar outro exemplo sobre má gestão das vias: a Avenida Nerópolis se origina em uma rodovia no trevo da Escola de Agronomia da UFG, passa pelo Balneário Meia Ponte e chega larga até a Perimetral Norte. A partir do Setor Urias Magalhães, ela começa a afunilar, até chegar a uma ponte do Ribeirão A­nicuns, que parece uma pinguela. Naquela região ali, do antigo Leite Gó-Gó, o prefeito Paulo Garcia deixou construir prédios de ambos os lados, impedindo a abertura da avenida. Vou abrir aquela avenida até encostá-la naqueles muros dos condomínios e ampliá-la até a altura da Avenida Independên-cia. É preciso que o coletivo prevaleça sobre o individual.

Elder Dias — Como o sr. pretende fazer isso, com desapropriação?

Sim, vamos ter de desapropriar, não há problema. Eu fiz isso no Parque Vaca Brava, quando tive a oportunidade de assumir a Prefeitura.

Frederico Vitor — E a Marginal Cascavel, o sr. vai concluí-la?

Claro, temos de dar se­quência. O que temos de obra inacabada em Goiânia é uma coisa absurda: o Mutirama, o Zoológico, a obra da Rua 10 [Eixo Universitário], a Casa de Vidro, a ponte da Avenida T-8. Tudo foi inaugurado com foguetório e tudo o mais, mas temos um prefeito que não termina as coisas.

Elder Dias — Para concluir a questão da mobilidade urbana, o sr. poderia falar sobre ciclovias e pedestres. O que o sr. pensa sobre essas duas questões?

A Prefeitura arrecada milhões de reais com multas. Com esse dinheiro, em seis meses eu garanto que Goiânia vai servir de modelo na questão do respeito ao pedestre, assim como Brasília. Os recursos das multas têm de ir para a educação no trânsito. Em nossa cidade, o pedestre não é respeitado pela bicicleta, que é desrespeitada pela moto, que é ignorada pelo carro, que também é desrespeitado pelos veículos maiores. Vivemos em um trânsito selvagem. Dizem que não adianta fazer ciclovia aqui porque o goianiense não anda de bicicleta. Mas como, se pedalar pela cidade é risco de ser morto?

Elder Dias — Qual seria a saída para implantação de ciclovias?

Em nossas avenidas, temos ilhas muito grandes, que servem para muitos fins. Precisamos utilizá-las de forma melhor. Tenho uma equipe grande trabalhando nesse tema. Vamos fazer muitas ciclovias em Goiânia e vamos fazer com que o pedestre seja respeitado na faixa.

Fonte: Jornal Opção