Praça Cívica: território sem dono

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Representantes da Prefeitura e do Estado protagonizam jogo de empurra-empurra que deixa local descuidado e deteriorado.

A reportagem de O HOJE visitou e mapeou a Praça Cívica, na última semana. Certamente, goianienses e visitantes da cidade que fazem o mesmo, uma vez que se trata da principal praça e local histórico da capital, tem a mesma percepção. O abandono é nítido. O cenário que já abrigou importantes momentos e decisões da política goiana não é preservado da forma que devia, ao passo que não existe uma concordância entre Estado e Prefeitura sobre quem verdadeiramente é o responsável pela manutenção do local. É um jogando para o outro.

Depois de verificar a situação, a reportagem tentou contato, em primeiro momento, com a Prefeitura. A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), por meio da assessoria de comunicação, informou que a Praça é de responsabilidade do Estado. A parte da Comurg seria a limpeza e a manutenção da iluminação da parte externa. Dentro da praça, onde ficam as luminárias mais antigas, já seria de competência do governo estadual. “Nada interno é da Prefeitura”, informou.

A mesma assessoria usou como argumento, ainda, o fato de que o Estado planeja uma obra de revitalização da Praça Cívica. Tendo isso citado, a reportagem entrou em contato com o governo. Este, por meio da Secretaria Estadual de Gestão e Planejamento (Segplan) informou que a Praça Cívica é de responsabilidade da Prefeitura, mas que a reforma será feita pelo Estado, com dinheiro do Tesouro Estadual. O projeto de revitalização teria sido enviado para aprovação do departamento técnico da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável (Semdus). Esta, depois da análise, encaminhou de volta o mesmo, com as recomendações do que precisa ser alterado para se enquadrar nos requisitos arquitetônicos e históricos da Praça.

O assessor de gabinete da Semdus, Fradique Dias, explicou que a Secretaria aguarda, agora, o retorno do projeto com as alterações feitas para uma nova análise e, assim, autorizar a realização da obra. Ele, por sua vez, afirmou que a Praça Cívica é de responsabilidade mista. A limpeza e iluminação seriam da Prefeitura e os prédios e arquitetura, do Estado. A versão dele, no entanto, contraria o que alega a Comurg que, inicialmente, disse não ser responsável pela iluminação interna. Eis aqui uma confusão de consequência crucial para o cenário em que se encontra a Praça, hoje.

Uma das coisas que chamou a atenção da reportagem foi o mau estado das luminárias, especialmente o das mais antigas. A maioria delas está com estrutura incompleta, com apenas duas proteções de lâmpada, enquanto o certo seria três, e tomada por teias de aranha. Viraram casas de inseto. De acordo com comerciantes que atuam no interior da Praça, durante a noite, muitas nem funcionam, o que transforma o lugar em espaço cativo para moradores de rua e dependentes químicos.

Ironicamente, são tais luminárias que ficam bem em frente aos órgãos públicos, como a Procuradoria Geral do Estado (PGE) e a Secretaria Municipal de Finanças. Há seis anos trabalhando na Praça, o comerciante Élcio Cardoso, de 42 anos, lembra que a última manutenção feita nas luminárias foi em dezembro de 2011. De lá para cá, ele não se recorda de nenhuma outra intervenção, muito menos troca de lâmpadas queimadas. “As fontes não existem mais. Estão aí para servirem de morada para moradores de rua”, diz ele, referindo-se aos vãos, onde antes funcionavam as fontes de águas, mas que hoje estão tomados pela sujeira e os papelões que servem de cama para as pessoas em situação de rua.

Fonte: Jornal O Hoje