Triste ranking: Goiás é o 6º mais violento para mulheres

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Crimes passionais são a principal causa dos homicídios. Levantamento aponta que 15 mulheres são assassinadas a cada 90 minutos no País.

Levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB) baseado numa pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que Goiás é o sexto Estado mais perigoso do Brasil para as mulheres. A Região Centro-Oeste também aparece em nono lugar, com o Estado de Mato Grosso, onde foram registrados 6,95 homicídios a cada 100 mil mulheres.

Em primeiro lugar, aparece o Espírito Santo, com 11,24 mortes. Este é o único Estado da Região Sudeste que figura na lista. Os dados apontam que, em 2012, houve 7,57 mortes a cada grupo de 100 mil mulheres. Segundo o Ipea, entre 2009 e 2011, quase 17 mil mulheres morreram por conflitos de gênero, o chamado feminicídio.

Isso significa que no Brasil 5.664 mulheres são assassinadas de forma violenta por ano ou 15 a cada 90 minutos. Segundo a Gerente Especial de Projetos de Interiorização das Ações da Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), Maria Rita Medeiros, o número de denúncias aumentou, o que, de certa forma, representa risco para as mulheres.

“Quando o agressor é denunciado, muitas vezes ele pensa que não tem mais nada a perder e acaba por partir para medidas extremas. Ele é movido pela passionalidade, não é um agressor comum e age com requintes de crueldade”, afirma. Muitas vezes, os assassinatos acabam acontecendo porque o Poder Judiciário demora a dar uma resposta às denúncias. A concessão de medidas protetivas, informa a gerente, ainda é tardia.

Porém, o aumento do número de denúncias tem sido positivo para que os agressores sejam punidos, ressalta Maria Rita. “Hoje, está mais fácil denunciar. É importante ressaltar que a Lei Maria da Penha tem funcionado. Essa não é uma decisão fácil, mas muito importante”, destaca a gerente. Ela afirma ainda que o fato de outras pessoas poderem realizar a denúncia também contribui muito para a solução dos crimes. “A denúncia pode ser feita por qualquer pessoa e de forma anônima”, informa Maria Rita.

Para ela, a violência doméstica é resultado do ciúme, do sentimento de abandono e rejeição e da não aceitação do fim do relacionamento, mas também é fruto da cultura disseminada no Brasil, onde predominam o machismo e o sexismo. “Acompanhamos passar, de geração para geração, o tabu de que a mulher é propriedade do homem e de que existem atividades para homens e para mulheres. Isso é ensinado pelas escolas, pela TV e até mesmo pelas famílias, quando a filha precisa ajudar a mãe a arrumar a casa enquanto o filho fica brincando”, exemplifica a gerente. Ela também destaca que o machismo está presente quando as vítimas de estupro são culpabilizadas pelo crime.

O sexismo traz consequências até mesmo para o mercado de trabalho, afirma Maria Rita, quando as mulheres recebem remunerações menores para exercerem a mesma atividade dos homens ou quando não são contratadas para determinados postos porque estes são considerados específicos para o sexo masculino. Para tentar amenizar esse problema, a Semira realiza campanhas educativas. “Trabalhamos para acabar com essa cultura de que o homem tem todos os direitos e as mulheres, todas as obrigações”, informa a gerente.

A secretaria também acompanha os casos mais graves de violência doméstica, a fim de ajudar a vítima a se restabelecer e voltar a ter uma vida normal. “Damos toda assistência para tentar resguardar que as vítimas sejam atendidas da melhor maneira possível, mas não temos estrutura para atender todos os casos, então acompanhamos apenas os mais graves”, lamenta a gerente. A Semira disponibiliza dois centros de referência para atendimento às vítimas em Goiânia, além de duas unidades móveis para atendimento no interior.

Igualdade

Outra frente de trabalho da Semira é para a promoção da igualdade racial. “A declaração de etnia é feita pela própria pessoa. É importante que o cidadão se declare negro. Fazemos esse trabalho de convencimento, além de promover campanhas educativas”, afirma a gerente. Maria Rita também considera importante a divulgação da história e da cultura negra. Ela explica que uma das lutas da Semira é para que a Lei 10.360, que estabelece a disseminação da cultura negra, seja de fato implantada.

O combate ao preconceito também é realizado no âmbito religioso. A Semira tenta eliminar as desavenças entre grupos religiosos. Maria Rita conta que, na semana passada, um terreiro de candomblé foi alvo de vandalismo e ficou destruído. “Isso é traço da intolerância que ainda existe”, opina a gerente. Cursos de capacitação a policiais também são promovidos pela Semira, para valorizar o atendimento a negros, mulheres e homossexuais.

O levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB) também classificou os dez Estados mais perigosos para negros e homossexuais. Para os negros, Goiás é o oitavo Estado mais violento, com 42,8 homicídios a cada 100 mil negros. O local mais violento foi o Estado de Alagoas, com 80,5 assassinatos a cada 100 mil negros. De acordo com o levantamento do Ipea, a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior do que um branco.

Goiás não aparece na lista das regiões mais violentas para homossexuais. Em primeiro lugar figura Roraima, com 6,15 homicídios para cada 1 milhão de habitantes em 2013, aponta o levantamento da GGB. Com exceção de Mato Grosso, que aparece em segundo lugar na lista, todos os Estados são das regiões Norte e Nordeste. Segundo o GGB, um homossexual é morto a cada 28 horas no País. Em 2013, foram registrados 312 assassinatos de gays, lésbicas e travestis.

Fonte: Jornal O Hoje (Myla Alves)