Desafio do SUS é a modernização
Após 25 anos do Sistema Único de Saúde, ainda persistem os desafios. Na capital, unidade deixa de realizar cirurgias
Na abertura do Fórum a Saúde do Brasil, realizado na manhã de ontem em São Paulo, o ministro Arthur Chioro (Saúde) enumerou os desafios da área no País. Logo no início da fala, o ministro lembrou o aniversário de 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), que ocorreu em outubro. “O SUS tem sido fundamental para promover a solidariedade, a justiça social e a inclusão no Brasil”, destacou Chioro. Segundo ele, no ano passado, houve 1,5 bilhão de consultas médicas e 12,8 milhões de internações pelo sistema no Brasil. Para o ministro, o ponto mais importante é a modernização do SUS.
“Meu sonho é que o SUS legal cada vez mais se aproxime do SUS real, aquele que possa fazer os brasileiros dizerem: ‘Estou satisfeito’. Entre os desafios citados estão a necessidade de investimentos na atenção básica, a importância da gestão e da indústria farmacêutica, a questão do envelhecimento da população, dos transtornos mentais e da violência e a garantia dos cuidados integrais à população.
“Os cidadãos devem ser acompanhados de forma continuada por uma equipe de médicos, dentistas, que conheçam o paciente.” “Ainda não conseguimos fazer o que outros países fazem, que é planejar a gestão de trabalho em saúde com até 25 anos de antecedência.”
Mais médicos
“Temos problemas muito sérios e desafios maiores ainda, um deles é a percepção da população de que ela não está satisfeita com a saúde, nem pública nem privada, e essa percepção não pode ser desconsiderada”, disse o ministro.
Segundo ele, o programa Mais Médicos ajuda a mudar essa percepção dos brasileiros. “Temos a necessidade de uma reforma do estado adequada à gestão dos serviços de saúde, é um tema decisivo para que a gente possa avançar.”
O ministro aproveitou para elogiar a presidente Dilma Rousseff (PT). “Demoramos muito tempo para priorizar a atenção básica no nosso país. Hoje, temos 100 milhões de pessoas atendidas por 34 mil equipes de atenção básica, graças a uma exitosa e ousada decisão da presidente Dilma que foi a criação do Mais Médicos”, disse ele.
Financiamento
A qualidade e o financiamento dos sistemas público e privado de saúde no Brasil provocaram polêmica no Fórum. Para Mário Scheffer, professor de medicina da USP, o Brasil optou, com o Sistema Único de Saúde (SUS), pelo financiamento estatal. Mas, segundo ele, o País está destinando dinheiro público para o setor privado por meio do repasse de recursos –o que acontece quando a rede privada atende pacientes do SUS – e da renúncia fiscal.
“A renúncia beneficia uma pequena parcela da população”, afirma. “Acabamos tendo a visão de que o privado é bom, de qualidade, e o público não presta.” Como exemplos de que essa disparidade não é absoluta, Scheffer cita o programa de excelência brasileiro no tratamento da Aids, feito pelo SUS, e as dezenas de planos de saúde privados suspensos por não terem mínimas condições de oferecer serviços.
O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida, discordou de Scheffer. Para ele, não existe dicotomia entre os sistemas público e o privado, mas sim, complementaridade. “A iniciativa privada está contribuindo mais com a saúde do que o governo”, afirmou. “Do total de recursos, 55% são privados.”
Dirceu Barbano, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concordou que os dois sistemas são indissociáveis. “Cerca de 80% dos leitos em hospitais privados estão à disposição do sistema público.” Ele chamou a atenção para os altos valores envolvidos na saúde –R$ 188 bilhões públicos e R$ 210 bilhões do setor privado, em 2013 – para argumentar que o Brasil não pode perder oportunidades de negócios relacionados à saúde. Durante o painel, o presidente da Unimed do Brasil, Eudes de Freitas Aquino, disse que os programas que são vitrines no governo federal, como o Farmácia Popular, são soluções pontuais. “Falta planejamento para criar políticas duradouras e uniformes, com ajustes regionais.” (Folhapress)
Fonte: Jornal O Hoje