Caos em Goiânia tem solução
A dificuldade de trafegar em Goiânia em quaisquer meio de transporte é um problema sobre o qual têm se debruçado cientistas das mais variadas áreas em busca de solução. A mobilidade, ou seu comprometimento, são cruciais para a normalidade de uma cidade de grande porte e cosmopolita como Goiânia. Nas últimas décadas todos os esforços foram praticamente neutralizados pelo crescimento desenfreado da população e também da frota de veículos que diariamente trafegam pelas ruas de Goiânia.
A gênese do casos no trânsito em Goiânia está na grande quantidade de veículos rodando com no máximo dois passageiros e o desprezo que a maioria tem por meios de transporte coletivos, como os ônibus. Meios alternativos são praticamente inexistentes na capital e apenas uma ciclovia teve incentivos da Prefeitura, justamente por ser uma via conceitual e experimental para a administração.
Para o arquiteto e urbanista Garibaldi Rizzo, estudioso do tema a mobilidade urbana é a materialização de conceitos de cidadania e que pode ser compreendido como “o direito do cidadão de se locomover, de se mobilizar, de ir e vir” e que seu comprometimento é o que mais afeta nosso cotidiano.
“A população de Goiânia cresceu muito além da previsão de 50 mil habitantes para a qual foi projetada. A malha urbana não acompanhou o crescimento demográfico dos últimos 76 anos. A maior parte das vias da capital é estreita, incapaz de oferecer trânsito rápido nos horários de pico”, comenta.
O cálculo é simples, um carro ocupa um espaço de 2,5 por 5 metros, ou seja 12,5 metros quadrados. Goiânia alcançará em breve a marca de um milhão de veículos em circulação, portanto 12.500 mil metros quadrados já são ocupados; cerca de 270 veículos chegam em Goiânia todos os dias, o que gera um acréscimo diário de 3.375 metros quadrados de ocupação diária.
Frota
As opiniões de especialistas em trânsito não divergem sobre o aumento desmesurado da frota de veículos em Goiânia, principalmente de carros de passeio. Com um número alto de carros por habitantes a Capital sente os efeitos no trânsito, cada vez mais conturbado. As causas disso são, principalmente do período de prosperidade possibilitado pela economia nos últimos anos, o que permitiu que grande parte da população conseguisse comprar um carro zero.
Atualmente, o mercado de automóveis brasileiro representa cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), uma montanha de dinheiro quando lembramos que o PIB do Brasil foi em 2013 de R$ 4,84 trilhões. Podendo comprar um carro e circular no conforto de um carro próprio sem o terror de um ônibus superlotado, sempre atrasado, malcheiroso e caro, ninguém quer se penitenciar em uma lata de sardinhas chamada transporte coletivo de passageiros.
“Ao longo das últimas décadas, foi adotado em Goiânia um modelo de gestão em trânsito e transporte que priorizou o automóvel. Pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência ainda esperam sua vez de poder circular pela cidade com autonomia e segurança”, comenta Garibaldi. E nesse contexto, o transporte coletivo circula a 11 quilômetros por hora, em média, em Goiânia, quando o ideal é que conseguisse circular a pelo menos 25 quilômetros por hora, o que compromete o tempo de atendimento e a espera em um ponto de ônibus, que deveria ser de 20 minutos (que é um padrão internacional), e não de 45 minutos a uma hora, como acontece hoje.
Em Goiânia não há falta de ônibus. Há falta de espaço para o ônibus e urgência em se alterar esse modelo de gestão do transporte que prioriza o carro em detrimento do pedestre, do ciclista e do usuário do transporte coletivo. Pedágio urbano, zonas de restrição de tráfego, regulamentação de carga e descarga, políticas públicas de estacionamento são temas que estarão em debate nos próximos anos a fim de se buscar saídas para melhorar a mobilidade para todos.
Dados levantados recentemente pelo Instituto das Cidades aponta as cidades com maior frota de veículos. Goiânia, com seus pouco mais de 1,393 milhão de habitantes tem uma frota estimada em 564 mil carros, o que dá uma média de 405 carros por cada grupo de mil habitantes. Esse número não está muito distante da mais saturada, São Caetano do Sul (SP), com 631 carros por grupo de mil habitantes. Curitiba, dentre as capitais a com maior número proporcional, tem 541 carros por grupo de mil habitantes.
A situação se torna ainda pior quando se considera que um grande número de veículos de outras cidades, principalmente as que compõem a chamada Grande Goiânia, circulam diariamente pela Capital. O trânsito de Goiânia pode parar em 2030. É o que mostra porcentual de crescimento da frota de veículos na Capital. A variação apresenta crescimento de 6,19%. Se o acumulado se manter constante nos próximos 21 anos, pelo menos 2,3 milhões de veículos disputarão espaço em Goiânia.
“A tendência é que os veículos cresçam em progressão geométrica, enquanto a população obedece a variação aritmética”, ensina Garibaldi. Hoje, o aumento vegetativo da população de Goiânia divulgado no último ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não ultrapassa 2%. Os dois números, daqui a 21 anos, delinearão outra realidade: haverá mais veículos em Goiânia do que habitantes. Hoje, a divisão representa 1,7 automóvel a cada morador da cidade.
Nos últimos anos, o poder público investiu mais de R$ 30 milhões em obras para desafogar o trânsito em pontos nevrálgicos de Goiânia. A região central e o extremo sul receberam intervenções que desafogariam a área e pontos de acesso a altas concentrações populacionais. Os viadutos e obras de grande impacto, portanto, não vão resolver o problema dos engarrafamentos, é preciso que as grandes obras estejam integradas com um projeto macro de trânsito, elas precisam ser articuladas com outras áreas, como, por exemplo, transporte público aceitável e planejamento integrado de trânsito-transporte, a curto, médio e longo prazo, e investimentos na educação, fiscalização e Engenharia.
Intervenção
Para o engenheiro civil e mestre em transporte urbano e trânsito, Renato Mundim, com intervenções baratas é possível minimizar os problemas do trânsito em Goiânia. “Já existem corredores exclusivos de ônibus, mas se um carro fica parado na faixa exclusiva da Avenida T-7, por exemplo, ele impede a circulação de todo o tráfego e por ali circulam mil veículos por hora”. A solução seria uma fiscalização mais rigorosa dos agentes de trânsito para impedir abusos dessa natureza, mas quem tem poder de fiscalizar é a prefeitura.
Agentes de trânsito também poderiam estar presentes nas vias mais congestionadas em horários de pico para orientar o tráfego e diminuir engarrafamentos. Mas, o principal é criar mecanismos para fazer os meios alternativos mais atraentes, principalmente os públicos.
As vias alimentadoras poderiam estar interligadas com ciclovias e bicicletários, onde os usuários pudessem deixar suas bicicletas em segurança. Mas, para isto deveria haver um incentivo, como um desconto no preço da passagem, para incentivar as pessoas a usarem meios alternativos.
“Com intervenções pontuais e inteligência de trânsito será possível, com certeza, um trânsito de melhor qualidade para a cidade e para as pessoas, sem congestionamento, sem poluição”, frisa Garibaldi. Quem dirige em Goiânia hoje, seja carro, ônibus ou motocicleta, tem a sensação de que a cidade está no limite. São engarrafamentos, acidentes, trânsito caótico durante quase todo o dia, se não forem estabelecidas políticas de restrição ao uso do veículo particular, poucas mudanças poderão ser sentidas.
Ao longo das últimas décadas, foi adotado, em Goiânia, um modelo de gestão em trânsito e transporte que priorizou o automóvel”
A tendência é que os veículos cresçam em progressão geométrica, enquanto a população obedece a variação aritmética”
Fonte: DM