História que sempre se repete

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Galtiery Rodrigues e Lyniker Passos

É chegar as primeiras chuvas e o goianiense se vê sujeito a enfrentar uma série de transtornos, que se repetem todos os anos. A história é a mesma e a questão que paira no ar é como mudar esse contexto e quais são os elementos que precisariam ser observados com maior atenção pelo poder público. É nítida a diferença da cidade quando se está chovendo e não. Sair de casa com água caindo do céu é o mesmo que correr o risco de ficar preso em engarrafamentos, lidar com cruzamentos alagados e estar mais suscetível a acidentes de trânsito, por exemplo.

O quadro de complicações, no entanto, não se restringe ao trânsito e aos alagamentos. A cidade sofre ainda com as bocas-de-lobo entupidas, falta de energia constante – alguns bairros chegaram a ficar mais de 48 horas sem luz, nos últimos dias –, áreas de risco que ficam mais vulneráveis e muitas quedas de árvores, a maioria antiga e grande.

O trabalho de prevenção de nada adianta se começar a ser feito quando as chuvas já começaram. Precisa ser realizado o ano todo. Caso contrário, o velho enredo de transtornos e sacrifícios por parte da população vai se repetir anualmente. Goiânia, uma cidade com 1.302.001 habitantes e mais de 1 milhão de veículos, mostra-se, hoje, uma capital sem preparo para enfrentar o período chuvoso, que, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), vai durar até abril do ano que vem.

Árvores ameaçam rede elétrica
O número elevado de árvores espalhadas pelas ruas de Goiânia e as chuvas acompanhadas de fortes ventos fazem da falta de energia uma recorrência constante. A Celg estima que pelo menos 90 mil árvores possuem estrutura suficiente para alcançar os fios da rede de alta-tensão. Troncos e galhos encostam nos cabos de energia que são instalados sem cobertura de proteção, o que facilmente provoca curto-circuito. O acidente, que poderia ser evitado se a fiação fosse substituída por uma rede com fios isolados, prejudica boa parte da população, que fica horas e até dias sem energia elétrica.

Por causa da chuva de terça-feira (4) pelo menos três árvores caíram. A situação prejudica até agora o fornecimento de energia para pelo menos 10 mil pessoas de Goiânia e Aparecida de Goiânia. A previsão repassada pelo diretor técnico da Celg, Humberto Eustaquio, é de que a energia seja restabelecida na manhã de hoje. Na primeira chuva, após de um longo período de estiagem, alguns pontos da capital chegaram a ficar 72 horas sem luz.

Humberto esclarece que o período de seca prejudicou ainda mais a fiação. “Tivemos temperaturas muito elevadas. Assim, os cabos sofreram dilatação térmica, ficaram curvados e mais sensíveis a qualquer tipo de problema.” A solução mais viável economicamente para resolver o problema seria a substituição dos cabos considerados “nus” por cabos compactos ou isolados, ou seja, significativamente mais protegidos e resistentes.

Substituição
Essa substituição já está sendo feita pela Celg, porém de forma ainda tímida. O trabalho é realizado durante a própria manutenção. Em todo Estado apenas 7% da rede foi substituída, sendo que o projeto piloto da reforma foi lançado há 14 anos. O diretor afirma, mesmo sem quantificar, que a fiação coberta é significativamente mais cara que os cabos comuns.

A poda das árvores da capital fica a cargo da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) e da Celg. Ambas fazem trabalhos diferenciados: a Comurg realiza poda ornamental, enquanto a Celg faz corte de obstrução. Para o presidente da Comurg, Luciano de Castro, o corte em “V” feito para livrar os cabos das árvores, pode desequilibrar a copa das plantas. “A Celg realiza o corte sem critério e já foi alertada sobre isso.” Quando a poda não é feita dessa forma, os técnicos cortam apenas um lado da árvore. Com isso, a inclinação acaba forçando os galhos, que, sem contrapeso, possuem maior probabilidade para cair.

Na tarde de ontem, uma árvore da espécie sibipiruna caiu sobre o próprio carro da Celg que realizava a manutenção da rede elétrica na Rua T-64, no Setor Bela Vista, em Goiânia. A queda aconteceu porque a árvore estava oca. Um estabelecimento comercial, que seria recentemente inaugurado, também ficou danificado. O proprietário Andrielly Ribeiro lamentou a situação. Outras equipes da Celg realizaram durante a tarde de ontem o corte das árvores. Pelo menos 30 mil já foram devidamente podadas. A previsão é de que as outras 50 mil sejam cortadas até o final do ano.

Fonte: Jornal o Hoje