Marconi já admite que projeto do VLT não deve sair
Com problemas burocráticos e sem garantias financeiras, obras poderiam começar apenas em outubro
Em meio a divergências de grupos aliados e dúvidas sobre a data de início das obras, o governador Marconi Perillo (PSDB) admite que não deve levar adiante neste mandato o projeto do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) no Eixo Anhanguera, em Goiânia. Questionado pelo POPULAR na tarde de sábado, o governador afirmou ser “muito provável que não” assine a ordem de serviço caso se confirme a previsão do grupo executivo responsável pelo programa, de início dos serviços apenas em outubro (veja quadro).
O governador já havia sinalizado a tendência de desistir do empreendimento – que foi promessa de campanha em 2010 – este ano com o cancelamento de última hora do evento de assinatura do contrato com o consórcio formado pela Odebrecht e RMTC, no dia 21 de fevereiro, e com o pedido de revisão do projeto, com implantação de sistema subterrâneo em alguns trechos.
Além disso, há incerteza sobre a disponibilidade de recursos para o processo de desapropriações. De acordo com o grupo executivo, o valor deve ser de R$ 90 milhões, mas o governador determinou um levantamento detalhado das necessidades.
Para o grupo contrário à continuidade do projeto este ano, não haverá tempo hábil para conclusão das desapropriações e provavelmente não será possível iniciar nada da execução. O grupo avalia ainda que a assinatura do contrato “sem ter o que mostrar” pode render desgastes ao governo no período de campanha, quando o governador deve disputar a reeleição.
Principal voz contrária ao andamento do projeto este ano, o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, tem dito que acha improvável a continuidade sem que haja “condições de, efetivamente, executar alguma coisa neste mandato”.
Presidente do grupo executivo, Carlos Maranhão defende que o processo ande independentemente da sucessão estadual e critica “quem tem pensamento imediatista”. Segundo ele, o governador deu o respaldo para manter os estudos e as providências e garantiu recursos para as desapropriações. “O governador me garantiu pessoalmente que não há nenhum recuo na decisão de fazer a obra. Ele não quer fazer de forma atabalhoada e sem planejamento.”
Embora o governador afirme que ainda aguarda os estudos sobre o cronograma e os recursos necessários, as declarações sobre o projeto, no entanto, reforçam a visão do grupo contrário ao projeto (leia mais nesta página).
Segundo Maranhão, há hoje quatro providências a serem tomadas antes da assinatura da ordem de serviço. O processo mais demorado seria das desapropriações. O decreto, segundo a previsão, sairia até o final do mês e a conclusão viria em até cinco meses. Ou seja, só seria possível iniciar algo da execução a partir de outubro.
Como no fim do ano inicia-se o período chuvoso, apenas serviços iniciais poderiam ser realizados, como canteiros de obras e fundações.
Maranhão considera que a decisão por estudar mudanças no projeto não atrasaria ainda mais o empreendimento. Para ele, será possível concluir a nova proposta e avaliar o que deveria mudar no contrato com o consórcio que venceu a licitação no ano passado dentro do período das desapropriações.
Já o governador indica que as mudanças devem inviabilizar o início das obras até o fim do ano. “Eu pedi para fazer uma mudança grande no projeto transformando a proposta de hoje, de VLT, em um metrô, um metrô leve. A ideia é que essa parte mais aglomerada de Goiânia, de maior comércio, seja toda enterrada. Para fazermos essa alteração, eu sei que vai demandar um tempo. Mas o que eu quero é que a gente tenha um projeto definitivo para melhorar realmente a questão do transporte e da mobilidade”, afirmou.
Maranhão diz ter a expectativa de assinar o contrato até o fim do mês. “Nos próximos dias vamos tomar a decisão sobre o contrato, depois de decidirmos por um cronograma rigoroso”, afirma Marconi.
Estudo deve ter mudanças
“Eu não quero começar por começar uma obra”, afirmou o governador Marconi Perillo, ao comentar a indefinição sobre o início do projeto do VLT este ano.
“Se nós tivermos segurança de que vamos ter recursos e de que o projeto ao final possa ser o projeto esperado pelos goianienses na questão da acessibilidade e mobilidade, eu vou tocar para frente”, completou o governador, ressaltando a determinação para que o grupo executivo estude alterações no projeto inicial, criando um sistema subterrâneo (como de metrô) em trechos do Centro da capital.
Quando o projeto do VLT começou a ser elaborado, houve questionamentos sobre o impacto da mudança sobre o sistema atual do Eixo Anhanguera e sobre a necessidade de se discutir metrô para a capital goiana. No entanto, sob alegação de que o valor do metrô é bem superior ao do VLT, o governo manteve a determinação de optar pelo segundo.
No sábado, o governador disse que busca atender melhor a demanda. “Primeiro por conta da velocidade, do tempo e do espaço urbano. Se nós queremos melhorar a mobilidade na região metropolitana, se queremos melhorar o trânsito de Goiânia, temos de pensar desde já, planejar desde já. É o que estamos fazendo.”
O grupo executivo conta com R$ 5 milhões do governo federal para a elaboração do novo projeto. As mudanças custariam cerca de R$ 400 milhões a mais nas obras, avaliadas atualmente em R$ 1,3 bilhão.
Contrato obrigou adiamento
Por trás da decisão do governador Marconi Perillo de adiar a assinatura do contrato para a obra do VLT, com cancelamento do evento no 21 de fevereiro no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, esteve um alerta do presidente da Agência de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, sobre reunião no dia anterior com representantes do consórcio que venceu a licitação.
Segundo informações do governo, Marconi “desconhecia” o intervalo entre as assinaturas do contrato e da ordem de serviço para as obras, que seria de quatro a cinco meses. O consórcio teria avisado ao presidente da Agetop que o processo poderia levar tempo.
Na manhã do dia seguinte, quando convidados para o evento já estavam presentes, o governador fez reuniões com envolvidos no projeto e determinou ao grupo executivo a apresentação de relatórios sobre o cronograma de providências antes da execução das obras e a disponibilidade de recursos.
Fonte: Jornal O Popular