Urbanismo: Demora e estresse na rotina dos moradores
Para fugir do problema diário, pessoas concentram o máximo de atividades no bairro
O impacto do crescimento da cidade e da falta de investimento nas vias de escoamento gera consequências diretas na vida da população. O corretor de imóveis José Rubens Cabral, de 43 anos, mora há sete anos no Bairro Alto da Glória, na Região Sul de Goiânia, e diz que a piora tem sido ligeira, percebida de ano para ano. “Saio de carro porque tenho que trabalhar e preciso me deslocar para isso, caso contrário penso duas vezes antes de pegá-lo. É estressante e prezo por fazer o máximo possível aqui perto”, diz, referindo-se ao fato de que o bairro passou também, simultaneamente ao boom imobiliário, por um processo de diversificação comercial. Bares, restaurantes, supermercados e centros de compras são exemplos de serviços que se instalaram no local.
A tendência, cada vez mais, é que as pessoas concentrem o máximo possível de atividade nos bairros onde moram para evitar o estresse do trânsito. O engenheiro agrônomo João Heliodoro de Oliveira, de 47 anos, mora na Vila dos Alpes, Região Sudoeste, há quase quatro anos e, para trabalhar, precisa, praticamente, atravessar Goiânia para chegar ao Setor Santa Genoveva, na Região Norte. “Em condições normais, demoro de 40 a 45 minutos. Quando chove, dura mais de 1 hora”, conta. Quando ele se mudou para o bairro, em 2010, o tempo era em torno de 30 minutos. O Vila dos Alpes tem sido alvo de especulação imobiliária. A calmaria de anos atrás não existe mais.
“É preciso procurar vias alternativas”
O secretário municipal de Trânsito, José Geraldo Freire, diz que a Prefeitura está tentando coordenar o trânsito, por meio de intervenções nas vias de acesso, mas argumenta que o goianiense insiste em optar pelas vias centrais.
O que a Secretaria de Trânsito faz para acompanhar o crescimento acelerado da cidade?
A situação vai além do crescimento. A região metropolitana se serve muito da capital. Em Goiânia, tem 1,1 milhão de veículos, mas estimamos que circulem, diariamente, em torno de 1,4 milhão, por causa da demanda externa. Este é o cotidiano das metrópoles e considero Goiânia, no quesito trânsito e mobilidade, uma metrópole. Os pontos de estrangulamento são conhecidos. Estamos buscando alternativas aos semáforos de três tempos, que é o modelo atual, porque, a meu ver, eles são “o câncer” do trânsito de Goiânia.
Por que “o câncer”?
Olha, a estimativa é que uma pessoa seja capaz de suportar até 120 segundos de espera no semáforo. Em Goiânia, hoje, tem semáforos de três tempos que geram espera de 130 segundos. Ou seja, está acima da média e é um tempo suficiente para gerar congestionamento e prejudicar toda a via. Estamos avaliando a troca desse modelo em alguns pontos saturados.
Dá para se fazer obras viárias e conseguir corresponder ao crescimento da cidade?
Você precisa ter espaço para construir. Alguns locais permitem intervenções espaciais, outros não. Na Jamel Cecílio mesmo, o canteiro central ocupa um espaço grande. A gente pode reduzi-lo. É uma saída viável para a realidade do local. Agora, falar em tirar o estacionamento é algo que me preocupa, porque o comércio pode ser prejudicado.
A população da Região Sudoeste espera há mais de três anos pela obra que ligará a Avenida dos Alpes à Avenida T-8, que está parada. Tem alguma notícia a respeito?
Não sei como está o andamento. Tenho que ver o cronograma da Secretaria Municipal de Obras (Semob) para passar essa informação.
A Região Norte é um dos focos de adensamento. Tem como prever problemas futuros?
O trânsito é dinâmico e estamos sempre tentando coordená-lo, mas muita coisa a gente não consegue prever. Estamos agindo no sentido de melhorar e facilitar para quem precisa passar pela via. O goianiense ainda não aprendeu a andar no trânsito e só passa pelas vias centrais. É preciso procurar por caminhos alternativos. Gostaríamos que as vias principais conseguissem corresponder à demanda, mas elas já não dão conta mais.
E para a Região Sul, especialmente para quem mora no Jardim Goiás, Alto da Glória e condomínios fechados? Alguma perspectiva de mudança?
As vias de acesso, de fato, estão todas saturadas e precisam sofrer intervenções. Todas elas estão sendo estudadas pelos técnicos da SMT. Na Jamel Cecílio vai demandar muita criatividade porque qualquer coisa que for feita vai gerar polêmica.
A crise financeira da Prefeitura está atingindo a SMT?
Não. É preciso saber o que é essa crise. A prefeitura tem uma renda. A arrecadação é muito boa. O que temos são questões estatutárias e a forma como é feito o plano de cargos e salários que geram certo estrangulamento. Não vou afirmar que as finanças estão com problema. Hoje existe uma transparência que não existia no passado. Sempre foi assim. Nunca sobrou dinheiro. Vão ter readequações, mas acredito que elas não vão chegar à SMT.
Vias aos bairros da Região Sul estão saturadas
REGIÃO SUL
■ Trajetos: Setor Bueno até Jardim Goiás e Setor Bueno até Bairro Alto da Glória
■ Eixos: Avenidas T-63 e 2ª Radial / Avenidas T-63, 85, 136 e Jamel Cecílio
■ Distância: 2,9 quilômetro , no primeiro, e 4,75 km, no segundo.
■ Tempo: 14 minutos, no primeiro, e 24 minutos, no segundo
■ Média: 12,6 km/h e 11,8 km/h
Todas as opções de acesso aos bairros da Região Sul, em especial o Alto da Glória e o Jardim Goiás, cuja direção coincide com a maioria dos condomínios fechados, estão saturadas. Em algumas delas, como é o caso da Avenida Jamel Cecílio, a situação independe de horário. A enorme quantidade de carros circulando pela via contribui para a redução da velocidade média e a consequente demora para percorrê-la. Na última quarta-feira, a reportagem do POPULAR saiu da Avenida T-63, no Setor Bueno, e entrou na Avenida 85 para ter acesso, em seguida, à Avenida 136. O horário era 17 horas e o movimento do trânsito já dava sinais de “hora do rush”.
O trecho até a Avenida 136, de pouco mais de 1,7 quilômetro, foi percorrido em oito minutos. Na Avenida 85, a presença de carros e ônibus, os semáforos a cada esquina e a velocidade reduzida fazem da via sinônimo de espera e atraso em horários de pico. Na Avenida 136, a circulação foi tranquila até à Rua 90. No cruzamento das duas, é evidente a concentração de veículos que se movimentam em direção ao Jardim Goiás e aos condomínios da região.
No segundo dia, quinta-feira, O POPULAR fez o trajeto entre o Setor Bueno e o Bairro Alto da Glória por meio da Avenida 2ª Radial, no Setor Pedro Ludovico. A avenida se tornou uma rota de fuga dos moradores da região, que tentam fugir dos congestionamentos nas outras vias de acesso, como Jamel Cecílio e Rua 88. O que deu para perceber, no entanto, é que muitos já estão fazendo essa opção e o trânsito da 2ª Radial já está perto de se equivaler ao das demais rotas. A vantagem ainda é a pouca quantidade de semáforos
Contrastes no principal eixo para a Região Sudoeste
REGIÃO SUDOESTE
■ Trajeto: Setor Marista até Residencial Eldorado
■ Eixos: Avenidas T-9 e Milão
■ Distância: 8 km
■ Tempo: 32 minutos
■ Média: 15 km/h
Os contrastes do trânsito na Avenida T-9, um dos principais eixos de ligação entre a Região Central e a Região Sudoeste de Goiânia, são gritantes: a partir das 18h10 de quinta-feira, num dia sem chuva, a reportagem percorreu um trecho de três quilômetros, que vai da Avenida 85, no Setor Marista, até a esquina com a Rua C-159, no Jardim América, em 11 minutos. A partir daí, próximo ao Carrefour da T-9, onde estão os acessos ao Jardim Europa à esquerda e à Vila dos Alpes à direita foram gastos 10 minutos em um trecho de apenas um quilômetro.
É fácil para o condutor perceber como o acesso a esses bairros se concentra na via - que, juntamente com a T-7, são as únicas opções para os motoristas atravessarem o Córrego Cascavel - e depois se distribuem pelas vias coletoras que se ligam a ela. Tanto que após o Carrefour, pouco antes do Terminal Bandeiras, o fluxo dá uma aliviada repentina. O transtorno volta a se repetir, com menos intensidade, na Avenida Milão, pouco antes do cruzamento com a Avenida Veneza, onde um trecho de dois quilômetros levou 10 minutos para ser percorrido.
Embora a parte da T-9 que compreende os Setores Marista, Bueno e Jardim América seja bem adensada, a falta de opções de vias para transpor o Córrego Cascavel faz com que o fluxo de quem vai para a Região Sudoeste por ruas menores seja quase todo direcionado para a avenida no final do Jardim América, transformando aquele trecho numa espécie de funil. Uma das opções para a região seria a obra que tem o objetivo de ligar a Avenida dos Alpes à Avenida T-8, mas ela está parada e inconclusa.
Região Norte tem vias largas e tráfego lento
REGIÃO NORTE
■ Trajeto: Setor Marista até Goiânia 2
■ Eixos: Avenidas 85, Goiás, Goiás Norte e Pedro Paulo de Souza
■ Distância: 9,5 km
■ Tempo: 35 minutos
■ Média: 16,2 km/h
A Região Norte de Goiânia têm vias de acesso largas, se comparadas a de outras zonas da cidade, mas mesmo assim o aumento da população, o surgimento de novos bairros e o investimento imobiliário já geram consequências para o trânsito. O POPULAR gastou 35 minutos para percorrer um trecho de 9,5 quilômetros, entre o Setor Marista e o Loteamento Goiânia 2. O tempo maior foi gasto nas vias centrais, como Avenidas 85 e Goiás até chegar à Goiás Norte. Nas ruas internas do Crimeia Leste até acessar a Avenida Pedro Paulo de Souza, o tráfego foi tranquilo, mas, às 18 horas, a concentração de veículos toma as ruas estreitas, cujo fluxo é facilitado em razão da ausência de semáforos.
Na Avenida Pedro Paulo de Souza, de duas pistas, a velocidade é maior porque ela funciona como se fosse uma via expressa. No cruzamento com a Perimetral Norte, no entanto, entre 17 horas e 19h30, a fila de carros é uma realidade diária, enfrentada por quem precisa passar pelo local. Os bairros que ficam depois da via estão em processo de crescimento, influenciado até mesmo por medidas facilitadas pelo Plano Diretor de Goiânia. O reflexo disso, tanto pela manhã como no final de tarde, é o tráfego intenso.
Fonte: Jornal O Popular
1 comentários:
Write comentáriosLógico que as pessoas não pegam as vias alternativas. A sinalização de trânsito em Goiânia é péssima e as pessoas não querem se arriscar a ficarem perdidas.
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