Goiânia aos olhos de quem veio
Vandré AbreuA data era 24 de outubro de 1933 e uma nova capital para Goiás, projetada para 50 mil habitantes, tinha sua pedra fundamental inaugurada. Por cerca de dois anos ficou sem nome. Um concurso no jornal O Social fez ganhar a proposta de nomear a cidade como Petrônia, em homenagem a Pedro Ludovico Teixeira, interventor federal no Estado. Pouco importou o resultado e o nome surgiu de uma adaptação da primeira publicação literária sobre Goiás. Goyania virou Goiânia, que hoje faz 78 anos de existência, com mais de 1,3 milhão de habitantes.
O livro é um poema épico, feito pelo baiano Manuel Lopes de Carvalho Ramos, em 1896. Talvez o escritor tenha sido o primeiro nascido em outro Estado brasileiro a participar da história de Goiânia. No entanto, a construção da cidade foi a concretização da ideia do goiano Pedro Ludovico Teixeira, apoiado pela política nacional de expansão para o interior do País, realizada pelo presidente Getúlio Vargas.
Era a chamada Marcha para o Oeste e ela passou a ser essencial para o então ditador Vargas, com o objetivo de conter os focos de resistência nas regiões Sul e Sudeste. Além da ocupação do interior do País, sobretudo do Centro-Oeste, a intenção de Vargas era que houvesse migração para essas outras regiões, que seriam necessárias para a produção de alimentos e de matérias-primas capazes de abastecer o polo industrial que se formava no Sudeste.
A migração ocorreu, como de fato se desenhara, por necessidade de trabalhadores. “Vieram cerca de 4 mil trabalhadores de vários Estados, como Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, porque aqui a capacidade de construção era só de meia casa por ano”, relata o historiador Nasr Chaul, hoje chefe do gabinete gestor do Centro Cultural Oscar Niemeyer. E os migrantes e imigrantes não pararam de chegar à capital. “Os migrantes e uma pequena parcela de imigrantes tiveram papel fundamental na formação de Goiânia”, afirma Nasr.
Até por isso, neste 78º aniversário de Goiânia, O HOJE foi a locais característicos da capital e encontrou migrantes que relatam suas impressões e histórias de suas vidas em relação à cidade. Na Praça Cívica, onde foi lançada a pedra fundamental, o guardador de carros Eurípedes Souza Santos, de 48 anos, de Corumbá (GO), trabalha durante todo o dia há 26 anos. Já em um dos símbolos dos muitos parques e da arborização, o baiano Ricardo da Cruz Souza, de 24 anos, fala da sua relação com o Lago das Rosas. O cearense Maxwel Santos da Silva, de 22 anos, fala sobre conviver com o trânsito apesar do Viaduto João Alves de Queiroz, nas Avenidas T-63 e 85.
"Aqui é barulho o dia inteiro, mas os carros e os moleques de rua são a vida dessa praça. Antigamente, as pessoas vinham visitar, tirar foto, mas hoje não deixam os ônibus entrarem aqui dentro, as fontes estão desligadas. Está mais feia. Se eu fosse turista, nunca visitaria a Praça Cívica e nem é por ser meu trabalho, mas não tem graça." Eurípedes Souza Santos, de 48 anos, é nascido em Corumbá (GO). Ele mora em Aparecida de Goiânia e trabalha na capital. Há 26 anos vigia e lava carros na Praça Cívica
"É o melhor lugar de Goiânia. Lembro de jogar futebol nas quadras que ficavam aqui. Sinto falta do Zoológico porque ia ver os animais e fico triste por eles, mas o Lago das Rosas ficou muito bonito. Eu sempre morei ou trabalhei na região, mas é a primeira vez que venho após a reforma." Ricardo da Cruz Souza, de 24 anos, é nascido na Bahia, mas mora há 8 anos em Goiânia, no Setor Garavelo. Visitava a capital quando criança. Trabalha com acessórios para carros, no Setor Coimbra
Fonte: Jornal o Hoje