Saúde: Governo sabia da deficiência
Previsto inicialmente para custar R$ 57,3 milhões, hospital teve projeto reformulado e nova licitação
A licitação para alterações e ampliação do projeto de construção do Hospital de Urgências de Goiânia 2 (Hugo 2), iniciada neste ano, foi finalizada na sexta-feira, mas o governo do Estado já sabia em junho do ano passado, um mês depois de as obras serem iniciadas, que as mudanças seriam necessárias. Conforme apurou a reportagem do POPULAR, a equipe técnica do governo percebeu que o projeto inicial seria “bastante tímido” perto da necessidade do setor de saúde, de acordo com um auxiliar do governo. Por isso, a equipe técnica da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES) teve de reavaliar o projeto e apontar alterações.
Com a modificação, o custo do Hugo 2, localizado na Região Noroeste da capital, aumentou em R$ 72,6 milhões. Prevista inicialmente para custar R$ 57,3 milhões, e depois de sucessivos aditivos contratuais e da modificação, o Hugo 2 vai custar mais de R$ 145 milhões. A licitação foi vencida pela Porto Belo Engenharia, empresa que trabalha na construção da obra desde o início. Agora, o hospital vai receber mais dois blocos, um prédio para a administração, mudanças na rede pluvial e de esgoto e instalação de ar-condicionado.
Segundo a Agência Goiana de Transportes e Obras e Públicas (Agetop), a área construída terá um acréscimo de 22.883,02 metros quadrados (m2) e o preço pago pelo m2 construído se mantém equivalente. No entanto, o valor leva em conta as áreas como espaços destinados a jardins e estacionamento, o que faz com que o Hugo 2 passe a ter mais de 71 mil m2, com um preço médio de R$ 2.040,25. Levando em consideração apenas os 50.597,79 m2 de área construída, mesmo método observado no preço do metro quadrado da primeira licitação, o valor salta para R$ 2.869.
De acordo com o presidente da Agetop, Jayme Rincón, as alterações tiveram de ser implantadas porque o projeto inicial, de 2010, já estaria defasado em relação às necessidades da Saúde. “Passamos de 7 para 22 centros cirúrgicos e triplicamos o número de unidades de terapia intensiva (UTIs)”, conta. Sobre o prédio da administração, Rincón afirma que o projeto previa que as salas administrativas ficariam nos blocos de atendimento, mas que agora serão deslocados para uma construção específica.
Secretaria de Saúde sugeriu alterações
Os documentos que compõem a licitação do complemento na construção do Hospital de Urgências de Goiãnia 2 (Hugo 2) trazem um memorando elaborado pela Superintendência de Gestão, Planejamento e Finanças da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES) datado de 21 de agosto. O memorando é encaminhado à Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas (Agetop) com as mudanças previstas ao projeto do Hugo 2.
Entre as alterações está a recomposição das unidades de terapia intensiva (UTIs), em que dez leitos neonatais passariam a ser de adultos, além de mudanças no sistema elétrico, na cozinha, lavanderia, centro cirúrgico e instalação de ar-condicionado em todas as dependências do hospital.
A construção do Hugo 2 foi iniciada em maio do ano passado, em licitação vencida pela Porto Belo com proposta de R$ 57,3 milhões e estimativa para ser entregue em maio deste ano. Em dezembro, a promessa do governo estadual foi para o término do hospital até o fim do primeiro semestre deste ano, prolongando um pouco o prazo. Apesar da alteração do projeto, Rincón ainda mantém o período para entrega. “O compromisso é que seja em junho, mas se atrasar um pouco é plenamente justificável pela mudança no projeto original.”
Santa Casa suspende mais de cem cirurgias
Sem material básico como luvas, esparadrapos e medicamentos, a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia cancelou, nos últimos oito dias, 107 cirurgia eletivas. Pacientes que há meses aguardavam uma operação tiveram os procedimentos remarcados por conta da crise financeira responsável pelo desabastecimento do hospital filantrópico.
Dos 30 procedimentos marcados para hoje, apenas 3 serão realizados. Segundo a assessoria de imprensa da Santa Casa, as três exceções ocorreram porque os pacientes corriam risco de vida. A unidade atende cerca de 2 mil pacientes por dia e realiza, diariamente, uma média de 50 cirurgias. Segundo funcionários do hospital, a falta de insumos também afeta as internações.
Em meio à crise, a Sociedade Goiana de Cultura, mantenedora do hospital, trocou o superintende administrativo e financeiro da Santa Casa. Presidente da mantenedora, o arcebisto dom Washington Cruz convidou o administrador Aderrone Vieira Mendes para substituir o ex-diretor Carlos Apolinário.
Ao POPULAR, Mendes afirmou que o desabastecimento do hospital ocorreu por conta de dois problemas: a defasagem dos valores pagos pela tabela de Sistema Único de Saúde (SUS) e o acúmulo de dívidas da unidade de saúde no decorrer dos últimos anos.
O novo superintendente não soube informar qual o valor total da dívida, mas disse que “o cenário é desafiador”. Ontem, Mendes conseguiu na Secretaria da Fazenda (Sefaz) uma garantia de liberação de duas parcelas em atraso, referente a um convênio de incentivo à qualificação da assistência firmado com o Estado.
Segundo o secretário estadual da Fazenda, José Taveira, a Sefaz liberará hoje R$ 1 milhão para a Santa Casa. A verba será destinada à Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES) e, depois, encaminhada à saúde municipal, responsável pelos repasses à Santa Casa. A expectativa é de que o cronograma de cirurgias só deva ser normalizado na próxima semana.
Fonte: Jornal O Popular