Arquitetura da região Central de Goiânia é anulada por fachadas e anúncios

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‘Você passa e não me olha’

Arquitetura da região Central de Goiânia é anulada por fachadas e anúncios. Poluição visual é a mais densa de Goiânia.

O centro de Goiânia é uma das regiões mais poluídas da capital. O responsável por isso não é apenas a fumaça expelida pelos motores dos veículos que tumultuam o trânsito, ou o lixo que moradores jogam no chão e fica espalhado pelas calçadas. O excesso de barulho dos aparelhos de som, anunciando as promoções do comercio e as enormes fachadas, que encobrem toda a frente dos prédios, são os grandes vilões da atualidade, em que a maioria da população está concentrada em centros urbanos. Além de deixar oculta a arquitetura “Art Decó” de Goiânia escondendo uma parte da história do surgimento da capital, a poluição visual pode agravar problemas de saúde e provocar acidentes de trânsito. O excesso de elementos da comunicação visual, usado de maneira descontrolada, deixa a cidade mais feia e gera um desconforto para quem trafega pela cidade.

Segundo o Psicólogo Wadson Gama, o indivíduo não absorve tantas informações de uma só vez, pois o cérebro não consegue se focar em nenhuma delas. A poluição visual deixa de atrair a atenção para causar irritação, fazendo com que as pessoas se sintam incomodadas, gerando um determinado tipo de estresse. “É importante dizer que isso depende de cada organismo, mas essa grande quantidade de elementos publicitários que vemos no centro de Goiânia gera uma desorganização visual que, junto à poluição sonora e a correria da cidade grande, pode complicar situações de estresse”, afirma.

O Corretor de Imóveis, Wesley Alves, comenta que se sente mal ao caminhar pelo centro e que acha exagerado a quantidade e o tamanho das fachadas dos prédios comerciais. Para ele, diminuir as fachadas iria deixar a cidade mais harmoniosa e valorizar a arquitetura de Goiânia. “Moro em um bairro mais afastado do centro, e lá o visual é mais agradável, tudo é mais tranquilo”.

Ainda de acordo com o Psicólogo, o exagero nos materiais publicitários pode causar acidentes. Como o cérebro não consegue se concentrar em várias coisas ao mesmo tempo, quando o motorista está com a atenção voltada às enormes fachadas dos comércios, deixa de prestar atenção no trânsito, podendo ocasionar colisões entre os veículos.

O Gerente de Fiscalização da Agência Municipal do meio Ambiente (AMMA), Gustavo Caetano Peixoto, diz que não há nenhuma proibição na lei quanto ao tamanho das fachadas dos prédios comerciais, e que nada podem fazer enquanto não houver regulamentação. No centro, a única restrição é quanto ao uso de outdoors, que vem sendo combatido pela AMMA. “A fiscalização é constante em toda cidade, somente no ano passado foram retirados mais de 15 mil faixas, placas e outdoors irregulares, e foi aplicado mais de 1 milhão de reais em multas”, explica Peixoto.

Para o fiscal é importante ajudar na conscientização dos comerciantes, e pra isso a AMMA faz um trabalho educativo na região central da capital. Atualmente a agência visita os comércios da Avenida Araguaia, e posteriormente fará o mesmo trabalho em todas as principais avenidas do centro. A atividade visa combater apenas o uso de placas e faixas irregulares, visto que a lei não versa sobre as fachadas das lojas, muitas vezes compostas por gigantescos outdoors.

Tamanho é documento?

O designer gráfico Wedersom Arantes explica “se a disputa é pra ver quem aparece mais o tamanho sempre vai fazer diferença”. Para ele, enquanto não houver leis que tratam diretamente sobre as fachadas dos prédios, os comerciantes continuarão a ocupar o maior espaço possível para exibir a marca das suas empresas. “Eu acredito que é preciso ter uma regulamentação quanto ao tamanho e a posição dessas fachadas, por que, como designer, eu vou sempre querer fazer algo para deixar a marca do meu cliente mais vista, e então, se não houver proibição, vou fazer o maior possível”, afirma o profissional.

Caso houvesse essa restrição de tamanho, os designers responsáveis pela criação dessas obras publicitárias teriam que usar a criatividade, e não o tamanho, para chamar a atenção do cliente. Por isso, além de um visual mais limpo e uma valorização no aspecto arquitetônico, Goiânia poderia ter fachadas mais bonitas e criativas.

De acordo com o vereador Elias Vaz (PSOL) está em votação na Câmara de Vereadores de Goiânia um projeto de lei que pretende reduzir a quantidade e diminuir o tamanho das fachadas de prédios comerciais. A ideia é seguir um exemplo já aplicado na cidade de São Paulo-SP, onde as placas contendo o nome das lojas tiveram seu tamanho reduzido e as faixas e cartazes de promoções só podem ser usados se afixados no interior do imóvel.

Em Goiânia, mesmo que o projeto já esteja em 2ª votação, será realizado uma audiência pública no dia 12 de abril, às 9h, na Sala de Reuniões das Comissões da Câmara Municipal para que se discuta o tema com a população e os órgãos envolvidos. Se aprovado, o tamanho máximo permitido para as fachadas será de 20 m². Se a frente do prédio possuir menos de 10 m², a fachada com o nome da loja não poderá ser maior que 1,50 m². Assim como em São Paulo serão proibidas as faixas e cartazes no exterior do prédio. Para o político, essas medidas poderão colaborar para que se tenha uma cidade mais bonita, com melhor qualidade de vida. “Essa poluição visual fere a harmonia da cidade e cobre toda arquitetura. É uma agressão ao patrimônio histórico de Goiânia”, comenta o vereador.

Fonte: Diário da Manhã