Cassado, Demóstenes fica inelegível até 2027

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Em votação secreta, 56 senadores votaram pela cassação do colega – 19 foram contrários e houve 5 abstenções.

Três meses após dizer que era apenas “amigo do empresário” Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) foi cassado ontem sob a acusação de mentir aos colegas, receber vantagens indevidas e de usar o mandato para defender os interesses do contraventor nos três Poderes. Numa votação secreta que durou apenas três minutos, após quase três horas de sessão de julgamento, Demóstenes recebeu 56 votos favoráveis à perda de mandato, 19 contrários e cinco abstenções. Apenas o senador Clóvis Fecury (DEM-MA) não participou da sessão, por ter tirado uma licença particular.

Com a decisão, Demóstenes fica proibido de disputar cargos públicos até 2027, uma pena imposta pela Lei da Ficha Limpa, da qual ele foi o relator – por ela, os direitos políticos de um parlamentar cassado são suspensos por oito anos a partir da data em que o mandato encerraria. No caso de Demóstenes, fevereiro de 2019.

O ex-senador por Goiás, um ex-líder do Democratas conhecido nacionalmente pelo seu discurso em defesa da ética e que chegou a sonhar em alçar voos presidenciais em 2014, entrará para a história da Casa como o segundo parlamentar a ter o mandato cassado por quebra de decoro. Antes dele, Luiz Estevão (PMDB-DF) perdeu o mandato acusado no ano de 2000 de mentir sobre seu envolvimento nos desvios da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo (leia abaixo).

No oitavo discurso que fez em plenário desde a semana passada, o ex-senador chegou a pedir clemência aos colegas. Em vão, cobrou mais prazo para que fosse julgado, ao argumentar que era necessária a realização de perícias nas gravações telefônicas que revelaram seu envolvimento com Cachoeira. Mais uma vez, ele alegou ter sido investigado ilegalmente por três anos sem autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) e, não fosse pouco, os grampos contra ele usados no processo de quebra de decoro nada provaram.

No momento mais ousado do pronunciamento de 35 minutos, o ex-senador pediu tempo para provar a inocência, assim como fez o relator do processo contra ele no Conselho de Ética, Humberto Costa (PT-PE). Demóstenes lembrou que Costa foi absolvido pela Justiça de suposto envolvimento com a chamada máfia dos sanguessugas, um esquema de desvio de recursos da época em que comandou o Ministério da Saúde. “Ele provou que era um homem honrado: por que a minha cabeça tem de rolar?”, questionou.

Nextel

O ex-senador disse que “o maior advogado” que tinha era o rádio Nextel, aparelho que recebeu de Cachoeira e cujas contas eram pagas pelo contraventor. Sem se referir a este fato (um pouco antes dele, seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que cassá-lo por isso era desproporcional), Demóstenes mais uma vez disse que nada apareceu contra ele nas 250 mil horas de gravação. “O que existe contra mim? Nada, nada, nada, nada”, afirmou.

Referindo-se mais uma vez a Humberto Costa, Demóstenes fez o que considerou uma revelação em plenário: que havia passado o carnaval do ano passado com o senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA). O relator dissera que o ex-senador passou por vários locais durante as festividades, possibilidade só possível se tivesse sido bancado pelo contraventor. “O senador Humberto Costa mentiu? Eu provei para ele que ele não falou a verdade. O PSol vai pedir a cabeça dele?”

Conhecido durante os nove anos e meio de mandato por ser implacável na cobrança aos pares, o ex-senador pediu perdão a quem ele “levianamente” agrediu. “Quem cassa senador é senador, não é a imprensa. Por favor me deem a oportunidade de provar minha inocência. Não acabem com a minha vida, nem me deixem disputar outra eleição em 2030”, clamou.

Coube ao senador Randolfe Rodrigues (AP), do PSol, partido que entrou com pedido de quebra de decoro contra Demóstenes em março, fazer uma das defesas mais enfáticas da cassação dele em plenário. “O que está em jogo não é a condenação de conduta errônea. A votação de hoje é um sinal a milhões de brasileiros sobre a credibilidade de uma instituição centenária, fundamental para democracia em nosso País.”

Fonte: Jornal O Hoje