Os desafios da mobilidade urbana na capital
Trânsito, transporte e mobilidade são questões importantes para a vida da cidade, mas não entraram diretamente no planejamento de Goiânia nos últimos 25 anos. A análise da professora da Universidade Federal de Goiás, Erika Cristine Kneib, aponta que as demandas nesta área foram parcialmente resolvidas com medidas pontuais.
A professora acredita que a solução para os problemas atuais passa pela efetivação de três projetos. São eles: a instalação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no eixo da Avenida Anhanguera, o BRT no eixo Norte-Sul e os corredores preferenciais planejados que atingem praticamente toda a rede do transporte coletivo.
Aliada à questão de mobilidade, a urbanização da cidade avançou muito nos últimos anos e transformou Goiânia em uma metrópole. A professora da UFG e doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, Celene Cunha Antunes, defende que o desafio agora é repensar a cidade e investir medidas que a integrem.
O eleitorado goianiense passa por um acelerado processo de mudança de perfil. A avaliação é do presidente do Instituto Grupom, Mario Rodrigues Filho, que cita que a principal diferença entre o eleitor de 40 anos atrás com o de hoje é a facilidade que ele possui nos dias atuais para ter acesso à informação.
“Antes, o rádio era quase o único veículo que acessava todos os lares, mas hoje temos pesquisas que mostram que 80% dos domicílios tem pelo menos uma pessoa acessando a internet”, conta o pesquisador.
Acostumado a fazer pesquisas com a população, o pesquisador avalia que as principais reclamações do eleitor são cíclicas e variam de acordo com o momento vivido. “Na campanha de 74, as pessoas reclamavam muito de transporte. Em 1977, foi criado o Transurb, que foi um sucesso. Nas pesquisas de satisfação que fizemos depois, a nota era de oito para cima e todo mundo queria andar de ônibus. Mas, por causa da falta de investimento, 20 anos depois a reclamação voltou a ser transporte”, analisa Mario Rodrigues.
Em saúde e educação, áreas muito criticadas pela população atualmente, Mário faz a mesma avaliação, embora saliente que, nas duas áreas, a situação não obteve avanço significativo.
Com base em pesquisas, é possível até avaliar quais serão os principais problemas que Goiânia irá enfrentar no futuro. E, segundo Mario, as previsões não são boas, caso não haja investimento e tentativas de solução. “Temos trabalhos que sugerem que o atual modelo urbano estará exaurido, e o transporte terá peso importante nisso. Cinco carros ocupam o lugar de um ônibus e carregam muito menos gente”, avisa.
Os especialistas ouvidos pela Tribuna incluem ainda mais um desafio para o próximo prefeito de Goiânia: pensar a gestão da capital de forma integrada com os outros municípios da região metropolitana. “Não dá mais para pensar só em Goiânia. É uma região metropolitana, uma mancha urbana conectada. Os desafios são de outra natureza”, diz a professora Celene Cunha, doutora em Geografia Humana pela USP.
Um dos primeiros passos para a integração entre as cidades foi a instituição da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC), criada por lei complementar em 2004. Com isso, o serviço de transporte público coletivos passou a ser único em 18 municípios integrantes da RMG.
Em termos de integração entre os municípios, a experiência da RMTC obteve êxito, segundo Celene. “Isso já é um bom começo, mas é preciso estender isso para outras coisas e fazer de uma forma mais eficiente”, analisa.
As dificuldades vividas pelo setor, porém, decorrem do grande número de passageiros em detrimento da pequena quantidade de ônibus disponíveis. Além disso, o investimento feito no setor foi insuficiente para atender o crescimento populacional vivido pela RMG nos últimos 20 anos.
Por isso, Celene defende a integração de ações para resolver os problemas. “Esse é o grande desafio. Não dá para pensar em soluções só para Goiânia, é preciso ter uma visão mais global. Existe um projeto de lei tramitando no Congresso transformando as regiões metropolitanas numa figura jurídico-administrativa. Mas enquanto isso não ocorre, é possível fazer um pacto e se articular”, argumenta.
Fonte: Tribuna do Planalto